CONTABILIDADE DE CUSTOS: ANÁLISE CONCEITUAL SOBRE PRINCÍPIOS E MÉTODOS DE CUSTEIO
Por Leiziane Diel Martini | 03/03/2014 | AdmCONTABILIDADE DE CUSTOS: ANÁLISE CONCEITUAL SOBRE PRINCÍPIOS E MÉTODOS DE CUSTEIO
Deisi Regiane Werle[1]
Juliana Catarina Freisleben[2]
Leiziane Diel Martini[3]
Marcieli Molinari de Lemos[4]
João Antonio Cervi[5]
RESUMO
A contabilidade de custos teve grande destaque na era industrial, devido principalmente ao desenvolvimento das empresas industriais. O estudo enfatiza um breve relato sobre o surgimento da contabilidade de custos e seu conceito, dando grande evidência para suas funções, que é auxiliar o controle e ajudar na melhor tomada de decisões. Outro enfoque é trazer a diferenciação entre as terminologias de custos, que inclui gastos, despesas, investimento, perda, custo e desembolso. Dependendo o ponto de vista, pode-se ter dois enfoques nos sistemas de custos, que são os princípios e os métodos de custeio também englobados nesse estudo. Espera-se que esse trabalho traga esclarecimento e uma boa compreensão sobre o mundo da contabilidade de custos. A metodologia utilizada para o desenvolvimento do estudo foi a pesquisa bibliográfica. Conclui-se que os princípios de custeio orientam a implantação de sistemas de custos como forma de atender as necessidades das empresas observando suas características e, no que diz respeito aos métodos, os mesmos contribuem na operacionalização do processo de custeio.
Palavras-chave: Contabilidade de Custos – Métodos de Custeio – Princípios de Custeio
INTRODUÇÃO
Atualmente o ramo dos negócios tem sofrido grandes modificações que influenciam no dia a dia das empresas, devido principalmente à competitividade existente. Dessa forma para as empresas obterem destaque se faz necessário que haja uma adaptação no novo ambiente organizacional, buscando uma nova forma de redução de custos baseando-se nos princípios e métodos de custeio mais adequados.
Por isso, é importante no momento da implantação de um sistema de controle de custos, saber diferenciar as terminologias que compõem a contabilidade de custos, que são principalmente: despesas, gastos, desembolsos, investimento, custo e perda.
Diante deste contexto este estudo tem como finalidade, além de um breve relato sobre a evolução da contabilidade de custos e seus principais conceitos, apresentar os princípios e os métodos de custeio utilizados nas organizações.
A metodologia de pesquisa utilizada foi a bibliográfica, com consulta a autores especializados na temática. Dentre os tópicos desenvolvidos destacam-se, o surgimento da contabilidade de custos e seus conceitos, definições básicas de custos e conceituação de princípios e métodos de custeio com ênfase na sua diferenciação.
Observa-se que os princípios de custeio orientam a implantação de sistemas de custos no sentido de atender as necessidades características das empresas e, no que se refere aos métodos, os mesmos auxiliam na operacionalização do processo.
1 SURGIMENTO DE CONTABILIDADE DE CUSTOS
De acordo com Viceconti e Neves, tudo teve início quando houve o grande desenvolvimento das empresas industriais, devido principalmente ao advento da Revolução Industrial e a contabilidade se deparou com o problema de ajustar os métodos que usavam para empresas comerciais para as empresas industriais. O meio mais adequado foi trocar o item “Compras” que era usado no meio comercial pelos novos fatores que são adquiridos pelas indústrias para ocupá-las na produção: matéria-prima, salário da produção, energia elétrica e combustíveis utilizados, afinal todos os gastos que estão relacionados na atividade industrial. E assim o ramo que cuidava disso foi denominado contabilidade de custos (VICECONTI; NEVES, 2013).
