Compreendendo a escola.
Por Wellington Cavalcante Durães | 10/05/2012 | EducaçãoCOMPREENDENDO A ESCOLA
Wellington Cavalcante Durães*
Resumo
O presente trabalho pretende realizar uma compreensão objetiva sobre a escola partindo dos elementos de análise do “fator escola”. Para construir tal entendimento, trabalharemos com: infraestrutura e os fatores externos, a organização da escola, a liderança da escola, os professores, o clima interno e as característica do ensino. Buscando assim, um melhor entendimento sobre a escola e alguns de seus elementos balizadores.
Palavras - chaves: Professores, Organização da escola, Liderança da escola, característica do ensino.
INTRODUÇÃO.
Este trabalho consiste em uma pesquisa documental partindo dos estudos de Soares (2002), onde ele aborda o “fator escola” que dividi-se em seis grandes grupos de análise, que são: a infra-estrutura e os fatores externos à organização da escola; a governança da escola; os professores; a relação com as famílias; o clima interno e as características do ensino.
Esses itens de análise juntos podem explicitar as varias formas de como a escola pode interferir no desempenho escolar dos alunos.
Infraestrutura e fatores externos à organização da escola.
Na contemporaneidade uma escola não pode desconhecer sua infra-estrutura e fatores que lhe são externos, pois, tais fatores influenciam diretamente em sua organização. Desse modo, é necessário que tenha um levantamento para saber as condições de trabalho que ambiente escolar está oferecendo aos alunos e professores. Por isso, os fatores sociais, econômicos e políticos são as formas de compreender a realidade das instituições escolares.
Nesta perspectiva, Soares (2002, p.14), afirma que: “Conhecer as condições de trabalho e o contexto social, econômico e político é um instrumento importante para estabelecer quais são os limites e as possibilidades de uma escola, entendendo melhor a sua realidade.”
Dessa maneira, torna-se necessário que as pesquisas realizadas no Brasil levam em consideração elementos como o número de alunos nas turmas, estado de conservação do prédio, a adequação das instalações, recursos didáticos existentes, existência e qualidade da biblioteca. Pois, esses recursos são elementos essenciais dentro de uma escola, e a sua não existência ou existência de forma precária podem interferir diretamente no desempenho escolar.
Outro item a ser tratado, diz respeito à questão social de cada individuo. Nesse sentido, pode-se dizer que a escola reflete desigualdade social presente no país, levando em conta que a realidade educacional muda de acordo com os fatores sociais de cada escola, gerando de tal modo violência nas instituições e prejudicando o ambiente escolar.
Assim, as diferenças da realidade educacional estão moldadas por filtros sociais, econômicos, culturais e raciais, pela localização (rural ou urbana) e pelo tipo de rede escolar (pública ou privada). O que se tem então é uma escola que retrata a segregação da sociedade brasileira: grosso modo, as escolas públicas tornaram-se o espaço das classes menos favorecidas social e economicamente e as escolas particulares passaram a receber as classes no topo da pirâmide social. O sistema escolar brasileiro, nesse sentido, esvazia o espaço público republicano de convivência das diferenças, contribuindo para a reprodução e para a manutenção das diferenças sociais. (SOARES, 2002, p.16)
Nesse sentido, entender as diferenças existentes entre as escolas é na realidade desmascarar as desigualdades que a escola reproduz.
Liderança da escola.
A liderança profissional do diretor expressa a capacidade de comandar a construção e execução dos projetos pedagógicos na instituição de ensino. Assim, um gestor eficiente, buscará um relacionamento próximo e tranqüilo com sua equipe pedagógica, gerando um modelo liderança que deixa de lado a imagem de um gestor mandatário e constrói a figura de uma direção eficiente e participativa no processo do ensino.
Todavia, o gestor tem que entender as relações entre funções administrativas e pedagógicas para que assim, encontre mecanismos que interajam entre si, facilitando o aprendizado das diversas camadas sociais existentes em uma instituição de ensino.
Logo, a atuação do gestor é de fundamental importância no ambiente escolar, tornando-se essencial sua liderança perante as partes envolvidas. Pois, além de fatores internos o gestor trabalha com fatores externos como violência, onde na maioria das vezes esses fatores estão previamente definidos pela realidade social em que a escola se encontra.
Em relação aos fatores externos à organização da escola, o elemento da realidade brasileira, da mesma forma, é determinante. Nesse sentido, as políticas públicas de educação brasileiras interferem diretamente na organização das escolas. Um redirecionamento causado pelas mudanças de governo, a carência de incentivos na área da educação, as políticas públicas de contratação de pessoal, entre outros, são fatores externos que atingem diretamente o desempenho escolar. (SOARES, 2002, p.15)
Diante das adversidades que os gestores enfrentam Soares (2002, p.18), ressalva que, “a gestão administrativa, ou seja, a utilização correta dos recursos é um elemento que pode diferenciar de forma significativa uma escola da outra”.
Desta forma, o diretor trabalhara com a construção de um ambiente escolar integrado, buscando a participação mútua dos professores e pais no processo de ensino/aprendizagem dos alunos. Indicando assim, sua competência de liderança e sua capacidade de captar e administrar os recursos financeiros, que garante por fim um bom funcionamento da escola, mesmo diante de muitas dificuldades sociais, culturais e políticas.
Os Professores.
Entre os problemas enfrentados pelos professores estão às mudanças anuais de escolas, que ocorre devido à contratação temporária, que acaba dificultando a formação de uma equipe eficaz. Além disso, a falta de material pedagógico, salas super lotadas e baixos salários, são fatores que desestimulam ainda mais a profissão docente no Brasil.
