Construção ideológica na perspectiva de aversão de Nogueira Acioly veiculado nos jornais, quanto às práticas farmacêuticas de Rodolfo Teófilo no combate a varíola.

Por José de Paula da Silva Rodrigues | 29/07/2010 | Filosofia

Construção ideológica na perspectiva de aversão de Nogueira Acioly veiculado nos jornais, quanto às práticas farmacêuticas de Rodolfo Teófilo no combate a varíola.

José de Paula da Silva Rodrigues

RESUMO

O trabalho visa apontar considerações sobre o que é construir uma ideologia com embasamento nos ideais positivistas de Augusto Comte, e procurar mostrar como a historiografia brasileira foi influenciada a sua produção por conta desse ideal positivista. Procurar fazer uma relação do texto A Precariedade dos serviços de Infra-Estrutura Urbana, divulgada pelos Jornais. (JUCÁ, 2003, pag. 73); com a problemática dos ataques ao farmacêutico Rodolfo Teófilo no século XIX relacionado às suas práticas de vacinação contra a varíola, que segundo acusações de Antônio Pinto Nogueira Acioly as linfas antivariólicas ao invés de curar estavam era matando os acometidos pela peste. Tais acusações foram publicadas no jornal conservador A República.

Palavras chave: Ideologia, Saúde e Varíola.

Construir uma ideologia significa determinar algo que possa simbolizar uma verdade absoluta por parte de quem a constrói, especificamente a classe dominante de uma sociedade. A construção ideológica do século XIX está ligada ao positivismo Frances de Augusto Comte, este que escrevia como o individuo devia proceder diante da sociedade cumprindo com os seus deveres cívicos, obedecendo ao poder hierárquico de nossa pátria, mantendo a ordem e o progresso. Marx em sua obra O Capital, faz um comentário irônico sobre a obra de Comte onde fala sobre a necessidade eterna dos senhores do capital. Segundo Comte, os males que resultam dos fenômenos naturais são inevitáveis, aplicando esse princípio aos males políticos, ao desemprego, à miséria, à fome, à monarquia absoluta, que também são resultantes de leis naturais, tão inevitáveis e independentes de qualquer vontade social quanto às outras. Ao analisarmos Marx e Comte percebemos duas ideologias em divergência, cabe a nos escolhermos a que mais nos é favorável.
Na teoria é assim que funciona, mas na verdade o cidadão brasileiro não tinha tal autonomia até o fim da ditadura militar. Alguns até tinham, mas era considerada subversiva a pátria pelo governo vigente. Isso nos faz lembrar o que está estampado na nossa bandeira brasileira. Essa ordem nos faz torna-se reféns de uma ideologia de "regresso sócio-cultural". Muitas vezes somos como um cavalo que usa viseiras nas laterais e deixamos de enxergar o que está em nosso redor. Segundo Nietzsche não existe verdade e sim verdades, os donos do poder passam a inventar palavras nas quais terminam por acreditar.

Durante muito tempo, a história foi escrita de acordo com as idéias positivista. Na historiografia oficial era empregado um grande toque de emoção e heroísmo, como exemplo pode perceber no que diz a respeito dos personagens da independência do Brasil . Em 1838 o IHGB foi criado para consolidar o Estado imperial e com afirmação do projeto de nacionalidade brasileira pretendida por esse Estado. A contribuição do IHGB a esse projeto veio através de sua produção historiográfica objetivada na definição do território nacional, dos seus limites, ocupação, colonização, grupos sociais e usos da língua. Seu modelo acadêmico foi inspirado nos moldes das academias francesas, românticas e de caráter iluminista com atitudes cientificistas, marcadas por um historicismo na produção do saber histórico, principalmente ao tomarmos em consideração a obra de Varnhagen. Nesse sentido, foi uma instituição que pensou e elaborou os aspectos simbólicos na construção da nacionalidade. Vejamos dessa forma; Varnhagen era um oficial da guarda imperial e teve todo um aparato de treinamentos, preparo físico, estratégias de guerra, formação intelectual, de postura e ética. Seguindo uma lógica, ele teria todo um sentimento de patriotismo, um amor por sua pátria e orgulho de servir ao imperador do Brasil. Subentende-se que Jamais Varnhagen ao produzir qualquer documento historiográfico mencionaria em criticar a forma de governar do imperador. Podemos questionar; será que foi medo? Será que Varnhagen era amigo da família real e teria medo de desapontá-la? Pois bem, nada disso explica a sua postura, e sim a forma de como foi construída a ideologia de patriotismo e honra ao imperador. Somente em 1970, após a difusão da Escola dos Annales, fundada por Marc Bloch e Lucien Febvre, os fatos históricos passaram a ser escritos de maneira mais critica, descrevendo a realidade com maior rigor.

A difusão de uma idéia adquire força de acordo com o meio que é propagado e de quem a assimila. O meio de comunicação mais comum dos fins do século XIX e começo do XX era o jornal. Este instrumento comunicativo era produzido por intelectuais que tinham como propósito divulgar tudo que acontecia na província. Para alguns intelectuais nem tudo que era escrito nos jornais possuía cunho verdadeiro, por conta dessas divergências surgiram os jornais de esquerda. Os jornais de direita estavam sempre aliados ao imperador ou presidente da província. Tudo aquilo que era dito ou ordenado pelo poder hierárquico era veiculado como sinônimo de verdade.

