COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM/NATAL/RN: CONSTRUÇÃO DE VÍNCULOS IDENTITÁRIOS
Por Dani | 10/05/2011 | SociedadeINTRODUÇÃO
Sabe-se que o mundo globalizado gerou nos homens uma cultura competitiva, ou seja, individualista. Há uma busca contínua pela autonomia, independência e pelo imediatismo, mas tudo isto os torna verdadeiramente solitários e que se contrapõe com a sua própria natureza, já que o homem é um ser social.
O consumismo e o erotismo desenfreado, a degradação dos valores morais e da família, a indiferença religiosa, a violência etc, cria um caos na sociedade.
Perante os numerosos problemas e desafios do tempo de hoje, surgem as "Comunidades Novas" e mais precisamente a Comunidade Católica Shalom que através da consagração de vida dos seus membros a Deus, dedicam-se inteiramente a ele e ao serviço da Igreja, contribuindo dessa maneira para evangelização do homem e sua atuação na sociedade, enquanto agente transformador de realidades.
Nessa perspectiva, durante algumas conversas informais entre os componentes do grupo foi despertada a curiosidade de conhecer e compreender uma nova forma de vida que em seu seio abriga um cotidiano marcado por uma rotina cheia de significados e privações.
Quando nos propusemos a estudar a Comunidade Católica Shalom tivemos receio do que íamos encontrar até porque conhecíamos pouco desta realidade e ao mesmo tempo algo nos intrigava: pessoas que abandonam tudo para viver um modo de vida diferente daquilo que estávamos acostumadas a ver. Passam a vida toda dentro da comunidade, longe da família e de outras circunstâncias inerentes ao ser humano (vida profissional, afetiva, social...). Enfim, o que levava essas pessoas à Comunidade, como era construída a identidade e o que realmente as sustentavam?
Sendo assim, faz-se necessário compreender as seguintes indagações: Quais são os elementos essenciais que constituem os vínculos identitários da Comunidade de Vida Shalom? E o que sustenta de fato os indivíduos dentro desta?
Portanto, o presente estudo objetiva compreender como se constrói os vínculos identitários entre os membros da Comunidade Católica Shalom de Natal/RN, a partir do processo de identificação e admissão dos membros, da organização social, da idéia de família e do papel das vivências lúdicas na construção da identidade cultural da Comunidade.
A pesquisa de campo foi usada aqui como instrumento para trabalhar a problemática abordada nesse trabalho. Esta apresenta novas considerações a cerca das "comunidades novas", mas especificamente a Comunidade Católica Shalom que através de suas peculiaridades se diferencia dos padrões da sociedade vigente por abraçar um modo de vida pautado na radicalidade do evangelho de Jesus Cristo.
Este artigo está organizado da seguinte forma: num primeiro momento fez-se necessário percorrer um caminho histórico para situar a Comunidade Shalom no contexto atual; num segundo momento é apresentado o corpo teórico desta pesquisa: identidade como processo de construção de vínculos sociais; em seguida o percurso metodológico para a análise dos dados coletados com aplicação de entrevista semi-estruturada com (8) oito membros da Comunidade de Vida Shalom.
Por fim, a presente investigação possibilita encaminhamentos para novos estudos servindo na utilização em outros trabalhos acadêmicos que contemplam essa mesma temática.
No âmbito social, a pesquisa deseja colaborar para repensar os valores morais e sociais praticados pelos indivíduos no contexto atual.
COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM
De acordo com o site oficial da Comunidade Católica Shalom, a mesma teve início em 1982, em Fortaleza/CE, tendo como fundador Moysés Louro de Azevedo Filho. A Comunidade surgiu no seio de um grupo de jovens que a priori utilizaram-se de uma lanchonete com o objetivo de atrair outros jovens para Deus e para a Igreja. Com os jovens vieram às famílias, as crianças e todo um povo que se formou ao redor da Comunidade.
Mas somente, no período de 1985-1986, a partir da "Celebração Eucarística" presidida pelo Pe. José Yela, que os primeiros jovens e adultos fazem votos de compromisso com a "Comunidade de Vida e de Aliança" aumentando assim o número de membros, tornando-se reconhecida como Comunidade. A partir daí começa a multiplicarem-se dentro desta comunidade os grupos de oração, os centros de evangelização e de formação, como também a criação de serviços e projetos de cunho evangelizadores para a juventude e a família. Todas estas ações visavam buscar formas e métodos para a "Nova Evangelização".
