Cidades Inteligentes
Por Avelino José Pereira Neto | 13/06/2016 | EcologiaLembram-se do desenho animado "The Jetson" aonde os carros voam e tudo era automatizado? Os robôs faziam todo trabalho doméstico e as cidades possuíam uma tipologia aeroespacial. Desde a década de 60 muita coisa mudou na concepção da cidade do futuro. Com a revolução da informática no século XX e o aperfeiçoamento dos sistemas de comutação de circuitos e pacotes desenhou-se um novo caminho para a evolução humana: O mundo virtual!
O mundo contemporâneo se integra cada vez mais ao mundo da inteligência artificial, transformando o modo como vivemos e como interagimos com as pessoas. As gerações mais novas estão plugadas nesse mundo praticamente 24 horas, dividindo conhecimentos, interagindo e absorvendo uma gama enorme de todo tipo de informação existente. Esse é um caminho sem retorno. Com a informatização do mundo, essa interação deixou de ser local para se tornar mundial. Dessa forma, o mundo ficou menor, pois a troca de informação e a comunicação passaram a ser on-line a qualquer hora, em qualquer lugar para quem quer que seja.
Podemos dizer que o modelo da casa dos Jetsons já é realidade e várias companhias estão investindo tempo e dinheiro para a massificação de casas inteligentes num futuro muito próximo. Podemos dizer que no projeto das residências inteligentes, não mais teremos apenas os projetos das instalações tradicionais de água, esgoto, energia e telefone. Serão incorporados os projetos mecânico, de condicionamento ambiental e é claro um projeto de tecnologia da informação. Isso quer dizer que as casas deixarão de ser o que Le Corbusier chamou de"máquinas de viver" para se tornarem"sistemas de viver"! As residências terão painéis computadorizados para que seus usuários possam programar suas residências de acordo com as necessidades e gosto de cada família. Nas casas inteligentes a intensidade de luz e a temperatura de cada ambiente serão controladas a gosto do usuário, isso porque os novos sistemas de transformação da energia solar em eletricidade serão também inteligentes. Teremos programas para o café da manhã e refeições durante o dia, o jardim terá sua molhagem programada, assim como todas outras atividades da casa. As televisões serão coisas do passado, pois enormes painéis orgânicos exibirão todo o tipo de informação 24 horas por dia e 7 dias por semana. Seus residentes poderão resolver qualquer problema de ordem bancária, de trabalho, escolar, ou tarefas do dia-a-dia de dentro de suas residências. A idéia é disponibilizar mais tempo para o lazer e para o convívio com as outras pessoas.
E assim como as moradias, as cidades também serão estruturas inteligentes. Essa interação tecnológica é tão inerente e tão lógica que nenhum sistema social poderá ignorá-lo em breve. Esse caminho a ser seguido no desenvolver da humanidade já vem sendo desenhado já algum tempo. Porém, para a maioria das pessoas preocupadas com a própria sobrevivência, não se deram conta ainda que já entramos nesse universo urbanístico cibernético chamado de "Smart Cities" ou Cidades Inteligentes. Ao contrário do que muitos pensam, "cidades inteligentes" não é um assunto novo. Porém, por questões políticas e pelo próprio desenvolvimento moroso de algumas sociedades, esse tema vem sido protelado por grande parte dos governos e das cidades do mundo. Entretanto, devido às novas demandas de mercado e o vibrante estilo de vida da sociedade moderna não será possível ignorar o movimento mundial de informatização e interabilidade das estruturas urbanas.
Mas o que é Smart City ou Cidades Inteligentes? Cidades inteligentes é o caminho mais próximo do futuro para quem vive em sociedades modernas. É a conexão entre a cidade e o mundo virtual de forma democrática. Quero dizer, cidadania e informação para todos, em qualquer lugar e a qualquer tempo. As cidades como conhecemos hoje em dia, simplesmente deixarão de existir num futuro próximo. Essa coisa do contribuinte ter que retirar o carro da garagem para resolver qualquer questão relacionada a serviços, banking, informação, trabalho, shopping ou mesmo qualquer assunto de interconectividade será coisa do passado. Inúmeras cidades ao redor do mundo já aderiram a esse projeto chamado de "Smart Cities Project". Muitas das dores de cabeça que nós enfrentamos quando o assunto é serviços, em países como Canadá, Finlândia, Cingapura, Alemanha já não existem. Retirar passaporte ou revalidar a carteira de motorista é algo tão corriqueiro e simples como comprar um livro pela internet. Você simplesmente acessa a internet e bingo, tudo pode ser feito através de um terminal ou um desktop. E ainda por cima, você recebe seu passaporte na sua casa no malote do correio. Cidades inteligentes são como uma casa inteligente. Você pode acessar qualquer serviço num tocar de um dedo, pois a idéia é de que todos os serviços sejam informatizados e integrados para melhor servir a população.
