CLASSES SOCIAIS
Por JEFERSON KAPPES | 27/11/2017 | SociedadeExiste uma relação intrínseca entre “classes sociais” e “marcadores sociais das diferenças”, podemos dizer que as “classes sociais” são dividias e diferenciadas, podemos entender as “classe sociais” na concepção marxista que atribuía à existência de apenas duas, ou seja, o “proletariado” e a “burguesia”. “Existem também, a simples diferença entre “classe média”, “alta” e baixa”, organizadas no sistema de pirâmide econômica - social, começando pela base que é mais populosa e defasada, que é integralmente composta pela “classe baixa”, seguindo pela média e no topo a mais favorecida e rica “classe alta”, existindo três “níveis” de poder ou ainda a falta dele.
Pierre Bordieu (1989) elaborou um conceito de “violência simbólica”, onde elabora detalhadamente como tal conceito se aplica e interage na sociedade de classes, costumamos aprender um exemplo simples, mas que pode ser pensada em diferentes “campos” (conceito de campo também é elaborado por Bordieu, mas para representar um espaço de disputa), a escola (contexto baseado no ensino de escolas da França) costuma tratar todos os seus alunos de maneira “igualitária”, planificando a forma de atendimento aos alunos, na escola é possível visualizar um exemplo onde o conceito de “violência simbólica” é aplicado na prática e que tem uma relação fundamental com a classe pertencente em que cada indivíduo está situado, seja no proletariado ou na base da pirâmide econômica.
Se pensarmos dois alunos, crianças, uma delas é rica e outra pobre, a primeira reside em uma casa em boas condições e bem localizada, perto dos grandes centros, com pais alfabetizados, que viajam, frequentam teatros e museus, mantém um vínculo de amizades com pessoas letradas e fala a língua corretamente, inclusive falam outras línguas, na casa existe um escritório, em vezes até uma biblioteca particular. Já a outra criança, a pobre, mora na periferia da cidade, os pais raramente são alfabetizados e mesmo sendo não dispõem de tempo para os filhos, pois estão ocupados demais com o exaustivo trabalho, não falam outra língua a não ser a materna e essa bem defasada e cheia de erros, as condições econômicas são as mais precárias possíveis.
Imaginar a escola tratando estes dois alunos, uma rica e uma pobre, de maneira igual, é sacramentar o privilegio a criança ou aluno rico, este se familiariza com o ambiente escolar, pois já conhece livros, já ouve desde cedo palavras difíceis, conhece artes, os pais prestam o auxilio necessário e as condições econômicas facilitam a transição escolar e oferecem matérias de apoio qualificado e de boa qualidade, já o aluno pobre não conhece o
ambiente escolar e o que lá existe, não consegue apoio necessário e não entende o que os professores querem passar.
No cenário apresentado anteriormente vemos que o conceito de Bourdieu de “violência simbólica” é ligado com a classe pertencente de cada indivíduo, cada classe tem mais ou menos benefícios e privilégios, o poder econômico é base de sustentação para a melhoria de vida e principalmente para sair da situação de subalternos. O proletariado, camponeses ou a base da pirâmide são historicamente e socialmente menosprezados e sofrem a opressão do sistema capitalista que dividiu os grupos e pessoas em classes.
Para além do que Pierre Bourdieu pensou, as classes sócias são “marcadas” por características próprias, os proletariados, classe trabalhadora, camponeses ou a base da pirâmide econômica ocupam os cargos de assalariados, como Karl Marx afirmava, “Não detém os meios de produção” (MARX, 1848, p.48), isso quer dizer que não são burgueses, donos de fábricas ou latifundiários, os trabalhadores são subordinados da “casa grande”, sustentam o topo da pirâmide econômica.
O acesso das classes pobres ao estudo é extremamente limitado, porque a necessidade de sobreviver obriga-os a iniciarem de maneira precoce ao trabalho, ganhando um salário que serve apenas para sobreviver, não sobra para investir ou a se apropriar de “capital cultural” (outro conceito de Pierre Bourdieu), sendo assim, é notável que se diferenciam por suas classes, são marcados pelo seu pertencimento social, podemos observar pelas vestes, fala, lugares que conseguem frequentar e a maneira social a qual se relacionam, isso não é unilateral, mas representa como são vistos pela sociedade excludente. O “habitus” (conceito de Bourdieu) desempenha um papel fundamental, esse conceito é descrito como uma série de experiências, ações, valores e significados acumulados ao longo da vida, é formado inicialmente na base familiar, posteriormente na escola, assim, essas práticas orientam a vida social e integração dos sujeitos.