Em 1991 foi aberta a primeira casa fora da Arquidiocese de Fortaleza, na diocese de Quixadá, por solicitação do Bispo Diocesano, Dom Adélio Tomasin. Em seguida, os pedidos se multiplicaram e atualmente se somam 50 dioceses no Brasil e no Exterior que buscam a edificação da Igreja e a propagação do Evangelho. Porém é durante o período da Páscoa de 1998, que o então Arcebispo de Fortaleza, Dom Cláudio Hummes, concedeu o decreto canônico de reconhecimento e aprovação da Comunidade Católica Shalom como entidade privativa de fiéis. No dia 13 de março de 2007 a Comunidade Católica Shalom teve seu reconhecimento pontifício, como Associação Privada Internacional de Fiéis.
A Vocação Shalom pode ser vivenciada de duas formas que se complementam: A Comunidade de Vida e a Comunidade de Aliança.
O processo de identificação e admissão dos membros na comunidade, normalmente acontece quando uma pessoa participa de um grupo de oração dentro da comunidade e a partir daí, com o desejo de ingressar na comunidade busca o vocacional que se designa um processo de discernimento pelo qual cada pessoa se submete durante um ano com o fim de confirmar sua identidade com a comunidade. Através de encontros mensais e com a ajuda de um acompanhador pessoal, o vocacionado vai perceber se é chamado à vocação Shalom. Alguns fazem uma experiência na comunidade de aliança e outros na comunidade de vida para verificar onde se identificam realmente.
A Comunidade de Vida é formada por pessoas que atendendo ao chamado de Deus, abraçam a radicalidade do evangelho, renunciando a tudo para viver inteiramente e plenamente a vocação Shalom. Residem em casas comunitárias onde tudo é partilhado em comum. Configuram a vida a Jesus Cristo, através da consagração de vida, professando os votos de pobreza, obediência e castidade. A Comunidade de Vida é chamada a viver a pobreza evangélica, confiando inteiramente na providência divina e contentando-se com o necessário para viver.
Na Comunidade de Vida encontram-se os três estados de vida: celibatários, casais e sacerdotes, bem como irmãos em discernimento de seu estado de vida. Todos com os mesmos direitos e deveres abraçam todas as bênçãos e exigências próprias desta vocação. E nesse contexto Azevedo (1992, p. 24) afirma que "dentre as comunidades de vida encontramos algumas que abrigam todos os estados de vida (celibatários, casais e sacerdotes) e outras com um mesmo estado comum".
A Comunidade de Vida vivencia suas manhãs em clima de silêncio, oração e escuta a Deus. Participam do Culto Eucarístico, vivenciam momentos com a leitura da palavra de Deus e no final da manhã são instruídos por meio da formação comunitária e partilha de vida. As tardes e algumas noites são dedicadas à evangelização no centro católico de formação e a momentos de fraternidade com os irmãos de vocação. Encerram o dia com a oração das Completas (Liturgia das horas), com um coração grato por tudo que Deus os concedeu durante o dia.
A Comunidade de Aliança é formada por pessoas que trazem em si a "Vocação Shalom" e exercem suas atividades profissionais dentro e fora da comunidade. Estes irmãos residem em suas próprias casas e não tem vida fraterna em comum. Os membros da Comunidade de Aliança também professam votos de pobreza, obediência e castidade, conforme o Carisma Shalom. Vivem conscientemente a dimensão da pobreza, reconhecendo que tudo é dom de Deus e generosamente usam seus bens a serviço do Senhor. Vivem no exercício da obediência a Jesus, ao seu Evangelho, à Igreja, às regras de vida e às autoridades constituídas na vocação. Vivem a castidade com um coração indiviso, uma marca presente na vida dos consagrados da Comunidade de Aliança. Semanalmente reúnem-se para oração e formação. Os momentos fortes de espiritualidade comunitária e pessoal assinalam a vida de união com Deus. Abraçam como compromissos espirituais: a oração pessoal, o estudo bíblico, o terço, a Eucaristia diária, reunião de formação e oração semanais, partilha de vida e lazeres comunitários. Através da vida comunitária, os membros da Comunidade de Aliança encontram força para testemunhar na vida familiar, profissional, social e apostólica o carisma Shalom. Os membros estarão abertos à vontade de Deus, a serem enviados conforme as missões da vocação. Dentro da Comunidade de Aliança, o Senhor chama alguns a uma vida comunitária mais intensa. Estes irmãos se agrupam em pequenos núcleos residenciais sem abandonarem seus compromissos seculares, partilhando tudo em comum. Para os membros a comunidade se torna uma nova família.
