COMPARAÇÕES
Por Romano Dazzi | 26/05/2009 | CrônicasCOMPARAÇÕES
de Romano Dazzi
Tudo, na vida, é baseado em comparações.
Você compara cores, pesos, pessoas, gostos, imagens, palavras.
As comparações permitem-lhe tomar decisões o tempo todo.
Você compara a temperatura de hoje com a de ontem: e assim descobre que hoje pode sair sem casaco, porque está mais quente do que ontem.
Aquela pessoa especial, alegre, inteligente, que você encontrou hoje, faz você compará-la com outras, que estão ao seu redor.
E assim ela passa a ser a sua companhia preferida.
Visitando uma nova casa, você estabelece paralelos entre esta e aquela; a sala é menor, mas mais iluminada; a cozinha é maior mas menos “jeitosa”; o jardim...bem o jardim “nem se compara”!...
Se você não pudesse comparar, como “aprenderia” seus gostos, suas preferências, seus desejos ?
Claro que, quando não existem unidades de medida, a comparação é um ato meramente subjetivo, pessoal.
Imagine se usássemos unidades para medir as sensações, os sentimentos, os laços de relacionamento com os outros.
Assim, por exemplo, eu diria à minha esposa:
- “Querida, te amo 32 quilos”.
E ela com certeza viria com:
- “Ah é? Você não me ama mais; no verão passado me amava 47 quilos!”
E o aluno, zangado com a professora,diria, entre dentes:
- “Eu odeio esta mulher, Detesto-a
Mas logo viriam as comparações, novamente:
Mamãe diria: Gostei
(Nada a ver com o tamanho, visto que ela hoje só cabe num 46, ajustando um pouco aqui e ali)
A coisa complica quando somos obrigados a comparar, no mesmo sistema de unidades, objetos e pessoas.
Você não poderá dizer à sua namorada que a ama muito, digamos
Seria uma declaração de guerra!
Melhor deixar tudo como está.
Então, fica decidido: nenhuma unidade de medida ao declararmos nossos sentimentos às pessoas; a qualquer pessoa.
Pensando bem, até os verbos foram sabiamente limitados:
Primeiro grupo, de baixo índice de envolvimento: aprecio, estimo, simpatizo, admiro ;
Segundo grupo, onde a gente se arrisca de verdade : gosto, amo, venero, adoro.
Acabou aí. Dizem tudo, sem dúvida; e com uma precisão suíça.
Mas são secos, sem graça, sem paixão;
Então, temos que ajudar com acompanhamentos, complementos;
estes são como o enchimento de lingüiça ou de travesseiros: são os advérbios:
Alguns são dúbios, como “bastante”, “mais ou menos” ou “ suficiente”;
dizem apenas o mínimo necessário, nem um pingo a mais;
parece que saíram de uma máquina de fazer suco.
Quem diz : - “Te amo bastante!” não define nada. Deixa tudo no ar.
E quem afirma “Gosto dela mais ou menos” – já disse tudo. Se foi!
Outros são mais largos, como “muito”, “demais”;
mas também, não agradam; são comuns, ordinários.
Dizer “gosto muito de você” é como dizer “gosto muito de macarrão”.
Quem solta “te aprecio demais” – mostra que carrega um peso...
Não são satisfatórios.
Há o recurso do sufixo; um deles, infalível, é o “mente”:
abundantemente , profundamente, completamente...... Bom para rimas.
Dizer “Te adoro infinitamente – te amarei eternamente!” já é um bom passo adiante.
Mas evite sempre as quantificações;
Quando você diz “te amo muito” a pergunta capciosa vem rápida: “Quanto?”
E aí você deve estar pronto para a resposta:
“Dez quilos!” ou “Quatro metros!” ou “Trinta e dois litros!”...
Nas comparações, você pode sempre ganhar o que perdeu na quantidade:
“Quero muito bem a você; mais que a um pastel...”
“Me dou melhor com você do que com ele...”
“Te desejo tanto, tanto.... mais que uma aspirina... apesar da minha dor de cabeça!”..
Mas atenção: você já recomeçou a misturar sentimentos (amo, odeio, adoro) com pessoas (você, ele, ela, o amigo, a colega) e com as malditas comparações (mais, menos, muito, pouco)
A gramática lhe dá o básico; o resto, é a expressão. E esta, é com Você!
Dirija com cuidado!