Construções

Por Luana Dutra | 02/07/2013 | Contos

Os sentimentos são como construções. Vão de um simples barraco a arranha-céus.
Eu sou uma pessoa que tem sempre um pedreiro disposto, facilmente consigo um terreno e me coloco a construir. Uma conversa agradável já é o suficiente para que eu reserve um espaço e planeje um alicerce.
Atualmente tenho alguns arranha-céus, entre eles, especialmente o de Deus que é permanente, sempre esteve ali, e meus pais. Aqueles são grandes e ricos porque foram os primeiros a chegar à cidade e fundaram-na. Logo ao lado tenho um shopping de grande extensão. Minha irmã.
Eu estava construindo algo de mansinho, e poxa! Em dois anos eu já consegui outro arranha-céu. Luxuoso, no centro junto com o bairro Família e com cara de que vai expandir muito ainda. Tenho fé de que esse prédio vai acompanhar a cidade por toda sua existência. Foi feito do melhor material: o amor.
O material é uma coisa que faz toda a diferença. Tem os mais bonitos e fortes, mas que se danificar dá um prejuízo bem maior! Entre eles o amor, a admiração, a amizade. O engraçado é que esses podem ser corroídos por pragas de várias espécies como o Cupim-Traição ou o Mofo-Mágoa. E aí toda construção vira ruína.
É, nem tudo são flores! Existem aqueles maus sentimentos, que são os Favelas. Eles vão surgindo conforme as pragas se espalham e com eles vêm as casinhas irregulares e de péssimo material, construídos em áreas de risco, sem saneamento.
Tenho registro de prédios lindos no meu centro, no bairro alegre Amizade que de tantas tempestades acabaram infectados por mofo-mágoa e então os moradores abandonaram e construíram casebres feios na Favela da Boa Lembrança. Do lindo prédio só sobrou ruínas, um ar úmido e fétido, que ao se aproximar causam lágrimas e tontura.
Quando uma construção é indesejada e é preciso retirar, é um trabalhão! Demora um bocado para derrubar, limpar todo o local.. e o terreno não pode ser usado novamente tão cedo. Dá aquela sensação de vazio. Chamamos esse processo de desapego.
Ando muito pelo Bairro Da Saudade. Lindo! Mas tão abandonado que dá dor no coração. Tanta beleza inútil, tanto material bom desprezado. Existem boatos de que moradores de lá foram morar na favela. Só é complicado entender o porquê.
Há por último o cemitério da cidade, é lá que descarregamos os entulhos das construções demolidas. Ninguém gosta de ir lá. E eu não recomendo mesmo, os Mofos-Mágoa tomam conta!