Logicamente não existe um conceito universal para apresentar o conceito de “classes sociais”, depende muito o que se pretende e em que debate estamos situando o assunto, mas como os negros estão marcados socialmente por sua cor, as pessoas “trans” e homossexuais por sua opção sexual e demais grupos cada qual com suas especificidades, todos somos pertencentes de algum grupo e formamos o sistema de classes sociais, querendo ou não, existem ramificações dentro dos grupos acima apontados (negros, brancos, cis, trans, analfabetos, dentre outros), porém, dependendo de onde cada indivíduo está posicionado, seja na base da pirâmide ou não, cada sujeito se apropria de sua posição, a classe social de cada pessoa pode intensificar ou minimizar os efeitos negativos atribuídos ao grupo que pertence, ou marcador que o diferencia.
Para o autor francês existe uma fronteira “imaginária” que se projeta na realidade social, essa fronteira é desenhada e obedecida, ou seja, um limitador para diferenciar até
onde cada classe social pode adentrar, ou campo que interage, está ligada a divisão objetiva do espaço social. Os diferentes “capitais”, seja ele econômico, cultural e social, são uma espécie de “armas” que servem para manter privilégios ou trasfomar o “status quo” vigente. A teoria de Bourdieu não examina os conceitos separadamente ou em “si mesmos”, mas em um emaranhado teórico que se “encaixa” no tratamento dos variados aspectos de campo, poder, violência, desigualdade e distinções.
Para Weber, as classes sociais comparecem como parte da totalidade da sua investigação sobre o poder, que consiste na possibilidade de um homem ou grupo de homens realizar sua vontade numa ação comunal, ainda que tenha resistência de outros homens. O poder é constituído de três tipos de ordem: a ordem social, que é a forma pela qual a honra social se distribui numa comunidade entre grupos típicos representado pelo status; a ordem política, que é antes um fator adicional que aumenta a possibilidade de manter poder ou honra, representada pelo partido; e a ordem econômica, que é a forma pela qual os bens e serviços econômicos são distribuídos e utilizados, representado pelas classes sociais.
A determinação fundamental para o termo classe, para Weber, é econômica e se situa fundamentalmente no mercado (no poder aquisitivo), pois a forma de distribuição da propriedade material por uma pluralidade de pessoas que se encontram em concorrência determina a vida.
Weber, diferente de Marx, insistia que nenhuma característica única definia a posição de uma pessoa no sistema de estratificação. Por isso ele identificou três componentes que definiam a estratificação: classe, status e poder. Em Weber, as classes constituem uma forma de estratificação social, na qual, a diferença é feita a partir do agrupamento dos indivíduos que apresentam características similares.
Mas para a existência de classes, tem de existir duas situações: o patrimônio (tem a ver se o individuo é proprietário ou não) e a possibilidade (que tem a ver com a qualificação ou não qualificação). Neste caso, se o individuo tiver patrimônio, pode não ter instruções, mas tem dinheiro. E se ele tiver qualificações pode alcançar o patrimônio. Por isso, a classe social para Weber, ocorre através da mudança social ou através da sucessão de gerações.
Weber também utilizou a expressão grupo de status, para referir-se às pessoas que tem o mesmo prestigio e o mesmo estilo de vida. Um indivíduo ganha status quando pertence a um grupo desejável, como por exemplo, a profissão de juiz. Mas o status é muito diferente da classe econômica, um ladrão de carteira bem-sucedido poderá estar na mesma classe de renda que um professor universitário. Mas um mendigo será visto como um
membro de um grupo de status inferior e o professor terá um grupo de status muito mais elevado.
