Como entender o pensamento existencialista de soren kierkegaard.
Por Edjar Dias de Vasconcelos | 01/09/2012 | FilosofiaQuem foi Soren Kierkegaard.
Filósofo dinamarquês.
Nascido em Copenhague.
Morreu muito jovem, era o filho mais novo de sete irmãos e com vinte um ano, cinco deles e sua mãe já tinham falecidos. Naturalmente que sofreu muito.
Ele mesmo morreu com quarenta e dois anos, mesmo assim teve tempo suficiente para estudar bastante e entrar no rol dos filósofos famosos da tradição da filosofia.
Por esse motivo podemos perceber a sua capacidade intelectual. Foi considerado por todos como aquele que iniciou o movimento existencialista no mundo. Inclusive Sartre deu a ele essa denominação. O pai do existencialismo.
A ideia que o homem vive o desprezo absoluto e que este de certo modo está sozinho no mundo. Cada época a história tem a sua própria depravação. O mundo demonstra certa crueldade para com a pessoa.
A angústia faz parte naturalmente da vida, mesmo o homem tendo fé e acreditando em Deus. A vida é solitária cruel e às vezes termina de forma não muito agradável para o homem.
Sua principal obra de estreia ao mundo da filosofia, Sobre o Conceito de Ironia, provou ser uma crítica fenomenal da filosofia de Hegel, sobretudo a respeito do conceito vazio do absoluto, como também da Instituição ser um objeto sagrado como suposta defesa da sociedade e por outro lado, o mecanismo necessário a evolução da mesma.
A respeito desse aspecto a sua filosofia é também muito valorizada, entretanto, o Kierkegaard analisado, entendido como o fundador de uma corrente filosófica determinada como existencialismo.
Em outros trabalhos ataca particularmente Hegel formula uma crítica pesada contra o cristianismo de Estado, a questão da fé institucionalizada.
A grande questão para ele são os funcionários de Deus, esses manipulam Deus, como se Deus fossem suas próprias ideologias.
A igreja e o Estado cumprem esse papel de alienação do homem a respeito de Deus. Motivo da sua indiferença em relação às instituições.
Kierkegaard devolve a questão ontológica ao individuo cartesiano, em oposição a um todo complexo e difícil de ser entendido, muito menos analisado, ao que se refere à complexidade da filosofia de Spinoza, Hegel e particularmente de Karl Marx.
Para quem o individuo é irrelevante, a pessoa humana em particular não tem muita significação na história, concepção a qual ele ataca com veemência, a partir desse entendimento que inicia a formulação da sua filosofia existencialista.
Ele descreve que cada época tem a sua depravação, a nossa talvez seja a pior delas, que não é como muitos pensam a defesa do prazer, a indulgência ou sensualidade, mas o desprezo desregrado pelo próprio homem.
O individuo como tal, não tem nenhum valor para a sociedade, em todos os aspectos possíveis desse desprezo absoluto.
O homem é a grande vítima da modernidade, pode ter certeza disso, preso a solidão do seu próprio abandono, sem perspectiva de saída, essa é a realidade crua e nua da sociedade dos nossos tempos, refletiu Kierkegaard.
No entanto, ele como filósofo nunca foi cartesiano apenas, apesar de usar o método racionalista para desenvolver a sua filosofia de análise, isso não significava ser cartesiano na sua complexidade.
A sua grande obra é muito bem resumida em seus famosos epigramas, a crítica formulada por ele a respeito de toda história do pensamento, que sempre foi voltada para interesses errados, isso desde a filosofia antiga grega.
O que se concentrou em defesa de instituições metafísicas infrutíferas, o que não deveria ser sequer desenvolvida pela filosofia, uma espécie de pensamento fútil e de análise inadequada.
A filosofia se concentrou na razão ou na experiência com a finalidade de dar explicação ao mundo, em entender a funcionalidade do mesmo, fundamentar suas leis, essas sempre foram as grandes questões da filosofia, na história da formulação do seu pensamento.
Entretanto diz Kierkegaard, nenhum desses sistemas leva em consideração o que é o homem, um pobre ser abandonado ao mundo, por todos os mecanismos desse mundo, da razão social ao mundo da política.
