CLASSE HOSPITALAR: um novo espaço para a atuação do Pedagogo

Por Reginaldo Pereira Brito | 04/12/2015 | Educação

CLASSE HOSPITALAR: um novo espaço para a atuação do Pedagogo[1]

Reginaldo Pereira Brito[2]

 

 

 

RESUMO

 

Este artigo tem como objetivo compreender a classe hospitalar como uma nova modalidade de ensino, visando o novo espaço para a atuação do pedagogo. Discutir a classe escolar hospitalar e refletir sobre as mudanças no conceito de educação que deixa de ser restrito aos espaços formais. Apresenta o histórico da educação hospitalar. Aborda a importância da educação em contexto hospitalar, analisando o papel do professor como mediador da educação inclusiva em contexto hospitalar. Apresenta que durante a hospitalização da criança, o atendimento pedagógico e o acompanhamento do currículo escolar são contemplados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional, Constituição Brasileira, no Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Conselho Nacional de Educação Básica, mas o seu exercício ainda é principiante. Analisa a classe escolar hospitalar como forma de proporcionar a educação dentro do hospital e como o professor desempenha o seu trabalho neste espaço, foram um dos objetivos principais que propiciou reflexões a cerca da criança hospitalizada e como seria aproveitado a sua aprendizagem e seu desempenho na escola de ensino regular. Confirma a importância do trabalho pedagógico neste ambiente, já que o professor da classe escolar hospitalar é o elemento que cria um vínculo afetivo com o aluno/paciente, propiciando condições de bem estar e consequentemente auxiliando na melhoria das condições deste aluno. Analisa que o pedagogo pode estar utilizando a ludicidade para a integração do aluno e facilitar o ensino-aprendizagem, contribuindo para a reabilitação do aluno/paciente, pois ao brincar a criança expressa seus sentimentos e suas imaginações. Reafirma as propostas pedagógicas e atividades que poderão auxiliar na construção do conhecimento.

Palavras chave: Classe hospitalar - Criança hospitalizada - Pedagogo hospitalar

 

 

INTRODUÇÃO    

 

 A Pedagogia possui vários ramos de conhecimento e um deles é a Pedagogia Hospitalar que proporciona ao paciente proteção no que se trata a um atendimento pedagógico e humanístico.

         A Pedagogia Hospitalar apresenta-se como um novo caminho para a educação com um foco voltado para a atuação no meio profissional da educação dentro das unidades hospitalares. Promove um processo educativo não escolar que nomeia desafios aos docentes, contribuindo para a construção de novos conhecimentos, atitudes e valores.

A Pedagogia Hospitalar não se restringe à escolarização da criança hospitalizada e sim a um trabalho especializado, que procura levar a criança a entender seu cotidiano hospitalar, de forma que esse conhecimento lhe traga suporte emocional, podendo auxiliar na participação com o meio de uma forma mais participativa (FONTES, 2005)

O papel do educador na unidade hospitalar é fundamental, pois supre as necessidades psicossociais, intelectuais, emocionais e pedagógicas das crianças, jovens e adultos hospitalizados. O educador precisa ter sensibilidade, compreensão, força de vontade, criatividade e persistência para atingir seus objetivos. Partindo por esse lado, dentro dos hospitais, passaram a implantar as salas de aulas intituladas pelo Ministério da Educação e Cultura como classes hospitalares, que é “um atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços de atenção integral à saúde mental” (BRASIL, 2000).

A validade da Pedagogia Hospitalar visa dar um suporte no processo de ensino aprendizagem da criança hospitalizada, uma vez que, quando a criança estiver impossibilitada de frequentar a sua escola de origem, o seu aprendizado será interrompido por causa da internação, devido à classificação internacional de doenças (CID) ou, pelo afastamento da escola. Então quando a criança chegar ao hospital e não encontrar esse atendimento pedagógico, as suas atividades da escola regular são comprometidas. Portanto com o surgimento das classes hospitalares a criança realiza atividades educativas que no decorrer de cada atendimento é realizado um relatório constando o desempenho do aluno/paciente, que será aproveitado pela escola regular quando tiver possibilidades de retornar, dessa forma contribuindo para que as crianças tenham um avanço significativo na cura.

