Comportamento Alimentar dos Odontocetos
Por Juliana de Fátima Galvão | 29/12/2009 | EducaçãoOs cetáceos são um dos principais representantes mamíferos existentes no ambiente aquático, e estão organizados em duas subordens: Odontoceti e Mysticeti. Os odontocetos, caracterizados por possuírem dentes verdadeiros, alimentam-se de peixes, lulas, focas, pingüins, entre outros. Dependem de hábitats estuarinos e costeiros para se alimentarem e reproduzirem. São animais muito sociáveis e possuem uma variedade de estratégias alimentares para a captura da presa. Este estudo possui um levantamento bibliográfico sobre forrageamento em grupo dos odontocetos. As atividades de alimentação são realizadas através de movimentos aparentemente ordenados e com o objetivo de concentrar e cercar os cardumes contra a costa para águas rasas ou contra outros objetos tornando a captura mais fácil, assim, gastam menos energia. Através de sinais sonoros ou físicos, os golfinhos se unem para caçarem. A escolha e a execução de melhores estratégias podem ser transmitidas entre gerações através de um processo de ensino aprendizagem permitindo o desenvolvimento da variação cultural entre as populações. São oportunistas e se aproveitam do ambiente para melhorarem suas técnicas de pesca.
1. Introdução
Os cetáceos reúnem cerca de 76 espécies de mamíferos marinhos bastante populares como as baleias e os golfinhos. Os maiores animais desta ordem são as baleias de barbatana, ou placas córneas, inseridas na subordem Mysticeti, com cerca de 10 espécies. A subordem Odontoceti inclui 66 espécies, conhecidas como delfins, orcas, golfinhos, botos e toninhas, todas possuindo dentes cônicos, mas incapazes de mastigar, e um orifício nasal. São animais que capturam presas que vivem nas camadas superficiais dos oceanos e também são capazes de realizar mergulhos profundos a centenas de metros para se alimentarem. Os odontocetos de menor tamanho podem atingir a maturidade sexual com cerca de 2m de comprimento, podendo chegar a 18m de comprimento na fase adulta. Seus corpos apresentam uma dinâmica semelhante à observada nos peixes, com formato torpediforme (CASTRO e HUBER, 1997; PAES, 2002; LODI, 2003; SIMÕES-LOPES, 2005).
Os odontocetos são encontrados em águas tropicais, subtropicais e temperadas de todos os oceanos, tanto em águas costeiras como em oceânicas, podendo inclusive penetrar em baías, estuários, lagoas e canais, e ocasionalmente penetra em rios. No Brasil ocorre do Rio Grande do Sul até o nordeste (www.pt.wikipedia.org)
As atividades sexuais costumam ser divididas em duas fases clássicas: corte e cópula. A cópula é um evento muito breve nos cetáceos e a estimulação sexual está vinculada a mordiscadas, toques dos machos com o rostro na fenda genital feminina, esfregões ventre com ventre, contatos de cabeça, batidas de mandíbula e sinais sonoros. As fêmeas podem ou não estar receptivas. Parceiros indesejados ou momentos inoportunos desencadeiam uma série de manobras de fuga como girar o ventre, expondo-o acima da superfície, ou posicionar-se de ponta-cabeça com a cauda para fora da água, ficando numa posição em que o macho não consegue manobrar tão bem. As fêmeas podem até agredir os machos com golpes de cauda na cabeça ou sobre o pênis. O período de gestação dos mamíferos placentários está associado em boa parte ao tamanho do animal, com isso, as orcas podem chegar a 17 meses de gestação e, delfinídeos menores, como Delphinus, Stenella e Sotalia de 10 a 12 meses nascendo apenas um filhote a cada gestação (SIMÕES-LOPES, 2005).
Os odontocetos são predadores eficientes, consumindo lulas, peixes, polvos, leões-marinhos, focas e pingüins. Podem variar a alimentação de acordo com o tipo de ambiente em que se encontram e com a abundância da presa. Estes animais dependem de microhábitats estuarinos e costeiros para a alimentação e reprodução. São mamíferos marinhos sociais e muito cooperativos apresentando uma grande variedade de estratégias alimentares, incluindo caças individuais e atividades em grupo, altamente coordenadas. Para aprenderem a fazer suas atividades de modo seguro e eficiente, passam por uma "escola", durante os primeiros anos de vida. A caça é realizada com maior freqüência em locais que forneçam segurança contra predadores, como os tubarões da família Carcharhinidae. O tamanho do grupo depende da relação da concentração de alimento e da segurança contra predadores (DE LA FUENTE, 1979;WÜRSIG, 1986; HAYES, 1998; POUGH et al., 1999; SILVA, 1999; SANTOS et al., 2000; HEITHAUS e DILL, 2002;LODI, 2002; PAES, 2002; BENOIT-BIRD e AU, 2003; LODI, 2003; NEUMANN E ORAMS, 2003; SANTOS, 2003; DOMIT, 2006; OLIVEIRA et al., no prelo; LODI, www.projetogolfinhos.com.br/index.html).
Enquanto estão se alimentando, os golfinhos costumam dar saltos e batidas de cauda para concentrar ou atordoar a presa (LODI, 2002; NEUMANN E ORAMS, 2003; SANTOS, 2003). Segundo Würsig (1986), os saltos dos golfinhos Stenella longirostris têm a função de amedrontar os peixes deixando-os mais unidos, aumentando dessa maneira, a eficiência da pesca.
A pesca de forma cooperativa é bem coordenada com a utilização de estratégias de caça para concentrar a presa e encurralar o cardume contra a costa para águas rasas ou contra outros objetos onde a captura torna-se mais fácil (WÜRSIG, 1986; HAYES, 1999; LODI, 2002; BENOIT-BIRD e AU, 2003; NEUMANN E ORAMS, 2003; SANTOS, 2003). Isso depende principalmente da acuidade visual, da escuta passiva e da atividade de ecolocalização, que consiste na emissão de pulsos sonoros e no monitoramento do retorno dos ecos (DE LA FUENTE, 1979;PAES, 2002).
A variação da maré pode influenciar os comportamentos alimentares cooperativos dos golfinhos, como ocorre com Sotalia guianensis da região da Ilha das Peças, Estado de São Paulo, e com Sotalia fluviatilis na Praia de Atafona, estado do Rio de Janeiro (DI BENEDITTO, 2001; DOMIT, 2006). Segundo Di Beneditto (2001), S. fluviatilis usam a desembocadura do rio das Peças durante a estratégia alimentar em pequenos grupos.
O comportamento alimentar pode variar de acordo com as estações e com o tipo de presa. Os golfinhos S. guianensis,estudados por Domit (2006), executam o comportamento em grupo com mais freqüência nas estações chuvosas. Também pode ocorrer variação durante o dia, em que os golfinhos vão se adequando ao tipo de alimento disponível (WÜRSIG, 1986; BENOIT-BIRD e AU, 2003; NEUMANN e ORAMS, 2003).
Em áreas de manguezais, os golfinhos S. fluviatilis guianensis perseguem os peixes até mesmo por entre as raízes da vegetação de mangue. Neste caso, dada à dificuldade de deslocamento, os golfinhos mergulham lentamente por entre as raízes, induzindo os peixes a abandonarem os locais onde estavam protegidos, facilitando a captura do peixe por parte de outro golfinho (MONTEIRO-FILHO et al., 1999).
Delfinídeos de águas abertas, como o golfinho comum Delphinus delphis, normalmente formam grupos para procurar comida, como cardumes ou lulas, e é provável que tenham métodos sofisticados de alimentação cooperativa, quando a presa é encontrada (WÜRSIG, 1986).
O estudo comportamental de golfinhos sob condições naturais não é incomum, mas poucos conseguem registrar, de forma mais ampla, a realidade dos comportamentos que estão sendo executados. Além disso, é possível observar alguns comportamentos e interações entre cetáceos que freqüentam ou que vivem em regiões costeiras por meio de observações a partir de pontos em terra e abaixo de superfície da água ou em pequenas embarcações (DI BENEDITO, 2001; BENOIT-BIRD e AU, 2003; VALLE, 2006).
Pouco se sabe sobre os odontocetos e seus hábitos de captura. A maioria dos estudos sobre alimentação de cetáceos tem adotado como método principal a análise do conteúdo estomacal e/ou intestinal de animais encontrados encalhados nas praias, ou acidentalmente capturados em redes de pesca (DI BENEDITO, 2001). Entretanto, a variedade de espécies de presas de hábitats diferentes encontradas no conteúdo estomacal dos golfinhos D. delphis, da costa de Portugal, sugere que sua alimentação possui um versátil comportamento alimentar (SILVA, 1999).
Existem vários artigos relacionados ao comportamento alimentar dos golfinhos, mas há poucos baseados em levantamentos bibliográficos destas estratégias. Esse tipo de trabalho tem uma importância primordial, pois além de aprimorar os conhecimentos na área, ele reúne informações sobre os golfinhos e sua variedade de métodos alimentares. Com o intuito de facilitar futuros estudos referentes à estratégia cooperativa, este trabalho objetiva conhecer a diversidade de técnicas alimentares em grupo utilizadas pelos odontocetos auxiliando a conservação destas espécies.
Referências:
CASTRO, P; HUBER, M. Marine Biology. 1997. Wm. C. Brown Publishers, EUA, 2ª ed., 450 p.
DI BENEDITTO, A. P. M.; RAMOS, R. M. A.; LIMA, N. R. W. 2001. Sightings of Pontoporia blainvillei (Gervais & D'Orbigny, 1844) and Sotalia fluviatilis (Gervais, 1853) (Cetacea) in South-eastern Brazil.Brazilian Archives of Biology and Technology, Rio de Janeiro, 44 (3), p. 291 ? 296.
LODI, L. Seleção e uso do hábitat pelo boto-cinza, Sotalia fluviatilis (Van Bénéden, 1864) (Cetácea, Delphinidae) na Baía de Paraty, Estado do Rio de Janeiro. Puc - Projeto Golfinhos, 17:5-20.
SILVA, M. A. 1999. Diet of common dolphins, Delphinus delphis, off the Portuguese continental coast. Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom, 79:531-540.
SIMÕES-LOPES, P.C. 2005. O luar do delfim: a maravilhosa aventura da história natural. Letradágua, Joinvile, 302 p.