COMPARAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS DE ANSIEDADE DE ATLETAS RECREACIONAIS HOMOSSEXUAIS E HETEROSSEXUAIS DE DIFERENTES ESPORTES
Por GERALDO ESMAEL DE OLIVEIRA | 11/03/2021 | SaúdeINSTITUTO LUTERANO DE ENSINO SUPERIOR DE ITUMBIARA GOIÁS
CURSO DE BACHARELADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
DANIELA OLIVEIRA ARAÚJO
GERALDO ESMAEL DE OLIVEIRA
COMPARAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS DE ANSIEDADE DE ATLETAS RECREACIONAIS HOMOSSEXUAIS E HETEROSSEXUAIS DE DIFERENTES ESPORTES
Itumbiara
2020
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo principal comparar o nível de ansiedade entre os atletas de orientações sexuais diferentes, discorrer sobre a sexualidade, posto que este é um tema latente que precisa ser trabalhado, analisar o papel do esporte como uma ferramenta de voz para esse grupo de atletas, e por fim, distinguir o nosso papel como sociedade quanto ao convívio com atletas homossexuais ou até mesmo indivíduos não atletas. Partindo desse pressuposto, a proposta principal deste trabalho é um estudo sobre o nível de ansiedade enfrentado por atletas recreativos, fazendo uma comparação entre heterossexuais e homossexuais. Para alcance de tal objetivo, foi feito um vasto estudo de bibliografias relacionadas ao tema, bem como entrevistas com indivíduos que preenchessem os requisitos necessários para ser objeto de estudo deste trabalho, demonstrando-se assim a desigualdade quanto à ansiedade enfrentada pelos dois grupos separados. Concluindo-se, foi demonstrado que ambos os grupos se encontram dentro dos valores considerados padrões para o grau de ansiedade em suas respectivas idades.
Palavras-chave: Homossexualidade. Esporte. Ansiedade.
1.INTRODUÇÃO
A sexualidade de cada indivíduo é construída ao longo de sua vida e sofre diversas influências: sociais, biológicas e psicológicas. As formas de expressão da sexualidade humana são denominadas orientação sexual e são classificadas em: heterossexual, homossexual e bissexual (ARAUJO; SANTOS, 2009).
Pessoas heterossexuais são as que sentem atração por pessoas que possuem órgão sexual oposto, homossexuais são as que sentem atração por pessoas que possuem o mesmo órgão sexual e bissexuais são aquelas que sentem atração tanto por pessoas que possuem o órgão sexual oposto, como por pessoas que possuem o mesmo órgão sexual (JESUS, 2012).
A única forma de expressão da sexualidade humana que sempre foi aceita pela sociedade desde a antiguidade é a heterossexualidade, qualquer pessoa que não se enquadrasse nesta categoria sofria preconceito e discriminação. Nesse sentido, durante muitos anos a homossexualidade foi conhecida como uma aberração, uma confusão da natureza, uma doença, uma inversão, pessoas homossexuais eram vistas pela sociedade como pessoas marginalizadas, pervertidas, eram perseguidas e humilhadas, inclusive pela polícia (MOLINA, 2011).
Com o passar dos anos a sociedade evoluiu e o preconceito à homossexualidade se tornou menor quando comparado ao preconceito praticado a trinta, quarenta anos atrás, mas ainda existe e é denominado homofobia. O termo homofobia é utilizado para descrever qualquer tipo de repulsa ou aversão aos homossexuais (MOLINA, 2011).
A homofobia impede que os homossexuais possam exercer livremente a sua cidadania e viver em segurança. Em sua grande maioria estes indivíduos preferem não assumir sua sexualidade, devido ao medo de serem alvo de discriminação, violências físicas e psicológicas (BORILLO, 2015).