 Com esse atendimento pedagógico especializado dentro dos hospitais a criança passa a ter um acompanhamento direcionando com relação aos conteúdos da escola atual. Antes, quando não existia essa modalidade de ensino as crianças ficavam comprometidas e prejudicadas em relação ao aprendizado porque com a internação os mesmos ficam incapacitados de frequentar a escola e os conteúdos metodológicos necessários para a sua formação.

Então, o interesse em abordar a Pedagogia Hospitalar surgiu quando obtivemos conhecimentos de que o pedagogo poderia atuar nessa área, através das diretrizes e leis que regem a educação, as quais dão subsídios tanto para o professor quanto para o aluno/paciente.

  Com essa nova possibilidade de atuação do pedagogo que ainda está em fase de implantação dentro das unidades hospitalares, sendo uma das vertentes da pedagogia, onde o professor pode se especializar e aprofundar os seus conhecimentos nessa área. Apesar de muitos hospitais não possuírem esse tipo de atendimento, alguns hospitais em Salvador possui as classes hospitalares como, o Hospital Martagão Gesteira, o Hospital Especializado Otávio Mangabeira, no Hospital Santa Izabel, o Hospital Ana Nery dentre outros.

Portanto, o objetivo desse artigo é compreender a classe hospitalar como uma nova modalidade de ensino, visando o novo espaço para a atuação do pedagogo. 

O SURGIMENTO DA PEDAGOGIA HOSPITALAR

 

Sua primeira criação teve início em 1935, quando Henri Sellier criou a escola para crianças inadaptadas, nas adjacências de Paris. Modelo este que foi adotado por diferentes países. Entretanto, um marco decisório das escolas em hospitais foi a Segunda Guerra Mundial, a qual teve um amplo número de crianças e adolescentes incapazes de irem à escola. No Brasil, a primeira escola hospitalar foi criada no Hospital Bom Jesus, no Rio de Janeiro.

 A legislação garante por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que a educação hospitalar torna-se oficial, por meio da Resolução nº 41 de outubro de 1995, no item 9, o qual descreve que eles têm “direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar” (SANTOS 2010).

A classe hospitalar não pode ser considerada como ambiente de sala de aula clássica, implantada no espaço hospitalar, mas como um atendimento pedagógico especializado, tendo como intenção de recuperar a socialização da criança por meio da inclusão, dando sequência a sua aprendizagem. (OLIVEIRA, FILHO, GONÇALVES, 2008)

Surge então a necessidade de organizar propostas e aprofundar nos conhecimentos teóricos, metodológicos com a finalidade de dar sequência ao processo de desenvolvimento das crianças e jovens hospitalizados, sobretudo a criação de políticas públicas direcionadas para as necessidades pedagógico-educacionais e os direitos à educação e à saúde para os hospitalizados (FONSECA, 1999).

A modalidade de ensino começa a chamar a atenção passando a ser garantida por diversas leis, começado principalmente pela Constituição de 1988, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e das Diretrizes Nacionais da Educação Especial na Educação Básica garantem o direito aos serviços educacionais e hospitalares (UFBA, 2007).

Conforme determinação legal apresenta as seguintes leis:

2.1- Constituição de 1988:

A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, deverá ter o apoio da sociedade, visando o desenvolvimento da pessoa, seu preparo para exercer a cidadania e sua qualificação para o trabalho. Portanto, sendo a educação um direito de todos, a criança hospitalizada está apta a receber esse direito e o Estado deve cumprir todas as medidas para o seu cumprimento.

