Comunicação
Por Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo | 03/11/2017 | LiteraturaA comunicação é uma daquelas atividades humanas que todos conhecem, mas poucos conseguem definir, pelo menos no seu sentido mais abrangente, desde logo, porque, e simplesmente, a comunicação: é falar uns com os outros; é televisão, rádio, imprensa, internet; é divulgar informação; é o próprio penteado; é a obra de arte, qualquer que seja o seu estilo e época; é a crítica literária.
Se se partir da premissa, segundo a qual, o comportamento não tem oposto, porque não existe o não-comportamento, isto é, um indivíduo não pode não-se-comportar, e se se aceitar que todo o comportamento tem valor de mensagem, ou seja, é comunicação, então é impossível o indivíduo não comunicar, porque: atividade ou inatividade; palavra ou silêncio; tudo possui um, valor de mensagem, influencia outros e estes outros, por sua vez, não podem não-responder a essas comunicações e, portanto, também estão comunicando.
A mera ausência de falar ou de observar não constitui exceção e, deste modo, uma pessoa que se encontre, por exemplo, de olhos fechados, silenciosa e quieta, poderá estar a comunicar que não quer falar com ninguém, nem que falem com ela.
Pode-se ficar com a ideia de que o ser humano está sujeito à inevitabilidade de comunicar, que consiste no facto de ninguém ser capaz de não-comunicar, porque a simples presença de um indivíduo envolve a emissão de mensagens, com significados determinados, para os seus intérpretes. Voluntária ou involuntariamente, o comportamento humano tem sempre um valor de mensagem para quem o lê.
Tomando por base a etimologia, a palavra comunicação deriva do latim “communis”, que significa comum e comunicar poderá, então, significar, tornar comum, inaugurando a passagem do individual ao coletivo, entendido como condição de toda a vida social.
E se inicialmente o termo significava troca de palavras, de coisas, de bens e serviços, hoje, assume um sentido não material, porque se trata de uma troca de mensagens significativas, e que envolve determinados elementos: emissor; recetor; código; mensagem; canal e ruídos.
Também se invoca um outro conceito da palavra comunicação humana, como sendo um processo bidirecional, que relaciona, pelo menos, dois indivíduos, envolvendo diversos fatores ou elementos, estes já antes indicados.
Neste conceito a palavra comunicação: «deriva do verbo latino communicare – conversar, trocar ideias, expor e consultar. Relaciona-se, ainda, com a ideia de commnunitas – comunidade ou comunhão. Partilhamos e trocamos conhecimentos, sentimentos as experiências de modo a alterarmos reciprocamente os nossos comportamentos.» (cf. MARQUES; RAPOSO, s.d.:3).
Também poderemos perspetivar uma outra noção de comunicação, segundo a qual: «Em qualquer projeto, a comunicação entre as pessoas é fundamental. É no ato comunicativo que partilhamos ideias/propostas, analisamos a situação atual e delineamos as fases seguintes. Segundo os dicionários portugueses, a palavra comunicação deriva do latim comunicare, que significa “tornar comum”, “partilhar”. A comunicação pressupõe, deste modo, que algo passe do individual ao coletivo. Os seres humanos são obrigados a cooperar uns com os outros, formando grupos/redes para alcançar certos objetivos que a ação individual isolada não conseguiria alcançar.» (FERNANDES, 2014).
A comunicação é, pois, uma inevitabilidade cultural e antropológica, sempre acompanhada de atitudes, e pode ser de dois tipos: verbal, que constitui a forma privilegiada da comunicação pela palavra falada ou escrita; não-verbal, que enfatiza, clarifica, exemplifica e contradiz os elementos verbais.
Os indivíduos agem e comportam-se socialmente: uma conduta individual toma as outras pessoas como objeto e, essas pessoas, são interlocutoras e parceiras, respondem às ações do indivíduo considerado, embora, as relações não sejam sempre desta forma.
À comunicação corresponde um determinado efeito social, já que dela resulta a modificação do comportamento ou da convicção do recetor, porque misturando elementos intencionais, e devidamente calculados, com elementos espontâneos e, até certo ponto, involuntários, a comunicação produz mudanças variadas nos comportamentos.
Por isso se pode aceitar que a primeira forma de interação humana, a estudar, é a comunicação, que se pode entender como sendo um mecanismo que sustenta a existência, desenvolvimento e transmissão das significações entre as pessoas.
A comunicação humana não pode pré-existir às relações entre os indivíduos, pois consiste em criar um estado de espírito comum entre aquele que comunica e aquele que recebe a comunicação, o que supõe relações anteriores. Reciprocamente, uma sociedade não funciona se não existir a comunicação.
