Como venci a depressão
Por Adriana Maluendas | 25/04/2017 | CrônicasFoi uma das experiências mais profundas até então na minha trajetória de vida, ter sobrevivido a um ataque terrorista, um dos maiores da história americana. Naquele dia, enquanto as nuvens de fumaça e poeira vinham na minha direção, corri o mais rápido que pude, mas parecia que não haveria como escapar. Mal conseguia respirar, tossindo, me sufocando e me asfixiando com toda aquela poeira tóxica no ar. Pessoas me empurrando. Elas me derrubaram e passaram por cima de mim.
Tudo o que encontramos no caminho da vida nos afeta ou nos molda de uma forma ou de outra. Nao ha duvidas, dos efeito que aquele evento teve em mim foi uma das experiências mais marcantes que me ocorreu. Mesmo hoje, uma década e meia depois, ainda é difícil falar sobre o assunto sem me emocionar. As pessoas, tanta gente inocente, se atirando a mais de cem metros de altura ao chão ...o desespero do ser humano foi algo tao dificil de presenciar; ver uma enorme multidão correndo para salvas suas vidas; saber que ainda havia pessoas dentro dos prédios enquanto caíam sob uma pilha de entulho. A crueldade dos ataques, sua destruição horrenda, impiedosa, violenta e insensível. Há coisas que não consegui e jamais serei capaz de compreender. A dor que me causou só de imaginar tamanhos ataques maleficos e calculados ainda vive no meu coração até hoje, e suspeito que sempre viverá.
Lidar com esses traumas remanescentes tem sido muito difícil. Muitas vezes ao tentar encarar a escuridão e a dor guardada dentro mim, era como se eu estivesse congelada no tempo. Eu era incapaz de avançar lá dentro, incapaz de olhar para essas lembranças, incapaz de drenar tudo isso e esvaziar a minha memória. Isso tudo me manteve na escuridão, em um lugar isolado dentro de mim durante muitos anos. Uma parte de mim desejava voltar a um tempo anterior, um tempo em que o amor representava a maior parte da minha visão do mundo. Mas, essa parte ficou enterrada bem fundo dentro de mim, e me tornando incapaz de ver aquilo que havia se transformado em uma nova era: A Era do Terrorismo.
Embora agora, ao contar a minha experiencia, leva apenas alguns minutos para relatar os eventos daquele dia e noite, a vivência em meio aqueles eventos parecia levar horas, dias, meses e anos. Durante anos após os ataques, eu vivia em negação, tentando não falar absolutamente nada e nem compartilhar com minha família e amigos (apenas com meu médico). Mas, com o passar do tempo, os danos físicos que sofri a partir daquele dia começaram a exigir maior atenção. De maneira poderosa e intensa fiquei lá dentro presa em uma teia de aranha chamada depressão. Junto com os traumas que estava tentando evitar e encarar. Quando consegui ficar forte o suficiente para enfrenta-los, a teia começou a se esfarrapar. E eventualmente e felizmente a luz começou a brilhar nas regiões escuras, e os sentimentos começaram e emergir e se libertar. Sim, isso levou muitos anos, e já não sou mais quem eu era antes do evento. Mas, estando viva, consegui me dar conta das lições aprendidas e me tornei mais forte e talvez muito mais madura do que eu era antes. Aprendi e Tento transformar essas coisas e os eventos que vivenciei em uma mensagem de esperança e especialmente em uma mensagem para que nunca desistamos da vida. Ter sobrevivido quando muitos não conseguiram significa que Deus tinha um plano para a minha vida. Seja como for ou qual for, posso servir como uma voz para aqueles que estão presos na escuridão, com medo de sair para a luz (enfrentar suas próprias lembranças ou traumas). Nós podemos superar qualquer desafio que a vida nos coloca no caminho. Nós podemos ajudar uns aos outros a entender que, para crescer de nossas dores, e superar os obstáculos que sempre surgem, precisamos decidir seguir adiante em um objetivo que valha a pena. Precisamos ser capazes de curar uns aos outros com um rosto amigo, uma voz carinhosa, um toque afetuoso ou apenas um ouvido atento. Na minha própria jornada, percebi a importância de cuidar da minha saúde e de mim mesma. A depressão, as noites sem dormir e a aversão aos barulhos repentinos e altos, tudo isso me levou à beira do colapso físico. Agora, com muito trabalho e esforço, muitas caminhadas e exercício, reconquistei muito da minha força física. Com isso veio a capacidade de lidar melhor com os desafios da vida. Minha fé esta mas forte do que nunca e minha saúde muito melhor do que antes. Agora, exijo de mim mesma que encontre um caminho, todos os dias, para me tornar mais positiva, e identificar os objetivos mais nobres que me conduzam de modo que eu possa ajudar os demais. Vamos romper o ciclo negativo e fortes lutarmos e nao desistir jamais da vida.
Texto de Adriana Maluendas (escritora do Livro "Além das Explosões" e sobrevivente do atentado 11/09 ao WTC)