A educação é um direto de toda criança e adolescente, incluindo também as crianças que estão hospitalizadas.  Sendo um dever do Estado, da família e contará com o apoio da sociedade para o desenvolvimento das crianças para que possa ser um cidadão critico e participativo.

2.2 - Estatutos da Criança e do Adolescente (ECA);

Lei, 8069 de 13 de junho de 1990, dispõe garantia e direitos para crianças e adolescentes que se encontram em condições de hospitalização, mais especificamente nos artigos 4º, 7º, 11º, 53º e 57º.

 Observando os artigos 4º, 7º, 11º, 53º e 57º do estatuto destinam-se ao cuidado da criança e do adolescente que, por motivo de internação ou doença crônica, ficam afastados do sistema de ensino regular. Portanto, devemos relembrar que a hospitalização é um dos motivos de exclusão da vida escolar, e estes incisos certificam que as crianças e adolescentes precisar ter condições plausíveis para que não fiquem atrasadas na sua aprendizagem escolar e também no seu tratamento médico.   

2.3 - Conselhos Nacionais dos Direitos da Criança e do Adolescente        (CONANDA),

 Resolução Nº 41 de 13 de outubro de 1995, chancelada pelo Ministério da Justiça, que trata dos direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados, tais direitos são descritos em 20 itens dos quais se destaca o item 9:

“9 - Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento do currículo escolar durante sua permanência hospitalar;”

Através desta resolução que trata dos direitos da criança e adolescentes hospitalizados, que aprova o direito do procedimento educativo e recreativo, de acordo com sua necessidade durante o processo de internamento.    

   2.4- Leis de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB);

 Lei Darcy Ribeiro, n. 9.394 de 1996 – LDBEN - que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, em seu artigo 58º, esclarece que educação especial é modalidade da educação escolar oferecida na rede regular de ensino para educandos portadores de necessidades especiais. No parágrafo segundo deste artigo, fica assegurado que este serviço poderá se dá em outros ambientes caso não for possível sua integração nas classes comuns do ensino regular.

Por ser uma das leis mais importantes da educação nacional, a mesma oferece subsídios tanto para o ensino regular quanto para o ensino especial, sempre está passando por formulações para melhoria da educação. Essa lei ainda assegura a inserção dos alunos com necessidades educacionais especiais no contexto do ensino regular, alem de garantir a educação em outros ambientes fora da instituição regular.

   2.5 – Leis de Diretrizes Nacionais da Educação Especial;

A Resolução Nº 2, do Conselho Nacional de Educação (CNE), de 11 de setembro de 2001, que institui as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, diz que os sistemas de ensino integrados ao sistema de saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado quando o aluno está impossibilitado de freqüentar as aulas, em razão de tratamento de saúde. Cita também que a Classe Hospitalar é a responsável pela educação deste aluno durante o período de afastamento das atividades escolares regulares, bem como, de sua reintegração ao sistema escolar. (SANDRONI, p, 4 e 5. 2008).

Esta lei reforça através das diretrizes que o ensino e o atendimento educacional especializado são garantidos quando os alunos encontram-se incapazes de irem à escola por motivo de tratamento da patologia. Deixando responsável a classe hospitalar para a educação desse aluno no período em que irá permanecer afastado das suas atividades pedagógicas regulares.

Então, essas leis que garantem o ensino em diversas versões têm um papel fundamental para o processo de continuidade no processo de ensino aprendizagem dos alunos, seja na conjuntura de regular ou especial. Buscando promover uma educação de qualidade, validando a garantia e condições necessárias para um ensino igualitário.

