CONCEPÇÕES BÁSICAS ACERCA DAS PRINCIPAIS CORRENTES TEÓRICAS DO PENSAMENTO...

Por ALINE DE PAIVA MORALES | 03/07/2017 | Educação

CONCEPÇÕES BÁSICAS ACERCA DAS PRINCIPAIS CORRENTES TEÓRICAS DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO: POSTIVISMO, FENOMENOLOGIA E MARXISMO

INTRODUÇÃO

O positivismo, a fenomenologia e o marxismo constituem-se como as principais correntes teóricas do pensamento contemporâneo, abordagens metodológicas voltadas para a pesquisa científica em várias áreas do conhecimento.

Esses métodos apresentam características específicas e concepções diferenciadas sobre o mundo, entretanto todos têm a pretensão de desenvolver experiências a fim de que se possa produzir um novo conhecimento ou agregar conhecimentos já existentes.

Para tanto, verifica-se como necessário conhecer cada um desses métodos e suas diferentes abordagens sobre sujeito, educação e sociedade, o que exige uma leitura ampla sobre cada teoria.

De modo geral, o Positivismo foi uma corrente de pensamento que surgiu na França com August Comte (1798 – 1857), que acreditava que o único conhecimento verdadeiro, válido, seria o conhecimento científico, o método das ciências naturais. A Fenomenologia por sua vez, criada por Edmund Husserl (1859 – 1938), tinha como objetivo refletir sobre a essência dos fenômenos e como são percebidos no mundo. Já o Materialismo Histórico foi um método criado por Karl Marx (1818 – 1883). Segundo esse autor, o modo de produção da vida material condiciona o conjunto da vida social, compreendendo esse modo de produção seria possível encontrar a chave para a transformação histórica.

Devido à extensão desse trabalho, buscamos apenas evidenciar alguns aspectos e conceitos básicos de sujeito, educação e sociedade abordados em cada corrente teórica a fim de contribuir com o desenvolvimento da pesquisa científica.

 

POSITIVISMO

O positivismo, em sentido mais amplo, refere-se às várias doutrinas do século XIX que se baseavam no empirismo, valorizando a neutralidade científica. Essa corrente teórica surgiu com Augusto Comte (1798 – 1857) e influenciou muitos pensadores que o sucederam. Comte acreditava que era possível planejar o desenvolvimento social e do homem a partir de critérios baseados nas ciências exatas e biológicas, reorganizando o conhecimento humano.

Esse movimento surgiu a partir das crises sociais e morais vividas no final a Idade Média e do surgimento da sociedade da indústria, marcado com a Revolução Francesa que trouxeram novos problemas e novas formas de observar as mudanças na sociedade da época. Diante desse cenário, Comte buscava por uma ciência da sociedade que pudesse explicar os fenômenos sociais da mesma forma que as ciências naturais interpelavam seus objetos de estudo. Acreditava ser possível compreender as leis e os processos sociais que regiam a sociedade, bem como tratar os males sociais.

É possível distinguir no pensamento de Comte três preocupações fundamentais, a saber:

 

Uma filosofia da história [... ] e sua célebre lei dos ‘três estados’ que marcariam as fases da evolução do pensar humano: teológico, metafísico e positivo; uma fundamentação e classificação das ciências (Matemática, Astronomia, Física, Química, Fisiologia e Sociologia); e a elaboração de uma disciplina para estudar os fatos sociais, a Sociologia que, num primeiro momento, ele denominou de física social. (TRIVINOS, 1987, p. 33).

 

 

            Comte acreditava que o sujeito passava por três estágios na vida: o teológico, o metafísico e o positivo. No primeiro, a explicação dos fatos, tanto sociais quanto naturais resultava de ações divinas, a realidade era explicada por meio do sobrenatural, a imaginação se sobrepunha à razão.  No estado metafísico a busca por explicações levava a uma reflexão sobre a essência e significado abstrato das coisas, nessa fase o homem buscava explicações por meio dos fenômenos naturais, foi um período de transição entre o teológico e positivo. No último, estado positivo, o sujeito buscava descrever os fenômenos sem preocupar-se com explicações sobre o mundo natural e social, uma vez que essas seriam fabricadas a partir da observação dos fenômenos. Nesse momento buscava-se não o porquê das coisas, mas como elas aconteciam, buscando somente o que era visível, concreto.