A violência sofrida pelos indivíduos homossexuais é um importante fator de interesse social, que causa diversos impactos negativos, como: sentimento de culpa; insegurança; vergonha; isolamento; dificuldade em se relacionar socialmente; distúrbios alimentares; uso de substâncias entorpecentes; disfunção sexual e outros, que prejudicam a saúde mental e a qualidade de vida do indivíduo (LOPES; MOTA, 2016).
A sociedade impõe padrões de comportamento de gênero para homens e mulheres, eles são educados de formas diferentes para que cada um assuma seu papel na sociedade. O homem é instigado a desenvolver comportamentos considerados masculinos e a mulher comportamentos considerados femininos (ANJOS, 2000).
Sempre que uma pessoa desenvolve comportamentos que não condizem com os esperados pela sociedade para o seu gênero ela sofre preconceitos homofóbicos, erroneamente, pois o fato de desenvolver comportamentos divergentes não defini a orientação sexual, mas sim a identidade de gênero do indivíduo (ANJOS,2000).
As pessoas estão sujeitas a homofobia em diversas circunstâncias na vida, inclusive na prática de esportes, que é considerado uma das maiores instituições segregadoras de gêneros das culturas ocidentais (CAMARGO, 2018).
A única coisa que diferencia uma pessoa heterossexual de uma pessoa homossexual é a sua preferência por parceiros sexuais e, isso não deveria influenciar na prática de esportes, pois se levarmos em consideração outros aspectos, como a alimentação, por exemplo, nem todas as pessoas possuem os mesmos gostos culinários e não sofrem preconceitos por isso (ALFAIA; LIMA; PEREIRA; SOUZA, 2014).
O combate à exclusão vem sendo uma das principais preocupações de organizações civis e governamentais. Porém, foram identificadas características nos esportes modernos que contrastariam paradoxalmente com os objetivos generosos da inclusão, e que a forma como atualmente se pratica esportes não contribui para emular virtudes. Foram os franceses que difundiram o conceito de exclusão (SILVER, 2006).
Nos últimos anos vários atletas renomados se revelaram homossexuais, fato que pode promover diminuição do preconceito contra homossexuais no esporte e inspirar homossexuais que pensam em seguir carreira esportiva (ANJOS, 2014).
Assim sendo, torna-se adotamos a seguinte como problemática: qual o nível de ansiedade enfrentado por atletas recreativos, fazendo uma comparação entre heterossexuais e homossexuais?
O presente estudo tem como objetivo geral comparar o nível de ansiedade entre os atletas de orientações sexuais diferentes.
Conforme o proposto pela pesquisa, cabe o apontamento dos objetivos específicos desta, que convergem com o geral:
- Discorrer sobre o tema sexualidade;
- Analisar o papel do esporte como uma ferramenta de voz para esse grupo de atletas;
- Distinguir o nosso papel como sociedade quanto ao convívio com atletas homossexuais ou até mesmo indivíduos não atletas.
Espera-se como hipótese que o preconceito vivido por atletas homossexuais torne maior o nível de ansiedade dos mesmos, interferindo na performance desses atletas.
Este trabalho possui altíssima relevância social devido ao importante tema abordado, que evidencia uma batalha travada por uma minoria que permanece, ainda que de maneira atenuada atualmente, às margens da sociedade e, por este motivo, buscam o esporte como válvula de escape psicológica e, ao demonstrar a preocupação com sua saúde mental, é sabido que estes irão se sentir mais acolhidos no ambiente esportivo.
Como contribuição à nível científico, o presente trabalho propõe-se de maneira à orientar futuras pesquisas relacionadas ao tema, evidenciando âmbitos que ainda não foram explorados cientificamente e que, portanto, são carentes de informações e, desta forma, influenciando novos pesquisadores à interessarem-se pelo tema e realizarem mais estudos amplos à respeito deste.
2.REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 SEXUALIDADE
A expressão sexualidade é empregada somente a partir do século XIX, portanto, sem valor epistemológico para sociedades anteriores; contudo, a sua aplicação é apropriada por considerar como os valores culturais interferem na maneira como as pessoas se relacionam com o próprio corpo, com os seus desejos e sentimentos (FEITOSA, 2008).