Bornia concorda com o autor anterior, afirmando que “a contabilidade de custos surgiu com o aparecimento das empresas industriais (Revolução Industrial), tendo por objetivo calcular os custos dos produtos fabricados.” (BORNIA, 2009, p.11).
Já Martins afirma que até a Revolução Industrial existia basicamente a contabilidade geral, também conhecida como financeira, que era bem estruturada para atender as empresas comerciais, e depois se sentiu necessidade de outro controle, pois se tornou mais complexa a função do contador com o surgimento das indústrias. (MARTINS, 2008).
1.1 CONCEITO DE CONTABILIDADE DE CUSTOS
No começo a contabilidade de custos não tinha o propósito de ajudar no auxílio à tomada de decisões, o que a impossibilitou de ter um amplo desenvolvimento. Depois, devido ao surgimento das empresas industriais, começou a ser usada de forma mais eficiente.
Nesse seu novo campo, a Contabilidade de Custos tem duas funções relevantes: o auxílio ao Controle e a ajuda às tomadas de decisões. No que diz respeito ao Controle, sua mais importante missão é fornecer dados para o estabelecimento de padrões, orçamentos e outras formas de previsão e, num estágio imediatamente seguinte, acompanhar o efetivamente acontecido para comparação com os valores anteriormente definidos. (MARTINS, 2008, p.21).
Para Viceconti e Neves, a contabilidade de custos no início estava baseada somente na avaliação de estoques nas empresas industriais, passando depois a auxiliar o controle e apoio a tomada de decisões. (VICECONTI; NEVES, 2013).
1.1.1 Definições Básicas de Custos
Existem vários termos que compõem a terminologia de custos, como gastos, despesas, desperdícios e perdas, que muitas vezes confunde o pesquisador, tornando importante o entendimento.
a) Gasto – compra de um produto ou serviço qualquer, que gera sacrifício financeiro para a entidade (desembolso), sacrifício esse representado por entrega ou promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro);
b) Desembolso – pagamento resultante da aquisição do bem ou serviço.
c) Investimento – Gasto ativado em função de sua vida útil ou de benefícios atribuíveis a futuro (s) período(s);
d) Custo – gasto relativo à bem ou serviço utilizado na produção de outros bens ou serviços;
e) Despesa – bem ou serviço consumido direta ou indiretamente para a obtenção de receitas;
f) Perda – bem ou serviço consumidos de forma anormal e involuntária. (MARTINS, 2008, p.24,25 e 26).
Para Viceconti e Neves, gasto é um desembolso para adquirir bens ou serviços, mediante pagamento, geralmente dinheiro (VICECONTI; NEVES, 2013). Já Bornia considera de acordo com seus conhecimentos que “gasto é o valor dos insumos adquiridos pela empresa, independentemente de terem sido utilizados ou não.” Muitas vezes gasto pode ser confundido com desembolso, que não são sinônimos, mas de acordo com o mesmo autor é “o ato do pagamento e que pode ocorrer em momento diferente do gasto.” (BORNIA, 2009, p.15).
De acordo com Nascimento, “custo é o somatório dos bens e serviços consumidos ou utilizados na produção de novos bens ou serviços, traduzidos em unidades monetárias.” (NASCIMENTO, 2001, p.26). Já Bornia apresenta alguns exemplos de custos de fabricação utilizados para fabricar os produtos da empresa, como por exemplo, a mão-de-obra, matérias primas, energia elétrica e também as máquinas utilizadas, entre outros. (BORNIA, 2009).
Outro termo conhecido é despesa, que conforme Viceconti e Neves é “gasto com bens e serviços não utilizados nas atividades produtivas e consumidos com a finalidade de obtenção de receitas.” (VICECONTI; NEVES, 2013, p.14).
Conforme Bornia, a “perda normalmente é vista na literatura contábil como o valor dos insumos consumidos de forma anormal. As perdas são separadas dos custos, não sendo incorporados nos estoques.” (BORNIA, 2009, p.17). Segundo o mesmo autor “investimento é o valor dos insumos adquiridos pela empresa não utilizados no período, os quais poderão ser empregados em períodos futuros.” (BORNIA, 2009, p.18).
