Comentários a Lei nº. 12.441/2011 que permite a constituição da empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI
Por Géssica Bitencourt da Silva e Silva | 22/04/2013 | DireitoComentários a Lei nº. 12.441/2011 que permite a constituição da empresa individual de responsabilidade limitada - EIRELI
Géssica Bitencourt da Silva e Silva – bitencourtg@gmail.com
Acadêmica de Direito no Centro Universitário São Camilo. Pós Graduada em MBA em Gestão Empresarial – FACCACI. Tecnóloga em Recursos Humanos – UNOPAR.
Cachoeiro de Itapemirim/ES, 2013
INTRODUÇÃO
O presente trabalho traz os aspectos positivos e negativos da lei que institui a empresa individual de responsabilidade limitada. Foi analisado e apontado no teor desta atividade os motivos por quais se valeram o veto presidencial do parágrafo quarto do artigo 980-A, do Código Civil brasileiro. Outra informação importante também tecida neste trabalho acadêmico é um breve comentário quanto à ação direta de inconstitucionalidade movida em relação à EIRELI.
ASPECTOS POSITIVOS
Os aspectos positivos que pude notar com a instituição da EIRELI, depois de observada a visão de outros autores e analisada a lei nº. 12.441/2011 foram os seguintes:
a) A instituição de apenas um sócio como titular da totalidade do capital social da empresa, antes muitas pessoas usavam familiares para compor a sociedade na empresa, pois sozinhos não poderiam instituí-la, com a lei da EIRELI isso não é mais necessário. Uma organização já formada que tenha um sócio que possua uma grande parte do capital social, por exemplo, 99% e outro sócio que com apenas 1% deste capital, poderá ser transformada numa EIRELI.
b) A EIRELI pode ser instituída para a prestação de serviços de qualquer natureza, tornando possível uma maior abrangência de pessoas a terem acesso a essa modalidade de organização.
c) É possível o recebimento pela cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz desde que estejam vinculados à atividade profissional.
d) No que a legislação da instituição da EIRELI ausentar serão aplicadas as regras previstas para as sociedades limitadas.
e) A incomunicabilidade entre o patrimônio da empresa e do empresário, salvo se necessário para fins de débitos trabalhistas e previdenciários, ou violação a legislação, faz com que possíveis débitos da pessoa jurídica não sejam atribuídos ao patrimônio pessoal do empresário.
f) Uma sociedade irregular poderá ser transformada numa EIRELI, conforme expõe a alteração no art. 1.033 do Código Civil brasileiro.
ASPECTOS NEGATIVOS
Os aspectos negativos, para a instituição da EIRELI, ficaram elencados da seguinte forma:
a) O capital social da EIRELI não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente e isso torna a empresa individual de responsabilidade limitada restringida a um determinado grupo de pessoas na população.
b) Outra limitação que encontrei analisando a EIRELI foi que a pessoa natural que constituir a empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá ter uma única empresa dessa modalidade.
VETO PRESIDENCIAL
Foi vetado o §4º do artigo 980-A da lei que institui a EIRELI. O parágrafo 4º do artigo trazia o seguinte teor:
§4º Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da empresa individual de responsabilidade limitada, não se confundindo em qualquer situação com o patrimônio da pessoa natural que a constitui, conforme descrito em sua declaração anual de bens entregue ao órgão competente. (VETADO).
Apesar de que atualmente a desconsideração da personalidade jurídica e responsabilização dos sócios sem o devido processo legal tornou-se habitual no judiciário. Porém, a criação da EIRELI tentou trazer uma solução brusca para esta situação. A partir do momento em que o legislador diz “não se confundindo em qualquer situação” gera uma grande divergência quanto à colocação das hipóteses gerais de desconsideração da personalidade jurídica.
Segundo Oliveira (2011), uma das razões, se não a maior ou única razão, para o veto do §4º - Art. 980-A, formalizado pela Presidência da República foi o atendimento a manifestação do Ministério do Trabalho e Emprego, para que a redação do artigo não se confundisse diante da possibilidade de responsabilidade pessoal do sócio titular da empresa individual por abuso de personalidade jurídica.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - ADI 4637
Segundo o noticiário disponibilizado pelo Supremo Tribunal Federal, o Partido Popular Socialista ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, ADI nº. 4637, no Supremo Tribunal Federal questionando a parte final do caput do artigo 980-A do Código Civil, que impõe a necessidade de pelo menos a soma de 100 salários mínimos, vigente, para a instituição da EIRELI.
O Partido ingressou com a Ação Direta de Inconstitucionalidade pelo fato de que essa exigência traz limitação da EIRELI para pequenos empreendedores, com isso, diminuindo a oportunidade de desenvolvimento econômico no país.
De acordo com o canal de notícias do Supremo Tribunal Federal, o Partido Popular Socialista relata que é possível à alegação de impedimento observando, entre outros pressupostos já elencados acima, o artigo 170 da Constituição Federal que estabelece:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios (...). Grifo nosso.
Esse artigo traz o princípio da livre iniciativa, que está sendo limitado com a exigência estabelecida pela EIRELI no ato de instituí-la.
CONCLUSÃO
Através da EIRELI podemos notar que a legislação brasileira, que trata de assuntos voltados para o ramo de empresas, está avançando; mesmo sendo necessária fazer muitas alterações nos ordenamentos e em alguns costumes. Apesar de ser positiva a criação da EIRELI, o legislador poderia ter evitado pequenas falhas, tais que motivaram o veto presidencial e a Ação Direta de Inconstitucionalidade. Por fim, foi possível concluir que a maior vantagem estabelecida com a instituição da EIRELI é o fim da consagração de sócios com participações irrelevantes no capital social da organização, somente com o intuito de obter a limitação da responsabilidade limitada.
REFERÊNCIAS
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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADI questiona lei que permite criação de empresa individual de responsabilidade limitada. Notícias do STF, 12 de agosto de 2011. Disponível em: < www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=186488>. Acesso em: 12 mar. 2013.