Como se preparar para desenvolver uma pesquisa científica
Por Sergio Gabriel | 18/03/2009 | EducaçãoComo se preparar para desenvolver uma pesquisa científica
Texto de apoio para elaboração da monografia de conclusão de curso
Por Sérgio Gabriel[1]
1. Introdução
Crise, sem dúvida é a palavra do momento, mas em se tratando de acadêmicos do último ano de um curso superior é mais verdade ainda, haja vista que a sigla TCC por si só já é suficiente para criar um temor existencial.
Mas não podemos nos deixar abater por esse temor causado pela sigla TCC e muito menos pela maravilhosa oportunidade de mergulhar no mundo da pesquisa científica, ao contrário vamos agora buscar respostas para todos os desafios que a sociedade nos impõe. Vamos soltar as amarras de viver sempre protegidos pelos nossos mestres e vamos buscar as respostas nós mesmos através do uso de nossa crítica e de nossas idéias, como bem nos ensina Joaquim Clotet ao afirmar que "entrar num corpo de idéias é sempre uma aventura que requer engajamento, esforço, prazer, curiosidade e paixão"[2].
Buscar significados para o mistério da existência (o TCC serve para isso). Seja na Grécia antiga ou no agitado mundo contemporâneo esse é o maior desafio enfrentado pelo homem. Para alcançar as respostas que tanto procuravam, os antigos gregos recorriam aos mitos. E como no TCC precisamos criar, vamos buscar forças na energia criadora de Zeus que "significava o impulso divino que está sempre em ação. Tudo o que toca se multiplica e se expande. É o conúbio entre o temporal e o eterno, pois renova a vida infinitamente. É a potência que se expande em criações que consolidam a vida. Luta eternamente para vencer o caos e a destruição. Seus símbolos são a águia, a linha reta e o ouro. A águia representa a busca pela criação. A linha reta é a impossibilidade de ter seu rumo desviado; a palavra caráter daí se originou, estando associada com retidão, mas não com rigidez. Já o ouro é o símbolo do eterno e da verdade, pois não sofre a ação do tempo. Cultuar Zeus significa praticar a criação, sendo seu instrumento, e opor-se à destruição e ao caos".[3]
Não se pretende com esse singelo texto um aprofundamento nos aspectos científicos dos TCC´s, mas sim, de forma simples, contribuir para o esclarecimento da melhor compreensão de seu caráter de pesquisa científica.
2. Ciência
Muito se fala em caráter científico dos trabalhos acadêmicos, mas o que é ciência?
Fiquem tranquilos porque não existe um conceito unívoco de ciência, apenas o consenso de que se ligam a metodologia, logo ciência está ligado a busca de conhecimento pela utilização de método.
Já método é "um conjunto de princípios de avaliação da evidência, cânones para julgar a adequação das explicações propostas, critérios para selecionar hipóteses, ao passo que técnica é o conjunto dos instrumentos, variáveis conforme os objetos e temas. O problema de método, portanto, diz respeito à própria definição de enunciado verdadeiro. Note-se, de enunciado verdadeiro e não de verdade".[4]
Em síntese, se o TCC é um trabalho científico que temos que desenvolver, precisamos reunir nele três elementos:
● Pesquisador – pessoa que irá desenvolver a pesquisa - você;
● Método – forma utilizada para pesquisar e comprovar as evidências pesquisadas;
● Verdade – comprovação de evidências pelo pesquisador segundo princípios por ele definidos.
Então desenvolver um TCC é realizar um trabalho de pesquisa de determinado assunto previamente planejado e delimitado, utilizando-se de critérios e princípios que garantam uma produção com coerência lógica.
Um bom TCC começa pela delimitação do tema.
3. Tema
Para escolher o tema é bom lembrar que TCC é uma monografia (mono=único), ou seja, seu trabalho vai tratar de um único assunto.
Uma monografia com tema bem definido tem grande possibilidade de dar certo.
A primeira regra é escolher um tema de seu interesse, pois isso vai ajudar durante o trabalho de pesquisa, pois quanto mais nos interessamos pelo tema mais temos interesse em pesquisar.