Algumas culturas da Antiguidade encaravam a relação entre pessoas do mesmo sexo como algo intrínseco à condição do ser humano, e a mais famosa por esse reconhecimento é a cultura grega da Antiguidade clássica. Nessa sociedade, as relações homoeróticas eram uma forma encontrada por essa sociedade de responder a um sentimento e a relações que não eram supridas pelo casamento, uma vez que as mulheres eram vistas como seres inferiores nos aspectos intelectual, físico e emocional (REINKE et al, 2017).
Na Grécia e na Roma da Antiguidade, a amizade entre homens era mais do que valorizada e era perfeitamente normal a confraternização homossexual. Era absolutamente comum um homem mais velho ter relações sexuais com um mais jovem.
Na década de 60, os fatores e mitos culturais, políticos, sociais e também sexuais sofreram grandes mudanças, a partir daí começa então a discussão a respeito dos direitos à liberdade da atividade sexual como forma de prazer, assuntos em torno da virgindade feminina e da superioridade masculina, através dessas novas ideias surgem então a pílula anticoncepcional e a produção de revistas pornográficas (CANO et. al, 2000).
Segundo BRANDÃO (2002), a palavra homossexualidade foi utilizada com tal finalidade, pela primeira vez, em 1869, em uma carta dirigida ao Ministério da Justiça da Alemanha do Norte, em defesa de pessoas que se relacionavam com indivíduos do mesmo sexo e que estavam sendo perseguidas por questões políticas da época.
Desde o século XVI, as terras brasileiras já sofriam com a herança repressora recebida da Europa em relação à homossexualidade, pois o mais antigo Código Penal do Brasil foram as “Ordenações Manuelinas”, que vigoravam em Portugal, na época do descobrimento do Brasil e que diziam que a sodomia passou a ser equiparada ao crime de lesa-majestade. Além da pena de fogo foi [sic] acrescentado como punição o confisco dos bens e a infâmia sobre os filhos e descendentes dos condenados (TREVISAN, 2011).
De acordo com Reinke et al (2017), a radical mudança de paradigma no tratamento do tema homossexualismo foi consubstanciada a partir de decisão, no ano de 2011, na qual o Supremo Tribunal Federal aprovou, por unanimidade, o reconhecimento da união homoafetiva. Além disso, os mesmos direitos e deveres dos companheiros nas uniões estáveis heterossexuais deveriam ser estendidos aos companheiros das uniões entre pessoas do mesmo sexo.
Segundo Freire (2012) uma das mais antigas palavras utilizadas para identificar uma pessoa que matinha relações sexuais com outra do mesmo sexo foi “sodomita”. A palavra “sodomia” faz referência à cidade de Sodoma, descrita na Bíblia Sagrada como um lugar onde ocorriam as mais perversas práticas sexuais já vistas. Os cristãos argumentavam que os sodomitas eram pecadores, pois suas práticas sexuais não correspondiam ao objetivo da procriação, considerada a finalidade natural do sexo.
Os homossexuais eram classificados como portadores de uma doença degenerativa que favorecia a ocorrência de crimes como o abuso infantil, o ultraje ao pudor, a vadiagem, entre outros. (TREVISAN, 2011).
No que diz respeito da sexualidade, a OMS relata que “é um aspecto central do bem estar humano, do começo ao fim da vida, envolvendo sexo, identidade de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução”.
Enquanto Melo e Pocovi (2002), entendemque a sexualidade está ligada ao relacionamento humano com o mundo envolvendo sentimentos, relacionamentos, prazer, direitos e deveres, não pode ser considerado apenas a atividade sexual.
Becker (2003) descreve que a sexualidade é um processo de desenvolvimento subjetivo, e esse processo pode ser vivenciado por conflitos e crises ou por momentos de realização, descoberta e paixão.
