COMO A ORALIDADE, ATRAVÉS DA TRANSCRIÇÃO DE TRAÇOS ORAIS INTERFERE NA PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS DO 6º ANO DA ESCOLA RIBEIRINHA DE LARANJAL.
Por ionete meireles simões | 21/02/2018 | EducaçãoRESUMO
Este artigo de pesquisa intitulado “Como a oralidade, através da transcrição de traços orais interfere na produção textual dos alunos do 6º ano do ensino fundamental da escola ribeirinha de laranjal”. Trata de uma pesquisa com o intuito de observar como a oralidade, através da transcrição de traços orais, interfere na produção textual escrita. A construção deste trabalho deu-se de forma qualitativa a partir de um processo metodológico dividido em duas etapas, a primeira de observação e, a segunda de produção textual sobre o gênero lendas, logo em seguida, fez-se a análise das produções textuais de 02 alunos de uma demanda de 33, de uma turma de 6º ano da Escola de Ensino Fundamental de Laranjal. Como embasamento teórico para a produção deste trabalho tive, Elias (2014), Marcuschi (2001/2010), os (PCNs) de língua portuguesa, além de Fávero (1999) que defende a ideia de que a oralidade e a escrita estão intimamente relacionadas. Nesse sentido, é necessário que haja uma maior interação entre escola e alunos na construção do conhecimento, pois, ambos são indispensáveis para o processo de ensino-aprendizagem, uma vez que é na escola que os alunos praticam com mais frequência o uso da oralidade e da escrita no processo de formação, e compreensão das competências comunicativas.
PALAVRAS-CHAVE: Interferência; Oralidade; Escrita.
INTRODUÇÃO
O referido trabalho tem como tema “Como a oralidade, através da transcrição de traços orais interfere na produção textual dos alunos do 6º ano do ensino fundamental da escola ribeirinha de laranjal”, que visa identificar se os alunos do 6º ano da escola municipal de Ensino Fundamental de Laranjal do Município de Cametá apresentam algum tipo de dificuldade no momento da produção de textos, com o intuito de observar como estas dificuldades manifestam-se no momento da produção textual, transcrevendo para seus textos traços da oralidade, além de investigar as diferenças entre fala e escrita, pois, é de grande importância que se saiba discernir a língua escrita da falada.
A partir disso, consideramos a colaboração dos autores, Elias (2014) que nos leva a refletir, como está sendo trabalhada a oralidade e a escrita na disciplina de língua portuguesa.; Marcuschi (2010) que também destaca a importância do uso adequado da língua, para produzir efeito de sentido pretendido numa dada situação; os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de língua portuguesa nos remetem a necessidade de se aprender a diferenciar a linguagem formal da informal, principalmente saber como adequá-las nas mais variadas situações orais e escritas; além de Fávero (1999) que defende a ideia de que a oralidade e a escrita estão intimamente relacionadas, e ambos são importantes para o aprendizado.
Tendo esta pesquisa analítica como objetivo geral, demonstrar a relação entre o oral/escrito nas produções textuais dos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental da escola ribeirinha de Laranjal, e verificar se está sendo transposto para as produções traços da oralidade, para isto, será preciso analisar a linguagem utilizada pelo aluno através de uma conversa informal.
Para auxiliar a leitura do texto, a pesquisa foi organizada da seguinte forma: Primeiro refletiremos sobre a oralidade e a escrita na sala de aula e, sua importância na formação acadêmica e social dos estudantes; utilizaremos assim as próximas páginas para mostrar um pouco mais detalhadamente o processo de aquisição da linguagem escrita e oral; nos capítulos seguintes têm-se o método, análise, interpretação dos dados obtidos e, a proposta de intervenção objetivando apontar caminhos que possam contribuir para minimizar a problemática da pesquisa. Por fim, temos as considerações finais obtidas através de todo esse estudo e pesquisa.
1.1 A ORALIDADE E A ESCRITA NA SALA DE AULA
A inserção na sociedade nos permite o reconhecimento de vários métodos e estratégias comunicativas, que vai muito além do nosso conhecimento familiar, como cita Elias (2014).
A vida em sociedade permite o conhecimento e o reconhecimento de duas modalidades de produção linguística, a oral e a escrita. Isso significa que o aluno chega à escola com um determinado conhecimento desses modelos; entretanto, por não ter sido exposto, na maioria das vezes, a reflexões sobre o processamento de cada uma dessas modalidades, atravessa o período escolar sem o discernimento desejado sobre as especificidades de uma ou de outra modalidade (ELIAS, 2014, p.13).
