CONCEITO DE AMOR EM PLATÃO

Por Leandro Paulo Couto | 09/11/2009 | Filosofia

 Resenha:O Banquete


O Banquete relata a história de uma reunião onde o anfitrião era Agatão e seus convidados, Aristófanes, Eriximaco, Fedro, Aristodemos, Sócrates e outros convidados em um jantar com muita bebidas e com discursos onde cada convidado deveria explanar sobre a ideia central do texto ; o Amor o mais belo dos deuses e o mais antigo . Platão apresenta os vários discursos antes do discurso final o de Sócrates que tem como base o relato de Diotima e os abordados por seus amigos os convivas.

A narrativa ocorre através de uma conversa entre Apolodoro e um Companheiro, sobre um banquete ocorrido na casa de Agatão, poeta ateniense. este jantar ocorreu muitos anos antes da narração de Apolodoro."O Banquete" de Platão trata de uma confraternização durante o qual alguns atenienses tentam explicar por que o amor exerce tanto poder sobre nós. O Amor nos inspira. Para tanto, é necessário colocar o homem no rumo certo, em direção ao Bem, ao Belo e ao Verdadeiro. O Amor, para Platão, atua como uma energia que nos estimula a caminhar em direção a nós próprios, à nossa verdadeira natureza, sedenta do belo, do bem e da verdade.

O homem é um ser de desejos. O amor é o objetivo de quase toda a preocupação humana; é por isso que ele influencia nos assuntos mais relevantes, interrompe as tarefas mais sérias e, por vezes, desorienta a nossa mente. Ele não hesita em intervir nas investigações dos sábios.

Percebe-se que a cada discurso a ideia do amor vai se ampliando. Começa com o amor entre os homens, dos atos de coragem, sacrifício e outros que o amor nos leva. Surge uma distinção de dois tipos, um vulgar, que leva os homens à luxúria, e outro celeste, que é a expressão pura do sentimento. Ampliando-se ainda mais, surge o amor pelas coisas, pelo que é belo. O amor aparece como a forma em que o homem se comunica com a divindade.

No último discurso Sócrates apresenta vários conceitos, utilizando para isso o discurso de Diotima, uma personagem inventada pelo filósofo para falar com mais liberdade.

O amor seria a busca por algo que não se possui, que posteriormente define como a busca permanente do que é bom.

O amor teria várias gradações em um processo pedagógico de aprendizado. Inicialmente o amor corporal, posteriormente o amor pela alma, depois pelo conhecimento e por fim ao que chamou de beleza absoluta. Cabe ao homem que: "se eleve por fim o espírito à ciência das ciências que nada mais é do que o conhecimento da Beleza Absoluta (...) a beleza não revestida de carne, de cores, e de várias outras coisas mortais e sem valor mas a Beleza Divina."

Sócrates comparece ao encontro após a refeição já se encontrar pela metade, e senta-se ao lado de Agatão, anfitrião do banquete. É então sugerido por Erixímaco que, como maneira de controlar a bebedeira, se iniciasse o simpósio com o Amor como temática, pedindo que cada um dos convidados exponha o que sabe sobre Eros. Ao findar da proclamação dos discursos, Sócrates é o último a falar.

O primeiro dos convivas a elaborar seu discurso acerca do Amor é Fedro. Eros seria um dos deuses mais velhos, e a causa dos maiores bens que recebemos. O amor seria o único capaz de orientar os homens na direção do bem, "julgo que às ações vis e desonestas se liga a desonra e às boas ações está ligado o amor".

Se um homem ama, e comete um ato ruim, sofre muito mais com a reprovação da pessoa amada. É capaz dos maiores atos de coragem e "morrer um pelo outro, bem o sabeis, só o fazem os que verdadeiramente amam". O sacrifício de quem é ama é recompensando e admirado pelos deuses.

O segundo a discursar sobre Eros é Pausânias. Existem dois Eros, um vulgar e outro celeste, o que implica que nem todo Eros é em si mesmo belo e louvável, mas se torna belo e louvável unicamente quando nos encaminha para um amor que é belo e louvável.

O Eros vulgar é o que leva os homens a amar mais o corpo do que o espírito, a amar com o maior desvario que podem, enfim, à luxúria. O Eros celeste é que leva ao amor que não se excede nos gozos materiais, ao amor pelo espírito."Mau, com efeito, é o amante vulgar que prefere o corpo ao espírito, pois o seu amor não é duradouro por não se dirigir a um objeto que perdure". Já quem ama uma bela alma, permanece a vida toda fiel.