O século XIX foi marcado por diversas transformações na concepção da homossexualidade. Dentre estas, enfatizam-se a descriminalização e o surgimento de um novo campo do saber no estudo da homossexualidade (FREIRE, 2012).
Psicanalistas introduziram então no início do século XX, a visão psicológica da homossexualidade, mesmo a considerando como um distúrbio da personalidade. A personalidade é um conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total das características individuais em sua relação com o meio, incluindo fatores biopsicosocioculturais, conjugando tendências inatas e experiências adquiridas no curso de sua existência (DALGALARRONDO, 2008).
Kern e Silva (2009) relatam que também neste período, “a Associação Americana de Psicologia (APA) afirmou que a homossexualidade não é uma doença psicológica” (p.509), sendo que no ano de 1989, o termo “homossexualismo” foi abolido da CID-10), pois “ismo” é um sufixo que designa doença.
2.2ESPORTE
Fazendo um relato histórico Assis (2001) afirma que existem vários estudos descrevendo qual teria sido o real início do esporte como uma ideia de jogo coletivo, sistematizado, com regras e regulamentos. Mas de uma forma geral, o esporte teve início pela necessidade de sobrevivência do ser humano no período pré-histórico, como a vida nômade, a caça e a pesca ou a coleta de alimentos, fizeram com que este ser se tornasse de certa forma um verdadeiro "atleta". Era necessário ser forte, resistente, veloz e ágil para seguir vivendo, e consequentemente poder gerar filhos com estas características genéticas presentes.
A partir do momento em que o homem se fixa à terra, próximo a rios ou montanhas tornando-se agricultor e criador, muda radicalmente seu modo de vida, formando então os primeiros agrupamentos humanos ou cidades. Mesmo assim, em quase todas as antigas civilizações aparecem de uma forma ou de outra, atividades físicas, rituais e jogos, nos quais estão presentes as referidas capacidades físicas. Foi, porém, na civilização grega que estas atividades foram reconhecidamente importantes como elemento educativo e formador. E precisamente nesta época que surge a primeira manifestação que se pode denominar de esportiva: os inúmeros Jogos Gregos (ASSIS, 2001).
Com o passar dos séculos, já no período Romano, as atividades físicas desenvolvidas nas sociedades, apresentavam características quase que exclusivamente guerreiras, iniciando uma decadência em relação ao valor educativo destas atividades que duraria muito tempo, durante a Idade Média, com o predomínio da Igreja Católica, o corpo considerado pecaminoso era a maior importância dada à salvação do espírito os exercícios e jogos apresentavam guerras simuladas e uma plena e aceita violência, ainda que, é neste momento histórico que nascem alguns dos antecedentes dos esportes modernos e se inicia um processo civilizador em relação à violência presente nestas atividades(ASSIS, 2001).
Já o esporte na era moderna teve início na data de 1928 quando o professor Thomas Arnold exercia a direção do Colégio de Rugby, na Inglaterra, e utilizando de jogos físicos praticados pela aristocracia e burguesia inglesa, acrescentou os métodos de educação tornando a pratica esportiva algo mais organizado. Partindo desse princípio começaram surgir as regras de uma forma natural. As percepções de ARNOLD são consideradas o início do esporte institucionalizado, do esporte popular e do esporte escolar. Feito isso, foi observado dois aspectos diferentes mais inseparáveis ao esporte: o fornecimento de prazer para os jogadores e espectadores e a oportunidade de formação moral (FAPERJ, 2010).
Com o sucesso de sua experiência, Arnold exportou para várias nações suas ideias ao ponto de inspirar pessoas importantes, como Coubertin, que entendia o esporte como um culto voluntario e habitual do esforço muscular apoiado sobre o desejo de progresso. Como Barão Pierre de Coubertin, o esporte criou a sua organização internacional mais importante, o Comitê Olímpico Internacional (COI), que existe até hoje e tem a finalidade de promover os jogos olímpicos (de quatro em quatro anos), que é sem dúvida a celebração máxima do esporte mundial (FAPERJ, 2010).
