COLITE ALERGICA NA INFANCIA
Por EVELLYN MARADIVI PEREIRA DA SILVA | 21/11/2014 | Saúde
Colite alérgica na infância
Allergic colitis in infancy
Colite alérgica na infância
Evellyn Maradivi Pereira da Silva1, Xisto Sena Passos2, Yara Lucia Marques Maia3
1 Aluna do curso de Graduação em Nutrição da Universidade Paulista – UNIP. 2Doutor em Medicina Tropical pela Universidade Federal de Goiás. Professor Titular do Curso de Biomedicina da Universidade Paulista - UNIP. 3Mestre em Ciências Ambientais e Saúde pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Professora Adjunta do Curso de Nutrição da Universidade Paulista UNIP.
Endereço do autor para correspondência: Universidade Paulista (UNIP)- Campus Flamboyant, Br 153, Fazenda Botafogo- Goiânia- Goiás
Email: yaramaia.science@gmail.com
Área temática: Patologia Clínica
Declaração da inexistência de conflitos de interesse: Declaramos que não existem conflitos de interesse quanto a publicação deste artigo.
Resumo
Colite é definida como uma reação inflamatória multifatorial, que provoca, lesões microscópicas no intestino grosso. Pode se apresentar em várias faixas etárias, sendo que quando manifestada na infância uma das principais causas é alergia alimentar. Os principais alimentos alergênicos são alimentos ácidos como, abacaxi, laranja e limão, além de proteínas de origem animal e vegetal. Alimentos com alto nível de glúten também entram na lista de alimentos irritantes da mucosa intestinal. Os sintomas da colite alérgica são inespecíficos e de difícil detecção, havendo uma grande dificuldade, tanto por parte dos pais quanto dos profissionais de saúde para o diagnóstico precoce de colite alérgica. Essa doença atinge em sua maior parte o segmento da sociedade onde é mais difícil o relato dos sintomas, por se tratarem de crianças que ainda não têm capacidade suficiente para definir algo que não está nos padrões da normalidade. A coleta de dados foi realizada na Biblioteca Virtual de Saúde, Bireme, Lilacs em artigos publicados de (2000 a 2014) em português e inglês. Um dos principais objetivo do trabalho é expor as principais causas, sintomas além de estimular o aleitamento materno, tendo em vista que é essencial para o desenvolvimento da criança evitando que ela tenha infecções, deficts de crescimento e permitindo a manutenção do seu peso dentro da normalidade. Outro objetivo foi orientar as mães sobre a não necessidade de parar de amamentar por conta da doença, desde que se tenha acompanhamento nutricional com prescrição da dieta ideal para mãe e filho.
Descritores: Colite, Hipersensibilidade Alimentar, Proctocolite, Enterocolite
Abstract
Colitis is defined as an inflammatory response that causes multifactorial microscopic injuries at large intestine. It can be presented in several ages and when it is presented in childhood, one of the main cause is food allergy. The major allergic foods are acid ones like pineapple, orange and lemon in addition to proteins from animal and plant sources. Foods with a high level of gluten are also on the list of irritating food for intestinal mucosa. Symptoms of allergic colitis are nonspecific and difficult to detect, having a huge difficult to an early diagnosis for parents and for health professionals as well. This disease reaches mostly a segment of society that symptom reporting is more difficult because it is about children that do not have enough capacity to define something that is not in their normal pattern. Data collection was accomplished at Biblioteca Virtual de Saúde, Bireme, Lilacs and published articles from 2000 to 2014 in Portuguese and English. One of the main points of this project is to show the major causes, symptoms and encourage breastfeeding in view of that this is primordial for child development avoiding infections, growth deficits and enabling the sustenance of normal weight for children. Another point was to guide mothers about not stopping breastfeed because of the disease as long as they have a nutritional monitoring with an ideal eating plan for mother and child.
Descriptors: Colitis, Food Hypersensitivity, Proctocolitis, Enterocolitis.
Introdução
O trato gastrointestinal pode ser acometido por doenças inflamatórias, na maioria dos casos de causas desconhecidas, que podem desenvolver reações infamatórias na mucosa. Algumas das doenças intestinais inflamatórias são retocolite, doença de Cronh, proctocolite e colite inflamatória e alérgica (1). Colite é definida como uma reação inflamatória de diferentes causas, que provoca lesões microscópicas no intestino grosso. Pode se apresentar em várias faixas etárias, sendo que na infância uma das principais causas é a alergia alimentar (2).
