Colombo e Suas Empresas das Índias
Por Julio Cesar Souza Santos | 11/11/2016 | SociedadePor Que os Empreendimentos Marítimos Portugueses Davam Muito Lucro? Qual Era o Grande Centro de Construção Naval na Época de Colombo? Por Que a Geografia Como Disciplina Não Constava do Trívio Nem do Quadrívio?
Durante muito tempo Gênova lutou contra Veneza pelo domínio marítimo do Mediterrâneo e, na juventude de Cristóvão Colombo, Gênova era um centro de construção naval e empreendimentos marítimos cujos autores de mapas dominavam o mercado de cartas marítimas no Mediterrâneo.
Eles faziam mapas de partes da costa da África recém-descobertas pelos discípulos do Infante Dom Henrique, embora tenha sido em Gênova que Cristóvão Colombo começou a aprender a arte de fazer mapas.
Enquanto Gênova permanecia um lugar de nascimento e viveiro de bons exploradores, os grandes empreendimentos marítimos exigiam maiores recursos e, tendo os Muçulmanos grande domínio do Mediterrâneo, uma exposição mais ocidental.
Em 1476, quando Colombo escoltava um carregamento no estreito de Gibraltar o seu barco foi atacado e afundado pela armada francesa. Mas, felizmente, foi perto da costa de Portugal (Lagos) e ele serviu-se de um dos remos como jangada, que o impulsionou à terra.
Naquele tempo não podia ter havido melhor lugar para um jovem (e ambicioso) marinheiro dar à costa, pois o amigável povo de Lagos secou-o, alimentou-o e depois o enviou ao encontro de seu irmão (Bartolomeu) que estava em Lisboa.
Dom Henrique tinha feito de Portugal o centro explorador da Europa e do Mundo e, em 1476, os empreendimentos marítimos davam muito lucro com suas cargas de escravos, pimenta e ouro. As recompensas eram visíveis em toda parte e os irmãos Colombo se lançaram ao negócio, vendendo cartas marítimas.
Em Lisboa eles atualizavam as cartas antigas, acrescentando-lhes informações recentes que eram trazidas pelos navios portugueses. E, com um conhecimento mais claro e profundo de novas costas, quem fazia mapas virou uma espécie de “jornalista” marítimo.
Quando os irmãos Colombo se estabeleceram em Lisboa, os navios portugueses ainda avançavam costa abaixo da África e chegaram a Guiné. Mas, a completa forma africana – que Ptolomeu puxara para reunir o sudeste asiático e transformar o Índico em um mar interior – ainda não tinha sido traçada.
No final de 1484, quando Colombo ofereceu aquilo que ele chamou de a sua “Empresa das Índias” ao rei português D. João II, continuava a parecer que uma passagem marítima para ocidente poderia ser não só a rota mais curta, mas também a única para as Índias.
Uma década antes, D. Afonso V parecia ter considerado uma passagem marítima para as Índias pelo ocidente e pediu a opinião de um famoso astrólogo (Paolo Toscanelli), o qual propunha – numa carta – um caminho mais curto para ir por mar para as terras das especiarias, do que aquele feito pela Guiné. E, no início de 1482 quando Colombo ouviu falar dessa carta, escreveu a Toscanelli e pediu-lhe mais informações.
Colombo recebeu uma resposta encorajadora acompanhada de outro mapa, o qual levou consigo na sua viagem para provar que Toscanelli tinha razão. Embora ele, Colombo, já estivesse convencido, a partir daí quis tentar essa possibilidade.
Os que podiam financiá-lo eram difíceis de persuadir e, a fim de convencê-los, ele precisava estar familiarizado com os escritos dos viajantes. Pois, a Geografia como disciplina não constava nem do Trívio ([1]) nem do Quadrívio ([2]), e ainda não tinha lugar ma escala do saber medieval cristão.
A língua materna de Colombo (genovês) era um dialeto falado e não uma língua escrita e, por isso mesmo, não o ajudou a documentar a empresa das Índias. Mas, ele não sabia falar nem escrever o italiano – que era uma língua escrita – pois ele não tinha muitos estudos.
Por outro lado, ele aprendeu a falar castelhano que era a língua preferida das classes instruídas de Portugal e toda Península Ibérica. E, quando escrevia em castelhano, Colombo usava ortografia portuguesa, o que dava a impressão de que falou primeiro português – o que não é verdade. Mas, ele aprendeu a ler em latim, o que era indispensável para seus esforços de tentar persuadir os mais instruídos.