Em Natal, o Shalom teve início em 1992, a convite do então atual Bispo Dom Alair Vilar. Teve como missão coordenar a rádio rural, sendo esta o ponto de partida das atividades da Comunidade. Em 1993, Dom Heitor de Araújo Sales foi nomeado Arcebispo de Natal, substituindo Dom Alair e confirma a presença da Comunidade Shalom na Diocese, confiando inclusive à direção de uma livraria que era um meio de manter a rádio rural. No dia 17 de dezembro de 1994 foi inaugurado o Centro de Evangelização e Formação Shalom, fincando as primeiras bases em solo natalense e com o objetivo de despertar vocações para a Igreja. Em 1995 acontece o primeiro encontro vocacional com cerca de 50 pessoas que desejavam "ingressar" na comunidade. Convém lembrar que antes o vocacional Shalom já existia em Natal; entretanto, limitava-se às pessoas engajadas na Rádio Rural ou que já conheciam a Comunidade.
A missão de Natal tem atualmente dois Centros de Evangelização que se localizam, um no bairro do Planalto que desenvolve um trabalho com ênfase na Promoção Humana, e o outro em Petrópolis que trabalha com o Projeto Juventude sendo este o foco principal. Possui hoje doze grupos que funcionam durante a semana, sete grupos mistos e um grupo de casais. É importante frisar que é esta ultima unidade que utilizamos como campo de pesquisa investigativo. A sede se localiza na Av. Hermes da Fonseca, 533 - Petrópolis. Este Centro compõe-se de aproximadamente 300 pessoas e tem os jovens como presença marcante em decorrência de seu principal projeto. Uma de suas ações que ganhou maior reconhecimento público foi o evento ao ar livre que reproduz a encenação da Paixão de Cristo ocorrido anualmente no Campus Universitário (UFRN) e atinge por noite um público diversificado de mais de cinco mil pessoas.
O Centro Católico de Evangelização Shalom abrange trabalhos com diversos ministérios, que são eles: acolhimento, pastoreio, evangelização, servo de seminário, oração e aconselhamento, música, dança, teatro, livraria, lanchonete, pregação, intercessão, providência, entre outros. Participam da Obra Shalom em Natal aproximadamente seiscentas pessoas.
IDENTIDADE COMO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
"A identidade é um processo de construção social com base em atributos culturais" (Castells, 1997) apud Rosendahl (2001, p. 48). Sendo assim, a identidade possui uma dimensão individual e outra coletiva.
Na dimensão individual o homem tem necessidade de criar significações para sua vida que de certa forma empresta sentido à sociedade, sendo no cotidiano que se constrói essa realidade social. Nesta perspectiva, o homem passa a ser compreendido como um ser capaz de atuar, de refletir e de se identificar, transformando a si mesmo e o contexto no qual se encontra. Já na dimensão coletiva da identidade, a cultura exerce um papel principal para delimitar as diversas personalidades, os padrões de conduta, as características próprias de cada grupo humano e ainda a religião que congrega a diversidade na unidade.
Para Rosendahl (2001, p. 48),
A identidade religiosa seria uma construção histórico-cultural socialmente reconhecível do sentimento de pertença religiosa. Por exemplo, reconhecemos uma identidade católica por meio da representação institucional, da prática ritual e dos atos de consagração. O conceito de pertença permite o reconhecimento não necessariamente institucional da opção religiosa. Já o conceito de identidade se refere a uma imagem institucional necessária. Demonstra a materialidade da religião e a representação pela qual o indivíduo se identifica.
Desse modo, quando o indivíduo decide viver em comunidade se identifica com o carisma que comporta um especial seguimento de Cristo, formando uma nova família e descobrindo assim sua própria realização. Nesse sentido, relata a entrevistada Maria José Freitas da Silva: "então, a família shalom pra mim é o maior presente de Deus. Eu acho que eu não seria a Mazé que eu sou hoje sem minha família Shalom, sem o carisma Shalom. Então, hoje verdadeiramente eu posso dizer com toda a força da minha alma, com toda convicção que eu sou feliz".
