Conflitos no Egito, Kadafi e Nelson Rubens: será possível?
Por Luiz Eduardo Farias | 10/04/2011 | HistóriaJá não é de hoje que chamei a atenção para o fato de que o Egito passou longe de uma revolução. Protestos voltam a acontecer no país mesmo após a queda de Hosni Mubarak, uma vez que o poder continuou com os militares (o líder da junta militar que governa o país "temporariamente", Mohamed Hussein Tantawi, era da cúpula de Mubarak). Isso apenas corrobora para a ideia de que nada mudou na terra dos faraós. E mais, o destino é incerto.
O cenário na vizinha Líbia, apesar de conter uma história completamente distinta, ameaça seguir o mesmo roteiro. O que vem depois de Kadafi? (se é que ele sairá do poder).
Não é preciso recuar muito no tempo e veremos como os interesses norte-americanos (em nome da chamadas potências ocidentais) acabaram por implementar políticas que "saíram pela culatra". Seja com o Talibã ou com Saddam Hussein, fato comprovado é que ambos receberam farto material bélico e ajuda financeira para bancar a influência dos EUA no Oriente Médio. Os alvos foram, respectivamente, o já fragilizado regime soviético e a nascente República Islâmica do Irã. Nos dois casos, o feitiço virou contra o feiticeiro.
Hoje vemos que a intervenção na Líbia tem muito mais do que a farsa da "garantia de segurança dos civis líbios" (quantos civis não já morreram nos bombardeios da OTAN?). Não existe interpretação destes acontecimentos sem que tenhamos em mente uma palavra: petróleo. Os economistas divergem sobre o tema, mas há quem defenda que o PIB mundial diminui cerca de 0,25% para cada 10 dólares de aumento no preço do barril de petróleo. A Líbia responde por cerca de 2% da produção mundial, mas é uma das principais fornecedoras da Europa. O raciocínio é lógico: menos petróleo em circulação (hoje a produção já caiu 4 vezes) + especulação e receio do futuro = alta dos preços do petróleo. Problemão!
Independente de quem ganhe este conflito, uma coisa é certa: o povo líbio vai perder. De uma lado, potências econômicas querendo um governo estável, independente de quem seja; do outro lado, um ditador que já perdeu a noção da realidade e poderia imitar Luis XIV falando "o Estado sou eu". E pior, no meio desta fumaça estão pessoas que estão sendo chamados pela imprensa por "rebeldes", mas que longe de ser a solução para os problemas da Líbia, podem muito bem repetir as histórias ocorridas no Afeganistão e no Iraque.
A Líbia é um Estado forjado (tudo bem, qual não é?), sendo composto por cerca de 140 tribos. Kadafi sempre representou algumas delas e obteve a antipatia de outras. O problema neste país passa antes por esta questão do que uma suposta (que papo furado) "luta pela democracia". Nunca houve coesão nacional na Líbia e estamos longe de encontrá-la.
Entre os "rebeldes", existem ao menos dois grupos distintos e dominantes. Um deles é composto pelos partidários da dinastia Senussi, família real retirada do poder pelo golpe militar que colocou Kadafi ao poder. O sonho das potências aliadas é que o poder caia nas mãos deste grupo, já que possuem uma visão bem aberta aos interesses ocidentais.
Porém, para este filme ganhar contornos de suspense, o outro grupo dominante é composto por antigos guerrilheiros islâmicos que lutaram no Iraque e no Afeganistão. Aliás, o governo americano já havia admitido, em 2007, que 20% dos combatentes anti-americanos na guerra do Iraque eram do leste da Líbia (região agora tomada pelos rebeldes). Já existem relatos que membros da Al Qaeda foram recrutados pelos rebeldes líbios.
Parecia brincadeira, mas a frase de Kadafi, de que ele era alvo do imperialismo norte americano e de conspirações de Osama Bin Laden, que soou ridícula há alguns dias parece que começa a fazer algum sentido. Se Kadafi ouvisse Nelson Rubens certamente tomaria pra si seu famoso bordão: "Eu aumento, mas não invento!"