CONSUELO
Por Gabriel Nascimento | 05/07/2009 | CrônicasConsuelo era mais um baiano trabalhador, honesto, que paga suas contas
em dias e se diverte no final de semana. Mas tinha um problema:
chamava-se Consuelo. Não que isso fosse um problema como atirar uma
pedra no ônibus ou acusar um senador de corrupção, mas se chamar
Consuelo era motivo de muita gozação entre os amigos. “Bom dia, dona
Consuelo”, sempre que o encontrava da boca de Zé soava esses verbetes
desgraçados, assim pensava Consuelo. “Oi Consuelozinha”, dizia-lhe
também amiúde um de seus amigos mais íntimos.
E Consuelo acabou sua
faculdade de Economia na Universidade Estadual de Santa Cruz debaixo
dessa gozação. Os professores tentavam dar aula e logo, na hora da
chamada... “CONSUELO”! E dava-se o vexame. Vexado o pobre Consuelo não
sabia o que fazer da vida já que não podia passar nos corredores da
Uesc que ouvia de um de seus conhecidos ou não: “Oi Consuelo”.
Conhecidos ou não já que um nome como o de Consuelo faz uma pessoa ser
conhecida tal como Lady Di era em Londres. “Sabe aquele rapaz ali”,
diziam fofocando enquanto ele passava desconfiado, “se chama Consuelo!”
;“Consuelo! Não diga!” E Consuelo ia e vinha, como manda a
constituição, ouvindo os burburinhos com seu nome.
Foi numa
semana de véspera ao seu aniversário que tomou a decisão que julgava
mais importante de sua vida: ABRIR UM PROCESSO JUDICIAL PARA MUDAR O
NOME. Foi até o fórum no Centro de Itabuna e descobriu que só poderia
tentar aquilo em Salvador.
Partiu para Salvador numa
segunda-feira de manhã fria para abrir aquele processo acompanhado de
advogado e tudo. Ficaram vários meses nessa luta para ver o juiz, já
que a justiça no Brasil é tão lerda que cada vez mais parece que ela
vai parar. E parou, mas antes atendeu o pobre do Consuelo que não
aguentava o fato de seus conterrâneos de Ilhéus e de Itabuna terem
tanto preconceito com aquele nome que para ele não significava nada,
mas para a galera que “o amava” significava castigo.
O juiz parecia
fúnebre em uma toga que mais parecia roupa encomendada para o juízo
final. Ao seu lado estava seu advogado que usava um terno negro de um
pano bem forte e uma camisa bem rosa, com uma gravata listrada de
vermelho e azul marinho. Ele trajava-se com um jeans e uma camisa
social vermelha. A Sessão começou atrasada porque o juiz estava lendo
uma revista de fofoca que comprara na banca de revistas fora do fórum.
E a fofoca devia ser boa, pois ele não tirava os olhos da Brazil’s
Magazine. E, ao relatar seu problema ao juiz que pareceu não ter lido o
processo pois falava mais das fofocas que lia do que entendia do
processo, o juiz olhou-lhe e disse: “Você está fazendo essa confusão
porque tem o nome de CONSUELO?”, o velho tirou os óculos, “Meu nome é
NOÊMIA, NOÊMIA CARDOSO DE JOSÉ MARIA!”
E assim a nossa amiga, ou melhor, o nosso amigo não conseguiu em mais uma de suas peripécias mudar seu nome.
Triste, abatido, ele caminhava na Rua Marquês de Paranaguá em Ilhéus
quando se bateu com a mulher que aguentaria os seus abusos quando
velho. Não que tenha sido amor à primeira vista como nos filmes de
James Cameron, mas foi afeição, química abstrata inexplicável e, nesse
meio o desejo de fazer o irracional que é o sexo. Fizeram e, aliás, a
vida deu a eles em tempo de crise econômica 17 filhos que criaram com
muito carinho. Ele também se encontrou nela em outro detalhe: o nome
dela era GILVAN ROBERTA MARTINS.
E como mudaram de sexo, ou
melhor, de nome? No casamento ele passou a ser Gilvan, embora também
não gostasse muito do nome e ela passou a ser Consuelo. Algumas vezes
são vistos cantando e tocando nos bares em Itabuna e Ilhéus, fazem uma
dupla inigualável...
GABRIEL NASCIMENTO