Cintia de Souza
Por Vera Carly Lopes | 04/05/2013 | CrônicasCintia de Souza, dentista , queimada viva, 47 anos, tinha apenas trinta reais.
Trinta moedas, trinta dinheiros, TRINTA REAIS, bem pronunciado , bem escrito e em bom português e uma mulher de quarenta e sete anos, dentista, pobre e arrimo de família, preocupada com a saúde da sua comunidade carente, é covardemente assassinada, porque, para que, trinta reais.
Por quem¿ Aqueles, são apenas representantes de milhares de outros, que proliferam por todo território nacional, cometendo toda sorte de atrocidades e mantendo a velha e indigna impunidade. Os menores de idade estão protegidos por legislação capenga, e se sentem legalmente autorizados a desafiar leis, autoridades, familiares e população.
Assaltada, humilhada, violentada e morta por bandidos sanguinários e incendiários, motivo ¿ A sua conta bancaria, saldo¿ 30,00 (trinta reais!) É pouco, por isso merece morrer, trinta reais na conta, afronta o criminoso. A que ponto chegamos, não é possível que não haja solução, a vida está banalizada a impunidade domina, valores morais não existem, respeito¿ a que ou a quem¿ recursos governamentais, parecem favores à população.
Até quando¿ pergunta a população. O medo que já não é um simples receio, já virou pavor, já é motivo de desmantelamento das famílias, de toda a sociedade.
A criminalidade alcança a todos, estamos expostos, somos escolhidos, sorteados ao acaso, não sei o critério, mas sei o objetivo, a finalidade é desapropriar o cidadão de qualquer bem que possua, sem qualquer compaixão, qualquer gesto é motivo para disparar e ceifar a vida do desafortunado que estiver ao alcance do delinquente.
Classe social, cor, idade, gênero, do infante ao idoso, não há piedade. Sobrevivemos sob o sentimento do medo, nesse mundo assolado pela desesperança, violência e extrema insegurança, tal comportamento viola e ultraja a dignidade do indivíduo, sendo intolerável sob qualquer pretexto.
Vemos mães desconsoladas, reconhecendo seus filhos na pratica de crimes, pais agradecendo o fim do “tormento,” ante a morte prematura de filhos, que seguiram o caminho sem volta da delinquência. Irmãos seguindo os passos dos mais velhos rumo a criminalidade, enfim, violência de toda sorte e famílias inteiras, chorando seus mortos e mutilados física e emocionalmente, quer por descaso governamental, quer por resultado da perda do pulso familiar, estamos diante do desmando, do medo e da certeza de que estamos sós. Cada cidadão tem que prover sua própria segurança e evidentemente, não temos meios para garantir segurança pessoal.
Tenho as mãos a Carta Magna brasileira, que afirma que temos “direitos e garantias fundamentais”
Art. – 5 “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do Direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos seguintes:”
Certamente as nossas autoridades, governantes e a classe politica em geral , não têm lido a Constituição Federal, talvez não tenham tempo, ou quiçá esqueceram, “afinal já faz muito tempo, quase trinta anos”, mas... “ela” é Lei maior e não deve sair do campo visual, daqueles que mandam e comandam.
A necessidade de paz se afigura urgente, a educação, o conceito de cidadania, o respeito devem prevalecer e precisamos nos guiar pelos sentimentos do dever moral e espiritual para que tragam a tão sonhada solidariedade e harmonia entre a população.
É certo que muitas Cintias, já se foram, tantas outras também terão o mesmo destino e a pergunta persiste, VIOLENCIA ABSOLUTA¿ Até Quando¿
Com a palavra as autoridades. Vera Carly – Defensora Pública - Aposentada.