Como trabalhar as habilidades socioemocionais na Educação Infantil?

Por Jéssica Georgia Rosa Barros | 10/10/2023 | Educação

Como trabalhar as habilidades socioemocionais na Educação Infantil?

 

Resumo

Durante a infância, cerca de 90% do cérebro é constituído até os 6 (seis) anos de idade. Isto posto, nesse período, muitas das habilidades que possuem significativa importância, mormente à fase adulta, são desenvolvidas e carregadas ao longo de toda a vida. Entre elas, algumas desempenham papel crucial no êxito e bem-estar dos indivíduos: as competências socioemocionais. Há algum tempo, elas têm sido objeto de debates e análises entre estudiosos e especialistas da Educação; porém, todavia, só recentemente, mais aproximadamente na última década, é que tal questão passou a ser amplamente reconhecida e ganhou destaque nas esferas educacionais, principalmente ao ser incorporada na nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada em 2017. Ademais, foram motivos de destaque para isso as descobertas referentes à sua importância para o processo de desenvolvimento humano, em especial ao aprendizado e à saúde físico-mental de crianças e adolescentes. Assim sendo, além do contexto familiar, o contexto educacional exerce uma influência substancial na vida dos indivíduos, desempenhando um papel predominante em grande parte de sua trajetória. Por isso, a instituição escolar depara-se com a imperativa tarefa de reconhecer a significância intrínseca das habilidades socioemocionais no âmbito da Educacional; o que, de fato, será abordado no presente artigo.
 

Introdução

As habilidades socioemocionais englobam um conjunto de competências que envolvem a capacidade de reconhecer, compreender e gerenciar as emoções próprias e alheias, estabelecer relacionamentos saudáveis, tomar decisões responsáveis e resolver conflitos de maneira construtiva. Essas competências são fundamentais para o desenvolvimento de crianças e jovens, uma vez que não apenas influenciam o desempenho acadêmico, mas também impactam a qualidade das relações interpessoais e a resiliência diante dos desafios da vida.

Nesse sentido, a Educação Infantil desempenha um papel fulcral no processo ensino-aprendizagem das crianças, não apenas em termos de conhecimento acadêmico, mas também na construção de habilidades socioemocionais que são essenciais para uma vida saudável e bem-sucedida. Dessa forma, cada vez mais educadores e pesquisadores reconhecem a importância de incorporar a promoção dessas habilidades nos currículos escolares. Destarte, neste artigo, explorar-se-ão a relevância das habilidades socioemocionais na Educação Infantil e, mais adiante, estratégias eficazes para trabalhá-las no ambiente educacional.
 

1.A nova BNCC e as Habilidades Socioemocionais

Até a data de corte em setembro de 2021, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no Brasil, reconheceu a importância das habilidades socioemocionais para a formação integral dos alunos. No entanto, a BNCC não dedicou matéria específica exclusivamente às habilidades socioemocionais. Ao invés disso, essas habilidades estão intrinsecamente relacionadas às competências gerais e às áreas do conhecimento definidas no referido ordenamento, de caráter normativo.

A Base Nacional Comum Curricular, neste tocante, enfatiza que a Educação Básica deve promover o desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais, reconhecendo que ambas são essenciais para o desenvolvimento pleno dos estudantes e para sua preparação como cidadão em sociedade. O documento destaca a importância de abordar temas transversais, como ética, cidadania, pluralidade cultural, entre outros, que naturalmente envolvem o desenvolvimento socioemocional dos alunos.

Além disso, a BNCC também reconhece a relevância de uma abordagem interdisciplinar, que permite a integração entre diferentes áreas do conhecimento e a promoção de competências que vão além do aspecto cognitivo. Essa abordagem proporciona oportunidades para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais por meio de atividades, projetos e situações de aprendizado que estimulam a colaboração, a empatia, a comunicação eficaz e outras competências relacionadas.