Compreende-se assim, que o aluno traz consigo para o ambiente escolar alguns conhecimentos sobre à oralidade e a escrita; contudo, por não ter sido exposto, na maioria das vezes, a reflexões sobre as propriedades dessas modalidades, termina o período escolar sem compreender as especificidades de uma ou de outra.
No momento que o aluno ingressa no ambiente escolar, esta se torna uma das principais fontes de conhecimento, é nesse ambiente de informações que o aluno irá se preparar para lidar com os obstáculos da sociedade e, se aperfeiçoar para ingressar no ambiente de trabalho, como destaca Brasil (1998) que propõe um ensino de línguas com uso de textos orais:
[...] nas inúmeras situações sociais do exercício da cidadania que se colocam fora dos muros da escola - a busca de serviços, as tarefas profissionais, os encontros institucionalizados, a defesa de seus direitos e opiniões - os alunos serão avaliados (em outros termos, aceitos ou discriminados) à medida que forem capazes de responder a diferentes exigências de fala e de adequação às características próprias de diferentes gêneros do oral. Dessa forma, cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral no planejamento e realização de apresentações públicas: realização de entrevistas, debates, seminários, apresentações teatrais etc. Trata-se de propor situações didáticas nas quais essas atividades façam sentido de fato [...] (BRASIL, 1998, p.25).
A escola possui papel fundamental, na formação do indivíduo, atuando diretamente na sua formação profissional e social, levando cada um a compreender que tanto a oralidade quanto a escrita possuem papéis decisivos no seu desenvolvimento, e que tanto uma quanto a outro devem se adequar as várias situações comunicativas sociais.
A língua é diversificada e se manifesta de diversas maneiras dependendo da situação comunicativa em que se encontra, com isso, na sala de aula o professor não pode priorizar um ou outro sistema de comunicação, uma vez que, há inúmeros e, os mesmos devem ser repassados aos alunos no processo de ensino-aprendizagem, mesmo porque, eles precisam reconhecer a importância do desenvolvimento de habilidades nas produções de textos variados. Marcuschi (2000) argumenta:
Postular algum tipo de ‘supremacia’ ou de superioridade de alguma das duas modalidades seria uma visão equivocada, pois não se pode afirmar que a fala é superior à escrita ou vice-versa. Em primeiro lugar, deve-se considerar o aspecto que se está comparando e, em segundo, deve-se considerar que esta relação não é homogênea nem constante. [cronologicamente], a fala tem grande precedência sobre a escrita, mas do ponto de vista do ‘prestigio social’, a escrita é vista como mais prestigiosa que a fala. Não se trata, porém, de algum critério intrínseco nem de parâmetros linguísticos e sim de postura ideológica (MARCUSCHI, 2000, p. 35-6).
Sendo assim, mesmo que a escrita por critérios ideológicos seja considerada como superior a oralidade, em sala de aula não se pode valorizar uma ou outra função comunicativa, pois, ambos são de suma importância para a formação do aluno, que deve compreender que tanto a oralidade quanto a escrita são necessárias para o seu aperfeiçoamento profissional e, os professores devem leva-los a compreender a importância de ambas, o que de fato não acontece pois, segundo Marcuschi (2001).
Uma quase omissão da fala como objeto de exploração no trabalho escolar; essa omissão pode ter como explicação a crença ingênua de que os usos orais da língua estão tão ligados à vida de todos nós que nem precisam ser matéria de sala de aula (cf. MARCUSCHI, 2001, p. 19).
É perceptível de acordo com o argumento acima, o total desprestigio do trabalho com a oralidade em sala de aula, tomando a apenas como um mero meio comunicativo, que não deve ser estudado a fundo em sala de aula, já que, é considerado como um fruto natural da constituição humana.
Portanto, quando se deseja que o aluno construa conhecimento, não se deve apenas proporcionar conhecimentos, mas, que conhecimentos e informações devem ser oferecidos, além de instrui-los a maneira que esse conhecimento deve ser utilizado. Nesse sentido, a intervenção pedagógica do professor tem valor determinante no processo de aprendizagem e, por isso, é necessário que os conteúdos programáticos sejam avaliados, e se preciso reformulados de acordo com as necessidades dos alunos, para que assim, os objetivos sejam alcançados.