Com o passar dos anos o esporte virou mercado. No sentido de práticas corporais, consumo de prestação de serviços, na produção e no consumo do espetáculo esportivo e de seus subprodutos. Tal mudança fez do esporte um dos segmentos mais significativos da economia mundial. As cifras que o negócio do esporte movimenta são incríveis. O movimento olímpico foi o grande responsável por essa valorização do esporte com a sua ideia de espetáculo e super atletas. É absolutamente correta a afirmação de que "o esporte é o maior e mais expressivo fenômeno deste final de século", pois nenhuma outra atividade reúne tantas e tão apaixonadas criaturas(PRONI, 2002).
O espetáculo esportivo, e a mídia como promotora deste fenômeno estão muito presentes no nosso dia a dia quem poderia imaginar a alguns anos atrás, canais de televisão específicos de esporte, revistas especializadas, em outro aspecto, o abrigo esportivo popularizado como vestuário social e o número de lojas de artigos esportivos nos centros comerciais(PRONI, 2002).
Ao constatara evolução, multiplicação, e diversificação das atividades físico-esportivas foi necessário que se criasse rótulos das diferentes vertentes esportivas como podem ser: os exercícios físicos (de musculação, por exemplo), os exercícios físicos ao ar livre (na natureza ou o correr com objetivos de melhora da saúde), o esporte recreativo, o esporte popular, o esporte tradicional, o esporte de elite ou alto nível, o esporte escolar ou esporte educativo, e outros muitos termos semelhantes (MARCHI JR, 2006).
Podem‐se notar duas ações associadas a expansão do esporte contemporâneo, a massificação e a democratização do esporte. Com a massificação, o esporte, que tem origem nos jogos produzidos pelo povo e no lazer voluntário, retorna ao povo como espetáculo para consumo. O sentido da massificação é direcionado ao crescimento de espectadores e consumidores num mercado de bens, serviços e entretenimento (MARCHI JR, 2006).
A democratização surge a partir da preocupação em disponibilizar a prática esportiva para o maior número de pessoas possível, seja através de políticas públicas ou de ações privadas (MARQUES, GUITIERREZ, ALMEIDA, 2008).
Aliado a isso, várias palavras e expressões que usamos no dia a dia foram trazidas do esporte, como por exemplo: “pisar na bola”, quando alguém comete algum erro, “bater na trave”, quando alguém quase atinge o seu objetivo; “passar a bola”, quando alguém chama outra pessoa para ajudar em alguma tarefa; “não deixar a peteca cair”, quando pedimos a alguém para não desistir de seus objetivos; “fazer um golaço”, quando alguém consegue realizar muito bem alguma coisa (STIGGER, 2005).
Existem registros de jogos e passatempos dos índios de antes mesmo da chegada dos portugueses em 1500. Apesar deles, o esporte, como acabamos de ver, não foi desenvolvido no Brasil. Ele entrou no País no século XIX. Nessa época, o Brasil era considerado um País “atrasado”, em comparação com as nações europeias. Um forte desejo por desenvolvimento e modernidade tomava conta do nosso povo. Após a independência, cresceu a busca por desenvolvimento a fim de transformar o Brasil em uma grande nação. Nossas referências de países desenvolvidos eram especialmente inglesas e francesas (FIGUEIREDO, 2002).
2.3ATLETAS HOMOSSEXUAIS
Como ganhou lugar nos discursos contestatórios do movimento homossexual nos anos 1970, o processo de comingout (ou saída do armário) virou bandeira política e atualmente causa polêmica no esporte. Vale demarcar, ante de tudo, que a referência a “sair do armário” ou “do closet” tem relação com o verbo “to come out”, que significa, genericamente, fazer-se aparecer ou tornar algo público. No entanto, também pode significar “to declare oneself openly” (declarar- se abertamente) e tal acepção adquire maior peso quando a expressão é relacionada à orientação sexual: “declarar-se” gay ou lésbica (MATT ALGREN, 2011).