2 PRINCÍPIOS E MÉTODOS DE CUSTEIO
O estudo sobre um sistema de custos pode ser feita a partir de dois pontos de vista, primeiramente o que enfoca o modo de como a informação gerada se adequa às necessidades da empresa e quais as informações relevantes a serem fornecidas, sendo denominado princípio de custeio. O outro enfoque está relacionado ao processamento dos dados para obtenção de informações, que é denominado método de custeio (BORNIA, 2009).
2.1 PRINCÍPIOS DE CUSTEIO
Para Bornia, “os princípios de custeio são filosofias básicas a serem seguidas pelos sistemas de custos, de acordo com o objetivo e/ou o período de tempo no qual se realiza a análise.” (BORNIA, 2009, p.34). São três os princípios de custeio: custeio por absorção integral, custeio variável e custeio por absorção ideal.
Conforme Bornia, custeio por absorção integral ou total é quando todos os custos, sendo fixos ou variáveis, são distribuídos aos produtos. Esse princípio atende às exigências da contabilidade financeira para avaliação de estoques (BORNIA, 2009).
Já Ribeiro entende que, “esse sistema de custeio contempla como custo de fabricação todos os custos incorridos no processo de fabricação do período, sejam eles diretos ou indiretos. Nesse caso somente as despesas integrarão o resultado do exercício.” (RIBEIRO, 2009, p.58).
Sobre custeio variável e/ou direto, Wernke diz o seguinte:
A premissa básica do custeio direto é a de que somente os custos claramente identificados com os produtos ou serviços vendidos (chamados de diretos ou variáveis) devem ser apropriados. Os demais custos necessários para manter a capacidade instalada (indiretos ou fixos) devem ser desconsiderados em termos de custo do produto. (WERNKE, 2004, p.29).
Para Bornia, custeio variável ou direto consiste em somente serem atribuídos aos produtos os custos variáveis, já os custos fixos são apropriados como custos do período. É uma ferramenta muito importante para a tomada de decisões no curto prazo (BORNIA, 2009).
Com a mesma linha de pensamento, Ribeiro considera ser o custeio variável, “esse sistema contempla como custo de fabricação somente os custos diretos ou variáveis. Nesse caso, os custos indiretos integram o resultado juntamente com as despesas.” (RIBEIRO, 2009, p.57).
Bornia relata ainda sobre custeio ideal:
No custeio por absorção ideal, todos os custos (fixos e variáveis) também são computados como custos dos produtos. Porém, custos relacionados com insumos de forma não eficiente (desperdícios) não são atribuídos aos produtos. O custeio por absorção ideal adapta-se particularmente ao auxílio do controle de custos e apoio ao processo de melhoria contínua da empresa. (BORNIA, 2009, p.36).
2.2 MÉTODOS DE CUSTEIO
As necessidades de dados relevantes tem se evidenciado e os métodos de custeio devem evoluir para atendê-las. O ABC surge como uma visão mais estratégica, reunindo novos conceitos de gestão antes ignorados pelos demais métodos. O método ABC é um dos métodos apresentados de forma mais confusa e diversificada na literatura. Conforme Bornia, “a idéia básica do ABC é tomar os custos das várias atividades da empresa e entender seu comportamento, encontrando bases que representem as relações entre os produtos e essas atividades.” (BORNIA, 2009, p.111). Segundo o mesmo autor, existem quatro fases para calcular o custo dos produtos pelo ABC:
a) Mapeamento das atividades;
b) Distribuição dos custos às atividades;
c) Distribuição dos custos das atividades indiretas até as diretas;
d) Distribuição dos custos dos produtos. (BORNIA, 2009, p.114)
Para Ribeiro o método ABC (custeio baseado em atividades), “é um sistema de custeio que se caracteriza pela atribuição dos custos indiretos aos produtos por meio de atividades.” (RIBEIRO, 2009, p.368).