A educação é um direito e é garantida por leis em espaços formais e não formais por isso algumas redes de hospitais já possuem em suas unidades de saúde as classes hospitalares. A rede de hospitais Sarah Kubitschek é o único que realiza concurso para processo destinado a pedagogos em suas unidades de Brasília (DF), São Luiz (MA), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ). (OHARA et al, 2008) (FONTES, 2005)

Em Salvador existe um Instituto Escola Hospitalar Criança Viva que atende em media 1,7 mil crianças por ano, acolhidos por 17 professores municipais em 10 hospitais.  No Hospital Santo Antônio (HSA) localizado em Salvador, existe duas classes multisseriadas com cerca de 20 alunos, uma para educação infantil com crianças de até 7 anos e outra na faixa etária de 8 aos 17 anos (UFBA, 2007).

A Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC) e o Instituto Escola Hospitalar Criança Viva tem como finalidade proporcionar as crianças e os adolescentes atendimentos pedagógico-educacional-hospitalar, possibilitando a continuidade das suas atividades escolares. Além de oferecer um curso de Extensão em Atendimento Escolar no ambiente hospitalar para os professores da rede municipal de Salvador (REIS. s.d)

A partir da criação desse programa as unidades hospitalares passaram a ter melhores resultados nos atendimentos realizados, percebendo a importância do mesmo para a evolução da cura dos alunos/pacientes e implantaram em suas unidades de saúde as escolas hospitalares, dando subsídios para as crianças que em sua maioria ficavam acamadas, uma vez que esse atendimento é garantido por leis. Cabe aos hospitais adequar-se e implantar o programa para que esse direito seja exercido por todos que precisarem de forma com que todos sejam beneficiados.

A CRIANÇA E O LÚDICO NO AMBIENTE HOSPITALAR

 

 A criança, ao deparar com realidade do hospital e a permanência da hospitalização, logo sente que seu dia-a-dia sofrerá modificações. O primeiro momento acontece quando ela se encontra com os profissionais de saúde, com pessoas estranhas e com o novo ambiente que não faz parte do seu cotidiano. Além das mudanças físicas e emocionais em decorrência da doença, a criança terá que confrontar com o afastamento dos seus pais, ou seja, aquele espaço familiar tão favorável para o completo desenvolvimento infantil será descontínuo, pois a hospitalização quebrará este convívio (MUNHÓZ, ORTIZ, 2006).

A aceitação das mudanças físicas e limitações decorrentes da doença, a postura de passividade frente aos desafios, o desapego de suas referências pessoais, familiares e sociais demarcam um processo de despojamento doloroso para o paciente. (OKAMURA, 2009, p. 22).

 

Desta forma, para que essas mudanças sejam superadas no primeiro momento com a criança, o pedagogo pode aproveitar dessas ferramentas lúdicas e educativas, como os jogos de matemáticas, quebra-cabeças, os brinquedos e os alfabetos móveis, com intuito de traçar caminhos para estar envolvendo e conquistando a confiança da criança. O lúdico no ambiente hospitalar pode, na maior parte dos casos, contribui para o processo de internamento, assim como, auxiliar no processo da recuperação.

            A criança que não tem a oportunidade do brincar permanece excluída do convívio social, pois o brinquedo favorece o desenvolvimento integral da criança, uma vez que, quando brinca há um envolvimento efetivo, social e mental. Vale ressaltar que brincar não quer dizer perda de tempo, simplesmente quando brinca possibilita a transição entre o real, simbólico e o imaginário. A brincadeira ajuda a criança a libertar e a lidar com seus sentimentos perturbados com mais facilidade (ANDRIOTTI, AQUINO. 2006).

Os espaços que são organizados por materiais pedagógicos, jogos, brinquedos, livros, dentre outros, como as brinquedotecas hospitalares ou salas de recreação como de fatos são conhecidas é de fundamental importância, pois causa uma situação agradável para criança hospitalizada e ao mesmo tempo promove a humanização, garantindo possibilidades no processo educacional e facilitando o contato com as crianças e pais (JESUS: 2007).

Este espaço lúdico favorece a socialização e a interação dos alunos/pacientes, despertando o desejo de brincar, usando a imaginação através dos brinquedos.