1.2- A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA AQUISIÇÃO DA ESCRITA
A oralidade e a escrita apesar de serem aparentemente diferentes, as mesmas apresentam segundo Marcuschi (2001), os mesmos traços: dialogicidade, usos estratégicos, funções interacionais, envolvimento, negociação, situacionalidade, coerência e dinamicidade. Entretanto, percebe-se que para ocorrer tanto à comunicação oral, quanto à escrita, depende apenas da escolha feita pelo enunciador e, do contexto situacional na qual ambas se encontram.
Percebemos a partir do pressuposto defendido acima, que o oral e o escrito não podem ser estudados de maneiras dicotômicas, como acontece na maioria das escolas, deve-se levar o aluno a compreender que um depende do outro, e a única diferença é a maneira e o gênero escolhido para que um dos dois ocorra, pois, podemos encontrar traços orais em um texto escrito, e vice-versa, como cita Koch (1997).
Existem textos escritos que se situam, no contínuo, mais próximos da fala conversacional (bilhete, carta familiar, textos de humor), ao passo que existem textos falados que mais se aproximam do polo da escrita formal (conferências, entrevistas profissionais para altos cargos administrativos dentre outros), existindo, ainda, tipos mistos, além de muitos outros intermediários (KOCH ,1997, p.32).
No entanto, a linguagem oral não exige tanta formalidade como a escrita, mas, tudo depende do contexto no qual ambos ocorrem, e os professores como formadores de alunos críticos devem proporcionar momentos variados de comunicação, demonstrando como se portar diante de cada um.
Em sala de aula, o professor deve levar seus alunos a compreender as particularidades da oralidade e da escrita, não levando-os a pensar que a oralidade é menos importante que a escrita, como diz Marcuschi (2010).
Sendo assim, oralidade e escrita são práticas e usos da língua e cada uma tem características próprias, mas não o suficiente para caracterizar dois sistemas linguísticos diferentes, nem uma dicotomia. A fala e a escrita não podem ser tratadas como sendo uma superior à outra (MARCUSHI, 2010, p.17).
Ou seja, cada modo comunicativo possui suas próprias particularidades comunicativas, uma não é mais importante que a outra, todas possuem traços suficientes para serem admiráveis dentro de um contexto social. Como por exemplo, em um texto escrito jamais poderemos representar movimentos do corpo e dos olhos, entre vários outros movimentos. Já a escrita apresenta características próprias e que são ausentes na fala, como, tamanho e tipos de letras, cores, formatos e tantos outros. Sendo assim, oralidade e escrita são práticas e usos da língua e cada uma tem características próprias, mas não o suficiente para caracterizar dois sistemas linguísticos diferentes, nem uma dicotomia.
Nenhum ser humano fala e escreve da mesma forma, falamos e escrevemos de maneiras diferentes em situações diferentes, com estilos variados, ou seja, cada situação exige um tipo de uso. Sendo um dos trabalhos específicos da escola tornar o aluno competente no maior número possível de normas, dentre as quais, o domínio da norma padrão. Não estamos aqui apontando a questão de ensinar a falar, mas a necessidade de mostrar a professores e alunos a variação linguística, segundo Brasil (1997):
A questão não é falar certo ou errado e sim saber que formar utilizar, considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber, adequar o registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa (BRASIL, 1997, p. 32).
É de grande importância a adequação da fala e da escrita ao contexto social, porém, o que se percebe é que a transposição da oralidade para a escrita não ocorre apenas na fase inicial da vida escolar, mas, por um tempo relativamente longo, já que continuam usando as mesmas estratégias de construção e os mesmos recursos de linguagem, o que certamente os prejudicará.
Portanto, a linguagem escrita não é apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema mais rígido e disciplinado, porém, existem usos diferentes da língua, é importante que no estudo da língua portuguesa, seja estimulado o aprendizado dos traços orais e escritos, pois, querendo ou não a influência da palavra oral é muito forte na vida cotidiana do aluno e, a escola jamais poderá provocar uma ruptura nesse universo, apenas instrui-los a uma adequação necessária.
CAPÍTULO II- METODOLOGIA
2.1- CONTEXTUALIZAÇÃO DO LOCUS DA PESQUISA
O lugar escolhido para a realização da pesquisa foi a “Escola Municipal de Ensino Fundamental de Laranjal“, fundada em 2000, localizada na Zona Ribeirinha no Município de Cametá-Pará pertencente ao distrito de Juába.
É uma unidade escolar de porte médio, e encontra-se conservada, contudo, suas salas de aula são muito pequenas, com pouca ventilação e muito desconfortáveis para os alunos; observou-se que a escola possui um amplo espaço ao ar livre para a circulação dos alunos.
