Códigos de conduta

Por Francisco Antônio Saraiva de Farias | 26/06/2012 | Arte

 

CÓDIGOS DE CONDUTA

Hoje sou velho,

Estou na faixa da senectude.

Nem por isso sou livre!

Nunca agi pelo livre arbítrio.

Ao nascer, da Família recebi um nome, do Estado recebi um número.

Vivi os primeiros anos da minha vida tentando guiar-me pelo meu nome batismal,

Mas, pra ser reconhecido pelo Estado, vi-me obrigado a provar que eu era eu mesmo...

Senti-me compelido a usar o primeiro número que recebi do Estado, o da Certidão de Nascimento.

Daí então, conquistei o direito de ser atendido pelo Estado.

E assim vivi dezoito anos da minha vida.

Aos dezoito, recebi mais três números do Estado: RG, CPF e TE.

Daí em diante, o nome que amorosamente recebi dos meus pais, e que tanto prezo, tornou-se secundário.

Qualquer passo adiante que precisei empreender, vi-me obrigado a apresentar esses números.

As vezes que me esqueci de portá-los, simplesmente deixei de ser eu... Fui ignorado pelo Estado!

O Regime é Democrático, mas o Estado me obriga a votar!

Sem o comprovante de quitação eleitoral meus direitos de cidadão são cassados pelo Estado!

Passo a ser tratado como filho bastardo, no seio da Pátria-Mãe.

Minha conduta sempre foi regulada por uma avalanche de leis, e rigorosamente controlada pelo aparelho estatal!

O Estado me garante o direito de ir e vir e à livre expressão, mas tudo o que eu faça, fale ou escreva pode ser usado contra mim, inclusive pelo próprio Estado!

Os Códigos Sociais oficiosos massificam e pautam o meu comportamento.

Os Códigos Oficiais de Ética, Civil e Penal abarcam o regramento estatal,

Pautando e regulando a minha conduta,

Controlando e monitorando os meus passos.

Qualquer desvio pode implicar punição.

Mesmo assim, as cadeias estão cheias... Maioria de excluídos dos serviços e das riquezas do Estado!

Violências de todas as formas são diariamente perpetradas com intensidade e requintes de crueldade cada vez mais graves.

As leis e os códigos de conduta são engendrados pelo Estado, mas não conseguem inibir, tampouco estancar a violência que prolifera de forma descontrolada.

Quem tem dinheiro e colarinho branco compra poder e desdenha da população e das Instituições,

Afrontando e desafiando o Estado!

Ferindo, enlutando e envergonhando a todos.

Explode então perguntas que não conseguem mais calar:

- O Estado é culpado?... - Ou o homem é que é incapaz de ser verdadeiramente livre?

Findo o percurso...  A família e os amigos se despedem cravando na laje da catacumba o nosso nome batismal e a enfeitando com frases e flores...

Enquanto o Estado nos concede um último número...  

O óbito!