 A criança ao brincar expressas seus sentimentos e suas vivências que podem ser agradáveis ou desagradáveis dependendo do seu desejo ou da sua realidade no ambiente em que está inserida “E claro que em suas brincadeiras as crianças repetem tudo que lhes causou uma grande impressão na vida real, e assim procedendo, ab-reagem à intensidade da impressão, tornando-se, por assim dizer, senhoras da situação” (FREUD, 1926-1926. p.11).

O valor do brinquedo deriva de sua capacidade de estimular o pensamento infantil, é por meio dele que a pedagogia aplica ao lúdico, ou seja, o brinquedo passa a ser percebido como algo sério, coerente e não apenas como um material que as crianças usam para brincar e passar o tempo, mais é um instrumento apropriado para educá-las. Os brinquedos são ferramentas que colabora para esta construção do seu mundo, do que desejam, do que gostam, pois através dele, estimula a criança a explanar e criar fantasias de acordo com suas vivências e experiências (FALCÃO, RAMOS. 2002).

             Por outro lado, não podemos deixar de refletir sobre o brinquedo dentro do contexto hospitalar, uma vez que o mesmo contribui para a cura, o bem estar e as aprendizagens além de superar as expectativas do aluno/paciente dentro e fora do hospital.

 

O PAPEL DO EDUCADOR NO HOSPITAL

 

O professor para exercer a profissão nos hospitais, precisar ter a formação pedagógica em cursos de Pedagogia ou licenciaturas, preferencialmente com ênfase ou especialização em Educação Especial, ter conhecimento sobre as enfermidade e condições psicossociais dos educandos, seja do ponto de vista clínico ou afetivo. Cabe ao professor ajustar o ambiente, as atividades e os materiais, planejamento da turma, registrando e analisando o trabalho pedagógico efetivado.

O professor que trabalha na classe hospitalar é um profissional que tem formação de educador que constantemente deverá criar diversas atividades pedagógicas, fazendo uma ligação em meio à realidade hospitalar e a vida cotidiana da criança internada, ou seja, levando o aluno a desafiar sua própria enfermidade, conservando a esperança na cura e dando seguimento aos trabalhos escolares, avaliando, acompanhando e intervindo no processo de aprendizagem da mesma. Este acolhimento pode ser realizado em uma sala dentro de um hospital ou no próprio leito do aluno, quando o paciente estiver incapacitado de se locomover (SANDRONI 2008; MEDEIROS, GABARDO, 2004; MEC, 2002).

O Pedagogo no seu novo espaço de trabalho necessita de um olhar diferenciado para o paciente/aluno, considerando que as crianças e adolescentes têm direitos durante o período de internação e que aprendem mesmo estando doentes. Esse profissional tem o papel de oportunizar a criança ocasiões e ambientes diversificados, orientados para promover aprendizagens significativas que contribui para a continuidade do seu processo de desenvolvimento. Entretanto algumas dicas importantes são sugeridas por (SANDRONI 2007):

- proporcionar às crianças círculos de reflexão e debates acerca de sentimento, saberes e criação;

- incentivar a curiosidade, como mantenedora de habilidades investigativas e inventivas;

- oferecer acesso à apropriação de materiais didáticos e artísticos convencionais e não-convencionais como sucata, instalação e outros;

- resgatar o lado saudável que trafega além do mundo infantil

hospitalar, trazendo a escola, as brincadeiras, as canções, a informática, a dança, as contadoras de histórias, a biblioteca infantil, o inglês, o espanhol e o contato com crianças da mesma idade;

- oportunizar a entrada do tema “doença” para discussão, com liberdade para que o pequeno enfermo expresse sua inconformidade, seus segredos e incertezas. A criança se vê aconchegada na alegria e na dor;

- produzir trabalhos divertidos, coloridos, desafiantes, imaginativos, com           finais bem resolvidos e felizes para as histórias; (SANDRONI, p. 28. 2007).

