Contágio social: diga-me com quem andas...
Por Alexsandro Rebello Bonatto | 08/04/2009 | CrescimentoSempre que minha vó queria me afastar de más companhias ela saía com essa: "Diga-me com quem tu andas, que eu te direi quem és".
A verdade é que pessoas com afinidade de comportamento experimentam uma aproximação natural, seja numa sala de aula, seja no ambiente de trabalho, seja na comunidade etc.
Pesquisas recentes mostram que nosso humor é muito mais influenciado por aqueles que estão à nossa volta do que imaginamos. E, além disso, também somos influenciados pelo estado de espírito de amigos dos amigos de nossos amigos - pessoas que estão a três graus de separação, que nunca vimos na vida, mas cujos temperamentos são disseminados na nossa rede social como um vírus.
De fato, está ficando cada vez mais claro que um grande conjunto de fenômenos é transmitido por meio de rede de amigos, de maneiras que ainda não são completamente compreendidas: felicidade e depressão, obesidade, hábitos como beber e fumar, doenças, inclinação a votar ou não em eleições, o gosto por certas comidas ou músicas... Eles se movimentam como ondas através da rede de comunicação.
À primeira vista, a ideia de que podemos "pegar" o humor, os hábitos e o estado de saúde não apenas daqueles que estão à nossa volta, mas também dos que nem conhecemos, parece assustadora. Isso sugere que, em vez de sermos responsáveis pelo rumo de nossas vidas, somos pouco mais do que passageiros, já que a maioria da influência social funciona no subconsciente. Mas não precisamos ficar alarmados, a influência social é uma coisa boa na maioria das vezes. Temos de aceitar o fato de que somos criaturas inerentemente sociais e que muito do que somos e do que fazemos é determinado por forças que estão do lado de fora do pequeno círculo que desenhamos em nossa volta. Além disso, se estivermos conscientes dos efeitos do contágio social, teremos condições de encontrar maneiras de enfrentá-lo, ou usá-lo a nosso favor.
Pesquisadores descobriram que pessoas felizes tendem a agrupar-se não porque isso seja um movimento natural, mas pela maneira pela qual a felicidade se espalha através dos contatos sociais com o tempo. Além disso, a felicidade de uma pessoa depende não só da felicidade de um amigo próximo, mas - em um grau menor - da felicidade dos amigos de seus amigos, e dos amigos dos amigos dos amigos. Além do mais, quanto mais uma pessoa é conectada a indivíduos felizes, maior sua chance de ser também.
Contudo, o efeito não é o mesmo para todo mundo que você conhece. O quão suscetível você é à felicidade de outra pessoa depende da natureza da relação que você mantém com ela. Por exemplo: se um grande amigo que mora há alguns quilômetros de você de repente fica feliz, isso aumenta em 60% as chances de que você também fique. Surpreendentemente, o nível de felicidade de um parceiro com quem você mora junto influencia menos de 10% no seu.
Todas essas constatações levam a uma pergunta-chave: o quanto algo como a felicidade pode ser contagioso? Alguns pesquisadores acreditam que um dos mecanismos mais prováveis seja a imitação empática. Psicólogos demonstraram que as pessoas, inconscientemente, copiam as expressões faciais, o modo de falar, a postura, a linguagem corporal e outros comportamentos daqueles com quem convivem, geralmente com extraordinária rapidez e precisão. E isso lhes causa, por meio de uma série de reações neuronais, a experimentação das emoções associadas ao comportamento que está sendo imitado.
Dois fatores parecem cruciais para o contágio social: a frequência dos contatos sociais e a força das relações. Isso não é surpresa: sabemos que o contágio emocional requer proximidade física. Também é provável que, quanto mais próximos nos sentimos de uma pessoa, mais empatia tenhamos por ela e é mais provável que sejamos envolvidos por suas emoções. No entanto, ainda não se sabe a maneira pela qual esses fatores funcionam nas interações diárias. Também não está claro - porque nunca foi corretamente testado - a extensão da propagação das emoções por meio das redes sociais virtuais.
Existe alguma maneira de suavizar os efeitos de forças sociais tão fortes e penetrantes? É pouco provável que algum dia possamos escapar completamente da influência social, nem se quisermos. Ainda assim, ter consciência pode ajudar, especialmente quando procuramos evitar comportamentos indesejáveis ou adotar hábitos positivos. Podemos ser seletivos com novos amigos, procurando por pessoas cujos estilos de vida aspiramos ter: se você quer perder peso, por exemplo, junte-se a um clube de corrida e - o mais importante - socialize com seus integrantes.
Na verdade, cortar relações com velhos amigos é um pouco drástico, mas passar menos tempo com pessoas cujas características não gostaríamos de compartilhar pode ser uma boa ideia, como gente preguiçosa ou inclinada a ter pensamentos negativos. E tome cuidado com aqueles que andam com essas pessoas, mesmo que não compartilhem esses comportamentos ou pontos de vista - lembre-se da regra dos três níveis de contágio. Finalmente, se você não consegue evitar a companhia de pessoas cujo comportamento ou estado emocional não gostaria de "pegar" (como aquela sua tia histérica ou o primo comilão que sempre aparece nos almoços de domingo, por exemplo), você pode tentar reprimir sua inclinação natural a imitar sua linguagem corporal e expressões faciais e, desse modo, limitar o contágio.
A lição que você pode tirar disso tudo é a necessidade de uma sutil reorientação social. Sempre seremos vulneráveis ao que as pessoas ao nosso redor estão fazendo. Por isso, sempre que possível certifique-se de que está andando com as pessoas certas.
Acho que já podemos até emendar aquele ditado da minha avó: " nós somos aqueles com quem andamos".
Bibliografia:
Revista Galileu, edição 212 de março de 2009