CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: SUA RELEVÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

Por Lorivane Aparecida Meneguzzo | 07/03/2025 | Educação

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: SUA RELEVÂNCIA NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA


 


 

Lorivane Meneguzzo1

Taise da Luz Souza2


 

RESUMO: A contação de história é uma prática antiga que surgiu muito antes da escrita, quando as pessoas utilizavam da oralidade para narrar acontecimentos à comunidade. Este estudo tem como objetivo analisar a contribuição da contação de histórias para a Educação Infantil, sua importância para o desenvolvimento da criança de 0 a 5 anos e sua relação direta com a arte e a linguagem oral, as emoções, a sensibilidade, o desenvolvimento da imaginação além de trabalhar o corpo e a socialização. Contar história é uma atividade lúdica, pedagógica e interdisciplinar que amplia as possibilidades de ver e compreender o mundo e a si mesmo. Ao contar uma história, o professor deve trabalhar de forma descontraída e alegre, onde a criança possa vivenciar um mundo diferente da sua realidade utilizando sua criatividade e imaginação e, assim, possibilitando seu desenvolvimento. A contação de histórias permite o contato com diferentes linguagens e maneiras de contar um mesmo acontecimento. A articulação entre corpo, voz e recursos cênicos possibilita o alargamento do imaginário e dos sentidos. 


 

INTRODUÇÃO

A contação de história é uma prática antiga que surgiu muito antes da escrita, quando as pessoas utilizavam da oralidade para narrar acontecimentos à comunidade, transmitindo assim ensinamentos, valores, costumes, mitos e crenças de geração a geração, também usavam desta prática para o entretenimento, diversão e lazer. Considera-se uma das maneiras mais antigas de transmissão de crenças e culturas entre os seres humanos.

A contação de histórias é uma prática essencial para o desenvolvimento e aprendizagem da criança, que desde pequena sente a necessidade de vivenciar suas fantasias e seus encantos por meio da arte. É na infância que se constroem as primeiras experiências de vida que subsidiarão a formação do caráter, da personalidade e da consciência. Nesse sentido, a criança deve ser inserida em uma cultura que estimule o pensar, o sentir, o expressar e o experienciar, fatores que são componentes da contação de histórias e que despertam a sensibilidade, a emoção e o autoconhecimento, na mesma medida em que a ensina, instrui e a prepara para a vida. Assim, mais do que uma ação educativa prazerosa, ela proporciona aos pequenos uma compreensão ampliada do mundo, bem como a construção das identidades culturais via memória oral


 


 

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIA E NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A contação de história na educação infantil contribui significativamente para o desenvolvimento da criança, despertando encanto, prazer e imaginação, esta prática subsidia a aproximação do real com as fantasias que são fundamentais para o progresso na primeira infância. Mesmo a criança ainda não sabendo ler, ela naturalmente é curiosa, questionadora e esperta, portanto o contato diário com a escuta de histórias promove o gosto pela leitura, pelos livros e pela aprendizagem que vincula o divertimento, ludicidade e estímulo. Sobre essas contribuições, Cardoso (2016) ressalta que: 

Além disso, a história permite o contato das crianças com o uso real da escrita, levando-as a conhecerem novas palavras, a discutirem valores como o amor, família, moral e trabalho, e a usarem a imaginação, desenvolver a oralidade, a criatividade e o pensamento crítico, auxiliam na construção de identidade do educando, seja esta pessoal ou cultural, melhoram seus relacionamentos afetivos interpessoais e abrem espaço para novas aprendizagens nas diversas disciplinas escolares, pelo caráter motivador da criança (CARDOSO, 2016, p. 08). 


 

Diferentes modos de expressão são estimulados através da contação de histórias, o que facilita as interações e o entendimento das próprias emoções e também auxilia a criança a ouvir com atenção e desenvolver suas habilidades cognitivas.. Além de ajudar a reinventar o espaço da sala de aula, tornando-o mais divertido e atrativo aos sentidos.

A contação de histórias é uma forma lúdica de transmissão de conhecimentos e um poderoso estímulo à imaginação. Por auxiliar no desenvolvimento físico, cognitivo e socioemocional das crianças, sendo assim é uma importante aliada da educação infantil. A contação de histórias permite o contato com diferentes linguagens e maneiras de contar um mesmo acontecimento. A articulação entre corpo, voz e recursos cênicos possibilita o alargamento do imaginário e dos sentidos. 

A literatura oral amplia o vocabulário e o mundo das ideias na mesma medida em que atrai a atenção da criança, pois é uma atividade lúdica, pedagógica e interdisciplinar que instrui, estimula o cognitivo, educa a atenção, aviva os sonhos, ampliam as possibilidades de ver e compreender o mundo, assim como de se autoconhecer, construindo sua identidade e personalidade de forma espontânea e livre de repressão. A arte de contar histórias no meio educativo não tem fins somente de recreação, é uma atividade rica, valiosa e produtiva que, quando bem utilizada, contribui para aprendizagens múltiplas. Portanto, deve ser feita por meio de um planejamento prévio por parte do professor, com objetivos claros e metodologia consistente aliada aos projetos pedagógicos da instituição. 

Na educação infantil, o professor pode contar com inúmeros recursos lúdicos e pedagógicos em sua atuação como contador de história, como por exemplo: caracterizações (fantasias, acessórios, pinturas pelo corpo, trejeitos dos personagens), fantoches, dedoches, flanelógrafo, livros, imagens, fotografias, instrumentos musicais. Nesse sentido, podemos salientar algumas orientações básicas durante o ato do professor contador de histórias: entonação de voz cativante; movimento corporal; materiais de apoio; uso de onomatopeias; provocação de ruídos em momento de suspense; olhar comunicativo; expressões faciais (medo, alegria, indignação, tristeza, raiva, malícia); imitação; repetição de frases marcantes; criatividade quando o momento exigir improvisação. A partir da história contada, o professor mediador da educação infantil pode acrescentar novas propostas à aula estimulando o desenvolvimento integral das crianças, como é o caso de dinâmicas, o reconto da história, manuseio dos suportes utilizados, invenção de novas histórias, autonomia na escolha de novos livros, roda de conversa, desenho, cantigas, massa de modelar (construir os personagens) entre outros. 