Assim sendo, os educadores da classe hospitalar devem dar seguimento ao ensino usando os conteúdos da escola em que a criança ou adolescente encontra se matriculado, os conteúdos necessitam ser adequados à faixa etária dos alunos hospitalizados. O educador precisa ter:

maior flexibilidade, por tratar-se de uma clientela que se encontra em constante modificação, tanto em relação ao número de crianças que irão ser atendidas pelas professoras bem como no que diz respeito ao tempo que cada uma delas permanecerá internada e ainda o fato de serem crianças e jovens com diferentes patologias, requisitando diferentes intervenções (AMARAL, SILVA, p.3. 2008).

Nessa perspectiva, é importante que o educador reconheça as habilidades dos alunos/pacientes para que assim possa realizar um trabalho significativo, produtivo realizando as atividades com diversos materiais didáticos e alcançando os objetivos proporcionando uma aprendizagem efetiva.   

O hospital deve disponibilizar para o funcionamento da classe hospitalar, uma sala de aula, materiais pedagógicos como livros, lápis, jogos em geral, giz de cera lápis de cor, quadro e recursos eletrônicos como televisão, aparelho de DVD, CDs, DVDs, aparelhos de som e computadores se for pertinente. Para diferenciar o ambiente, a sala precisa ser ornamentada com desenhos, figuras coloridas, com condicionador de ar, bem iluminada, com mesas e cadeiras de forma com que os alunos não tenham a impressão de estar no hospital, mesmo que seja por alguns momentos (SANDRONI, 2007).

Nesse espaço, o educador criará um ambiente acolhedor e animado para que aconteça a interação e a troca de conhecimento com relação ao professor/aluno/paciente para que nesse momento a aprendizagem seja construída de forma essencial.

O hospital é um lugar onde causa medo, pois é o encontro da vida com a morte, em muitos casos a morte já é esperada devido ao quadro clinico do aluno.

Sabemos que a morte está presente no cotidiano escolar, pelas perdas que acontecem na vida de crianças e adolescentes. A morte é considerada ‘escancarada’ porque ocorre nas ruas, na frente de quem estiver por perto, sem mascaras e anteparos. Todos a vêem inclusive as crianças. (Carvalho, p. 27. 2011)

 O professor na maioria das vezes terá que enfrentar o falecimento de seus alunos e com essa perda acaba fragilizando a equipe pedagógica e os demais alunos, para que isso não seja tão angustiante quando acontecer, o professor deverá trabalhar com os alunos assuntos que abordem a realidade do óbito, por que querendo ou não acontece um laço de afinidade e sentimentos no período em onde os mesmo se encontram internados. Já o professor poderá se sentir frágil com relação ao óbito dos alunos por não conseguir transformar esse quadro clinico e por não ser capaz evitar esse acontecimento. A depender do caso esse profissional necessitará passar dor terapias ou análises para que não ocorram traumas psicológicos. Vale ressaltar que o professor deve dialogar com seus companheiros de profissão relembrando do atendimento que prestava a esse aluno que veio a falecer, para que assim, possa assistência no seu processo de recuperação e restabelecendo o seu equilíbrio emocional (CARVALHO, 2011).

BREVE HISTÓRICO DO HOSPITAL MARTAGÃO GESTEIRA

 

  As observações foram realizadas no hospital Martagão Gesteira, com o propósito de obter conhecimento e informações com relação ao tema que está sendo abordado neste artigo.

O Hospital Martagão Gesteira foi fundado em 1966, é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, é o único excepcionalmente pediátrico de Salvador que presta atendimento a crianças com a idade de 0 a 14 anos, tem como referência os serviços especializados pediátricos. Arquitetado pelo médico e educador Dr. Álvaro Pontes Bahia, o hospital Martagão Gesteira surgiu com a proposta de amortizar os altos números de mortalidade infantil, através do amparo a vida das crianças necessitadas da Bahia. Mas só em 1965, foi inaugurado, compondo uma equipe médica formada e devidamente equipada. É mantido pela Liga Bahiana Contra a Mortalidade Infantil, passando a ser intitulada como Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil.