O positivismo rejeita o conhecimento abstrato, obscuro, metafísico, dando importância ao que pode ser submetido à experiência, passível de observação direta, ao que pode ser sistematizado de acordo com os princípios adotados como critério de verdade para as ciências exatas. Em outras palavras, essa corrente teórica defende a ideia de que os fenômenos naturais e sociais são regidos por leis invariáveis, havendo, portanto, uma unidade metodológica.

A sociedade em Comte foi concebida a partir de duas leis fundamentais: a estática social e a dinâmica social. De acordo com a primeira, o desenvolvimento só ocorre se a sociedade se organizar de modo que o caos seja evitado, estuda as forças que mantêm a sociedade unida. A dinâmica social compreende a sociedade já organizada, as mudanças sociais e suas causas. A estática e a dinâmica social são essenciais em qualquer sociedade, sendo elementos necessários para sua própria existência.

Segundo esse estudioso a sociedade precisava ser reorganiza e reformulada, o que deveria ser feito com espírito científico viabilizando o estabelecimento de leis universais visando o progresso da sociedade e dos sujeitos.

Em relação à educação positivista é importante destacar que o objetivo principal da escola era desenvolver nos indivíduos o altruísmo, a capacidade de preocupar-se com o próximo, promovendo assim, a fraternidade entre todos os homens em detrimento do egoísmo. Para os positivistas a infância era marcada por resoluções teológicas dos problemas, somente com a cientificidade é que a maturidade do indivíduo seria alcançada. Nesse sentido Lacerda apud Ferrari (2011) diz que a educação positivista buscava informar o aluno sobre a ordem, ou seja, como o mundo funcionava a fim de formar seu caráter e torná-lo mais bondoso.

A disciplina era, pois, o objetivo principal da escola positivista. Para Comte a obediência e a hierarquia eram fatores que deveriam ser trabalhados desde a infância.

Obviamente, a educação, os métodos de ensino e o desempenho dos alunos passaram por aferições, uma vez que o pensamento Comtiano baseava-se no empirismo, no que era passível de observação. Assim, os estudos científicos se sobrepunham aos literários.

 

FENOMENOLOGIA

 

            O termo fenomenologia refere-se ao estudo dos fenômenos, buscando explorar aquilo que é dado à consciência. Trata-se de uma atitude de reflexão daquilo que nos é mostrado a partir de nossa interação com o mundo, busca a essência dos fenômenos destacando a importância da percepção do sujeito na análise desses.

            À luz de Trivinos (1987, p. 50) a fenomenologia é um movimento que tem por objetivo “[...] a investigação direta e a descrição de fenômenos que são experienciados pela consciência, sem teorias sobre sua explicação causal [...] livre de pressupostos e de preconceitos.” Isto é, consiste em perceber-se no mundo e procurar vê-lo sem pressuposições antecipadas.

            O conceito de fenomenologia foi criado por Edmund Husserl (1859 – 1938) que pretendia fazer da filosofia uma ciência de rigor científico que deveria estabelecer categorias puras do pensamento científico. No entanto, o autor voltou-se para a investigação do “mundo vivido” pelos sujeitos considerados isoladamente (TRIVIÑOS, 1987). Assim, sugeriu que a fenomenologia estudasse a essência das coisas, eliminando o que fosse pressuposto pelo mundo real, livre de elementos pessoais ou culturais.

            Tem-se como elemento fundamental nessa perspectiva a intencionalidade, o sujeito é, portanto, rico em intencionalidade, assim é preciso compreender o sujeito e o mundo segundo sua facticidade, isto é, segundo a maneira de ser-no-mundo, condição humana não escolhida pelo sujeito. Trata-se de apreciar o espaço, o tempo, o mundo a fim de obter descrição direta das experiências vividas como são, sem preocupação com explicações causais.