A referida escola possui níveis e modalidades de ensinos diferenciados como: Ensino Fundamental menor e maior; no salão da comunidade que fica ao lado do colégio, funcionam as turmas do modular por um motivo simples, a escola não possui estrutura física para dar suporte a esses alunos, como por exemplo, uma sala de aula adequada. A escola não possui biblioteca, aumentando assim as dificuldades dos professores, pois os alunos não têm como pesquisar assuntos que poderiam ser úteis para o enriquecimento dos seus saberes. O quadro funcional desta escola é formado por serventes e merendeiras, professores, porteiros, um diretor e uma vice-diretora. A escola possui uma demanda de 350 alunos distribuídos em 02 (dois) turnos: manhã e tarde.
Com relação à formação da professora da turma pesquisada, a mesma possui nível superior e especialização em língua portuguesa, contudo, ela não reside no mesmo local do colégio, tendo que se deslocar da cidade de Mocajuba para ministrar aula na escola de Laranjal, desconhecendo assim, a realidade na qual vivem seus alunos.
2.3- COLETA DOS DADOS
A investigação será desenvolvida obedecendo a uma abordagem qualitativa, realizada por meio de pesquisa de campo e, análise dos dados coletados na investigação com os alunos e comunidade, com o objetivo de analisar através de produções textuais a relação oral/escrita nos textos dos alunos da Escola que foi escolhida como local de representação do corpus nesta pesquisa.
Após o primeiro contato com a escola pesquisada, distribui meu período de investigação em dois momentos: Na primeira etapa, ocorreu à observação da turma em sala de aula, diálogo com a professora, para a obtenção de informações relevantes sobre o cotidiano dos alunos na escola, conversa informal com o diretor sobre os projetos existentes na unidade escolar e, o desempenho da turma em questão, analisei o comportamento dos alunos fora da sala de aula, registrei com fotos os momentos em aula e fora da mesma e, verifiquei detalhadamente a estrutura física da escola. No segundo momento, que seria a etapa de produção textual, foi apresentado aos alunos o gênero textual lendas, fiquei apreensiva logo de início, pois, os estudantes não tinham a menor ideia do que era uma lenda, para facilitar o aprendizado mostrei alguns exemplos que já havia selecionado para a aula, como a “lenda do boto”, da “matinta pereira” e da “cobra grande” (em anexo), procurei mostrar a eles, lendas que tivesse mais a ver com a realidade ribeirinha.
Dando continuidade à aula de produção textual, foi proposto aos alunos o seguinte tema “através dos conhecimentos obtidos em sala de aula e, no meio social em que vive, produza um texto contando um fato (lenda, história) que você já ouviu antes”, percebendo a dificuldade dos alunos quanto à produção textual, não estipulei número de linhas, pois, preferir deixá-los livre para desenvolver suas produções.
Foram coletadas 29 (vinte e nove) produções na forma narrativa, dentre as quais utilizei como base de pesquisa apenas 02 (duas) todas produzidas pelos alunos do 6º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental de Laranjal.
2.4- ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS
Neste momento da pesquisa, na qual será realizada a análise das produções, não serão levadas em consideração, as regras de acentuação gráfica, ortografia e concordância, visto que, busco apenas identificar, se há ou não presença de traços orais nas produções escritas dos alunos.
Após verificar as produções textuais dos alunos, constatei que os mesmos utilizam marcas da oralidade em seus textos, o que para a escola são considerados como “erros”, a partir da verificação dos textos, selecionei 02 (duas) para verificar a presença de marcas da interferência da oralidade na escrita. As produções escolhidas foram: “A cobra grande” (texto nº 1), “Tartaruga Gigante” (texto nº 2). Observando o primeiro texto, constata-se marcas da oralidade na modalidade escrita da língua. Sabe-se, no entanto, que este é um elemento bastante comum, mas, que precisa ser trabalhado em sala de aula. Passemos para a análise do texto.
Na (linha 1 e 2), percebe-se 02 (duas) vezes o uso repetido de adverbio e adjetivo, na intenção destacar ou enfatizar algo (Era uma vez, um menino muito bonito mais muito bonito), como se quisesse deixar bem claro que o menino era bonito.
Já na linha (02 e 03) quando escreve a seguinte frase (Mais só que ele...), deixa evidente o desconhecimento dos elementos coesivos que encadeiam as ideias em um texto escrito, sendo que poderia apenas substituir a frase acima por “mas”.Continuando na (linha 03) temos a palavra “orivel” escrita do mesmo modo que é pronunciado na oralidade.