A segunda regra é a sua delimitação, ou seja, quanto mais específico for, melhor será o trabalho, haja vista que a pesquisa se aprofunda mais em todos os detalhes que cercam aquele tema. Para saber se seu tema está delimitado, faça a pergunta – o quê? Se a resposta feita ao seu tema for singular, está delimitado, mas se apresentar mas de uma resposta é porque está abrangente e acabará levando você a falar de mais de um assunto o que o obrigará a ser mais superficial comprometendo a qualidade do trabalho.
E a terceira e última regra é a problematização do tema, ou seja, problema de pesquisa. Pense que seu trabalho deve contribuir de alguma forma para nossa sociedade, logo, existe um problema pré-existente a ser investigado. Para saber se sua problemática está bem definida, basta perguntar: - para quê?
De qualquer forma, o tema e sua problematização não podem engessar sua pesquisa, de forma que é possível na fase do anteprojeto você perceber a necessidade de mudar o curso que está sendo dado a pesquisa. Como veremos a seguir, na pesquisa você escolherá um método, dessa forma, a pergunta que se impõe à pesquisa é: como?
4. Pesquisa
Uma vez definido o tema e elaborado seu anteprojeto onde foi estabelecida a problemática e os objetivos principais e específicos do trabalho, resta agora colocar a mão na massa e traduzir em ações concretas todo o planejamento previamente estabelecido.
Quando se fala em pesquisa, pense que não existe uma única forma (método) de se pesquisar, devendo as variações possíveis serem aproveitadas para garantir um melhor resultado.
Veja que quando você decidiu por determinado tema, muitas dúvidas surgiram sobre o conteúdo, e é justamente a pesquisa que irá contribuir para a solução de todas essas dúvidas e permitir a construção do seu trabalho através da sua visão, o que poderá contribuir ou não para ajudar na solução dos problemas de nossa sociedade.
a)Pesquisa-Diagnóstico: busca o levantamento da situação de determinada área ou setor, determinando os principais problemas e identificando as prováveis causas. Ex.: Verificar os níveis de absenteísmo nos últimos meses e a incidência de cada uma das causas prováveis.
b)Pesquisa de Soluções: sendo conhecidos os problemas e estando as prováveis causas definidas, busca-se apontar possíveis soluções, realizando um estudo comparativo e uma seleção das alternativas a serem propostas. Ex.: Propor alternativas para a atual política de remuneração dos vendedores autônomos.
c)Pesquisa de Proposição de Planos: as soluções já são conhecidas e um estudo e seleção de alternativas já foi realizado. Neste caso, visa-se a elaboração de um Plano de Implantação (objetivos, prazos, custos, responsáveis, estruturas). Ex.: Estabelecer o planejamento para a certificação da unidade X, conforme as normas ISO 14000 para gestão ambiental, no prazo de 1 ano.
d)Pesquisa de Acompanhamento de Implantação: já conhecido o Plano de Implantação (em andamento ou não), o foco é a participação no processo, verificando o que foi realizado em comparação com o que foi planejado. Ex.: Acompanhamento do programa de treinamento de pessoal operacional e o seu impacto na produtividade, na qualidade e no nível de satisfação da equipe.
e)Avaliação de Programas: é realizada quando se deseja conhecer a efetividade de um programa que já existe há algum tempo. Compara-se a situação anterior (se possível) com a atual e com a que seria o objetivo daquele programa, investigando-se causas. Ex.: Avaliação dos resultados alcançados pelo programa de redução de acidentes de trabalho nos setores fabris da unidade X.
f)Proposta para Replanificação e Melhorias: é o tipo depesquisa indicado para situações em que, sabidamente, o programa em andamento não tem atingido os objetivos (ou o faz parcialmente). Também é possível a necessidade de se revisarem/redirecionarem os objetivos em face de mudanças de ambiente externo ou interno da organização. Assemelha-se à Pesquisa de Soluções, porém, no sentido de revitalizar, de melhorar algo. Ex.: Proposta para redefinição do perfil do endividamento de curto prazo em uma indústria de médio porte na região Z.