            Em outras palavras, a fenomenologia estuda a essência dos fenômenos e como são percebidos no mundo, tendo como ponto fundamental a descrição e não na explicação ou análise de determinado objeto. Essa descrição deve ser realizada pelo fenomenólogo de forma precisa, abstraindo-se de quaisquer hipóteses, pressupostos ou teorias a fim de captar as propriedades abstratas ou gerais das ideias sobre o objeto interrogado, chegando a sua essência.

            A educação, numa perspectiva fenomenológica, segundo Nielsen Neto (1988) deve estimular o aluno a uma tomada de consciência de si mesmo diante da transitoriedade e precariedade da vida. O professor representa nesse contexto aquele que tem a possibilidade de despertar na criança a decisão sobre sua essência, não se constituindo como transmissor de conceitos, os quais seriam assimilados pelos alunos. A ele incumbe a tarefa de apresentar vários pontos de vista sobre algo e deixar que os alunos optem, não impondo uma forma específica de ver o mundo.

Dessa maneira, o conhecimento não deve ser um meio de preparar o estudante para a vida profissional, antes disso deve ser um meio de autorrealização, fazendo com que o próprio estudante se interesse em investigar verdades para si mesmo, já que a construção do conhecimento depende do mundo cultural dos sujeitos, bem como de sua interpretação.

 

MATERIALISMO HISTÓRICO

 

            O materialismo histórico dialético de Karl Marx (1818 – 1883) representa a sociologia da luta de classes, das relações de poder na sociedade capitalista. Essa teoria estuda, em linhas gerais, os fenômenos da vida social e a aplicação dos princípios do materialismo dialético sobre eles. Busca explicações sobre os problemas relacionados ao plano da realidade no mundo material.

            Para o materialismo o modo de produção da vida material condiciona o conjunto da vida social, dessa forma dedica-se ao estudo da sociedade, da economia, da história etc. Essa teoria surgiu a partir do pensamento marxista-socialista expresso nos livros que foram publicados por Marx e Engels (em contraposição ao surgimento da sociedade capitalista-industrial do século XIX).

            Nessa perspectiva, a educação é um elemento de manutenção da hierarquia social, de dominação da burguesia sobre o proletariado como diz o excerto abaixo:

 

No modelo marxista infraestrutural – super-estrutural (dialéctico, de relação recíproca), a escola faz parte da super-estrutura (tal como o Estado ou a família, por exemplo) e a educação é assumidamente um elemento de manutenção da hierarquia social, de controlo das classes dominantes sobre as classes dominadas, isto é, de dominação da burguesia sobre o proletariado. (Morrow e Torres, 1997, p. 25 apud LOPES, 2012, p. 2)

 

            Em 1848 Marx propôs um modelo de educação, igualitário, buscando a universalização do ensino, a emancipação do homem, a construção de uma nova ordem social. A educação seria então, o processo pelo qual os sujeitos produziriam sua existência, combatendo a alienação, característica da sociedade capitalista. A escola contribuiria para a transformação social à medida que colaborasse para a formação do sujeito, que se apropriando de elementos culturais se tornaria “humanizado”.

            Para Lopes (2012, p.10) “No pensamento marxista, a educação é um espaço de reprodução ideológica dos interesses da classe dominante (a burguesia)”, isso quer dizer que a educação poderia tanto oprimir quanto emancipar o indivíduo. Além disso, a educação tem como objeto a identificação dos elementos culturais pelos sujeitos para que se tornem humanos e também as formas ideais para se atingir esse objetivo.

            Nesse contexto, cabe à escola o papel de lutar pela socialização do saber científico, para que esse não esteja somente ao alcance da classe dominante, garantindo o acesso dos sujeitos a toda produção cultural produzida pela humanidade.

            Na perspectiva materialista o homem constitui-se como sujeito por meio do trabalho. Ao modificar a natureza e intervir no mundo para garantir sua sobrevivência torna-se “humanizado” como cita Saviani (1991, p.19) “Para sobreviver o homem necessita extrair da natureza, ativa e intencionalmente, os meios de sua subsistência. Ao fazer isso ele inicia o processo de transformação da natureza, criando um mundo humano [...]”.