O custeio RKW, por sua vez, de acordo com Martins, trata-se de uma técnica oriunda da Alemanha, que apropria para todos os produtos além dos custos de produção também as despesas, até mesmo as financeiras. (MARTINS, 2008).
A operacionalização do método de custeio RKW é sintetizada por Bornia em cinco fases:
a) separação dos custos em itens;
b) divisão da empresa em centros de custos;
c) identificação dos custos com os centros (distribuição primária);
d) redistribuir os custos dos centros indiretos até os diretos (distribuição secundária);
e) distribuição dos custos dos centros diretos aos produtos (distribuição final). (BORNIA, 2009, p.92).
Outro método é o custo-padrão que, segundo Ribeiro, “é um custo estimado, isto é, calculado antes mesmo de iniciado o processo de fabricação, fundamentado sempre em custos de produções anteriormente realizadas.” (RIBEIRO, 2009, p.425). Já, para Bornia, “o objetivo principal do procedimento custo padrão é fornecer suporte para o controle dos custos da empresa.” (BORNIA, 2009, p.76). Bornia diz que o custo padrão consiste em:
1) Fixar um custo padrão, o qual servirá de referência para a análise dos custos;
2) Determinar o custo realmente incorrido;
3) Levantar a variação (desvio) ocorrida entre o padrão e o real; e
4) Analisar a variação, a fim de auxiliar a procura pelas causas (motivos) que levaram aos desvios. (BORNIA, 2009, p.76).
O método da unidade de esforço de produção (UEP) se originou na França, durante a Segunda Guerra Mundial. Esse método consiste na padronização da produção para facilitar o processo de controle de gestão, devendo-se destacar também que o UEP só trabalha com os custos de transformação. (BORNIA, 2009).
Já Ribeiro, seguindo na mesma linha do outro autor, apresenta o seguinte conceito:
Unidades de Esforço de Produção (UEP) é uma metodologia de custeio por meio da qual o custo de transformação é atribuído a cada unidade de produto fabricada com base no esforço despendido pela empresa para a fabricação de respectiva unidade. (RIBEIRO, 2009, p.441).
Desta forma, o gestor poderá optar pelo método mais adequado às características operacionais de sua empresa, de maneira a obter os melhores resultados.
CONCLUSÃO
No mundo globalizado o mercado determina que as empresas aperfeiçoem-se constantemente, tanto para auxiliar na tomada de decisão como para o aprimoramento de seu controle de custos.
Tendo como foco primordial do presente estudo a busca conceitual da diferenciação entre princípios e métodos de custeio, para atingir tal intento buscou-se basear no conhecimento de autores especializados na temática referida.
Após a pesquisa observa-se que os princípios e os métodos de custeio possuem objetivos específicos diferentes, sendo que os métodos têm um enfoque mais operacional, e os princípios destacam as necessidades da empresa.
Resumidamente pode-se citar dentre os princípios de custeio o variável, o integral e o ideal, e dentre os métodos destacam-se o ABC, o RKW, o UEP e o custo-padrão. Para implantação do sistema de custos o gestor precisa ter definido qual o objetivo principal da organização, buscando a opção mais indicada.
REFERÊNCIAS
BORNIA, Antonio Cezar. Análise gerencial de custos: aplicação em empresas modernas. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
MARTINS, E. Contabilidade de custos. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NASCIMENTO, Jonilton Mendes do. Custos: planejamento, controle e gestão na economia globalizada. São Paulo: Atlas, 2001.
RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade de Custos. São Paulo: Saraiva, 2009.
VICECONTI, Paulo; NEVES, Silvério das. Contabilidade de Custos: um enfoque direto e objetivo. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
WERNKE, Rodney. Gestão de Custos: uma abordagem prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.