            Situado no bairro do Tororó, o Hospital Martagão Gesteira comporta um estrutura de 220 leitos e mais de 20 especialidades médicas. São realizados cerca de 700 cirurgias e 4 mil atendimentos mensais gratuitos.

Ao realizar as observações na escola hospitalar do Hospital Martagão Gesteira que é composta por uma sala de aula e duas professoras, uma da Educação Infantil e outra do Ensino Fundamental, o seu funcionamento acontece de segunda a quinta. A sala é equipada com materiais pedagógicos de diversos tipos tais como livros, brinquedos, mural, quadro, espelho, um banheiro, etc.

O planejamento é feito com o mesmo conteúdo para os dois grupos, mas as metodologias são diferenciadas. Há uma divisão dos horários nos atendimentos entre a clínica cirúrgica e a clínica médica, o primeiro horário das 13h e 30min á 15h e 30min, ficam com os alunos da clinica cirúrgica e das 15h e 30min às 17h para os alunos da clinica médica.

Pelo fato da rotatividade dos alunos/pacientes dentro do hospital, a professora em primeiro momento vai aos leitos para fazer o convite para as crianças participarem da aula.

No ato do convite a professora tem a preocupação com relação aos alunos que já realizaram a cirurgia ou que ainda estão esperando, é no leito que a professora faz um pré diagnostico da situação e da enfermidade.

Quando o aluno tem o primeiro contato como a escola, é realizado um cadastro como se fosse à matrícula do aluno para obter os dados necessários da criança e para ter controle de quantos atendimentos por mês,  

Ao visitar o leito com a professora encontramos uma criança que chorava com fome porque estava mais ou menos umas 6 horas sem se alimentar devido à necessidade para a realização da cirurgia, mas ao chegar à sala de aula a criança interagiu com a turma participando da aula intensamente

A professora do ensino fundamental trabalhou com os alunos sobre o dia mundial da água enfatizando a importância da mesma, onde os alunos participaram abordando o seu conhecimento prévio com relação ao conteúdo, aplicando uma atividade escrita de como economizar água, logo em seguida trabalhou também com os alunos o sistema solar, devido a uma intervenção de um aluno/paciente sobre o planeta terra. A professora de educação infantil abordou o assunto do sistema solar e trabalhou com os alunos a forma geométrica do circulo relacionado com a forma da terra, em seguida solicitou aos alunos que procurassem nas revistas figuras relacionadas à forma do círculo.

No decorrer da aula um aluno fez o seguinte relato: “Eu pensei que ia ficar longe da escola”

A professora do ensino fundamental fez os atendimentos aluno por aluno, para fazer a correção da escrita de algumas palavras e levou o aluno a refletir sobre sua resposta. A professora sempre levando a aluno a fazer uma reflexão das suas respostas.

No momento da observação uma mãe apareceu na porta da sala e relatou “que a melhor coisa foi ter inventado essa escola, que as crianças aprendem e se distraem”. As mães no ficam na sala, elas aguaram os alunos no leito, salvo quando houver uma necessidade.

A professora relatou que pelo estado que a criança encontra internados no hospital procura trabalhar o pedagógico e o lúdico por causa dessa situação.

Teve outro aluno que estava com um pouco de resistência pra ir à sala de aula, mas quando recebeu alta não queira ir embora.

Os atendimentos no leito acontecem de forma mais flexível, quando o aluno encontra-se em leitos separados a professora faz a explicação do conteúdo e aplica uma atividade, em seguida vai pra outro leito faz o mesmo procedimento até atender todos os alunos.

Após a rotina de ir aos leitos convidando os alunos/paciente a professora de educação infantil cantou uma musica “como é, o seu nome” onde cada alunos foi dizendo o seu nome, em seguida a professora fez uma atividade pedindo aos alunos que  escrevessem seu nome na folha do jeito que sabem.