Através da utilização desses métodos de pesquisa se obterá elementos para construção de sua monografia, que pode ser:
a)Compilação ou Pesquisa bibliográfica: é bastante comum para TCC´s pois é o método em que o acadêmico pesquisa vários autores e expõe o pensamento deles para afirmação ou negação de sua linha de raciocínio. Quanto mais abrangente for a pesquisa realizada, melhor será a construção da monografia;
b)Pesquisa de campo: nesse método o aluno irá buscar dados através de observações empíricas realizadas na fonte dos fatos ou de documentos arquivados que permitam a compreensão dos mesmos fatos. Caso seja realizada na observação de fatos, é necessário a elaboração de um instrumento que permitirá a coleta de dados;
Independentemente da escolha do método, todo material selecionado de livros (compilação) e de observação (pesquisa de campo), deverão eles agora sofrer um planejamento, devendo o pesquisador agrupá-los, separá-los e organizá-los de forma lógica e sistêmica para iniciar a redação da monografia.
Para tanto, o anteprojeto deve ter estabelecido uma proposta de sumário ou esqueleto provisório para viabilizar agora essa organização e planejamento.
5. Bibliografia
Para a realização da monografia é necessário previamente que se utilize previamente de "manuais de monografia" ou "manuais de metodologia científica". A leitura previa desse material é que nos dá a noção de organização de nosso trabalho de pesquisa.
Além disso, é importante que se verifique as regras do "manual de estágio e TCC" da instituição ou "normas da ABNT" para saber qual será a organização metodológica a se dar na formatação do trabalho antes do início de sua redação.
Tirando a bibliografia burocrática da monografia, as demais devem ser as necessárias para investigação de nosso tema. Veja que pelo caráter científico das monografias, é importante uma pesquisa filosófica que guarde relação com o tema pesquisado, para isso, deve se verificar se existe uma corrente filosófica que discutiu aspectos no mínimo genéricos que possam nortear uma melhor compreensão de nosso objeto de investigação.
A seleção de obras específicas sobre o tema é livre, mas deve se consultar o orientador para saber se existe algo recomendado para o tema. De qualquer forma, visitar bibliotecas variadas nessa fase é muito saudável, pois nos permite descobrir material que ainda não conhecíamos nem por referência em sala de aula.
Uma boa sugestão para auxiliar na escolha da bibliografia é consultar bancos de dissertações de mestrado ou teses de doutorado que nos darão uma referência da pesquisa bibliográfica. Outra alternativa é pesquisar revistas científicas para explorar também a bibliografia utilize na elaboração dos artigos científicos. Nesse caso se recomenda um critério para que as revistas "científicas" selecionadas tenham "conselho editorial", sejam elas impressas em papel ou eletrônicas (Internet) o que garantiria em tese uma qualidade desses artigos a serem compulsados.
6. Fichamento
Como nessa fase de pesquisa iremos tomar contato com muito material (livros, ensaios, artigos, teses, dissertações etc), é natural que vamos encontrar muita coisa que futuramente aproveitaremos quando iniciarmos a redação da monografia, logo, é recomendável desde já que você faça um fichamento de tudo aquilo que for útil para seu trabalho.
Lembre-se que você já fez um esqueleto provisório ou sumário prévio de seu trabalho, portanto, cada um dos itens dele constante deve ser investigado, assim, quando você encontrar algo em sua leitura que guarde relação com um dos itens, faça um fichamento para que na fase de redação você possa rever o material.
Exemplo: imagine a seguinte proposta de sumário:
Introdução
1.Formas de exercício de atividade econômica empresarial
2.Conceito de microempresa no Brasil
3.Regras de registro e estabelecimento de microempresa
4.Organização e funcionamento da microempresa
5.Benefícios na gestão da microempresa
Conclusão
Na leitura do material, quando encontramos algo falando sobre "conceito de microempresa", elaboramos um fichamento assim:
- Conceito de microempresa:
- COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial, Saraiva, 2003, p. 84
- FAZZIO JR., Waldo. A moderna empresa brasileira, Atlas, 2007, p. 123.
Com esse fichamento você terá material para desenvolver o capítulo de "conceito de microempresa" de sua monografia.