Mas qual é a condição fundamental do homem, nesse mundo, estamos a cada instante, diante da obrigação de tomarmos decisões a respeito de tudo, e o que devemos fazer quando nos encontramos sozinhos.
A escolha é o nosso ponto de partida, somos necessariamente obrigados a escolher, não temos outra perspectiva, esse é nosso caminho cotidiano, não nos resta outra saída.
O homem é o seu próprio ser, a obrigação da sua falta de consolo. Existindo Deus ou não, somos obrigados a decidirmos.
A escolha é o grande fardo, a cada pessoa, o que realmente faz falta é ter claro em mente qual é o caminho, não sabemos qual é a escolha correta, motivo de profunda angústia e medo incontroláveis.
O mundo define pela escolha, quando desconhecemos os meandros daquilo que é certo, somos sempre induzidos ao erro, pagamos muito caro por escolhas não corretas e só percebemos essas escolhas muito tardiamente.
O ponto central é encontrar a verdade, mas a grande pergunta o que é a verdade? Nietzsche certa vez disse que não existe a verdade, que ela está misturada com a mentira, quem procurar a verdade envolveria em um mundo profundo de ilusões.
Então como encontrar o caminho, quando de certa forma não existe caminho, entre aquilo que é certo ou errado ao mesmo tempo, a lógica da felicidade se prende apenas a uma relação de tempo e de proporcionalidade, a angústia se faz nessa dialética dos antagonismos.
Mas para Kierkegaard a questão da verdade era outra coisa mais profunda e de natureza existencialista, porque se Deus de fato não existir a perspectiva da sua vida teria necessariamente outro fundamento. A pergunta fundamental existir para quê?
A ideia fundamental para Kierkegaard era encontrar a verdade a qual justificasse o principio que pudesse fundamentar o motivo da sua existência e qual a razão que também pudesse defender a justificativa da morte.
Confesso com sinceridade que isso sempre fora impossível, porque tudo que justiça a matéria parte do principio da defesa da própria matéria que é o desenvolvimento natural das suas próprias leis.
Tudo que existe na natureza, tem tão somente o papel de cumprir a mudança de estado, de uma pedra a espécie humana, imaginar algo além dessa possibilidade é criar para própria lógica racional a ilusão.
Não adianta fazer uma aposta cega em Deus, como se ele existisse como se o homem tivesse a linguagem como diferenciação, porque tudo isso é apenas uma aposta de má fé, como muito bem formulou Sartre. Sabe que algo não é não tem possibilidade de ser, mas aposta como se fosse, e, passar ter fé nessa aposta.
O espírito é produto da invenção da linguagem, do mesmo modo as ideologias, e, Deus entra nessa relação de produção ideológica, por interesse de domínio, foi exatamente isso que Kierkegaard não conseguiu entender, pelo mesmo motivo não pode analisar a razão das instituições instrumentalizar Deus.
Então ele desenvolve uma crítica veemente a mesma dizendo que ela só pode minar a fé, como sendo um produto da existência, algo forçado para dar significado a existência do homem, mas Kierkegaard não aceita essa possibilidade.
Ataca com efeito, as provas racionais da existência de Deus, o que de fato não tem de racional, apenas formulações convencionais com uso de lógicas não completas, isso na pessoa de Santo Anselmo a questão da prova ontológica, como também de Santo Tomás de Aquino a prova material pela razão lógica das justificativas de causas.
A sua crítica, não se prova Deus por nenhum princípio racional, é pura bobagem qualquer tipo de esforço intelectual, a existência de Deus, justifica tão somente, por uma aposta no escuro, é como aqui da terra alguém tivesse fé que em algum planeta paralelo existisse civilização como na terra.
A fé é apenas uma aposta, nunca se deve perguntar para a razão se essa aposta é certa ou errada, o sujeito imagina que existe Deus e pronto, acredita e a partir desse acreditar a sua vida passa ter sentido, ao acreditar em Deus, se vive a vida como realmente ele existisse. Fora dessa lógica reina eternamente a angustia.
Edjar Dias de Vasconcelos.