Como as tendências globais afetam, invariavelmente, o local, o Brasil também vive em meio a polêmicas semelhantes, relativas à homossexualidade e seus contextos. Em meados de abril de 2011, num jogo entre as equipes Vôlei Futuro e Sada Cruzeiro, em Contagem (MG), a torcida se manifestou agressivamente contra um dos jogadores da equipe visitante, Michael dos Santos, que em sua suposição, seria “homossexual”. Os chamamentos de “bicha”, claramente homofóbicos, provocaram muita revolta. Devido ao incidente, Michael se manifestou a respeito e confirmou seu coming out público (MATT ALGREN, 2011).
O atleta homossexual geralmente é obrigado a lidar com alguns problemas que não são enfrentados por outros indivíduos. Estes problemas são: a necessidade de esconder a orientação sexual; a dificuldade para confiar nas pessoas; as pressões por parte da própria pessoa, da sociedade, dos familiares e amigos no sentido de mudar a orientação sexual; a reconciliação com a crença religiosa que condena os hábitos de vida homossexuais; a adoção de uma vida heterossexual (COGAN; PETRIE, 1996). Essas pressões, na maioria das vezes leva o indivíduo homossexual a depressão, a raiva, isolamento, a ansiedade, a vergonha e no caso do atleta isso pode gerar um mal desempenho esportivo. Independente da modalidade.
Dentre as opiniões controversas, talvez o pronunciamento mais impactante para o mundo esportivo tenha sido o conselho de Joseph Blatter, ex-presidente da FIFA, após o anúncio em cadeia televisiva sobre a escolha da sede da Copa Mundial de Futebol Masculino de 2022, a ser realizada no Catar: “que as atividades sexuais sejam contidas naquele país”, disse ao grupo de jornalistas internacionais. No caso da homossexualidade vale lembrar que no Catar a lei prevê pena de cinco anos de reclusão para o denominado “praticante pederasta” (SIMON; BROOKS, 2009).
Pouco têm se falado sobre a questão da inclusão dos homossexuais nos círculos esportivos, pelo menos os abertamente assumidos, principalmente na prática de esportes onde prevalece a concepção de que, apenas heterossexuais são capazes e aptos a lograr sucesso. Segundo Silveira (2008) no atual momento histórico e de desenvolvimento político e social, o esporte vem sendo constituído no contexto e de autoafirmação para diversos grupos sociais como das mulheres, negros, pessoas com deficiências e pessoas idosas.
De acordo com Lordelo (2013), o esporte não tem habilidade em lidar com a homossexualidade, esse nem é o papel do esporte, defender ou julgar gays ou simpatizantes. Mas o esporte tem o papel de lutar contra qualquer espécie de preconceito, inclusive o sexual. O esporte é adesão, é massa, é cultura. Tendo todo esse poder o esporte deve assumir o seu papel na formação da sociedade.
Para Silveira (2008) no aspecto comercial já é possível reanalisar sobre esse silencio em relação a questões sobre atletas homossexuais, uma vez que as questões comerciais eram vistas como um fator de grande peso nesse sentido. Existia no passado um medo de que pessoas contrárias a hábitos homossexuais deixassem de consumir produtos em função de uma manifestação pública e conciliadora. Nesse sentido, a NIKE deu um passo gigante e lançou uma linha voltada prioritariamente a esse público. O fato é que o esporte não pode ter medo de ter sua imagem vinculada a essa questão. Que o esporte faça jus à sua essência que é incluir, integrar, por meio de clubes, atletas e competições, tornando cada vez menor o preconceito que ainda existe na sociedade.
