Concepções Religiosas em Blaise Pascal

Por Fidel Jaime Jorge | 04/04/2018 | Filosofia

Diferente da atmosfera filosófica francesa do século XVIII protagonizada por Descartes, que concebia a razão como fundamento único das verdades claras e distintas, sendo que o próprio Deus só pode ser provado a priori pelo intelecto, Pascal defende claramente a autonomia e a autoridade da fé em matéria de religião.

Porém, Blaise Pascal não se detém num simples discurso sobre Deus, mas procura senti-lo misticamente mediante a fé, sempre opondo o deus dos filósofos ao Deus dos humildes, demonstrando que a razão humana, porque limitada, deve submeter-se aos mistérios da fé cristã.

A condição humana é deplorável e miserável, por isso mesmo, deve procurar com a mais profunda sinceridade do coração, por um Deus que seja capaz de consolá-lo, um Deus de amor infinito, e este Deus só pode ser o Deus da religião cristã, cuja manifestação material é o Senhor Jesus Cristo.

Palavras-chave: Religião, Fé, Razão, Pascal, Deus.

Introdução

O presente artigo científico intitulado “Concepções Religiosas em Blaise Pascal”, enquadra-se no âmbito da Filosofia da Religião, e pretende ser um contributo académico com o escopo, sempre reiterado, de compreender as ideias dos grandes filósofos e, das suas abordagens sobre os temas dos quais reflectimos hoje.
No contexto em que Pascal viveu, a religião era alvo de muitas críticas, pois, a Europa estava eufórica pelas novas concepções socioculturais, político-econômicas, filosófico-científicas alcançadas no século XV pelo Renascimento Humanista e, solidificadas pelo racionalismo cartesiano do séc. XVII.
Neste período a que fazemos referência, a fé cristã foi destronada e relegada à um plano paliativo da realidade humana, e os filósofos procuravam fundamentar a existência de Deus, do ponto vista cientifico e filosófico, recorrendo à própria natureza como o “livro sagrado” que desvendava os seus mistérios, consequentemente, a prece cedeu lugar à observação, a fé ao raciocínio, a teologia à matemática e à física; outros filósofos identificavam Deus como a própria natureza. O Deus provedor foi substituído pelo deus impessoal, que criou o mundo, por emanação ou transcendência, porém, alienou-se das criaturas (deísmo).
Que posição toma Pascal nessa atmosfera?
Quais são os fundamentos da religião em Pascal?
Quais são os limites entre a fé e a razão segundo Pascal?
A relevância deste artigo cinge-se no facto de, pretender apresentar uma posição contrastante ao contexto acima referido. E curiosamente, tal abordagem é conseguida por um filósofo cujo interesse principal de pesquisa é a ciência e não a teologia. A apologia que faz da fé cristã assemelha-se muito daquelas feitas pelos padres da igreja, para salvaguardar a autonomia e a autoridade dos dogmas e mistérios de cristo.
Nosso objectivo geral é, pois, conduzir o leitor dentro de esferas progressivamente concêntricas das concepções religiosas de Pascal, a fim de que possa ter uma cosmovisão do problema em questão; nossos objectivos específicos são:
1. Conhecer telegraficamente a vida do autor;
2. Distinguir a fé da razão e seus âmbitos;
3. Identificar o lugar de Deus no sistema de Pascal;
4. Saber o porquê que ele defende o cristianismo como a única religião verdadeira.
Mediante uma pesquisa qualitativa, fundamentalmente, recorrendo a bibliografias disponíveis, fazendo análises e diversas reflexões sobre o assunto, procuramos dentro destes métodos alcançar nosso fim.
Tratamos de fazer uma abordagem progressiva, separando o nosso estudo por temas que nos ajudem a compreender o pensamento do nosso autor sequencialmente. Primeiro, 1. A Vida E Obra, perceber que aspectos da sua vida foram fundamentais para o seu pensamento; 2. Crítica Ao Racionalismo Cartesiano; 3. Grandeza E Miséria Humana; 4. Fé e Razão em Pascal; 5. A Defesa Da Religião Cristã Como A Única Verdadeira; 6. A Figura de Jesus: Provas Da Sua Existência; 7. Outras Provas; 8. O Que é Mais Vantajoso: Crer ou não Crer na Religião Cristã? finalmente, a Conclusão e Bibliografia.
Julgamos oportuno precisar também, que a obra de Pascal da qual nos embasamos para pesquisar o tema em questão é “Pensamentos”. Servimo-nos dela principalmente, pois, é nesta obra que ele discute o problema da religião, sendo as outras obras do autor de um pendor mais científico.

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