Observe que quanto a fonte for de revista eletrônica (Internet) o ideal é que você faça a impressão ou o download do material com a observações do endereço eletrônico completo (link) e com a data de acesso. Exemplo:
ROQUE, Sebastião José. Assembléia-geral de credores é ponto crítico da Lei de Recuperação de Empresas. Boletim Jurídico, Uberaba-MG, a.3, nº 165. Disponível em: <http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto/texto.asp?id=1064>. Acesso em 13 de fevereiro de 2006.
7. Conclusão
Note que o TCC apesar de dar muito trabalho, não é nenhum bicho de sete cabeças. Além disso, recorro mais uma vez a mitologia para que sigam o caminho da pesquisa da forma mais prazerosa possível.
Pensem no mito da esfinge. A esfinge como figura popular, é um animal com corpo de leão, asas e cabeça de mulher. Possui corpo de leão porque só com a garra do leão é conseguimos superar todos os obstáculos da vida, mas isso por si só não bata, é necessário as asas para voar, mas não voar no sentido de ganhar os céus, mas no sentido de nos desprendermos de todos nossos preconceitos e nos tornarmos seres mais "leves" (éticos e socialmente comprometidos), e por último a cabeça de mulher para mostrar que para vencer na vida, além de garra e comprometimento social, precisamos de sensibilidade para entender os fenômenos da vida.
Dessa forma sugiro que incorporem o mito da esfinge sob o manto de Zeus e que desenvolvam um excelente trabalho de conclusão de curso para coroar os difíceis anos de nossa vida que tanta privação nos exige para a busca do sonho de fazer parte da elite intelectual desse país.
8. Sites de pesquisa recomendados
http://www.teses.usp.br
http://libdigi.unicamp.br
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp
http://www.biblioteca.sebrae.com.br/
http://www.academus.pro.br/site/barra.asp?url=http://www.biblio.com.br/
http://www.ibge.gov.br/home/default.php
http://www.scielo.org/php/index.php
http://www.administradores.com.br
9. Referência Bibliográfica
CERVO, A. L. Metodologia Científica. SP: Makron Books, 1996, 4ª edição.
CLOTET, Joaquim. As duas Globalizações. RS: Editora Sulina, 2002.
FARIA, Ana Cristina. Manual prático para elaboração de monografias. SP: Editora Vozes, 1996, 2ª edição.
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. A ciência do direito. SP: Editora Atlas, 1980.
SALIS, Viktor D., Mitologia Viva – Aprendendo com os Deuses a arte de viver e amar. SP: Editora Nova Alexandria, 2003.
[1]O autor é Consultor de Empresas e Advogado; Mestre em Direito pela UNIMES - Universidade Metropolitana de Santos; Pós-graduado em Administração pela FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado; Graduado em Administração e Direito; Coordenador do curso de Administração da USF - Universidade São Francisco; Professor de Comunicação Empresarial, Direito Empresarial e Tributário da USF - Universidade São Francisco; Advogado-Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica da UNICSUL - Universidade Cruzeiro do Sul; Membro da Comissão de Direitos Autorais da UNICSUL; Co-autor do livro "Temas Relevantes do Direito", SP: Lúmen Editora, 2001; Co-autor do livro "Dano Moral e sua Quantificação", RS: Editora Plenum, 2004; Co-autor do livro "Exame de Ordem comentado e anotado", SP: Apta Edições, 2005; Co-autor do livro "Exames de OAB", SP: DPJ Editora, 2005; Autor do livro "Direito Empresarial" da coleção Lições de Direito, SP: DPJ Editora, 2006. Contatos: sergio.gabriel@ig.com.br. Blog: www.professorsergiogabriel.blogspot.com. Artigo elaborado em 14 de março de 2009.
[2]As duas Globalizações, RS: Editora Sulina, 2002.
[3] SALIS, Viktor D., Mitologia Viva – Aprendendo com os Deuses a arte de viver e amar. SP: Editora Nova Alexandria, 2003, p. 27.
[4] FERRAZ JR., Tércio Sampaio. A ciência do direito. SP: Editora Atlas, 1980, p. 11.