            Em linhas gerais Marx dizia que o homem era compreendido a partir das relações sociais que ocorrem ao longo da história por interferência das relações de produção, por isso buscava compreender essas relações marcadas pela luta de classes, pela desigualdade social.

            O materialismo em Marx buscou compreender a sociedade a partir da relação do homem com e a própria sociedade. Para ele, a sociedade se caracteriza a partir das forças produtivas (condições materiais de produção) e das relações de produção (a forma como a produção está dividida, organizada).

Marx idealizava uma outra forma de sociedade, diferente daquela em que as relações sociais fundamentavam-se nas relações de produção. Buscava uma sociedade em que os proletários tomassem consciência do poder e conhecimento social para que assim houvesse uma sociedade mais harmônica, mais igualitária.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            A partir do conteúdo exposto, é possível perceber que cada corrente metodológica apresenta concepções específicas sobre o mundo, o sujeito, a educação e a sociedade. Tais concepções são fundamentais para que o pesquisador possa ter mais clareza sobre o método escolhido para desenvolver suas pesquisas de modo que elas correspondam ao objetivo pretendido.

             De maneira geral podemos dizer que o Positivismo baseia-se no empirismo, seu objeto de estudo refere-se somente ao que for passível de observação e experimentação. O homem é visto como objeto e a educação busca desenvolver nos sujeitos o altruísmo. Aqui, a sociedade precisava ser reformulada para que se estabelecessem leis universais visando o progresso dela mesma. A fenomenologia tem como método de investigação a Epoché, seu objeto de estudo é a essência dos fenômenos, o homem é visto como sujeito rico em intencionalidade. A educação nessa perspectiva deve estimular no aluno a tomada de consciência de si e da transitoriedade da vida. O materialismo histórico, por sua vez, baseia-se na dialética, na forma como as relações perpassam e formam a realidade. O sujeito é compreendido a partir das relações sociais e a sociedade nesse contexto é marcada pela luta de classes, pelas forças produtivas e pela relação de produção.

            Essas três linhas de pensamento são tendências que se concretizam no trabalho do pesquisador. Portanto, conhecer esses pressupostos teóricos é importante, uma vez que direcionam as pesquisas, dando suporte para a construção do conhecimento científico e desenvolvimento social.  Além do que, o conhecimento a respeito de cada uma delas favorece a qualidade das investigações, possibilitando maior rigor e cientificidade para as pesquisas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/auguste-comte-307040.shtml. Acesso em: 02 de julho de 2016.

 

http://mpegc.blogspot.com.br/2010/03/abordagem-interpretativista.html. Acesso em: 02 de julho de 2016.

 

http://www.efdeportes.com/efd119/o-pensamento-fenomenologico-e-a-educacao-educacao-fisica.htm. Acesso em: 02 de julho de 2016.

 

http://www.infoescola.com/biografias/auguste-comte/. Acesso em: 03 de julho de 2016.

 

http://www.infoescola.com/educacao/auguste-comte-o-positivismo-e-a-escola/. Acesso em: 03 de julho de 2016.

 

http://www.infoescola.com/educacao/auguste-comte-o-positivismo-e-a-escola/. Acesso em: 04 de julho de 2016.

 

LOPES, Paula Cristina. Educação, sociologia da educação e teorias sociológicas clássicas: Marx, Durkheim e Weber. Editora: Universidade da Beira Interior. Disponível em http://www.bocc.uff.br/pag/lopes-paula-ducacao-sociologia-da-educacao-e-teorias.pdf. Acesso em: 04 de julho de 2016.

 

MARTINS, Joel. Um enfoque fenomenológico do currículo: educação como poíesis. São Paulo: Cortez, 1992.

 

NIELSEN NETO, Henrique. Filosofia da Educação. São Paulo, Melhoramento, 1988.

 

SAVIANI, Dermeval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 1991.

 

TRIVINOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa qualitativa em educação. 1.ed. São Paulo: Atlas, 2006.

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