Em 1484 Colombo fez sua apresentação da empresa das Índias ao rei D. João II que, em princípio, deixou-se influenciar pelo entusiasmo do jovem genovês. Ele tinha lido muito Marco Polo, chegando a conclusão de que pelo mar ocidental podia-se navegar para terras desconhecidas e, com esse propósito, pediu ao rei que tripulasse e equipasse 3 caravelas. Mas, o rei deu-lhe pouco crédito achando que ele era um “grande falador”.
Apesar das suas dúvidas, D. João II se sentiu convencido a apresentar o projeto a uma comissão de especialistas, cujo grupo incluía 2 médicos judeus e 1 clérigo e que acabou rejeitando o projeto. Essa rejeição não se baseou em qualquer discordância sobre a forma da Terra – nessa altura os europeus já não tinham nenhuma dúvida quanto à sua esfericidade –, mas a comissão ficou perturbada com a grosseira subestimação da distância a navegar para ocidente até à Ásia.
Evidentemente que os europeus não tinham ideia de que pudesse haver entre a Europa e a Ásia uma barreira de terra sob a forma de 2 grandes continentes. No máximo desconfiavam de que no oceano ocidental poderia haver ilhas como as Antilhas e outras, as quais serviriam de escala.
Cálculos de Colombo indicavam que a viagem direta para ocidente – das Canárias para o Japão – seria apenas de 2400 milhas que se transformaram numa perspectiva tentadora, pois de modo algum isso seria além da capacidade dos barcos portugueses.
A comissão de D. João II não se convenceu da vontade de Colombo. No entanto, em 1485 o rei autorizou 2 portugueses (Fernão Dulmo e João Estreito) a tentar descobrir as Ilhas Antilhas, desde que as despesas ficassem a cargo dos navegadores e com a promessa de que se tornassem governantes das terras descobertas.
Mas, procurar as Antilhas durante 40 dias era uma coisa e, percorrer toda distância até a Ásia, outra coisa bem diferente. A distância real entre as Ilhas Canárias ao Japão é de 10600 milhas e os cálculos da comissão eram próximos e, por isso mesmo, seus membros não se atreveriam a encorajar o rei investir num empreendimento tão especulativo.
Nessa época, Colombo conheceu o tormento dos anos de conversas burocráticas entre a Rainha Isabel e seus validos espanhóis. Entretanto, a comissão mostrou suas qualificações acadêmicas não aprovando nem rejeitando o projeto, pois eles debateram a largura do oceano ocidental e mantiveram Colombo em suspenso com a esmola de uma insignificante mesada real.
Enquanto as negociações espanholas se arrastavam, ele se lembrou de que o rei português D. João II se mostrara cordial em 1484 e, por isso, resolveu voltar a Lisboa e tentar de novo. Escreveu ao rei contando-lhe suas esperanças. Mas, Colombo partira de Portugal deixando para trás muitas contas a pagar e, por isso, não se atrevia regressar se o monarca não lhe concedesse garantia de que não seria preso pelas suas dívidas.
O rei concordou e instigou-o a regressar, pois o interesse do rei devia-se ao fato de a viagem de Dulmo e Estreito à Antilhas ter dado em nada. Mas, Colombo não poderia ter escolhido pior hora, pois ao regressar à Portugal com seu irmão viu Bartolomeu Dias subir triunfalmente o Rio Tejo alardeando que dobrara o Cabo da Boa Esperança e descobrira a passagem aberta para a Índia.
Dessa forma, o êxito de Bartolomeu Dias matou o interesse de D. João por Colombo. Afinal, se a passagem marítima para o oriente era aberta e desimpedida, para quê especular noutras direções?
Colombo foi para Sevilha, onde encontrou Fernando e Isabel ainda hesitantes e, preparando-se para embarcar para a França a fim de persuadir o rei Carlos VIII, a rainha Isabel resolveu apoiá-lo após ser persuadida pelo seu chanceler.
O defensor de Colombo salientou que o apoio a tal empreendimento não custaria mais do que uma semana de hospedagem. Talvez a rainha tenha sido persuadida pelo fato de Colombo ter revelado sua intenção de oferecer a pechincha do seu empreendimento ao rei do país rival – Portugal.
Somente em abril de 1492 – oito anos depois de Colombo ter feito a 1ª oferta ao rei de Portugal – foram finalmente assinados os contratos com os soberanos espanhóis, pois os anos de persuasão tinham acabado e o seu elemento agora era o mar, onde o encanto pessoal não ajudaria muito porque não havia amigos na corte de Netuno.
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([1]) Trivia é um conhecimento não essencial, mas que é interessante ter.
([2]) Lugar onde se cruzam 2 vias ou onde se encontram (ou terminam) 4 caminhos. Encruzilhada.