E o terceiro componente da estratificação é a dimensão política. Poder, que é a habilidade de uma pessoa exercer sua vontade sobre as outras. Para definir partidos tem de haver indivíduos, angariação e poder. Segundo Weber, partidos são o conjunto de indivíduos que se organizam de forma voluntaria de angariação, cuja finalidade é atingir o poder com beneficio de atribuir status e riqueza. Os seus objetivos comuns são o poder e os benefícios que o partido oferece.
O conceito de classe social não foi uma invenção de Karl Marx, desde a antiguidade grega já há escritos que buscam essa perspectiva, como Aristóteles, que já dividia a sociedade em escravos e homens livres. Na Bíblia, tanto nas escritas dos apóstolos quanto no Novo Testamento, a sociedade já estava dada na relação entre pobres e ricos. Adam Smith também dividiu as classes sociais em agrária, industrial e assalariada. Saint-Simon colocou a sociedade como classe industrial e ociosa. Todas essas formas de divisão buscava explicar como funcionava a sociedade.
O conceito que Karl Marx desenvolveu não é tão simples de se entender, já que entre as suas produções, apenas no último livro – O Capital - ele desenvolveu mais claramente. Segundo Theotonio, para se entender melhor esse conceito é preciso nivelá-lo ao seu maior nível de abstração, e antes de ler qualquer obra de Marx, investigar o conceito classe social na seção “Rendas e suas fontes” do livro O Capital. Além de levar em consideração que esse conceito se baseia no modo de produção capitalista.
Theodoro defende que o conceito de classe social de Marx é uma personificação das categorias centrais desse modo de produção, e que realmente há um distanciamento bem grande do empírico e das estruturas de classes teóricas. Mas ainda sim, propõe a relevância das teorias, já que as mesmas exploram a determinação das tendências que se desenvolvem com o sistema capitalista. O conceito de classe social se constitui teoricamente dentro das lutas de classe, é um conceito dialético. Propõe a personificação das pessoas a partir das centrais categorias econômicas, determinando seus interesses e ralações entre as classes.
Para compreender melhor esse conceito, levam-se em consideração quatro níveis de observações. O primeiro é o modo de produção, que se baseia na relação das forças produtivas (nível tecnológico dos meios de produção) com as relações de produções (relações que os indivíduos estabelecem no processo de produção). O segundo é a estrutura social, que ainda se baseia na descrição social, mas referindo-se ao universo histórico e geográfico. O terceiro nível é a situação social, descreve uma sociedade concreta levando em consideração as determinações desta realidade. E a última, é a conjuntura da sociedade,
já que a relação entre o comportamento e a psicologia das classes podem se alterar conforme a economia esteja em crise ou em evolução.
Pesquisa IBGE1, 2017.
Antes de me referir aos dados indicados pelo IBGE, é necessário esclarecer que a causa dos abortos no Brasil é consequente da junção de vários marcadores sociais: idade, cor de pele, classe social e etc.
Segundo o IBGE, mais de 8,7 milhões de brasileiras com idade entre 18 e 9 anos já fizeram ao menos um aborto. Os abortos provocados no Nordeste (37%) são sete vezes maiores que o das mulheres com o ensino superior completo (5%). E os abortos provocados entre as mulheres pretas (3,5%) é o dobro entre as mulheres brancas (1,7 milhões).
1 Em:<http://www.huffpostbrasil.com/2015/08/21/estados-aborto-no-brasil-_n_8022824.html>. Acessado em: 08 de fevereiro de 2017.
REFERÊNCIAS:
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil S.A., 1989.
MARX E ENGEL. Manifesto do Partido Comunista. Ed 4º. Boitempo. 2005. São Paulo.
SANTOS, Theotonio. Conceito de classes sociais. Petrópolis: Vozes Ltda, 1982.
WACQUANT, Loïc. Poder Simbólico e a Fabricação de Grupos: Como Bourdieu reformula a questão de classes. Novos Estudos, nº 96. 2013.
https://jessicamarkline.wordpress.com/2012/08/03/classe-e-estratificacao-social-para-weber-e-marx/
http://www.sociologia.com.br/karl-marx-e-as-classes-sociais/
http://www.webartigos.com/artigos/classe-social-no-pensamento-de-marx-weber-e-buordieu-e-reproducao-de-classe-social/143366/
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