Hoje, empresas especializadas já estão desenhando casas as quais possuem inteligência. Isso quer dizer que os projetos residenciais já incorporam a ideia de sistemas de serviço. Painéis eletrônicos estrategicamente distribuídos pelos ambientes cuidarão da climatização do ambiente ou da casa por completo. A residência terá um centro de processamento computadorizado que cuidará da maioria das tarefas domésticas como despertar as pessoas com músicas pela manhã, acionar o chuveiro para o banho, fazer o café matinal ou acessar o banco de dados e relembrar seus moradores das tarefas e deveres a serem cumpridos no dia ou na semana. __”Bom dia senhora Jones, gostaria de lembrar que sua aula de Yoga acontece em duas hora!" Assim será o projeto residencial de amanhã. O mesmo acontecerá com as cidades. Basta ver a quantidade de serviços já oferecidos através da internet. Isso será algo tão comum para as cidades que em poucos anos esqueceremos como vivemos nos dias de hoje. É claro que a iniciativa privada será sempre mais rápida do que a pública, porém a sociedade moderna já percebeu que o caminho mais lógico é de transformar nossas cidades em cidades inteligentes, propiciando melhor uma qualidade de vida para todos. De alguma forma estaremos padronizando o modo como vivemos independentemente se vivemos no Brasil ou do outro lado do mundo como o Kazaquistão. Essa modernização e informatização das cidades é algo inevitável e tão necessário que as sociedades do futuro saberão como vivemos hoje somente através de arquivos eletrônicos. Isso quer dizer que teremos uma vida muito mais programada? Não, teremos uma vida muito mais prática e muito mais desembaraçada. Por que programados já somos! O que não nos demos conta ainda é que essa programação é ainda desconectada e cheia de atropelos. Basta olharmos as contas mensais de água, energia, telefone, taxas municipais, etc, para nos darmos conta de que o mundo já nos programou há muito tempo! O que as nossas cidades ainda não fizeram foi facilitar muitas das nossas obrigações de contribuintes e ser urbano. Imaginemos uma sala de aula virtual aonde cada aluno pode se sentir em classe, mas sentado remotamente em qualquer lugar? É bem verdade que várias instituições de ensino já oferecem educação à distância, porém o que ainda não está disponível é a total interação virtual de cada aluno com o centro educacional. Os sistemas de informática inseridos dentro dos sistemas de moradia poderão perfeitamente oferecer isso. O sistema poderá forjar uma situação na qual o aluno se sinta de verdade dentro de uma sala de aula virtual. Esse princípio será aplicado com mais recursos e mais comodidades nas sessões de videoconferência das empresas, nos laboratórios científicos, nos locais de trabalho e onde quer que seja.
Os projetos espalhados pelo mundo sobre Smart Cities têm desenvolvido programas de melhoria das regiões metropolitana das grandes cidades, em especial, através de plataformas que desafiam a sociedade como um todo diante dos temas urbanos. Esses desafios têm como objetivo contribuir para a vida urbana de forma mais humana promovendo o crescimento sustentável e a criação de novos nichos de mercado. Claro que diferentes cidades têm diferentes programas dependendo do nível de desenvolvimento socioeconômico e necessidades de cada região. Enquanto em Amsterdam a plataforma pode ser por melhoria dos serviços de informatização e mobilidade sustentável, na Índia a plataforma pode ser focada em saneamento básico e fornecimento de água tratada para as áreas metropolitanas de grandes centros. O objetivo, todavia, é a melhoria de vida da população e um desenvolvimento mais sustentável para todos.
No Brasil, devido a sua grande extensão territorial, os projetos de cidade inteligente também variam de cidade para cidade. Porém o foco comum são os serviços de infraestrutura e a informatização dos vários serviços públicos. Um dos maiores desafios do Brasil está no setor elétrico e na criação de redes elétricas inteligente em todo país. O país necessita investir urgentemente num serviço inteligente de comutação de energia para equalizar as diferenças entre produção e demanda. O sistema de transporte de carga e doméstico também se apresenta como um problema que teremos que resolver muito em breve. Este tema está intimamente ligado ao desenvolvimento sustentável de várias regiões do Brasil. Outro grande desafio está setor de coleta e reciclagem do lixo produzido todos os dias em nossas cidades. O Brasil produz uma quantidade incrível de lixo e resíduos que não são tratados devidamente e acabam por poluir nosso solo e nossos rios. Apesar de o Brasil aparecer em uma situação privilegiada em relação a muitos outros países, os nossos desafios possuem dimensões continentais. Os diferentes seminários e congressos sobre Cidades Inteligentes que acontecem espalhados pelo Brasil, exemplificam a preocupação de vários setores da sociedade com esse importante tema. O “Programa de Aceleração do Crescimento” – PAC, criado pelo governo federal em 2007 que tem como objetivo obras de infra-estrutura social, urbana, logística e energética, pode ser inserido facilmente dentro do projeto de cidades inteligentes. Pois ele tem características bastante semelhantes aos projetos de cidades inteligentes de países emergentes como é caso da Índia. O PAC, porém necessita de mais integração e melhor gerência para que ele possa se transformar num projeto de cidades inteligentes. Os inúmeros problemas de ordem burocrática, despreparo e carência de recursos humanos, falta de integrabilidade e deficiência no processo de disseminação do programa a todos os níveis da sociedade certamente só atrapalham na continuidade do programa. A correção desses erros com uma política de disseminação e informação para toda sociedade faria do PAC um excelente exemplo de projeto para cidades inteligentes. Acredito que isso faltamente ocorrerá pelos motivos já citados nesse artigo. A sociedade brasileira já algum tempo exige que projetos como esses sejam inseridos no cotidiano de nossas cidades. As transformações por que passa nossa sociedade e o reconhecimento de que sem um programa arrojado e sério para nossas cidades estaremos caminhando a reboque do desenvolvimento tecnológico e social de outros países nos empurra a desenvolver soluções novas. É imperativo que a nossa sociedade apresente novas saídas e novas ideias para as gerações vindouras para que possamos desenhar outra forma harmônica de viver e conviver com planeta terra.