Infelizmente o esporte está ligado a violência em vários sentidos. O racismo e a discriminação são exemplos dessa violência, porém, nem todos esses mesmos modelos são enquadrados como crime, nesse caso apenas o racismo. Segundo algumas autoridades, o racismo e a discriminação são fenômenos muito complexos, se manifestam de diversas formas e não só no ambiente esportivo, difundidos desde uma simples piada, nos apelidos, na chacota, chegando até as manifestações de constrangimento e nas agressões físicas e verbais aos negros, obesos, homossexuais, mulheres, árabes, judeus e nos portadores de necessidades especiais (OLIVEIRA, 2011).
No que diz respeito ao esporte em nível amador, as maiores barreiras estão ligadas a aceitação dos praticantes, tanto os companheiros de equipe quanto os adversários por se tratar de um ambiente de homens para homens onde se constrói e reforça a masculinidade (ALMEIDA &SOARES, 2012). No Brasil, as pessoas são muito religiosas e preconceituosas, e isso afeta no julgamento da pessoa em relação ao próximo. Tendo conhecimento desse tipo de tratamento, muitos jogadores resolvem não expor sua opção sexual e isso implica em problemas de cunho psicológico, afetando até sua produtividade no esporte.
Um exemplo bem evidente da forma de tratamento que um atleta pode ter ao em se assumir homossexual é o caso do jogador do São Paulo Futebol Clube Richarlyson Barbosa Felisbino. Ele foi vítima de grave discriminação em programa televisivo de rede nacional. Moveu processo criminal contra o responsável e teve seu pedido negado de pronto pelo Sr. Manoel Maximiano Junqueira Filho, Juiz de Direito titular da nona vara cível da Comarca de São Paulo. Dentre algumas justificativas invocadas para negar o pleito, vale transcrever os seguintes trechos: (AMARAL, 2007, p.1)
Quem se recorda da 'copa do mundo de 1970', quem viu o escrete de ouro jogando (Félix, Carlos Alberto, Brito, Everaldo e Piaza; Clodoaldo e Gérson; Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivelino), jamais conceberia um ídolo seu homossexual. [...] Quem vivenciou grandes orquestras futebolísticas [...] não poderia sonhar em vivenciar um homossexual jogando futebol. [...] Não que um homossexual não possa jogar bola. Pois que jogue, querendo. Mas forme o seu time e inicie uma Federação. Agende jogos com quem prefira pelejar contra si. [...] Ora, bolas, se a moda pega, logo teremos o 'sistema de cotas', forçando o acesso de tantos por agremiação... [...] O que não se mostra razoável é a aceitação de homossexuais no futebol brasileiro, porque prejudicariam a uniformidade do pensamento da equipe, o entrosamento, o equilíbrio, o ideal [...]
Após anos de tentativas, o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) deu, durante a sessão do dia 17 de junho de 2011, o primeiro passo real rumo à proteção dos direitos de homossexuais ao proclamar a "tolerância zero" contra qualquer tipo de discriminação ou violência por motivos de orientação sexual e solicitou aos países membros que atuem para colocar um fim aos abusos impingidos a esses sujeitos. Votaram a favor da moção 19 países, dentre os quais o Brasil. Alguns países africanos e árabes votaram contra, sob a alegação de que antes era preciso definir o que é "orientação sexual". Se Uganda analisa, mais uma vez, impor a pena de morte a seus/suas cidadãos/as homossexuais, sete outros países já o fazem. Castigam gays e lésbicas com pena de morte, países como Mauritânia, Sudão, Arábia Saudita, Iran, Iêmen, 12 estados do norte da Nigéria e partes meridionais da Somália (ALGBT, 2011).
Ainda sobre a temática, Silveira (2008) afirma que os conteúdos midiáticos também provocam outras opiniões e também propõem outros pontos de vista em relação ao que é transmitido e ao que é realidade. Afinal, o esporte não pode ter medo de ter sua imagem aliada ao “a favor ou contra”. Que o esporte faça jus à sua essência, por meio de clubes, atletas e competições, e inviabilize minimamente o preconceito primata que ainda é latente na sociedade. É uma questão de entendimento, de ângulo, de princípio e de cores. O preconceito leva à discriminação, à marginalização e à violência, uma vez que é baseado unicamente nas aparências e na empatia.
