CONTAR HISTÓRIAS: A ARTE DE CULTIVAR AS PALAVRAS

Por IZABELA LEANDRO DOS SANTOS GOMES | 31/08/2016 | Educação

RESUMO

O curso apresenta de maneira lúdica e fundamentada, o processo criativo referente ao ato de narrar histórias, abordando os processos de criação e memorização que devem ser desenvolvidos pelo contador. Assim como compreender a relação entre narrador - história - ouvinte, e, por conseguinte, o poder que o narrador possui em suas mãos ao contar uma história. O curso também mostra os passos pelos quais o contador perpassa, desde escolha da história até a acolhida do público (seja com críticas ou elogios). E, por fim, explica como deve transcorrer a linguagem e como organizar o espaço para realizar a contação de histórias.

1 INTRODUÇÃO

Contar histórias, muitos acham uma atividade impossível de realizar, outros conseguem prender a atenção dos ouvintes com uma simples narração, porém o fato é: qualquer pessoa tem capacidade de contar histórias e prender os ouvintes em uma viagem alucinante. Para isso é preciso uma dedicação daquele que pretende entusiasmar os ouvintes com aventuras e/ou reflexões.Se é possível brincar com o que vê, também é possível brincar com o pensamento, palavras e histórias e para isso acontecer é necessário adquirir a arte de cultivar com as palavras. Leia atentamente a descrição da dinâmica a seguir:

  • Criando parlendas: Fazer um círculo, uma pessoa começa. Por exemplo: Meu nome é Maria-iaDucaritibiaSalamacutiaFifirififia, em seguida o próximo: Meu nome é José José-éDucaritibéSalamacutéFifirififé, e assim por diante. A brincadeira consiste em falar o nome e brincar com as terminações.

Essa dinâmica é uma forma divertida e prazerosa de você perceber que pode criar, cultivar um mundo novo a sua volta, seja com fatores novos ou aprimorando o que já existe, partindo desse pressuposto é hora de aprofundar o conhecimento nessa prática pouco falada, mas que pode ser utilizada em qualquer situação ou momento, quando se tem um objetivo a alcançar.

Essa breve introdução, é um convite para que você possa buscar o lado lúdico da contação de histórias e fazer com que, não apenas sua prática, mas também o aprendizado de suas técnicas seja algo divertido e prazeroso.

Você quando criança soube brincar, então também soube criar. E o que é criar senão CULTIVAR ideias e deixá-las crescer?

2 PROCESSOS DE CRIAÇÃO E MEMORIZAÇÃO

Alguns contadores de histórias conseguem narrar uma história ao pé da letra sem se perder ou mudar qualquer vírgula que seja.

Por sua vez, existem aqueles que ao contar uma história, não conseguem dá sequências exatas conforme a história original. Fazem a chamada “adaptação livre” exemplificada no livro “Contar Histórias” do autor Fabiano Moraes.

“(...) pelo recurso de recriar, a cada vez que conto, novas frases para contar o mesmo enredo. A essa forma de narrar chamo adaptação livre, pois diz respeito a uma adaptação que se efetiva no momento de narrar, distinguindo-se, portanto, da adaptação que muitos contadores que memorizam textos e os narram na íntegra costumam fazer antes de memorizar (...)” (MORAES, 2012, p. 30 e 31).

É importante destacar o fato de que o contador de histórias é livre para desenrolar a história da maneira que achar conveniente. Jonas Ribeiro, no livro Ouvidos dourados: a arte de ouvir histórias (1999, p. 83 e 84), argumenta que “(...) o contador de histórias não precisa reproduzir oralmente o conto com todas as letras com que ele foi grafado no livro (...)”.Dessa forma, dois elementos básicos podem ajudar o contador nessa jornada espontânea: a memorização e a criação.O que pode ser exemplificado da seguinte forma:

Ao contar uma história, o contador faz um caminho entre o que foi memorizado e a lembrança que possui da história.Ao compreender isso, é possível censurar aquilo que não é considerado adequado proposto pela criatividade.Por mais complicado que possa parecer na prática é simples:Memorizar uma história, sabê-la por completo. Por sua vez, achar que o final não é muito adequado ao público, então utilizar a criatividade para cultivar um novo final.Posto isso, leia “A fábula das três irmãs”:

Era Uma Vez ...

Contam que em um castelo viviam três irmãs: FALA, ESCUTA e MEMÓRIA. Fala gostava de aparecer, por isso usava lindos vestidos e estava sempre á frente do castelo querendo sobressair-se entre as irmãs. Escuta era a mais calada de todas. E como as duas primeiras irmãs não se davam muito bem, era comum que Escuta permanecesse escondida enquanto Fala aparecia e só desse as caras quando a mesma silenciava sua voz e se ocultava em seus aposentos. Então, Escuta saía e prestava bastante atenção a tudo que ocorria de mais interessante e curioso ao redor.

 Depois corria para um dos quartos do castelo para contar tudo o que vira para Memória, a terceira irmã e a mais caseira. Memória não perdia tempo, registrava em um dos seus muitos cadernos o que Escuta lhe contava. Quando encontrava algo que considerava muito interessante, Memória, que era a única irmã que se dava bem com as outras duas, ia até onde estava Fala e lia para ela um trecho do seu caderno. Fala prontamente colocava o mais lindo vestido e se dirigia a uma das sacadas do castelo, de onde anunciava aos quatro ventos o que Memória lhe havia lido. Assim vivia as três irmãs.

Mas Memória ás vezes se cansava de guardar, organizar e catalogar tantos cadernos, e então jogava alguns de seus escritos em uma lixeira. Essa lixeira, por sinal, tinha um nome bastante curioso, chamava-se Inconsciente. E, nos momentos em que a Memória dormia ou se ausentava de seu quarto, uma de suas amigas, chamada de Criatividade, surgia voando pela janela, feito um anjo, e em silêncio buscava algo que achasse interessante em meio aos velhos escritos jogados por Memória na lixeira do Inconsciente.

E contam que, quando encontrava algo que lhe encantava , Criatividade voava até a fala e sem ser notada sussurrava com suas próprias palavras aquilo que havia recolhido no Inconsciente. Pois dizem que era justamente nesses momentos que Fala se tornava mais bela e encantadora.

2.1. Uma experiência

É hora de exercitar, não ache essa atividade desnecessária, pois a partir dela você irá compreender muito do que foi falado até aqui.O exercício consiste em três dinâmicas, das quais você irá cultivar, regar e colher os frutos da criação e memorização.

  • 1º Dinâmica: Pense rápido

Abaixo segue algumas palavras embaralhadas, o jogo consiste em: você deve desembaralhar uma a uma e à medida que desembaralhar pensar em outra palavra relacionada. Por fim, crie um texto com as palavras criadas.

Esse processo chama memorização, pois ao desembaralhar as palavras e relacionar a outra palavra vocêlembrou-se de alguma coisa, no decorrer da atividade você utilizou a criação para cultivar uma história, e em algum momento você se autocensurou, ou seja, escreveu o que achou.

[...]

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