Coisas do Mundo
Por NERI P. CARNEIRO | 26/12/2010 | FilosofiaCoisas do Mundo
Diziam os antigos que "o mundo pra ser mundo tem que ter de tudo um pouco".
E tem.
Pode crer. Tem de tudo um pouco. Só que tem umas coisas que a gente gostaria que tivesse menos. E como a gente gostaria que os nossos gostos fossem satisfeitos, a gente gostaria que de outras coisas o mundo fosse mais recheado.
Tem estudante que não estuda e quer nota; e quer ser aprovado, comprovando as falhas do sistema; e se não consegue o que deseja, agride os professores ou os assassina. É, cara, ser professor, nos dias atuais é atuar numa profissão de alto risco. E não é de hoje que a coisa vem enfeiando.
Vocês viram os noticiários: um agrediu a professora, enchendo-a de porrada; o outro matou o professor, justamente na instituição em que estudou a dona Dilma, a presidente histórica (mulher, guerrilheira, torturada... diferente de outros que, no tempo de ditadura, fugiram do país). Isso só para falar dos casos notórios, noticiados pela grande imprensa. Se andarmos pelas escolas das nossas cidades veremos casos escabrosos de alunos que agridem verbal e fisicamente professores; ao lado de pais que se irritam contra a escola porque seu filho não foi aprovado, sem se dar ao trabalho de, durante o ano letivo, cobrar o aprendizado do filho.
Noutras profissões não é diferente. Ser policial então, nem se fala. Principalmente porque, a cada dia que passa, bandido tem mais direito do que o cidadão. Isso porque aqueles que foram eleitos para produzir melhores condições de vida para a população (que é agredida pelos altos impostos), produzem mais leis favorecendo o bandido do que beneficiando os honestos. Já tem gente querendo mudar de lado: é mais lucrativo ser bandido e permanecer preso (pois pode contar até com ajuda de custo para a família), do que trabalhar e ser agredido pelas leis, e pelas agruras do dia-a-dia.
Liberdade de expressão é outro item em crise. Haja vista a recente campanha lançada pelas nações poderosas, contra o site Wikileaks. Porquê? Por que eles divulgam documentos oficiais nos quais os governos dessas nações quebram todos os direitos civis possíveis, mas não querem que o mundo saiba.
Só para termos uma idéia: o mundo se uniu, e com acerto, contra a execução da iraniana Sakineh, acusada de adultério e de matar o marido. Parece que acabou sendo poupada da morte. Mas, enquanto o mundo falava contra a barbárie do Irã que mantém tão aviltante pena de morte, nos Estados Unidos outra senhora foi executada, (após ser condenada à morte, pois lá os tribunais também condenam à morte). Seu crime? O mesmo daquela do Irã: matar o marido.
Os norte-americanos envergonharam o mundo ocidental tento no Iraque, promovendo uma guerra por causa de armas que não existiam, além de destituírem um governo (Saddam Hussein), como também ao atropelaram os direitos humanos em Guantánamo. Não esquecendo que não se desfazem de seu arsenal de armas nucleares e outros pesticidas que empesteiam o mundo
E o ataque ao wikileaks vem ocorrendo justamente porque o site divulga esse tipo de informação, que desmascara a hipocrisia dos ditadores que se postam nas casas brancas, de outras cores e noutras casas de assassinos institucionalizados.
Quer mais, coisas do mundo? Veja o vexame do Enem. É verdade que tem um lado positivo, mas também vive mergulhado num mar de vícios e tramóias. Aliás, como tantos outros concursos, sobre os quais recaem tempestades de dúvidas.
Só para exemplificar, teve uma universidade, por ai, que lançou um concurso para contratar professores. Constituiu as bancas examinadoras: tem que ser doutor para isso! E cada doutor tem que emitir sua opinião (aprovando ou reprovando o candidato), a partir de suas convicções e de critérios objetivos. Mas, pasmem os senhores: alguns desses doutores, ou não tem personalidade, ou não tem capacidade, ou são manipulados por alguém. Foi algo como isto: três doutores, portanto pessoas diferentes, com formação diferente reiteradamente fizeram coincidir as notas da avaliação (algo assim: o primeiro deu nota 3,0, o segundo nota 3,0, o terceiro, nota 3,0), para o mesmo candidato. E isso se repetiu para todos os candidatos. Não se negam as casualidades e os empates, mas tantos num só concurso, onde deveria prevalecer a opinião de pessoas diferentes com tão laureados títulos... neste caso os empates tem cheiro de coisa podre.
Por essas e por outras coisas do mundo, mas que são produzidas pelas pessoas, é que se crê, cada vez menos no ser humano. E, cada vez mais, creio que Nietzsche estava correto ao afirmar a mesquinharia do ser humano.
Bicho mau, somos nós.
Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.
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