Sabemos que os tempos agora são outros, com computadores de última geração, internet, televisão digital e vários outros recursos tecnológicos. Apesar desses avanços da modernidade, a voz da narrativa presencial não perdeu sua importância, tanto isso é verdade, que cada vez mais os contadores de histórias se fazem presentes em emissoras de rádio e televisão, nas salas de aula, nos leitos de hospitais, nas bibliotecas, nas praças da cidade, nas igrejas e nas ONGs. Pelo contrário, constituem as antessalas para o maravilhoso mundo das letras, incentivando o gosto pela leitura e pela escrita através do estímulo da imaginação dos ouvintes (SCHERMACK, 2012, p. 13-14). 


 

As crianças que ouvem histórias desde cedo tem maior probabilidade de serem leitores constantes. A leitura é muito valiosa no processo formativo dos indivíduos, já que amplia o vocabulário, colabora no desenvolvimento de habilidades socioemocionais e estimula a curiosidade, a imaginação e a criatividade.

Segundo Abramovich (1989, p. 16), “ouvir muitas histórias é importante para a formação de qualquer criança. Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser um leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descobertas e de compreensão do mundo.” 


 

O hábito da leitura permite, também, a evolução dos aspectos cognitivos e da linguagem verbal. Assim, é fulcral trabalhar a leitura com as crianças desde cedo; logo, como as crianças da educação infantil (4 e 5 anos) não dominam a leitura, a contação de histórias é ainda mais importante, pois é uma forma de introduzi-la. O professor deve contar histórias a seus alunos de maneira que chame a atenção dos mesmos e assim sejam incentivados a aprender a ler para conhecerem novas aventuras (GUIMARÃES, 2022). 


 


 

Ao escutar histórias desde bebê, o ser humano tem mais facilidade de se socializar e ser mais compreensivo, visto que, quando uma criança senta para escutar uma história, entende a história, interpreta, comenta, reconta, dá sua opinião; isto é, aprende a esperar sua vez para falar, aprende a ouvir e a se expressar da melhor forma. 

Além disso a BNCC – Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil sugere que a contação de histórias desenvolve várias áreas do conhecimento, atuando nos cinco campos de experiências: O eu, o outro e o nós: Foca no desenvolvimento da identidade e relações sociais das crianças. Corpo, gestos e movimentos: Explora a expressão corporal, sensorial e motora das crianças. Traços, sons, cores e formas: Promove o contato com diferentes manifestações artísticas e culturais. Escuta, fala, pensamento e imaginação: Desenvolve a linguagem oral e introduz o universo da escrita. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações: Explora conceitos matemáticos e científicos. (BRASIL, 2013).

Ainda segundo a BNCC (2013) a contação de história trabalha habilidades como: EI02E004: Comunicar-se com os colegas e os adultos, buscando compreendê-los e fazendo-se compreender. EI02EF05: Relatar experiências e fatos acontecidos, histórias ouvidas, filmes ou peças teatrais assistidos. EI02EF06: Criar e contar histórias oralmente, com base em imagens ou temas sugeridos. EI02EF04: Formular e responder perguntas sobre fatos da história narrada, identificando cenários, personagens e principais acontecimentos.

Diante de todos esses benefícios relatados se entende que a contação de histórias é um recurso lúdico que proporciona inúmeras formas de trabalhar com as crianças, sendo assim, é fundamental para o desenvolvimento das habilidades necessárias para alfabetização, socialização, linguagem, entre outros.


 


 


 

REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil – Gostosuras e Bobices. São Paulo: Scipione Ouvindo Histórias, 1997. 


 

BRASIL. Ministério da Educação. BNCC. 2018. Disponível em: Base Nacional Comum Curricular - Educação é a BaseAcesso em fev. de 2025. 


 

CARDOSO, Ana Lúcia Sanches. A Contação de Histórias no Desenvolvimento da Educação. 2016. Disponível em: https://docs.uninove.br/arte/fac/publicacoes/pdf/v6-2016/ARTIGO-ANA-LUCIA-SANCHES.pdf. Acesso em: fev. de 2025. 


 

GUIMARÃES, Livia Maria. A Importância da contação de história na Educação Infantil. 2022. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/mediacao/article/view/6368/4470#:~:text=A%20conta%C3%A7%C3%A3o%20de%20hist%C3%B3ria%20na,o%20progresso%20na%20primeira%20inf%C3%A2ncia. Acesso em Fev. de 2025. 


 

SCHERMACK, Keila de Quadros. A contação de histórias como arte performática na era digital: convivência em mundos de encantamento. 2012. Disponível em: https://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/IIICILLIJ/Trabalhos/Trabalhos/S10/keilaschermack.pdf. Acesso em: 2025. 

1 Professora de Educação Infantil possui Licenciatura em Pedagogia Séries Iniciais e Educação Infantil. Pós-Graduação em Inclusão Educacional. Pós-Graduação Gestão Escolar. Pós-Graduação Psicopedagogia Institucional. Mestrado em Educação. 

2 Professora de Educação Infantil possui Licenciatura em Pedagogia Séries Iniciais e Educação Infantil. Pós Graduação em Psicopedagogia Institucional.

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