Clarice Lispector: Considerações sobre aspectos psicológicos de alguns personagens da obra...

Por Gilvan Dias Soares | 02/11/2016 | Literatura

Clarice Lispector: Considerações sobre aspectos psicológicos de alguns personagens da obra " A hora da estrela".

RESUMO

O modernismo concatenou o movimento literário no Brasil, onde vários escritores o classificou como divisor de águas. Nesse período destaca-se na prosa a saudosíssima Clarice Lispector; uma mulher que fez sucesso e recebeu elogios de grandes autores, entre eles, alguns internacionais, pois fora do Brasil a autora também fez trabalhos e além de bons resultados recebeu críticas que foram aprimorando seus dotes. Analisar a obra "A hora da Estrela" de Lispector é mexer com o psíquico e aprender a desvendar mistérios sobre cada personagem da obra;
parecem que as histórias são contadas no intimo do intelecto humano. A partir dessa observação, pretende-se com o artigo a pesquisa bibliográfica que servirá de apoio para a desvendar o que a autora tentou retratar nessa obra de ficção, que aos olhos de simples leitores não seria possível observar a essência de cada palavra onde ao longo das linhas contínuas dos textos, vão se abrindo novos horizontes de prazer e paixão. Além desse tema o artigo expandirá a descrição parcial da obra, a partir da qual despertará a curiosidade em ler o romance, onde o cunho cronológico nos embaraça durante toda a sequência