Devido a deficiências ou imaturidade na formação de enzimas específicas o organismo não consegue degradar as proteínas presentes no leite de vaca, soja ou mesmo as proteinas encontradas no leite materno. Na maioria dos casos afeta crianças antes dos seus dois primeiros anos de vida, interferindo no desenvolvimento normal do bebê, devido à perda de sangue pelas fezes, vômitos, refluxos e urticária (3). Esses sintomas geralmente são causados devido à exposição precoce ao agente alérgeno, porém esse processo alérgico é transitório, quase sempre sanado durante o primeiro ano de vida (4,5).
Juntamente com esses sintomas, devido à deficiência de determinada enzima, aparecem doenças oportunistas, que se não forem tratadas imediatamente podem causar doenças mais graves. Há sintomas de causas agudas ou insidiosas, como o surgimento de anemia, eosinofilia sanguinea periférica e o aumento de imunoglobulina E sérica, mesmo que não seja de maneira consistente em todos os casos (6).
O principal objetivo do trabalho é descrever a fisiopatologia da colite alérgica e apresentar os tratamentos nutricionais disponíveis para serem administradas nestes pacientes, além de descrever a fisiopatologia e seus principais agentes desencadeantes, relatar as complicações da colite alérgica, levantar as possíveis soluções nutricionais para o tratamento, desenvolver estratégias para uma melhor qualidade de vida em crianças que sofrem de colite alérgica.
Revisão da Literatura
Trata-se de um estudo de revisão narrativa, por ser uma pesquisa de aspecto amplo, quase sempre não-especificada, variável, qualitativa e às vezes sendo baseada em resultados de pesquisas clínicas, com delimitação temporal de 2.000 a 2.014. Os descritores foram, colite alérgica, proteína do leite de vaca, proctocolite, abordando os pontos principais da colite, como a fisiopatologia, os sintomas e tratamentos disponíveis.
Fisiopatologia
A colite é uma doença intestinal inflamatória. As doenças intestinais inflamatórias são caracterizadas por inflamação constante na parede do intestino, geralmente sendo causadas por fatores imunológicos. Ocorre lesão da parede intestinal com posterior reparo, o que pode causar cicatrizes e estrias. As lesões podem ser profundas e atingirem até a camada serosa, com sangramentos frequentes.
Colite alérgica é caracterizada por uma alergia alimentar que afeta crianças antes dos primeiros anos de vida. Estudos indicam que os fatores genéticos exercem o principal papel na progressão dessa doença (7). Colite alérgica é uma das principais doenças alérgicas já diagnosticadas em crianças menores de um ano, em especial relacionada à alergia à proteína do leite de vaca, podendo também se estender à proteína da soja e outras proteínas de origem vegetal. Os primeiros sintomas geralmente surgem antes dos trinta dias de vida, sendo que para comprovação do diagnóstico devem ser efetuados exames físicos como antropometria e exames laboratoriais, como exame para detectar sangue oculto nas fezes, hemograma completo, além de teste onde se apalpa o abdômen da criança para notar se está edemaciado ou mesmo distendido.
De acordo com estudos, crianças que sofrem de colite têm um alto nível de desnutrição devido à alimentação inadequada e insuficiente para o desenvolvimento normal. Outro fator importante para justificar essa desnutrição são as constantes crises de diarréia e vômitos que essas crianças sofrem quando entram em contato com o agente alérgeno (2).
A colite alérgica é a principal causa de surgimento de sangue nas fezes durante os primeiros meses de vida dos recém nascidos. Normalmente isso ocorre por mediação de células por conta da imaturidade imunológica intestinal (4). A doença pertence a uma categoria de alergias alimentares não mediada por IgE, e ainda não foram identificados certamente os mecanismos fisiopatológicos, mais sabe-se que tem participação de linfócitos CD8, como do tipo TH-2.
Apesar destas doenças geralmente atingir crianças nos primeiros dias de vida, porém existem casos que surgem mais tardiamente que podem ser mediados por alergia á proteína do leite de vaca, ou mesmo doenças próprias de cada faixa etária (5).
As principais manifestações clínicas da alergia à proteína do leite de vaca, segundo a faixa etária são:
- Lactentes: Cólica do lactente, refluxo gastroesofágico, proctocolite, colite, constipação intestinal crônica, enterocolite, enteropatia.
- Pré-escolares: Gastroenteropatia eosinofílica, esofagite eosinofílica, hipersensibilidade gastrointestinal imediata, constipação intestinal crônica.
- Escolares: síndrome da alergia oral, esofagite eosinofílica, constipação intestinal crônica.
Sintomas
Devido a sintomas inespecíficos e de difícil detecção, há uma grande dificuldade, tanto por parte dos pais quanto dos profissionais da saúde para o diagnóstico precoce da colite alérgica. Existe uma ampla gama de sintomas, de natureza indiciosa, que tornam difícil o diagnóstico definitivo (4).