- ANSIEDADE
A ansiedade é um sentimento comum, extremamente frequente em todos os seres humanos e útil para a sobrevivência e proteção do indivíduo. É definido como um estado emocional desagradável, que produz desconforto e muitas queixas. Quando sentida em alta frequência e intensidade deixa de ser um fator de proteção e passa a prejudicar o indivíduo e sua qualidade de vida. As pupilas da pessoa em estado de ansiedade dilatam para que seu poder de visão geral aumente; porém, como consequência, diminui a capacidade de a pessoa perceber os detalhes que a cercam. Essa característica foi selecionada pela evolução já que através desse recurso era possível ao homem identificar, no escuro das cavernas, um predador e as possíveis rotas de fuga (Roman & Savoia, 2003).
A respiração se torna mais curta e ofegante em consequência do bater acelerado do coração, que exige maior oxigenação na circulação. Como consequência do aumento da respiração, o indivíduo pode sofrer falta de ar, se engasgar, sufocar e ter dores no peito. Com pouco sangue na cabeça, a ansiedade pode causar tonturas, visão borrada, confusão, fuga da realidade e sensações de frio e calor (Barlow, 1999; Roman & Savoia, 2003).
O indivíduo, durante a reação de luta-e-fuga, também tem sua transpiração aumentada e há redução da atividade do sistema digestivo (causando náuseas, sensação de peso no estômago, constipação ou diarreia) e sintomas de tensão, que podem acarretar dores (Barlow, 1999).
A ansiedade também envolve a mudança na atenção do indivíduo, deixando-o alerta para qualquer ameaça em potencial no ambiente. Dessa forma, pessoas ansiosas têm dificuldade para se focar em uma única tarefa, qualquer alteração no ambiente tira sua concentração. Indivíduos ansiosos são distraídos, possuem dificuldade de concentração e problemas de memória.
Além da distração, essas pessoas também têm a precisão de seus movimentos prejudicada, já que, na ansiedade, as vias neurais se ocupam com impulsos de alerta do sistema de luta-e-fuga, fazendo com que decresça ou iniba os impulsos precisos que compõem o movimento coordenado (Barlow, 1999; Roman & Savoia, 2003).
Portanto, essas e outras sensações corporais resultantes da ansiedade demonstram que há uma ativação geral no metabolismo do organismo. Como consequência, o indivíduo se sente exausto em decorrência da grande quantidade de energia perdida (Barlow, 1999).
Cabe ressaltar que o estresse e a ansiedade são assuntos de grande discussão na sociedade atual devido ao aumento de sua incidência. De acordo com Margis, Picon, Cosner e Silveira (2003), o estresse é “resultado da interação entre as características da pessoa e as demandas do meio, ou seja, as discrepâncias entre o meio externo e interno e a percepção do indivíduo quanto a sua capacidade de resposta”.
A ansiedade está relacionada ao sinal de ameaça real ou imaginário. Segundo Graeff (2011), a ansiedade pode ser definida como uma emoção relacionada ao comportamento de avaliar riscos no ambiente. É evocada em situações nas quais há um perigo em potencial, podendo ser uma situação desconhecida para o indivíduo ou um estímulo que sinalize perigo (como, por exemplo, um predador).
Mesmo não estando em situações reais de perigo, o organismo se manifesta corporal e instintivamente perante a uma ameaça não visível, devido a sua relação passada em contextos de ameaça e suas consequências (Lory; Carvalho & Baptista, 2005).
De acordo com Margis; Picon; Cosner e Silveira (2003), “a ansiedade e o medo, assim como o estresse, têm suas raízes nas reações de defesa dos animais, que ocorrem em resposta aos perigos encontrados no em seu meio ambiente”. Desta maneira, a ansiedade tem função filogenética de proteção ao próprio organismo. No segundo nível, o ontogenético, um operante é selecionado se produz reforço. [...]