Conhecendo o apóstolo Paulo (1- Inicialmente)

Por NERI P. CARNEIRO | 29/01/2019 | Bíblia

Conhecendo o apóstolo Paulo (1- Inicialmente)

Aquele que chamamos de “apóstolo Paulo” é um dos personagens mais marcantes do Novo Testamento. Não só pelo volume de seus escritos como também pela sua proposta teológica. Podemos, inclusive, dizer que o cristianismo atual nasceu de uma eclesiologia paulina.

Entretanto, esse grande personagem não foi discípulo de Jesus, nem conviveu com os apóstolos. Aparece, inicialmente, como adversário dos seguidores de Jesus e somente depois é que se converte e se faz um missionário ardente.

Inicialmente Paulo nos é apresentado, ainda com seu nome hebreu – Saulo – na execução de Estevão. Ele assiste à execução do proto mártir, aparentemente na função de chefe dos acusadores. Estes o reverenciam deixando os mantos aos seus pés, como se lê em At 7,57-58. “Mas eles, dando grandes gritos e tapando os ouvidos, avançaram todos juntos contra Estêvão; arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos pés de um jovem, chamado Saulo”.

Nessa primeira aparição ele é um dos que não aceitam a nova proposta de fé: a seita dos nazareus, ainda um grupo nascente e visto como herético, por parte dos judeus tradicionais. Olhando sua postura, nesse episódio, podemos dizer que ele sentia um certo prazer em ver o resultado da execução consentida por ele (At 8,1): “E Saulo estava lá, consentindo na execução de Estêvão.

Sua postura, entretanto, não pode ser confundida como um ato isolado ou inimizade gratuita. Como judeu, Paulo estava defendendo sua crença. E para isso usava os recursos que estavam ao seu alcance: seus conhecimentos da respeito do judaísmo, uma vez que havia estudado com Gamaliel; sua capacidade de locomoção, uma vez que era comerciante de tendas e o fato de ser cidadão romano, o que lhe permitia maior flexibilidade nos movimentos em território ocupado pelo império romano. Tudo isso ele usou contra aquela que era considerada uma seita herética dos seguidores do nazareno.

Já como cristão, ele nos fornece os motivos de sua postura inicial contra os cristãos. Em At 22,3, afirma ser “judeu, nascido em Tarso da Cilícia, e nesta cidade criado aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso de Deus, como todos vós hoje sois”. Esse zelo e fervor na defesa das tradições de seu povo fê-lo adotar uma postura avessa aquilo que se lhes apresentava como uma heresia à retidão dos ensinamentos dos antigos.

Em suas cartas encontramos mais informações que ele nos fornece a seu respeito. Escrevendo aos filipenses e aos romanos fala sobre sua origem judaica. Aos romanos (Rm 11,1) diz ser israelita da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim”. E aos cristãos da comunidade e Filipos (Fl 3,5) afirma pertencer ao grupo dos fariseus, dizendo ser da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu

Portanto, se considerarmos as informações que temos sobre Paulo (um legítimo israelita, um judeu ardente, do grupo dos fariseus, fazendo questão de confirmar sua origem abraâmica) podemos entender o porquê de sua postura inicial. Ou seja, iniciar uma tremenda perseguição contra a igreja nascente.

Essa perseguição foi o desdobramento da execução de Estevão. De acordo com o texto de Atos dos Apóstolos, Saulo consente com a execução de Estevão e, ato contínuo, “naquele dia começou uma grande perseguição contra a Igreja que estava em Jerusalém” (At 8,1).

O fato é que essa perseguição inicial, se por um lado revela aspectos das atrocidades sofridas pelos primeiros cristãos, por outro lado, foi um dos fatos precursores da dispersão dos cristãos de Jerusalém. E qual a importância disso?

O fato de que essa dispersão pode ser considerada um dos elementos propulsores da universalização do cristianismo. Assim o mesmo Saulo que “devastava a Igreja: entrava nas casas e arrastava para fora homens e mulheres, para atirá-los na prisão” (At 8,3), foi aquele que produziu uma reação difusora, uma vez que “aqueles que se tinham dispersado iam por toda a parte levando a palavra da Boa-Nova”. Ou seja, o medo que mantinha os discípulos em Jerusalém, diante da ameaça de um perigo maior, provocou a fuga e os fugitivos disseminaram as ideias e a fé cristã.

Inicialmente, portanto, mesmo sendo um inimigo feroz do cristianismo, Paulo propiciou o inicio de sua universalização. Inicialmente apenas pela Judeia e Samaria, mas quando observamos o plano do livro dos Atos dos Apóstolos, notamos que a postura inicial de Saulo/Paulo leva a sua situação final, conforme se pode ler nas últimas linhas desse livro: aquilo que inicialmente era uma seita perseguida no transcurso de poucos anos transformou-se num movimentos vigoroso e livre. Isso pode ser lido nos dois últimos versículos do último capítulo (At 28,30-31). aí se lê que, em Roma “Paulo morou dois anos numa casa alugada. Ele recebia todos os que o procuravam, proclamando o Reino de Deus e ensinando o que se refere ao Senhor Jesus Cristo, com toda a liberdade e sem impedimento.

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, filósofo, teólogo, historiador

Rolim de Moura - RO