Assim que a criança entra em contato com os compostos alérgenos instantaneamente surgem os sintomas (8), entre eles há o surgimento de hematoquezia (sangue vivo nas fezes), vômitos, distensão abdominal, diarréia, irritabilidade, cólicas, retardo de crescimento etc, sendo que nem sempre os sintomas são os mesmos, variando de criança para criança.
Colite também é conhecida como colite do lactante e é definida como ocorrência de crises de estabilidade, agitação e choro, sem explicação por mais de três horas por dia, em mais de três dias por semana por mais de três semanas (5).
Deve ser prestada atenção a alimentos que podem conter traços de algum alérgeno, pois nas embalagens não vem explícita essa informação, e os pais não tem a certeza de que o mesmo é próprio para a criança consumir e não surgirem os sintomas.
Tratamento
No caso da colite alérgica que é desencadeada por alergia alimentar, é importante frisar que o tratamento se baseia na retirada total do alérgeno alimentar, também conhecida como dieta de exclusão, com o intuito de se realizar uma limpeza do organismo atingido. A dieta tem como objetivo:
- Eliminar da dieta alimentos que assim que entrem em contato iniciem o surgimentos dos sintomas e também alguns considerados muitos alergênicos.
- Tirar da dieta produtos industrializados e aqueles os quais não é possível reconhecer toda composição, a fim de evitar traços de componentes alergênicos.
- Observar se a oferta energética e de nutrientes estão adequadamente suficientes para a criança.
- Aos poucos ir introduzindo os alimentos anteriormente excluídos, sempre observando as respostas clínicas do paciente.
Essa dieta pode ser feita por longos ou curtos períodos, tendo que se atentar aos números e grupos de alimentos para que a oferta energética esteja satisfatória para que não haja problemas no estado nutricional da criança. Os alimentos proporcionados na nova dieta tem que ser balanceados para evitar desnutrição. O controle da dieta bem detalhada é essencial para que possa identificar sintomas e suspeitar de outros ingredientes ou alimentos.
Por não fazer uso de leite e derivados deve ser atentado sobre a suplementação de cálcio e vitamina D sempre que necessário para proteger as crianças de hipocalcemia e desenvolvimento insuficiente dos ossos, evitando problemas futuros.
Através de estudos pode-se observar que a uma relação entre a colite e a alergia à proteína do leite de vaca e que houve uma melhora na colite com a exclusão de fórmulas comuns adotando o uso de fórmulas com proteínas hidrolisadas ou de aminoácidos, porém não houve melhora com o uso de fórmula sem soja ou lactose (5).
Tendo em vista a dieta de exclusão das proteínas alergênicas a melhor orientação para os pais é; não utilizar produtos que não tenha relação de todos os ingredientes na embalagem ou rotulo; não comprar produtos sem embalagem ou por unidade; durante a dieta de exclusão é de extrema importância não oferecer a criança leite de outros animais como cabra, búfala ou ovelha, excluir todos os produtos e preparações que contenham a proteína em questão; frisar a importância da leitura de todos os rótulos; identificar a presença de leite de vaca através de termos relacionados (5).
Alguns dos termos indicativos da presença de leite na composição do alimento são:
- Termos muito comuns: Leite semidesnatado, leite integral, leite em pó, leite em pó desnatado, leite desnatado.
- Termos comuns: soro do leite, formulação láctea, preparação láctea, proteína do leite de vaca, traços de leite, fermento lácteo.
- Termos pouco comuns: caseinato, lactoalbulina, caseína, lactoalbumina.
Discussão
De acordo com Ribeiro (9)a colite é causada por resistência na quebra das proteínas, permitindo que o trato gastrointestinal fique permeável aos peptídeos que não foram quebrados, que se comportam estão como antígenos. Porém Machado (10) relatou que esse processo se deve a presença de linfócitos CD8 e também TH-2 alterando a mucosa intestinal. Para Verdin e Sabrá (11) a doença é uma característica imunológica dos pais, que é repassada para seus filhos na forma de alergia alimentar.
Para Silva e Gaparin (8) os sinais e sintomas de colite alérgica que a criança sofre surgem assim que ela entra em contado com a substância alérgica, causando náuseas, vômitos, diarreia, dores abdominais. Decorrente destes sintomas ocorre um déficit de peso e altura devido à má absorção dos alimentos e perda de energia eliminados pelo vômito e regurgitação. Dependendo de cada organismo pode ser que surjam sintomas como urticária, edema, broncoespasmos, constipação intestinal, alterações cutâneas e respiratórias. Além disso Kumar (12) diz que um dos principais sintomas é o surgimento de sangue nas fezes que pode ser visível ou invisível sendo que no caso de sangue oculto deve-se ter cuidado redobrado.