A seguir, o médico Erixímaco realiza sua fala em louvor a Eros, propondo um remate ao discurso de Pausânias, enfatizando a bela distinção entre a duplicidade do Amor. Erixímaco amplia a questão do amor ao afirmar que "não é unicamente nas almas dos homens, nas belas criaturas, que Eros faz sentir o seu poder". A música, por exemplo, seria a expressão ao amor pela harmonia e pelo ritmo.

Os nossos pecados seriam causados pela falta de amor, seja às pessoas ou às virtudes. "Quando busca o bem pelas vias da sabedoria e da justiça, em nós ou nos deuses, que Eros manifesta todo o seu poder e nos proporciona uma felicidade perfeita, tornando-nos capazes de viver em sociedade e permitindo-nos viver em paz com os nossos semelhantes e com aqueles que nos são superiores; os deuses".Segundo Erixímaco o Amor não está apenas nas almas dos homens, e para com os belos jovens, mas também nas outras partes, nos objetos, nos corpos dos animais, nas plantas da terra, e em todos os seres, tanto na ordem das coisas humanas como entre as divinas.

Erixímaco conclui passando a vez para o poeta Aristófanes completar ou elogiar o deus Eros, que elabora um dos discursos mais interessante deste livro. Aqui já é mais difícil. Pelo que entendi, Aristófanes utiliza da simbologia para falar da procura da nossa "metade". Segundo ele, estamos sempre procurando uma metade original, que quando encontrada nos levam a constituir um único ser e assim "restaurar a antiga perfeição". "Quando encontram a sua metade correspondente, são transportados por uma onda de amor, de ternura e de simpatia; para tudo dizer numa palavra, não desejam estar separados nem um instante qualquer".

É evidente que Platão transmite através de Aristófanes a ideia que uma união amorosa não era, necessariamente, sexual. O mito dos andróginos vislumbra o aperfeiçoamento das relações em sua essência com o auxílio de outro, não necessariamente através do prazer sexual.

O próximo a falar é o anfitrião do banquete, o poeta Agatão que atribui ao Amor: beleza, juventude, coragem, sapiência, justiça e temperança, todas as qualidades que buscavam nas relações: "Quanto à beleza da sua tez, o seu viver entre flores bem o atesta; pois no que não floresce, como no que já floresceu, corpo, alma ou o que quer que seja, não se assenta o Amor, mas onde houver lugar bem florido e bem perfumado,aí ele se assenta e fica". Eros encontra seu objetivo maior nos jovens, dotados do vigor, energia e encanto da vida.

Após os hinos em exaltação ao Amor, somente no final da obra, Platão permite ao Sócrates elucidar seu pensamento sobre Eros, aqui vem o ponto central da teoria de Platão. O primeiro conceito é que o amor é uma busca. Só se deseja o que não tem. Eros é o amor à beleza e portanto carece de beleza. Portanto não seria propriamente um deus, mas um meio-termo entre mortal e imortal, "a ele cabe interpretar e transmitir aos deuses o que vem dos homens, e aos homens o que vem dos deuses". O amor seria a forma com que os homens se comunicam com a divindade.

A sabedoria é uma das coisas mais belas que existem, portanto Eros também a tem como objetivo. A beleza que Platão se refere não é a estética, "o que merece amor é o verdadeiramente belo, gracioso, perfeito, e, desse modo, feliz".

Platão utiliza também o belo como sinônimo de bom, e afirma "é pela aquisição do que é bom que os felizes são felizes". O amor é muito mais amplo do que o significado que usualmente se dá a ele, pois é o desejo do bem e da felicidade. O amor é o desejo de possuir sempre o que é bom. Pratica-se o amor pela "criação da beleza segundo o corpo e segundo o espírito". A união do homem e da mulher leva à procriação e "nesse ato há alguma coisa de divino (...) a procriação e o nascimento são coisas imortais num ser mortal (...) o amor é também o desejo de imortalidade".

Platão introduz um grau do amor, que surge, inicialmente, como uma amor pelos corpos. Com o tempo, o homem "considerará a beleza das almas como muito mais amável do que a dos corpos". Uma etapa superior seria o amor ao conhecimento e "o guia dirigirá o seu discípulo a fim de que ele possa agora perceber a beleza que existe nesses conhecimentos".

