Coisa de estudante
Por Abelardo Santiago Silvério | 18/11/2012 | CrônicasEram quase onze horas, já estava ansioso. Ô aulazinha que não passa essa, eu pensei. Como de costume, eu e minha turma temos aula em um laboratório de informática, todos em seu computador, em prol de aprender a desenhar em programas específicos.
Na última aula, tivemos algo um tanto diferente, a execução de um desenho completo de planta, algo que sem dúvida atrasaria alguns, pelo fato de ser um pouco extenso e detalhista.
– O que me dizem de dois dias para a entrega? – disse o professor.
– Só isso? – a turma exclamou.
Debateu-se com o professor até a conquista de um prazo maior para o término da atividade. Três dias, e tudo deveria estar pronto, o que não seria tão fácil assim. Uma coisa que me irritou bastante neste trabalho foi a audácia de um exibido ter terminado o trabalho antes do término do segundo horário. Quem ele pensa que é? Se ele pode eu também posso.
A partir daí, comecei uma luta incessante contra minhas necessidades e contra o tempo (sim, pois, havia passado por pouco da metade, e restava somente uns 25% do tempo), já não escutava minha fome e minha impaciência disfarçou-se de esforço.
Eu precisava terminar aquilo. Um de nossos primeiros trabalhos individuais na matéria, e eu ficaria por baixo? Não mesmo, respirei menos, tive cãibra nos dedos, quase me contorço de fome, mas não parei se quer por um minuto, tudo para preservar minha dignidade.
Enfim, estava lá o trabalho acabado. Só precisa renomeá-lo e Voilá. Neste momento, a minha pressa acabou com toda a perspectiva de acerto possíveis a alguém que precisa terminar algo, e logo. Não dei nome ao artigo, ou se serve de consolo, o artigo chamou-se “Sem Nome”, , mas minha pressa escreveu: “Semome”.
Desse momento em diante passei a calcular todas as possibilidades possíveis de cometer tal erro. Como que eu fiz isso? Tudo bem suprimir por acidente uma letra, como a letra “n”, mas, faltaram “ n”, o que é mais que uma letra, além de ser consecutivo. Espantei-me com isso, porém, ao mesmo, achei divertido, pois, quantos jogos de palavras podemos fazer com tal expressão? “Escrevi ‘Semome’ enquanto estava a morrer de fome”. “Nasceu sem nome, por obra do acaso, agora é ‘Semome’”. “Passará a ser uma obra de renome”, “algo que some, igual mulher atrás de ‘ome’”. Enfim, são muitas as possibilidades, incluindo o batizado de uma criança, como o caso do Semome Xavier (Tá, isso é da minha cabeça).
Depois de tantas ideias, voltei a realidade. Que besteira! Quem é o idiota que vai se preocupar com isso. Um colega viu e disse: “O nome tá errado.” Eu pensei comigo mesmo: E se eu revelasse seu nome a ele? “O arquivo é sem nome.” Eu disse. Conhecido como “Semome” eu pensei.