Vale ressaltar que a BNCC serve como um guia para os currículos escolares e a elaboração de propostas pedagógicas nas instituições de ensino, mas a implementação prática das habilidades socioemocionais pode variar de acordo com as escolas e os educadores. Sendo assim, estabelece as seguintes competências gerais:

  1. Conhecimento: Compreender, utilizar e criar conhecimento nas diversas áreas do saber, aplicando conceitos, procedimentos e atitudes;
  2. Pensamento Científico, Crítico e Criativo: Questionar, investigar, refletir e pensar criticamente sobre situações do mundo contemporâneo, produzindo conhecimento;
  3. Repertório Cultural: Utilizar diferentes linguagens (verbais, corporais, visuais, sonoras) para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo;
  4. Comunicação: Utilizar diferentes linguagens para se expressar e interagir com o mundo, valorizando a diversidade de pontos de vista e a pluralidade cultural;
  5. Cultura Digital: Desenvolver a capacidade de compreender, utilizar e inovar nas tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, ponderada e moralmente justa.
  6. Trabalho e Projeto de Vida: Valorizar e utilizar o conhecimento das linguagens como um meio de compreender, interpretar e comunicar realidades, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos de vida;
  7. Argumentação: Relacionar, organizar, interpretar e comunicar informações, fatos, opiniões e argumentos em diferentes linguagens;
  8. Autoconhecimento e Autocuidado: Promover o autoconhecimento e o autocuidado, englobando o reconhecimento pessoal, a valorização de si e a manutenção da saúde física e emocional. Isso envolve identificar e compreender suas próprias emoções e as dos outros, exercendo autocrítica e cultivando a habilidade de lidar com tais questões;
  9. Empatia e Cooperação: Fomentar a empatia e a colaboração por meio do exercício da compreensão pelas perspectivas alheias, a promoção do diálogo, a solução construtiva de conflitos e o trabalho conjunto. Isso inclui demandar respeito próprio e incentivar o respeito aos outros, aos direitos humanos e à diversidade presente entre indivíduos e grupos sociais, valorizando seus conhecimentos, identidades, culturas e potenciais;
  10. Responsabilidade e Cidadania: Atuar de maneira individual e conjunta com autonomia, responsabilidade, adaptabilidade, capacidade de superação e firmeza, fazendo escolhas fundamentadas em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

2.Abordagens efetivas para o desenvolvimento socioemocional na Educação Infantil
 

  • Modelagem de comportamento: as crianças aprendem muito observando e imitando o comportamento dos adultos ao seu redor. À vista disso, os pais, responsáveis e os educadores desempenham um papel crucial ao demonstrar habilidades socioemocionais em suas interações diárias com as crianças. Expressar empatia, demonstrar respeito, comunicar-se de forma assertiva e lidar com conflitos de maneira positiva são exemplos de comportamentos que podem ser modelados;
  • Atividades interativas: atividades lúdicas e interativas proporcionam um ambiente propício para o desenvolvimento socioemocional. Jogos de equipe, dramatizações, discussões em grupo e projetos colaborativos incentivam as crianças a compartilhar, colaborar, ouvir e expressar suas emoções de maneira construtiva;
  • Programas de Educação Socioemocional: a implementação de programas específicos de educação socioemocional pode fornecer estruturas e ferramentas para auxiliar os educadores na promoção dessas habilidades. Esses programas geralmente incluem atividades estruturadas que abordam a autorregulação emocional, a empatia, a tomada de decisões e a resolução de conflitos;
  • Aprendizado integrado: integrar o desenvolvimento socioemocional em outras áreas do currículo, como matemática, ciências e artes, auxilia as crianças a verem a aplicabilidade dessas habilidades em contextos do dia a dia. Por exemplo, ao resolver problemas matemáticos em grupo, as crianças podem aprender a trabalhar em equipe e a comunicar suas ideias de maneira eficaz;
  • Apoio individualizado: Cada criança é única e tem suas próprias necessidades socioemocionais. Por isso, os profissionais devem estar atentos às necessidades individuais e oferecer suporte personalizado quando necessário. Isso pode envolver conversas particulares para ajudar a criança a lidar com emoções difíceis ou oferecer estratégias para aprimorar habilidades de comunicação.

 

3.Conclusão 

Em resumo, à medida em que a sociedade avança no campo da Educação Infantil, é imperativo reconhecer que a promoção das habilidades socioemocionais não é apenas uma tendência, mas uma necessidade essencial para preparar as crianças para um futuro complexo e interconectado.

Portanto, o investimento na construção dessas habilidades desde tenra idade não apenas beneficiará os indivíduos, mas também contribuirá para a construção de uma sociedade mais compassiva, resiliente e colaborativa.

 

  1. Jane Gomes de Castro : Graduação Ciências Biológicas e Pedagogia; Especialização: Ecoturismo e Educação Ambiental
  2. Adriana Peres de Barros: Graduação  Pedagogia; Especialização em Educação Infantil e Psicopedagogia.
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