Podemos citar como exemplo de parcialidade e construção ideológica no jornal A República, a manipulação do Presidente do Estado do Ceará Antonio Pinto Nogueira Acioly eleito em 1896. Este que por muitos anos se desentendia com o farmacêutico Rodolfo Teófilo em não concordar com suas práticas farmacêuticas em combate a varíola. Rodolfo Teófilo foi um grande farmacêutico, que presenciou toda a trajetória da terrível epidemia de varíola que o Ceará jamais tinha visto que foi a de 1878. Indignado por conta do descaso do poder público, ele se propõe a combater a varíola com os próprios recursos. Tendo aprendido a produzir a vacina ele passa a imunizar a população pelo sertão a fora, montado em um cavalo, tenta barrar a proliferação da doença. Vacina esta que foi descoberta em 1796, pelo médico inglês Edward Jenner. Este fato repercutiu por todo o mundo civilizado, que há séculos perdiam vidas por conta da varíola.
O método já era utilizado desde outubro de 1802, por intermédio de uma circular, emitida pelo príncipe regente em Portugal ordenando que este método de linfa vacínica seja desenvolvido em todos os seus domínios portuários.

O maior obstáculo de Rodolfo Teófilo foi à oligarquia Nogueira Acioly, onde a sociedade cearense vivenciou dezesseis anos de atraso. Nesse período ocorre muito pouca a iniciativa do estado para com a saúde pública. As condições sanitárias que eram bastante precárias, só aumentam a incidência de tuberculose, sífilis, hanseníase e febre amarela. Os lazaretos de Jacarecanga e Lagoa Funda já não existiam mais. O isolamento agora era feito em uma casinha de palha com outras em sua volta, localizada atrás do cemitério São João Batista. A vacinação às vezes tinha efeito ineficaz, devido ao mau condicionamento de importação, pois do Rio de Janeiro, diminuindo o seu valor imunogênico, isso colaborando para o seu descrédito perante a população.

Os jornais comandados por Nogueira Acioly acusam o farmacêutico de matar os pacientes com a vacina. Desta forma se torna mais difícil convencer as pessoas de se prevenirem da varíola.

De acordo com texto a precariedade dos Serviços de Infra-Estrutura Urbana, divulgada pelos Jornais . Segundo o Doutor em História Social, Gisafran Nazareno Mota Jucá os jornais de Fortaleza nos fins da década de 40 no século XX, apesar de várias tendências ideológicas, entravam em um senso comum e apresentavam informações sobre os diferentes aspectos da vida social urbana em Fortaleza, mas ressalta sobre as contestações dos jornais de esquerda acima da realidade urbana.

Fortaleza em 1947 passava por grandes mudanças como a retirada do bonde que até então era tido como símbolo do progresso em sua capital para a implantação de empresas de ônibus. A troca gerou certa polêmica por parte dos populares mais saudosistas que se identificavam com aquele meio de transporte. Mas esse não era o maior descontentamento da população e sim o aumento abusivo das passagens de ônibus, que por sinal tinha um serviço muito ineficaz. O percurso das linhas de ônibus não atendia a todos, pois eram privilegiados apenas alguns bairros. Outro problema bastante comum era a falta de manutenção adequada dos ônibus que circulavam com mais de três anos sem que houvesse a troca da frota. A falta de um veículo já mudava totalmente a rotina do cidadão fortalezense aponto de causar bastantes transtornos aos trabalhadores, que tinham um horário a cumprir. Muitas manifestações ocorriam por parte dos estudantes do liceu que iam reivindicar quebrando os ônibus quando o aumento das passagens era anunciado, sem que houvesse uma melhoria no serviço prestado pelas empresas de transporte. Na realidade o nível salarial dos diversos tipos de empregos em Fortaleza não era compatível com os aumentos abusivos do serviço de transporte.

Outro problema bastante comum na época era o sistema de iluminação da cidade que não atendia a necessidade da população. A empresa contratada Ceará Gás Company Limited não conseguia acompanhar o crescimento da cidade. Alguns bairros eram beneficiados com o serviço e outros ficavam a escura. Por conta disso a uma manifestação do Partido Comunista Brasileiro ? PCB, através do jornal O Democrata fazendo um protesto ao serviço de iluminação prestado que estava prejudicando as fábricas que funcionavam apenas por um turno do dia, que por conseqüência acabava pagando meio salário mínimo aos seus funcionários.

O abastecimento de água potável também era bastante precário, a água era vendida em carroças ou barris de madeira. Era bastante comum a instalação de poços domiciliares e em alguns bairros mais pobres a instalação de chafarizes para atender a necessidade da comunidade.
Podemos concluir que algumas ideologias são construídas de forma bastante taxativa e opressiva por parte de quem detém o poder, ao ponto de excluir a quem se opõe a ele tornando-se bastante comum a utilização do meio de comunicação, especificamente o jornal como instrumento de manipulação em massa por parte da elite não só a cearense, mas em todo o mundo.





BIBLIOGRAFIA

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JUCÁ, Gisafran Nazareno Mota. A Oralidade dos Velhos na Polifonia Urbana. Fortaleza, Imprensa Universitária, 2003.
OLIVEIRA, Almir Leal de. O Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará. Memória, representações e pensamento social (1887-1914). Tese (Doutorado em História Social)-PUC: São Paulo, 2001.
RODRIGUES, José de Paula da Silva. Saúde Pública em Fortaleza: Erradicação da Varíola por Rodolfo Teófilo no final do século XIX. Monografia (Especialização em História do Ceará)-UVA: Fortaleza, 2010.
TEOPHILO, Rodolpho. Varíola e vacinação no Ceará. Fortaleza: Fundação Waldemar Alcântara, 1997.