Dando seguimento à análise, na linha nº04 a forma “num” está no sentido de “em um”, contudo, no momento da escrita o aluno uniu (em+um) formando “num”, utilizando de maneira inconsciente o processo de aglutinação.
Na linha nº 05, temos o “ser” empregado de maneira incorreta, pois, de acordo com o contexto, deveria ser utilizado o “se” e não na forma de verbo.
Nas (linhas de 09 a 11) temos os enunciados “...ele foi pra uma festa na fazenda e ele ficou com uma menina na festa...”, percebemos uma repetição desproporcional das palavras “ele” e “festa” tornando as frases redundantes, já que havia citado as duas palavras no primeiro enunciado, poderia tê-las omitido no segundo sem alterar o entendimento da frase, além de substituir o uso de “para” por “pra”.
Na (linha 13), temos “entra” que de acordo com o sentido do assunto deveria está na forma de verbo “entrar”.
Temos na (linha 14) a escrita incorreta do enunciado “E a menina ela gostou muito dele...”, além de não utilizar vírgula para dar seguimento ao texto, o autor escreve seguidamente duas marcas de feminino “menina” e “ela”, deixando claro a predominância da oralidade na produção escrita.
Outro aspecto que evidencia marcas da oralidade no texto é quando escreve a seguinte frase nas (linhas 15 e 16), “...ela foi muito corioza e olhou pela greta do quarto” é um exemplo claro, de uma expressão imprópria para a modalidade escrita, pois, na escrita formal da língua é rejeitado o uso de expressões vulgares (uso popular); a mesma aparece no texto no sentido de que alguém olhou pelo buraco. Outro aspecto é a palavra “curiosa” que foi escrita seguindo marcas da oralidade do aluno “corioza”, evidenciando traços orais na produção.
Na (linha 16 e 17) temos o seguinte “... ela viu uma cobra inome..”no lugar de escrever a forma correta do adjetivo “enorme” o aluno escreve da maneira que pronuncia oralmente “inome” no sentido de “grande”. Posteriormente nas ultimas linhas observamos os enunciados “... ele viu ela olhando...”, “... ele botou o luga pra dibaixo...”, deixando evidentea predominância da oralidade.
Um traço da oralidade muito presente o texto nº1 são as constantes repetições das palavras “festa”, “ele”, “ela” e “e”, o que demonstra dificuldade por parte do autor do texto em recorrer aos sinônimos das palavras citadas acima e, aos elementos coesivos que tendem a deixar os textos claros e objetivos para os leitores. Segundo Leonor apud Marcuschi (2002, p. 23) “a repetição é uma das atividades de formulação mais presentes na oralidade, contribuindo para a organização do discurso”, evidenciando assim, que no momento de uma produção escrita o aluno transcreve o que é prático da oralidade para a escrita. Outro aspecto relevante no texto, é a ausência de sinais de pontuação, as ideias surgem naturalmente, é como se o aluno estivesse narrando uma história se preocupar com as formalidades exigidas na linguagem escrita.
No texto nº2 logo nas primeiras linhas, (2,3 e 4), localiza-se particularidades da linguagem oral. Nas frases “... foi pro meio do rio numa canoa...” ,“a canoa afundo todo todo mundo olhou...” e “o homem não apareceu em tão”, temos em destaque a influência oral na escrita do texto, na palavra “pro” que poderia simplesmente ser substituída por “para” deixando o texto com uma escrita mais formal e, a palavra “numa, me leva a pensar que, muitas vezes, falamos tão rápido que os vocábulos são pronunciados juntos e, isso pode ser transferido para a escrita, além, da ortografia considerada errada para uma linguagem formal, como por exemplo: “numa” que poderia ser substituído por “em uma”, “afundo” por “afundou” e “em tão”, que tem um aspecto ainda mais oral, pois, é como se ao pronunciar a palavra houvesse uma pausa entre o “em” e o “tão”, levando o aluno a escreve-las separadamente.
Mais adiante na (linha 6) verifica-se a escrita da palavra “rescatado”, sendo que o autor queria escrever “resgatado”. Nas (linhas 10 e 11) temos novamente a escrita incorreta das palavras “pescado” e “mexe”, sendo que de acordo com o contexto seria “pescador” e “mexer”, demonstrando mais uma vez, a forte influência da oralidade na escrita.