Por fim perceberá certa beleza, "de uma natureza maravilhosa, aquela que era justamente a razão de ser de todos os seus trabalhos anteriores (...) conhecerá a beleza que não se apresenta como rosto ou como mãos ou qualquer outra coisa corporal, nem como palavra, nem como ciência, nem como coisa alguma que exista em outra, como, por exemplo num ser vivo ou na terra ou no céu".

Existe uma pedagogia amorosa, em que o homem se eleva até que de ciência em ciência, "se eleve por fim o espírito à ciência das ciências que nada mais é do que o conhecimento da Beleza Absoluta (...) a beleza não revestida de carne, de cores, e de várias outras coisas mortais e sem valor, mas a Beleza Divina."

Começando pelos jovens dirige-se aos belos corpos até amar um só corpo onde as belezas irmãs presentes em outros corpos sendo a mesma beleza em todos os corpos que larga o amor violento de um só corpo . A beleza da alma é a mais elevada por está acima do corpo que perece . O belo possui um vasto oceano não é de apenas um corpo de criança ou de homem . O bem orientado nas coisas do amor chegará ao ápice dos graus, a harmonia do belo e feio, bom e mau , a uniformidade atingindo o ponto final, começando pelo belo e em degraus alcançar o todo do amor .

Neste discurso de Sócrates ele difere substancialmente dos outros diálogos por defender a existência de "um belo em si". O amor sendo belo e bom saí dos corpos e se volta a alma . A ideia primordial do texto se dá nestas diversas concepções do amor que procura sua origem e tenta explicar as formas de se amar, o amor possui degraus não deve se pender apenas ao belo corpo ou no próprio prazer deve antes porém buscar o bem comum, a não agir pelo impulso desordenado do patos, mas em vista do bem .



Critica



Falar de amor é algo muito difícil, não e fácil conceituar ou caracterizar, pois, se trata de sentimento. Nem sempre vamos ter palavras para expressar os sentimentos, no entanto, podemos perceber que, no banquete, segundo Platão, os participantes do banquete discursam sobre o amor em uma sabedoria grandiosa. Constatando e observando o tempo em que viviam, era um tempo que não tinham meios precisos para descobrir tal conceito a respeito do amor, mas, diante desse contexto percebe-se que são pessoas com um dom e de uma sensibilidade muito grande, para perceber e constatar com clareza aquilo que, para eles, era o amor.

Fedro, no seu discurso, fala com riqueza da grandeza do amor, da importância do que ele chama de deus Amor. O modo como ele falou talvez tenha, naquela época, faltado palavras, expressões, porém, ele buscou aquilo que, para ele, era real e que ele acreditava como verdade, Fedro chama o amor de deus ( os demais também acreditam em deuses), percebe-se, diante da afirmação acima que é louvável a sua descrição do amor.

Os outros também descreveram a respeito do amor como eles enxergavam, ou sentiam, porém, pode-se relatar que o amor também é, como falou Aristófanes; é algo que leva uma pessoa que ama a procurar a pessoa amada e, estando com essa pessoa, não quer sair de perto nem que seja por menor que seja o tempo.

Agatão, no seu jeito apaixonado de falar sobre o amor, discursa sobre o amor e o belo destrincha falando desses dois termos colocando o amor como algo belo que a pessoa faça, mesmo que a pessoa minta para a outra, mas, se for por amor aí está o belo.

com tantos discurso de tão grande beneficio sobre o amor, só pode ser concluído com o grande Sócrates, vem mostrar que o amor é algo que se procura de belo(um belo em si) e que está no outro, quando se chega a esse belo encontra-se a sabedoria que está em si. Por isso, o amor é muito mais do que podemos constatar com palavras, mas, está muito além do que se pode chegar com uma simples reflexão, é algo que está no "mundo" da metafísica. Pode-se, assim, confirmar o que o próprio Platão tanto falou do mundo das ideias e só, aí, podemos encontrar, realmente, o que é o amor na sua essência, pois aqui podemos ter uma pequena imaginação do que seja o amor.

A ideia principal do texto se dá nestas diversas concepções do amor que procura sua origem e tenta explicar as formas de se amar, o amor possui degraus não deve se pender apenas ao belo corpo ou no próprio prazer deve antes porém buscar o bem comum, a não agir pelo impulso desordenado do patos, mas em vista do bem . 

Dados Bibliográficos

PLATÃO. Diálogos,(coleção os pensadores)tradução de José Cavalcante de souza e Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo: Abril Cultura,1972.