Ao realizar os atendimentos no leito, a professora explicar para os alunos sobre a cidade do Salvador, perguntando quais os pontos turísticos que eles conhecem em Salvador e pediu que cada um desenhasse um ponto turístico, ao término da atividade, a professora convidou os alunos pra olhar um ponto turístico o Dique do Tororó que do hospital tem uma vista bonita. Dentro do hospital existe também uma brinquedoteca própria do hospital, não que tem vinculo com o Instituto Criança Vivo, mas a coordenadora da brinquedoteca é a mesma que coordena as escolas hospitalares de Salvador. É um espaço onde as crianças se divertem e ao mesmo tempo em que brincam estão aprendendo de forma lúdica.

Os relatórios das crianças só são enviados para instituto criança vivos a partir do 8º dia em que o aluno está participando das aulas, mas para aqueles alunos que ficam pouco tempo são feitas observações pelas professoras.

O Programa Criança Viva é desenvolvido pela Secretaria Municipal da Educação, Cultura, Esporte e Lazer (SECULT), têm como finalidade garantir a escolaridade dos alunos/pacientes com um atendimento pedagógico-educacional-hospitalar. O programa funciona com 17 unidades hospitalares em Salvador com 7 atendimentos domiciliares.

Essas de observações foram realizadas nos dia 23, 24, 31/03 e 14/04, no período vespertino das 13h e30 mim às 17h: 00.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse artigo retrata sobre as dificuldades e sucessos na educação vêm nos mostrar a oportunidade que o futuro educador poderá ter ao trabalhar com realidade educacional em ambiente hospitalar, sendo um profissional convicto de suas realizações através de suas ações.

 Através das pesquisas podem-se observar os resultados e avanços alcançados durante a trajetória da Pedagogia Hospitalar, que aos poucos vem causando afeitos com relação à educação e a hospitalização desses alunos/pacientes, relatando sobre a importância de refletir o atendimento pedagógico dentro do hospital.  A educação hospitalar ainda é um tema novo para a universidade, possui poucos estudos nesta área. As crianças e adolescentes hospitalizadas no Brasil ficaram muito tempo excluídas do sistema de ensino.

 A classe hospitalar é um assunto de grande importância a ser discutido não apenas pela escola, mas também pelas secretarias de educação e saúde e por algumas instituições hospitalares que se preocupam com a construção de uma sociedade mais humana. O resultado das classes hospitalares, em geral, decorre da articulação entre as secretarias de educação e saúde, apesar dessa parceria das secretarias, vale ressaltar que ainda são poucos os hospitais que oferecem esse atendimento em suas pediatrias, ou seja, em suas unidades de saúde, mas que aos poucos vem acontecendo efeitos e mudando essa concepção na educação e na saúde.

É relevante lembrar que, cabe aos hospitais basicamente disponibilizar o espaço para a arrumação das classes hospitalares, uma vez que, este atendimento pedagógico-educacional tende a ocorrer nos leitos, salas ou enfermarias.

O trabalho proporcionar uma visão para o educador que vem mostrando o interesse pela pedagogia hospitalar, buscando um conhecimento a mais para o crescimento profissional. Com isso surge à necessidade de aprofundar nas pesquisas e estudo relacionados ao tema.

Analisando os resultados desta pesquisa, contribui para a discussão específica das classes hospitalares e a elaboração de políticas públicas voltadas para essa modalidade de ensino.

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[1] Trabalho de conclusão de curso para a obtenção do grau de licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário Jorge Amado. Sob a orientação do professor mestre Carlos Alberto Ferreira Danon.

[2] Graduando do curso de Pedagogia do Centro Universitário Jorge Amado. Campus Comércio

Email: pedagogobrito@hotmail.com

Salvador, Jun. 2011

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