VÍNCULOS SOCIAIS: FAMÍLIA E VIDA FRATERNA EM COMUM
De acordo com os interlocutores pertencer a uma comunidade implica participar de crenças comuns e encarnar os ideais de comportamento regidos por um estatuto (regimento interno) que permeia a vida dos seus membros. Significa abraçar uma nova forma de vida e uma nova família que em seu seio abarca as mais diferentes culturas e realidades, a qual manifesta o sentido de pertença e da coletividade. Nesse sentido, afirmam os interlocutores que a vida comunitária se caracteriza como um lugar de descobertas, desafios, superação de si, aceitação do outro, via de felicidade, sustento, bálsamo, entre outros atributos, força para continuar a caminhada. Nesta perspectiva, Censini (1989, p. 191) diz:
Até que, a um dado momento, percebe que não está sozinho nessa busca e nesse caminho: com ele está muitos outros com o mesmo desejo no coração. Assim, o caminho torna-se mais fácil, porque, juntos caminha-se melhor, sentimo-nos irmãos, uma vez que cada qual se reconhece no outro e se ajudam mutuamente, pois a finalidade é a mesma.
É importante ressaltar que a vivência de lazer para eles se configura como um momento de "Koinonia" que significa comunhão, fraternidade. É um momento onde eles se reúnem como família e através dos jogos, das brincadeiras, dinâmicas, passeios, celebram o dom da vida, partilham conhecimentos, fortalecem os laços, enfim, cimentam os vínculos fraternais.
O almoço, a faxina diária, a oração comunitária e o apostolado (trabalho voluntário no Centro de Evangelização) também são tijolos que ajudam a construir os laços identitários, pois o contato diário, constante aproxima e cimenta a amizade entre os membros da comunidade. As mulheres residem numa casa separada dos homens e por sua vez cada casal tem a sua própria casa. No entanto, eles se encontram diariamente e compartilham das refeições, dos afazeres domésticos, dos momentos de oração e formação, do apostolado (local de trabalho).
PERCURSO METODOLÓGICO
Para Marconi (1990, p. 75) apud Andrade (2005, p. 127),
Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar ou, ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles.
Foi empregado como instrumento de coleta de dados, a aplicação de entrevistas gravadas. A amostra foi constituída por membros da comunidade de vida do Shalom, entre eles, 01(uma) coordenadora apostólica e 07(sete) membros consagrados indicados pela então coordenadora Maria José Freitas da Silva (Mazé), através de roteiro de entrevista semi-estruturada e observação participante em alguns momentos do cotidiano da comunidade.
Fomos à comunidade sete vezes. Num primeiro momento, tivemos um contato inicial que já se constituiu de entrevista semi-estruturada. Em outros momentos, visitamos o Centro Católico de Evangelização Shalom e a residência comunitária, onde fizemos outras entrevistas, tiramos fotos e observamos algumas atividades realizadas pelos membros da comunidade. Por exemplo, Missas, eventos, trabalhos na lanchonete, jogos na casa comunitária.
UM OLHAR SOBRE O COTIDIANO DA COMUNIDADE SHALOM/NATAL/RN
Foi constatado que a comunidade de vida compreende um ambiente organizado que se configura através de uma rotina diária, onde as manhãs são vividas em clima de silêncio, tem a faxina com divisão de tarefas, oração, leitura da bíblia, escuta a Deus, formação comunitária, partilha de vida e só no momento do almoço cessa o silêncio que acontece num clima de alegria e fraternidade. Segundo a entrevistada Roane Jane Maia Holanda, "um momento em que não troco em hipótese alguma é sem dúvida o lugar propício para a fraternidade e a alegria é o almoço, o momento de muita convivência onde falamos de diversas coisas comunitárias".
As tardes são dedicadas ao apostolado (aconselhamento, ministérios, palestras etc) no Centro Católico de Evangelização Shalom, concluindo com a Missa, em seguida, tem um momento de oração comunitária. Às noites, o jantar e em seguida retornam novamente para o Centro de Evangelização, onde as quinze para dez concluem as atividades. Em seguida, eles voltam para a última oração do dia que são as completas (Liturgia das horas).
