CIDADE LIMPA VERSUS MÍDIA EXTERIOR
Por Marcelo Diniz | 03/06/2009 | AdmMÍDIA EXTERIOR VERSUS CIDADE LIMPA
por Marcelo C. P. Diniz
São Paulo oficializou o projeto Cidade Limpa e a cidade ficou melhor, indubitavelmente. Até então, morando em uma cidade confusa pelo próprio desenvolvimento, o paulistano ainda convivia com uma profusão inesgotável de mensagens publicitárias, ocupando desordenadamente o espaço urbano. Poluição visual sim, até porque a estética dos equipamentos e das mensagens era questionável.
Deu certo em São Paulo, provavelmente será bom para a nossa cidade também, raciocinam prefeitos e legisladores em vários municípios do país. Errado. Nova York tem os “spetaculars” na Broadway como um dos seus ícones de reconhecimento para todo o mundo. Os cartazes dos ônibus que circulam pela cidade prestam serviços aos cidadãos e aos turistas ao anunciar as novas atrações culturais de Manhattan.
O mesmo se dá em Paris, considerada por muitos a cidade mais linda do mundo. Lá também os ônibus são veículos de promoção das artes e dos esportes, assim como de produtos e serviços que a população usa. Os pontos de ônibus e outros equipamentos urbanos são bem construídos e bem dispostos pela cidade com as suas mensagens. E o que seria do Metrô de Paris, com todos aqueles corredores labirínticos, não fosse a arte publicitária que lhes empresta colorido e movimento, além da informação? Um laboratório farmacêutico promove, nesta primavera, uma campanha de prevenção da hepatite B em grandes cartazes nas estações do Metrô de Paris. É ruim? Ou será que alguém poderia encarar uma campanha assim como poluição visual?
Conceitualmente falando, cabem três observações importantes sobre a atividade publicitária que, embora possam encerrar discussões, têm prevalecido nas teses de intelectuais e dos profissionais de comunicação:
a)- no regime capitalista em que vivemos, a cidadania não é alcançável sem o consumo. Este deve ser consciente e sustentável, mas não pode deixar de existir;
b)- desde que responsável, não é constitucional nem desejável limitar a liberdade de expressão;
c)- a publicidade tem um compromisso com a estética.
Pelo que raciocinamos até agora, a publicidade é desejável quando informa com responsabilidade, quando promove as artes e os esportes, quando promove campanhas de utilidade pública, quando embeleza o ambiente.
Então, o que é melhor? Visualizar um prédio sujo, com o reboco descascando, no centro da cidade, ou ver aquela mesma parede com a reprodução de uma obra de arte patrocinada, ou com uma simples mensagem publicitária de bom gosto? Paris tem mensagens publicitárias em muitos pontos da cidade, mas de forma ordenada, sem interferir na visualização do que deve ser preservado. A organização é a tônica. Diferentemente do Rio, por exemplo, não tem bancas de jornais se encontrando com as mesinhas dos cafés, subvertendo os direitos dos pedestres. Também não tem bares destinados a exibir jogos de futebol com os monitores de TV voltados para a rua, criando torcidas exaltadas debaixo das janelas dos apartamentos de moradia. E se a nossa desordem está por toda parte, pode surgir nas mensagens publicitárias a toda hora.
Organizar é mais difícil, muito mais difícil do que proibir, principalmente quando se sabe que parte dos exibidores de mídia exterior está inadimplente quando ao pagamento dos impostos e taxas à prefeitura do Rio, por exemplo. Mas é bom lembrar que, com a proibição generalizada, até São Paulo perdeu. Agora procuram-se patrocinadores para a manutenção de jardins, em troca de plaquinhas com os nomes das empresas colaboradoras. Perderam-se espaços muito mais valiosos, que poderiam conviver harmonicamente com as características da cidade, gerando receitas e prestando serviços à população. A publicidade é uma prestação de serviços.
Finalizando, uma idéia simples, que pode ser proveitosa para todos: a exploração do espaço urbano não é uma concessão pública, assim como uma emissora de TV? Então, que a concessão reserve para o poder público x dias por ano para veicular mensagens de interesse público. Campanhas de esclarecimento sobre a Gripe A, por exemplo.
PS: O AUTOR LANÇOU NOVO MOVIMENTO NA POLÍTICA:
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