Finalizando a análise dos textos nº 1, 2, percebo que os mesmos apresentam inúmeras vezes a repetição de um mesmo pronome pessoal, desconhecendo totalmente os sinônimos das palavras ou, outros pronomes que poderiam substituir os utilizados anteriormente, mantendo assim, uma escrita adequada sem alterar o sentido do texto. Outro aspecto importante e que merece destaque, é a falta de pontuação nos textos do início ao fim é, como se os autores estivessem oralizando as narrativas, e não precisasse colocar pontuação, contudo, esqueceram-se, que na forma escrita os textos necessitam de sinais de pontuação para que tenham sentido e sejam compreendidos com mais facilidade, este aspecto pode sugerir a ausência de atividades sobre o tema.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer desta pesquisa pude refletir a respeito da importante missão de ensinar, compreendendo que ser professor não se constitui apenas em repassar conteúdos formais, mas, em se dedicar todos os dias em prol daqueles que mais precisam de nós, contudo, apenas a dedicação do professor não é suficiente para se manter uma boa educação em sala de aula, é necessário que todos trabalhem unidos, escola e família. Diante disso, convém ressaltar a importância da oralidade e da escrita na inserção social do indivíduo, de forma que este mude a realidade que vive e, transforme sua comunidade.
Após analisar os dados feitos nessa pesquisa, foi possível observar que o ensino de língua portuguesa, deve e merece atenção especial no que diz respeito a prática da oralidade, é necessário que se tenha preocupação, pois, o que observei nos alunos do 6º ano da escola de Laranjal, é que grande maioria não consegue diferenciar a oralidade da escrita, transcrevendo para suas produções textuais traços que deveriam ficar na fala.
Nesse sentido, o que se defende é que o ensino da oralidade não fique em segundo plano na sala de aula dado como menos importante, já que é através dela que nos comunicamos no dia-a-dia em sociedade, mas é totalmente ao contrário, o que temos em sala de aula são alunos mecanizados e incentivados apenas a decodificarem uma resposta pronta e acabada.
O uso de diferentes gêneros proporciona uma abertura para o uso eficiente da língua, seja através do oral ou do escrito: como textos de esporte, política, música, histórias em quadrinhos, humor, charges, aventuras, poesias, teatros, além disso, podem ser trabalhadas também atividades com fantoches, roda de conversa, dramatizações, reprodução oral e escrita, retextualização, enfim atividades de seu conhecimento com uma linguagem acessível.
Portanto, através do que fora observado na E. M. E. F. de Laranjal, na turma do 6º ano, posso pressupor que, para que haja uma maior interatividade entre professor e alunos, faz-se necessário que os mesmos tenham autonomia para escolher alguns dos conteúdos da sala de aula, e o mais importante, que a escola dei suporte suficiente para que o professor consiga desempenhar um bom trabalho, pois, sozinho ele não conseguirá alcançar seus objetivos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Irandé, 1937. Aula de português:encontro&interação/IrandéAtunes, - São Paulo: Parábola Editorial, 2003 – (Série Aula; 1).
ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras coesão e coerência. São Paulo. Parábola, 2005.
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.
..........................................................................Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília:MEC/SEF, 1998.
Ensino de língua portuguesa: oralidade e escrita e leitura / organizadora Vanda Maria Elias. – 1. ed., 2ª reimpressão. – São Paulo: contexto, 2014.
FÀVERO, Leonor; ANDARDE, Maria; AQUINO, Zilda. A correção do texto falado: tipos, funções e marcas. In: Maria Helena Moura Neves (org.). Gramática do português falado, v. VII, Campinas: Editora da UNICAMP, 1999.
Gêneros orais e escritos na escola / tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. - - Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. - - (As faces as linguística)
Investigando a relação oral/escrito e as teorias do letramento / Luiz Antônio Marcuschi... [et al]; Inês Signorini (org.). – Campinas. SP: Mercado de Letras, 2001. – (coleção Ideias sobre Linguagem).
KOCH, I. G.V. Interferência da oralidade na aquisição da escrita. In: Trabalhos emLingüística Aplicada. Departamento de Lingüística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP, 30, Campinas: Editora da UNICAMP, 1997.
MACUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais: o que são e como se constituem. Recife, UFPE mimeo, 2000.
...................... Da fala para a escrita: o tratamento da oralidade no ensino de língua. São Paulo: Cortez, 2001.
.......................Da fala para a escrita: atividades de retextualização / Luiz Antônio Marcuschi – 10. Ed. – São Paulo: cortez, 2010.