1. INTRODUÇÃO

Clarice Lispector foi uma escritora renomada que desde cedo já fez sucesso no Brasil e fora dele, carregando no sobrenome Lispector que vem do latim: lis no peito;
flor - de - lis. Muitos escritores até acharam que seria um pseudônimo, em uma entrevista que a própria escritora concedeu a TV2 - Cultura cujo programa foi panorama, na data de 01/02/1977, com o assunto Clarice. Segundo a própria escritora, o escritor Sergio Milliet cujo nome era desconhecido por ela, disse: "essa escritora de nome desagradável, certamente um pseudônimo''.
Analisando obras da referida autora, observa se que ela é uma autora filosófica que, além de pensar, faz-nos pensar também; obviamente achamos difícil, pois não temos esse hábito de pensar e nem de analisar leituras como essas obras. Autora de uma linha de observação dos próprios pensamentos e sentimentos buscava dar a entender, a conhecer, a manifestar por palavras ou gestos através dos seus textos extensos e recíprocos do ser.
Suas obras caracterizam-se e tornam-se mais acerbo do momento interior e intenso rompimento com o enredo que se baseia em fatos, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise. Muitos acham Clarice uma autora hermética, com difícil compreensão, totalmente fechada.
Um de seus romances que será expandido nesse artigo será: A Hora da Estrela, que foi o último trabalho da escritora narrado por Rodrigo, um autor narradorpersonagem que faz interferências em diversas contínuas linhas ao longo do romance; com um estilo de narrativa que ele próprio utiliza para atrair o leitor a prosseguir a leitura. Ela, com uma grande e vasta memória ao abordar corretamente como vive um nordestino, pois já sabe dessa "vida", pelo fato de ter morado lá e através do bom senso de pesquisa, abordou bem esse tema.
Bem sei o que é chamado verdadeiro romance. No entanto, ao lê-lo, com suas tramas de fatos e descrições, sinto-me apenas aborrecida. E quando escrevo não é o clássico romance. No entanto, é romance mesmo. Só que o que me guia ao escrevê-lo é sempre um senso de pesquisa e de descoberta.
Não, não de sintaxe pela sintaxe em si, mas de sintaxe o mais possível se aproximando e me aproximando do que estou pensando na hora de escrever. Aliás, pensando melhor, nunca escolhi linguagem. O que eu fiz, apenas, foi ir me obedecendo. (...) Vou me seguindo, mesmo sem saber ao que me levará. (...) Embora representando grande risco, só é bom escrever quando ainda não se sabe o que acontecerá (LISPECTOR, 1975, p. 103 105).
Uma escritora com um belo exemplo de vida; para ela, escrever é viver.
Obedecendo ao seu próprio ponto de vista com uma linguagem diversificada, em que não escolheu e sim nasceu espontaneamente suas ideias. Sabe-se que a escrita envolve múltiplas e complexas relações: entre escritor e o seu texto, entre escritor e o seu público, entre escritor e a personagem tão distante do seu universo.
Segundo a obra Clariceana, em A Hora da Estrela a autora cita que:
Macabéa nascera com maus antecedentes e agora parece uma filha de um não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. No espelho distraidamente examinou de perto as manchas no rosto. Em Alagoas chamavam-se "panos", diziam que vinham do fígado. Disfarçava os panos com grossa camada de pó branco e se ficava meio caiada era melhor que o pardacento. Ela toda era um pouco encardida, pois raramente se lavava. De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era morrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio (LISPECTOR, 1975, p. 42).
De acordo com o que é dito na obra a personagem é uma datilógrafa sem muito preceito, ela não era igual às outras, para se tornar uma pessoa legal faltava muito e para uma funcionaria bem sucedida também. Macabéa era muito desajeitada e sem pudor, qualidades que um bom funcionário precisa, deixava muito a desejar no seu trabalho. Por ser personagem principal do romance "A Hora da Estrela" é uma pobre jovem que veio do interior do Nordeste e caiu de paraquedas no Rio de Janeiro.
Uma jovem totalmente desconectada com o mundo, que adora ouvir a rádio relógio, onde acreditava e relatava todas as informações que houve lá.
Durante todo o romance A Hora da Estrela, nota-se que os personagens têm diferentes vidas sociais. Olímpio, Glória, Macabéa, madame Carlota entre outros, cada um com o propósito de se dar bem na vida. Por ser uma pessoa fria e sem cautela alguma, Macabéa se doía toda, não se sabe nem onde e nem de que, mais se doía, talvez seja de sofrimento, Por ser uma jovem que desde cedo trazer da vida uma carga de sofrimento e amargura; foi criada com uma tia, não conheceu nem o pai nem a mãe, pois ambos morreram cedo.
Quanto a Lispector, A Hora da Estrela é a sua última obra publicada em vida, despertando, pela sua temática, construção de personagens e reflexões sobre a linguagem e sobre o fazer literário, intenso interesse da crítica. Já citado aqui que era uma escritora muito reflexiva.
Desse modo justifica-se que A Hora da Estrela é uma obra bem elaborada e bem sucedida, pois ela desperta um grande interesse aos leitores, ao observar na trama que Macabéa tem um papel fundamental no Romance, assim a mesma mostra duas culturas de cidades diferentes, o Nordeste e o Rio de Janeiro. Pretendeu assim, mostrando e relatando que é possível uma pessoa que viveu em um lugar, se adequar a outro totalmente diferente, fazendo um paralelo com o psicológico fictício e o psicológico humano para compreender melhor a construção do mesmo assunto, com os aspectos diferenciados e subjugados reais.
Conforme citado anteriormente, o tema é sobre o psicológico dos personagens, delimita-se, analisa-se e observa-se que a própria Macabéa tem um lado psicológico totalmente diferente dos outros, ela própria se distancia da realidade em que vive, como se ela vivesse por viver, tentando mostrar que ela está no mundo, mas ao mesmo tempo fora dele:
Talvez fosse assim para se defender da grande tentação de ser infeliz de uma vez e ter pena de si (...). Em todo caso o futuro parecia vir a ser muito melhor. Pelo menos o futuro tinha a grande vantagem de não ser o presente, sempre havia nela miséria humana. É que tinha em si mesma uma certa flor fresca. Pois, por estranho que pareça, ela acreditava. Era apenas fina matéria orgânica. Existia. Só isso (LISPECTOR, 1975, p. 54 - 55).
Em A Hora da Estrela, a autora descreve Macabéa como a personagem central do Romance, onde faz em relato da vida da própria personagem e de suas misérias que se interligam a um plano constitutivo da narração. Desse modo, Clarice Lispector traz um narrador masculino (o primeiro da sua obra), Rodrigo S. M.
apresenta-se ao leitor e define seu objetivo literário: narrar a historia de uma nordestina vinda de Alagoas, chamada Macabéa, que morava no Rio de Janeiro.
A moça é descrita como completamente inexpressiva; ele mesmo faz questionamento sobre a sua maneira de narrar, cita também os motivos que o levam a contar a historia da jovem e sua dificuldade em compreender compreendê-la visto que essa pertence a uma camada social muito diferente da sua, como citado anteriormente.
No mesmo pensamento, objetiva-se a fazer uma análise dos personagens e ao mesmo tempo mostrar que vivem em um mundo vasto, de diferentes tipos de raça e culturas, mas mesmo assim conseguem conciliar tudo, com um psicológico distante e diferente de outras pessoas. Mostrar que Macabéa, a personagem central do romance é uma jovem bem diferente do que estamos acostumados a ver, bem distante de uma jovem que vive em uma sociedade democrática, onde trabalhar e viver são os pontos chaves para progredir na vida. Diante disso, destacam-se algumas especificidades.

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