Diante disso, os profissionais da educação deveriam ter oportunidades trabalhistas igualitárias com as demais profissões. Pois, para Nóvoa (1998, p. 32),
Os professores encontram-se, hoje, perante vários paradoxos. Por um lado, são olhados com desconfiança, acusados de serem profissionais medíocres e terem uma formação deficiente; por outro lado, são bombardeados com uma retórica cada vez mais abundante que os considera elementos essenciais para a melhoria dão ensino e para o progresso social. Pede-se-lhes quase tudo. Dá-se-lhes quase nada.
Nóvoa (1998), também chama atenção para a importância que o quadro docente exerce em um ambiente escolar, pois,
[...] os professores constituem não só um dos mais numerosos grupos profissionais, mas também um dos mais qualificados do ponto de vista acadêmico. Grande parte do potencial cultural (e mesmo técnico e cientifico), das sociedades contemporâneas está concentrada nas escolas. Não podemos continuar a desprezá-lo e a menorizar as capacidades dos professores. (1998, p. 38)
Relação com as famílias e com a comunidade.
Na concepção de Nóvoa (1998, p. 32),
[...] uma relação entre escola e sociedade tem de basear-se, simultaneamente, num respeito pelo direito das famílias e das comunidades a participarem da ação educativa e num respeito pela autonomia e pelas competências profissionais dos professores.
Isso porque, pesquisadores afirmam que com a participação de famílias e comunidades nas escolas, têm um significado importante para a melhora dos alunos. E o convívio entre escolas e comunidades, fez com que as violências existentes nas escolas diminuíssem, fazendo com que a participação dos alunos fosse mais prestativa com o aprendizado.
Nesse sentido, pensando-se no caso brasileiro em que as escolas públicas encontram-se carentes de recursos e de pessoal, a participação da comunidade é um elemento importante uma vez que pode trazer benefícios para as escolas como, por exemplo, melhoria no acervo da biblioteca, presença de profissionais voluntários e possibilidade de estabelecimento de convênios. A presença da comunidade pode inclusive ajudar a escola no controle da violência, elemento que, como já apontado, vem interferindo no funcionamento das escolas públicas. (SOARES, 2002, p. 22)
Característica do clima interno da escola.
Com clima interno vem sendo discutido a perspectiva da construção do ambiente escolar e suas organizações para o aprendizado. “Dessa maneira, no que se refere às características do clima interno da escola, são dois os itens de análise a serem trabalhados: existência de um clima de ordem e expectativa em relação ao desempenho futuro dos alunos”. (SOARES, 2002, p. 24)
É evidente que as escolas que contam com as melhores estruturas terão maiores facilidades para oferecer um ensino satisfatório e melhores expectativas em relação ao desempenho futuro de seus alunos. Entretanto, nem todas as escolas têm as mesmas condições de oferecerem um ensino de excelência, ou ate mesmo satisfatório. Isso porque segundo Soares (2002, p. 23) no Brasil, as carências sociais e econômicas dos alunos e de seus pais, as políticas públicas de ensino, entre outros, são todos elementos que vêm contribuindo diretamente para as dificuldades disciplinares das escolas públicas brasileiras.
Característica do ensino.
A característica do ensino esta diretamente ligada às condições oferecidas pelo ambiente escolar. Nesse sentido, uma escola que disponibiliza de bons equipamentos didáticos, oferece a seus professores melhores condições de trabalho e resultados mais eficientes. Já os que sofrem com a precariedade do sistema de ensino público terão dificuldades para desenvolver aulas que contribuam positivamente para o aprendizado dos alunos. Nesse sentido, há de se considerar que a capacidade do cumprimento do programa de ensino estabelecido também está diretamente relacionada com a eficácia da escola. (SOARES, 2002, p. 24)
Em relação ao ensino, Nóvoa (1998, p. 36) diz que “a escola e os professores não se podem limitar a reproduzir um discurso tecnocrático, socialmente asséptico, culturalmente descomprometido”. Pois, para Nóvoa todo silêncio é cúmplice, e não podemos calar a voz das injustiças que se reproduzem também através da escola.
Na realidade, a meta primordial da educação deveria ser de formar o cidadão em sua plenitude. Entretanto, com a globalização esse meta esta investida, agora a finalidade da escola e preparar o individuo para atender às demandas do mercado capitalista, que mais parece um processo interminável de alienação.
Entretanto para Nóvoa (1998, p, 37) “a educação não pode, portanto, ser encarada unicamente segundo uma lógica econômica ou tecnológica, segundo uma perspectiva de eficácia ou de racionalização.” Pois a educação vai bem mais além, influenciando e contribuindo nas mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais da sociedade.
*Graduando de Licenciatura Plena em Geografia pela Universidade Federal do Acre - UFAC
Referências Bibliográficas
ENGUITA, Mariano Fernández . A face oculta da escola – educação e trabalho no capitalismo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
NÓVOA, Antônio. Relação escola-sociedade: “Novas respostas para um velho problema”. In: SERBINO, R. V. (Org.). Formação de professores. São Paulo. Fundação Editora da UNESP, 1998. p. 19-39
SOARES, José Francisco (Cord). Escola eficaz: um estudo de caso em três escolas da rede publica de ensino do estado de Minas Gerais. Relatório de pesquisa Belo Horizonte, UFMG, 2002.
SOARES, José Francisco (Cord). Escola eficaz: um estudo de caso em três escolas da rede publica de ensino do estado de Minas Gerais. Relatório de pesquisa Belo Horizonte, UFMG, 2002.