Consciência negra?

Por NERI P. CARNEIRO | 21/11/2019 | História

Consciência negra?

A pergunta inicial é: Consciência tem cor?

O problema não é a cor da consciência, mas a relação que temos com nossa história. Não temos uma história homogênea, mas uma mescla de culturas, formando o povo brasileiro.

Em nossa história contribuíram povos europeus como dominadores. Povos ameríndios massacrados, escravisados e dizimados pelo colonizador europeu.

Nessa história, além de tudo isso, há uma grande marca negativa que foi a utilização dos africanos como escravos produzindo riquezas para seus donos. Produzindo cultura, gerando o Brasil. Sendo ussados e massacrados em suas iniciativas de autonomia. Um grupo social que, ao longo de três séculos, marcou nossa sociedade e produziu nosso padrão humano, ao ponto de podermos dizer que o atual povo brasileiro é único no mundo, pois nasceu de misturas etnico-raciais dando origem a uma população morena, bonita e criativa.

Entretanto essa não é uma história só de belezas, como se pode ter a impressão, nos dias de hoje. Antes disso, aconteceu a história do sofrimento de um povo arrancado de suas raízes e plantado em terra estranha.

Aconteceu uma transposição que produziu, também, rebeliões e fugas dos regimes de escravidão formando redutos de fugitivos e resistência: os queilombos.

Esses redutos espalharam-se por quase todo o território brasileiro, como alternativa e caminho para uma nova sociedade. A luta pelo fim da escravidão ocorreu em várias frentes, envolvendo brancos, negros livres e escravos.

Por outro lado, os donos de escravos e autoridades perseguiam a todos eles. E, principalmente, tentavam acabar com os sonhos de liberdade nos quilombos. Com esse objetivo prendiam os quilombolas e destruíam suas casas.

Uma dessas experiências de perseguição e resistência foi a de Palmares, onde vivia Zumbi. O quilombo de Palmares foi duramanete atacado, resistiu por alguns anos, mas acabou sendo destruído.

O dia em que Zumbi foi morto, 20 de novembro de 1695, passou a ser considerado um marco em defesa dos valores oriúndos da contribuição dos povos negros. Mas esse reconhecimento somente ocorreu a partir de movimentos em prol dos direitos das minorias, da lei 10.639, de 9/01/2003, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira; e mais especificamente com a criação do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, mediante a lei 12.519, de 10/11/2011.

Mesmo considerando os avanços efetivados pela legislação, pode-se indagar se a criação de um “dia da consciência negra” não maanifesta um viéz questionável, pois se evidencia uma “cor” de consciência. E as outras cores como ficam? Se o dia 20/11 é o dia da consciência negra, os outros dias são dedicados a que cor de consciência? Ou a que consciência se dedicam os demais dias do ano?

E se em lugar de uma consciência “negra” procurássemos desenvolver a consiência cidadã? E se procurássemos desenvolver a consciência de valorização do ser humano, indpendentmeente da cor de sua pele? Ou será que, realmente, a consciêcia tem cor?

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO