Competição suicida por instituições de ensino

Por Daniel Klain | 22/06/2017 | Sociedade

Sobre os vestibulares
 Passar na faculdade? Não, pois, para isso, é preciso me aprimorar no que é inútil para o meu ser. Conheço bem meus talentos, e quero, por isso, aproveitá-los. E não desperdiçá-los jogando-os ao segundo plano. Temo que, para entrar na instituição de ensino que cobiço, eu tenha que inibir meus talentos e me aprimorar no que não tenho vocação para praticar. Não quero isso pra mim. Portanto, meu objetivo é contestar esse sistema, onde as pessoas se veem como concorrentes e não como companheiras, como irmãos e irmãs cujos buscam o mesmo objetivo, cobiçam a mesma instituição, os mesmos professores, os mesmos materiais. A competição acaba com a amizade e generosidade. Todos, quando competem entre si, tornam-se egoístas, se tratam, mutuamente, de modo indiferente. Esse sistema está ultrapassadíssimo e só faz mal às pessoas. Todos os participantes da competição perdem sua humanidade durante o percurso desta "corrida maluca". Ter que me aprimorar no que sou péssimo me transtorna; não me deixa bem. E acaba que os meus talentos, por não usá-los, são desperdiçados, não conseguindo, eu, mais utilizá-los a meu favor e a meu prazer. Por isso que odeio esse sistema competitivo. Não quero participar desta "corrida maluca", pois, bem provável, posso acabar batendo em um poste ou em outro carro no meio do caminho, prejudicando, assim, o outro competidor que almejava, assim como eu, a vitória. No entanto, às vezes, a minha vitória significa a derrota do outro. A vitória do outro significa, ao mesmo tempo, o meu fracasso. Esse sistema de competição faz mal para todo o mundo. Muitos entristecem, se deprimem, tudo porque alguns competidores chegaram em sua frente. Odeio isso. Além de, para eu ganhar, ter de provocar a derrota e a tristeza, é preciso, também, sacrificar os meus talentos em prol de uma instituição onde só os competidores mais ricos e bem afortunados entram. Tudo isso não vale a pena. No final, uns se vangloriarão pela conquista e pelo ingresso na instituição, enquanto os outros, "os fracassados", que não entraram, dizem, por falta de esforço, choram, lamentam, e se vêm "sem chão", sem saber o que fazer depois do "choque". Percebem que desperdiçaram seus talentos em vão. Por, isso se entristecem e deprimem-se ainda mais. Em resumo, enquanto uns comemoram, outros choram. É assim que funciona nesse sistema sem amor nem compaixão. Sistema ruim e ultrapassado. Em minha opinião, deveria ser diferente. Nós deveríamos competir, sim, mas não nos prejudicando mutuamente. Deveríamos saber bastante sobre a área em que pretendemos atuar quando adultos, sim, e deveríamos somente nos focar nesta mesma área de conhecimento. Ora, se vou ser um professor de História, por que tenho que saber e entender tudo sobre análise combinatória? Se vou fazer jornalismo, por que devo entender tudo e detalhadamente sobre Eletromagnetismo, Lei de Ohm, e assim vai. Isso, no futuro, só irá me prejudicar. Ter gastado horas de minha vida para entender a lei de Ohm, a lei da geometria, teorema de Tales, Pitágoras, irá ter um efeito super negativo sobre a minha carreira. Se eu for um jornalista, por exemplo, e tiver que escrever uma matéria buscando um maior contato com o leitor, terei dificuldade, pois o que estará na minha cabeça, ao invés das inúmeras formas de escrita e comunicação, serão os frios cálculos matemáticos, que, naquela hora, não vão me ajudar em nada.
Portanto, exijamos um novo sistema; um em que a sua vitória não signifique a derrota do seu semelhante; um em que, para me especializar no que amo, eu não tenha que me aprimorar no que odeio e não levo jeito algum para fazer. Por favor, jovens, apoiem-me nesta ideia! Sem apoio, ela não dará em nada. Preciso que todos vocês enxerguem o que quis dizer com tudo aqui descrito. Por favor, apoiem-me com isso. Se concordam que o atual sistema é um sistema antigo, ultrapassado, maçante... Se concordam que ele nos impõe o extermínio mútuo, apoiem-me nisso!
Tudo isso pode até parecer uma Utopia. Mas um mundo sem Utopia é um mundo sem movimento e sem esperança; sem busca por algo melhor.

Aviso: pensei em excluir este artigo, porém acho que ele possui alguns argumentos úteis à refexão. Contudo, muitas críticas que fiz no texto sobre os vestibulares mudaram. Hoje, compreendo a necessidade parcial de entender todas as matérias. Mas isso não significa que este sistema não tenha problemas. 

Este artigo é um pouco velho; o fiz quando estava estudando matemática para o vestibular, revoltado por ter de fazer isso. Algumas argumentações do texto não são válidas, reconheço; contudo, há partes nas quais tive razão em criticar. Portanto, é essa observação que gostaria de fazer.