Os homens não são máquinas, e toda a interação humana subentende a mediação de ideias que são comunicadas. Daqui podem extrair-se conclusões interessantes, no quadro das relações humanas quotidianas, como por exemplo: a relação professor-aluno pode levar a pensar em bases segundo as quais o aluno, sujeito-alvo, atribui poder ao professor, agente-influenciador e, certamente, reconhecer-lhe poder de competência; por sua vez, o professor poderá reconhecer ao aluno poder de recompensa e de punição, através da simpatia ou antipatia que o aluno demonstra.
Quando se abordam as questões da comunicação, um dos tipos que se discute, coloca-se ao nível da comunicação verbal, diretamente conotado a uma língua, esta considerada indispensável na produção de documentos, que transmitem informação diversa, conforme a sua origem, destinatários e objetivos, comportando em si mesmo significações, que o leitor terá de interpretar corretamente, no sentido que o remetente pretende dar à informação produzida.
O que, imediatamente, se infere desta reflexão, é a importância de dominar muito bem a língua que se utiliza na comunicação verbal, porque: «Falar uma língua é adotar uma forma de comportamento regido por regras, sendo estas regras de uma grande complexidade. Aprender e dominar uma língua é (interaliar) aprender e dominar estas regras. Este é um ponto de vista familiar à filosofia e à linguística, mas dele nem sempre se tiraram todas as consequências.» (SEARLE, 1981:21).
Naturalmente que existem algumas orientações para se introduzirem regras (há quem lhes chame truques), simples e acessíveis à linguagem popular, para melhorar a transmissão dos comunicados humanos, de que se podem destacar algumas delas:
a) Pronunciar as palavras corretas e claramente;
b) Falar distintamente, com boa dicção, nem muito alto, nem muito baixo;
c) Concentrar-se na sua mensagem e levar os interlocutores a fazerem o mesmo;
d) Não usar maneirismos, nem palavras complicadas e os termos técnicos apenas, e quando, for absolutamente necessário e, se possível, perante um auditório especializado no tema;
e) Ser breve, conciso, preciso, estruturante quanto aos objetivos a atingir;
f) Manter uma postura correta, gestos comedidos que acompanham a palavra, controlo de voz, que evite os sons excessivamente agudos ou graves;
g) Mostrar um rosto aberto, interessado e convicto, sobre o assunto que está a expor.
O relacionamento humano seria impossível sem o ato comunicativo, entendido este como uma interação entre pessoas, que desejam a convivencialidade societária, seja em contexto familiar, profissional, social, político, religioso ou outro.
As relações humanas pressupõem diálogo, troca de ideias, transmissão de conhecimentos, divulgação de factos, manifestação de sentimentos e tantas outras intervenções, só possíveis pela comunicação, verbal, e/ou, não verbal.
Qualquer dos tipos de comunicação (verbal e não verbal) quando utilizado um, este será tanto mais enriquecido quanto mais se recorrer, adequada e complementarmente, ao outro, imprimindo sempre naturalidade, sinceridade e entusiasmo na apresentação do tema, independentemente do auditório a quem se dirige a comunicação.
A comunicação forçada, simulada, afetada e muito sofisticada pode, em certos contextos, dificultar a compreensão da mensagem que se pretende divulgar e, consequentemente, os efeitos pretendidos e objetivos a alcançar ficam prejudicados porque: «Todos nós admiramos os oradores que conseguem dar naturalidade às suas alocuções, que não têm medo de se expressar, nenhum receio de utilizar a única, individual, imaginativa maneira de dizer o que têm a dizer ao auditório.» (CARNEGIE, 1962:188).
Bibliografia
CARNEGIE, D. Como Falar Facilmente, 6ª edição. Tradução, Mário Domingues, Porto: Livraria Civilização. 1962
FERNANDES, Cecília Manuela Gil Carrondo, (2014). Dissertação de Mestrado: “Turismo, Inovação e Desenvolvimento”, Viana do Castelo: IPVC-Instituto Politécnico de Viana do Castelo.
MARQUES, R. & RAPOSO, R. Comunicação I. Lisboa: IEFP/Núcleo de Apoio à Aprendizagem – Departamento de Formação Profissional para o Sector Terciário. S. Data.
SEARLE, J. R. Os Actos de Fala – Um Ensaio de Filosofia da Linguagem. Tradução, Coordenação de Carlos Vogt. Coimbra: Livraria Almedina. 1981
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Blog Pessoal: http://diamantinobartolo.blogspot.com