Um estudo realizado por Verdin e Sabrá(11) em que foram feitos testes com 20 crianças, 10% apresentaram vômitos, 40% cólicas, 55% regurgitação, 15% ganho de peso inadequado, 30% diarreia, 10% ascite,70% estria de sangue nas fezes, 5% sangue vivo nas fezes. Esses dados também estão presentes em um estudo feito por Neto e Fagundes(13) que referem os mesmos sintomas e uma média de incidência bastante parecida com o estudo anterior.
Mello(14)diz que a exclusão dos agentes alergênicos da mãe possibilita a volta à amamentação a fim de reduzir os níveis de infecção e deficiência no crescimento. Porém, Machado (3)relata que nem sempre essa exclusão é necessária, pois pode ser que não foram retiradas todas as fontes de alérgenos ou pela incapacidade de remover todas as fontes de alérgenos da dieta.
Neto e Fagundes(13) relatam em sua pesquisa que é essencial oferecer aos poucos alimentos antes não utilizados na dieta para que aos poucos o organismo vá se adaptando, e sempre utilizar as fórmulas hipoalergênicas com a total exclusão da proteína agressora, sendo que nesse estudo a intolerância à proteína do leite de vaca esteve presente até os 18 meses de vida. Morais et al., ,(5) relatam em seu estudo a importância dos rótulos para essas crianças, pois qualquer descuido a criança pode entrar em contato com o agente alergênico, causando bastante dor e desconforto. Também deve ser prestada atenção para a lista de substitutos.
Conclusão
A colite é uma patologia que se manifesta no contato com agentes alergênicos, sendo assim é de extrema importância que se tenha um tratamento nutricional adequado a fim de evitar quadros de desnutrição e crescimento inadequado, além de garantir que a criança esteja recebendo todos os nutrientes adequados.
Sendo assim, deve-se atentar a todos sinais que a criança apresenta, para que a doença não seja confundida com outras enfermidades ou mesmo sintomas típicos de recém-nascido. Logo que descoberta, e sob orientação do médico e nutricionista, o mal é estagnado, após instituição da terapia, na maioria dos casos a doença pode durar cerca de 18 meses.
Referências
1. Barbieri D. Doenças inflamatórias intestinais. 2000;76:173–80.
2. Diaz NJ, Patricio FS, Fagundes-neto U. artigo original / original article. 2002;(4):260–7.
3. Machado N carlos. Proctocolite induzida por proteina alimentar: subtipo especial de alergia alimentar do lactente com hemorragia gastrointestinal baixa. DANONE. 2013;
4. Epifanio M, Spolidoro JV, Missima NG, Soder RB, Celiny P, Garcia R. Cow ’ s milk allergy : color Doppler ultrasound fi ndings in infants. 2014;89(6):554–8.
5. Morais MB de, Speridião P da GL, Sillos MD de. Alergia á proteína do leite de vaca. Pediatr Mod. 2013;
6. Romaldini CC, Becerra RC, Kar Y, Koda L, Vianna MR, Barbieri D. Estudo clínico , laboratorial e morfológico da mucosa retal de crianças portadoras de hipersensibilidade alimentar ( alergia alimentar ). 1992; Available from: http://pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/102.pdf
7. Amancio OMS, Jacob CMA, Cocco RR, Sarni ROS, Castro APM. G uia P rático Guia prático de diagnóstico e tratamento da Alergia às Proteínas do Leite de Vaca mediada pela imunoglobulina E. 2012;203–33.
8. Silva F, Gasparin R. alergia à proteína do leite de vaca versus intolerância à lactose : as diferenças e semelhanças allergy to cow milk protein versus lactose intolerance : differences and similaritieS. 2010;
9. Ribeiro JS. fisiopatologia da colite alérgica do lactente. Saúde Infant. 2005;27:5–9.
10. Machado RS, Kawakami E, Goshima S, Patrício FR, Neto UF. Gastrite hemorrágica por alergia ao leite de vaca : relato de dois casos Hemorrhagic gastritis due to cow ’ s milk allergy : report of two cases. 2003;79:363–8.
11. Verdin ER plaster, Sabrá amc. colite do leite materno: estudo da correlação imunológicas. Man da Alerg Aliment. 2005;
12. Kumar D, Repucci A, Wyatt-ashmead J, Chelimsky G. Case Report Allergic Colitis Presenting in the First Day of Life : Report of Three Cases. 2000;(August):195–7.
13. Neto, Ulysses Fagundes Ganc AJ. Proctocolite alérgica: a evolução clínica de uma enfermidade de caráter transitório e de tendência familiar. Relato de caso. einstein. 2013;
14. Mello ED de. Proctocolite associada a Alergia à Proteína do leite de vaca. caso Clin DANONE. 2013;6.