A hierarquia se constitui de um fundador, cujo nome é Moisés Louro, moderador geral que acompanha todo o andamento da comunidade, através dos responsáveis pelas missões em cada diocese. O moderador geral tem o seu conselho geral que é composto por membros da comunidade de vida e também de aliança que responde pela comunidade no Brasil e no exterior. Cada missão é composta por um formador comunitário que acompanha o andamento da casa, a vivência espiritual do dia a dia. Um formador pessoal que orienta mensalmente cada membro da comunidade. Um coordenador apostólico que responde por toda evangelização da comunidade, contando com a ajuda das lideranças que estão à frente dos ministérios e dos responsáveis por cada coordenação (casa, alimentação, ministérios...) que colaboram efetivamente com suas atividades.
Verificou-se que os entrevistados reconhecem a Comunidade Católica Shalom como um lugar que dá sentido a existência e que se efetiva um encontro consigo mesmo. O relato de Maria José Freitas da Silva mostra que "para mim, a família Shalom representa um lugar onde posso me encontrar e dar sentido a minha vida e a minha missão. Ser Shalom é levar a paz aos corações dos homens e esse é o maior sentido da minha vida e da minha pertença a Deus, à Igreja e a Comunidade". O mesmo pode ser observado na fala de Sheila Kelly de Oliveira Ferreira "para mim, a família Shalom representa um lugar onde posso me encontrar e dar sentido a minha vida e a minha missão".
Perguntados sobre a vida comunitária, os interlocutores, em sua maioria, identificaram esse universo social como um espaço que compreende um ambiente familiar marcado pelo amor aos irmãos, partilha de vida, sustento da vocação, bálsamo e força na caminhada, entre outros atributos. É isso que podemos verificar na fala de
Sheila Kelly de Oliveira Ferreira "a vida comunitária pra mim representa um oásis cujas águas transbordam para aqueles que se aproximam de nós. A vida comunitária tem sido uma salvação de Deus na minha vida, pois os irmãos me levam a sair de si e vencer o meu egoísmo. Eu encontrei em cada irmão um tesouro, uma alegria que me leva a amar e a prosseguir. Não é fácil muitas vezes, pois numa família existem também os seus desafios de relacionamentos, etc. Mas os anos se passam e cada dia posso vencer esses desafios".
Com relação às vivências de lazer, afirmam os interlocutores que são bem proveitosas, servindo para fortalecer a vida comunitária e os laços fraternais. Nesse sentido, relata João Figueredo Alves "para nós da vocação Shalom, algo que marca muito a nossa vida é a convivência entre irmãos. Estarmos juntos, aprendendo com o outro para nós é diferente. Então na comunidade existe um dia que geralmente é na semana, em que todos os irmãos estando juntos, têm um sadio lazer. Um lazer marcado por momento de fraternidade, de alegria, se alegrando com a presença do irmão".
Através da simplicidade e criatividade foram mencionadas diversas vivências de lazer que acontecem no interior e fora da comunidade, entre elas, jogos, dinâmicas, brincadeiras, passeios assistir filmes selecionados, conversar com os "irmãos", ir ao cinema etc.
Nesta perspectiva, Gomes (2008) afirma:
Assim, o lazer inclui a fruição de diversas manifestações da cultura, tais como o jogo, a brincadeira, a festa, o passeio, a viagem, o esporte e as diversas formas de artes (pintura, escultura, literatura, dança, teatro, música, cinema), entre inúmeras outras possibilidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para os membros da Comunidade de Vida Shalom a identificação entre eles se constrói a priori pelo chamamento divino que se dá por meio de um carisma que comporta um ideal a ser vivido e como conseqüência disto a família, onde cada membro se torna interprete do mesmo dom. Contudo, embora eles acreditem que a motivação para participar da vida em comunidade se dê através do chamado de Deus, podemos observar em seus discursos que a fraternidade gerada pelo convívio diário (oração em comum, lazer, divisão de tarefas, apostolado, partilha de vida...) determina os vínculos identitários e sustenta os membros dentro da comunidade, já que, para eles o outro é reflexo do próprio Deus.
Esperamos que este estudo possa contribuir para fomentar outras discussões em torno dessa temática, suscitando novas pesquisas que possa produzir conhecimentos ligados a construção dos vínculos identitários em comunidades religiosas.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
AZEVEDO, Moysés Louro. Comunidades Hoje. 2. ed. Fortaleza: Shalom, 1992.
Batismo no Espírito Santo. Renovação Carismática Católica do Brasil. Aparecida, SP: Santuário, 1994. (Coleção Paulo Apóstolo, 2)
CENSINI, Amedeo. Amarás o Senhor teu Deus. 2. Ed. São Paulo: Paulinas, 1989.
COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM. 2002.
Disponível em: