Ciclos econômicos e a consolidação do território de Governador Valadares
Por sonia maria queiroz de oliveira | 30/11/2010 | GeografiaCiclos econômicos e a consolidação do território de Governador Valadares
Sônia Maria Queiroz de Oliveira
Carlos Alberto Dias
RESUMO
O Território de Governador Valadares é fruto de uma ocupação multifórmica condicionada a fatores de ordem mítica, econômica e físico-territorial. O presente estudo tem como objetivo conduzir uma reflexão sobre o surgimento, transformações e consolidação desse território. A revisão bibliográfica e o estudo documental foram os métodos utilizados. A base histórica legal de criação do território foi instituída em decorrência da instalação de 06 (seis) divisões militares para conter a lendária ferocidade dos botocudos, respaldada pela Carta Régia de 1808, ato legislativo imperial. Este teve como propósito liberal e estratégico conter explorações clandestinas em relação à produção de minérios e pedras preciosas, e, impedir a rota de fuga e o não pagamento do fisco. As primeiras atividades urbanas se desenvolveram nas margens do Rio Doce, onde se situa hoje o bairro São Tarcisio. O processo de industrialização de Governador Valadares inicia-se com a criação da fábrica de banha e sabão localizada na denominada Rua de Baixo, atual Avenida Brasil. Na década de 1940 o desenvolvimento econômico é alavancado pela malha rodoviária. Na década de 1960 as atividades extrativistas dão sinais de esgotamento, a crise da mica profere um golpe fatal para com a economia do Município e a pecuária de corte e leite transforma-se na atividade econômica mais significativa. Ainda nessa década, o "boom econômico" se faz presente nesse território com a criação do PDLIM. As décadas seguintes serão apenas expressão do crescimento do setor de serviços. Em decorrência, a partir da década de 1970, um ciclo econômico não sustentável, processo emigratório, se desenvolve em paralelo aos ciclos econômicos oficiais. A reflexão sobre o surgimento e consolidação desse território permite elaborar um pensamento sobre a necessidade de se (re)pensar seu futuro de forma racional, sem lendas, priorizando o desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave: Ciclos econômicos, Crescimento Territorial, Governador Valadares.
ABSTRACT
The Territory of Valadares Governador is fruit of a conditional multiple form occupation the factors of mythical, economic and physicist-territorial order. The present study it has as objective to lead a reflection on the sprouting, transformations and consolidation of this territory. The bibliographical revision and the documentary study had been the used methods. The legal historical base of creation of the territory was instituted in result of the installation of 06 (six) military divisions to contain the legendary ferocity of the "botocudos indian", endorsed for the Regal Letter of 1808, imperial legislative act. This had as liberal and strategical intention to contain clandestine explorations in relation to the production of ores and precious rocks, and, to hinder the route of escape and not the payment it treasury department. The first urban activities if had developed in the edges of the River Doce, where if it points out the quarter today are São Tarcisio. The process of industrialization of Valadares Governador is initiated with the creation of the plant of bathes and soap located in the called Street of Low, current Brazil Avenue. In the decade of 1940 the economic development is impulse in most by the road mesh. In the decade of 1960 the first jobs activities give exhaustion signals, the crisis of the mica pronounces a fatal blow stops with the economy of the City and cattle of cut and milk it is changedded into more significant the economic activity. Still in this decade, "boom economic" if makes gift in this territory with the creation of the PDLIM. The following decades will be only expression of the growth of the sector of services. In result, from the decade of 1970, not sustainable a economic cycle, emigration process, if develop in parallel to official the economic cycles. The reflection on the sprouting and consolidation of this territory allows to elaborate a thought on the necessity of if (reverse speed) thinking its future of rational form, without legends, prioritizing the sustainable development.
KEYS-WORD: Economic cycles, Territorial Growth, Governador Valadares
Considerações Iniciais
Normalmente, a história das cidades está condicionada a fatores de ordem mítica, econômica e fisico-territorial. As diversas formas de ocupações contribuem para a formação do território. A forma pela qual se utiliza das lendas é aquela que advém de uma narrativa fantasiosa transmitida pela tradição oral através dos tempos. Com exemplos bem definidos em todos os países/cidades do mundo, as lendas geralmente fornecem explicações plausíveis, e até certo ponto aceitáveis, para coisas que não têm explicações científicas comprovadas, como acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Além destes, as lendas podem também surgir com o objetivo de esconder verdades cruentas, mentiras escabrosas e preconceitos hediondos.Um clássico exemplo é o da ocupação e formação da cidade de Roma, com a lendária história dos gêmeos Rômulo e Remo, amamentados por uma loba. A forma militar/legal, via de regra, se dá em torno de formações estratégicas do Poder e Governo, da hierarquia para com os governados, e da defesa e ganhos (acréscimos) territoriais. A forma denominada social são os arranjos societários ocorridos ao longo da existência humana, desde as tribos mais remotas ao convívio social nos dias atuais. A chamada formação territorial comercial, justaposta ao social, transforma o território como meio de propagação das relações comerciais ali realizadas, e fixa por assim dizer o elemento humano em seu entorno. A formação legal/arquitetada estrategicamente planejada advém da razão e do conhecimento humano. Nessa ocupação ordenada em primeira mão, via de regra, desordena-se na fixação final do elemento humano. A exemplo desta pode-se citar a cidade de Brasilia, que advinda de um contexto legal, planificada e arquitetada no conhecimento humano não conseguiu conter os aglomerados ao redor do plano piloto.
Governador Valadares é uma ocupação do tipo multiformica. Da riqueza dos minérios e das pedras, à lenda da ferocidade dos botocudos, a ocupação lendária se fez. Do ideal liberal revestido de condições legais para a perfeita exploração do elemento humano indio, condições legais na escusa de se poder usar "ferros" como causa impeditiva de continuidade e como causa impulsionadora ao abandono das atrocidades e antropofagia; surge na forma legal, em torno do Quartel de Dom Manuel (uma das seis divisões militares do Rio Doce ? Carta Régia de 1808) o território ocupado. Da estratégia da ocupação ordenada idealizada por José de Serra Lima, com traçados amplos e paralelos, matematicamente desenhados, a aproveitar a paisagem existente, a razão humana se faz presente na idealização da ocupação do território de Governador Valadares. Razão que também explica a posterior ocupação latente e desordenada nesse mesmo território.
A essas fases de consolidação territorial, via de regra historicamente traduzidas, serão correlacionadas aos ciclos econômicos existentes na história da própria humanidade. A um olhar genérico, no século XV, percebemos que nos idos de 1400/1500, o homem sobrevive no seu contexto histórico enredado a lendas e mitos. Em Governador Valadares assim também o fez. Mitos da terra, mitos da riqueza. No século XVIII, a exacerbada legalidade para com todo e qualquer ato humano, o nascimento do Liberalismo, as relações mercantilistas atravessam o Atântico e aportam neste vale, na legalidade da Carta Régia Imperial de 1808. O ciclo da chamada era do ferro por aqui também se instala. Consolida-se e permanece até os dias atuais devida a situação privilegiada da cidade nesta região. Apesar da ideia central norteadora das atividades primárias ter sido desde os primórdios a idéia do extrativismo, o território de Governador Valadares, de uma forma moderna, ainda extrai de seu elemento humano a exportação de mão de obra para países no mesmo e/ou em outros continentes. Este estudo procurará conduzir uma reflexão na tentativa de responder à seguinte questão: Como surgiu, transformou-se e consolidou-se esse território, identificado como Governador Valadares?
O presente estudo tem como objetivo conduzir uma reflexão sobre o surgimento, transformações e consolidação do território de Governador Valadares/MG. Neste, serão abordados o contexto histórico que deu origem ao Município, levando em consideração a primeira exploração econômica dos idos de 1573, os ciclos econômicos ocorridos no século XX até os dias atuais.
A Revisão Bibliográfica é o método utilizado no desenvolvimento do presente artigo, que conta com informações coletadas a partir de livros que descrevem fatos históricos do município, da Carta Régia Imperial de 13 de maio de 1808, dos dizeres da Constituição da República Federativa do Brasil e artigos científicos impressos em publicações periódicas, bem como os do tipo eletrônicos.
A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço (GIL, 2002, p.45).
História de um território em construção
A história desse município faz-se grafar desde a primeira exploração do Vale do Rio Doce, nos idos de 1573. Na ocasião Sebastião Fernandes Tourinho adentrou por esse território até alcançar a foz/barra do Suaçuí Grande, com a finalidade de descobrir ouro e pedras preciosas. As lendas que fizeram parte da construção histórica no objetivo do enriquecimento rápido serão deixadas à parte. Importa aqui a construção de um território que teve várias denominações refletindo momentos específicos de sua história. De Porto Dom Manuel (1808) passou para Distrito do Município de Peçanha (1884) tornando-se Santo Antônio de Figueiras (1884), depois Figueiras (1937) e finalmente Governador Valadares em 1938 (ESPINDOLA, 2005).
A ocupação do território geográfico atualmente conhecido como Governador Valadares, se deu de forma a orbitar na busca da riqueza rápida e farta das chamadas pedras preciosas. As primeiras atividades urbanas se desenvolveram nas margens do Rio Doce, onde se situa hoje o bairro São Tarcisio. Entre os vários fatores que propiciaram a fixação do homem nesse território, vale citar a condição legal estabelecida na Carta Régia Imperial de 13 de maio de 1808. Esta cria divisões militares, em torno de seis, na região do Rio Doce com um fim específico de combate aos índios botocudos. Pode-se inferir que a partir da criação lendária da temerosidade sobre esses indígenas tenha sido um ponto proposital e crucial para o não adentramento territorial via curso d?água, via eixo rio-mar.
Carta Régia para o Governador e Capitão General de Minas Gerais.
Pedro Maria Xavier de Ataide e Mello, do Meu Conselho, Governador e Capitão General da Capitania de Minas Gerais, Amigo:
Eu o Príncipe Regente [1] vos envio muito saudar. Sendo-me presentes as graves queixas, que da capitania de Minas Gerais [2] tem subido à Minha Real Presença sobre as invasões que diariamente estão praticando os índios Botecudos [3] antropófagos em diversas e muito distantes partes da mesma Capitania, particularmente sobre as margens do rio Doce, e Rios que no mesmo deságuam, e onde não só devastam todas as Fazendas sitas naquelas vizinhanças, e tem forçado muitos proprietários a abandoná-las, com grave prejuízo seu, e da Minha Real Coroa; mas passam a praticar as mais horríveis e atrozes cenas da mais bárbara antropofagia [4], ora assassinando os portugueses, e os índios mansos, por meio de feridas, de que sorvem depois o sangue, ora dilacerando os corpos, e comendo os seus restos (GRIFO NOSSO); [...]tendo-se verificado na Minha Real Presença a inutilidade de todos os meios humanos, pelos quais tenho mandado que se tente a sua civilização, e o reduzí-los e aldear-se, e a gozarem dos bens permanentes de uma sociedade pacifica, e doce, debaixo das justas e humanas Leis, que regem os Meus Povos; e até havendo-se demonstrado quão pouco útil era o sistema de Guerra defensivo, que contra eles tenho mandado seguir, visto que os pontos de defesa em uma tão grande, e extensa linha, não podiam bastar a cobrir o país: Sou servido por estes, e outros justos motivos, que ora fazem suspender os efeitos de Humanidade, que com eles tinha mandado praticar, Ordenar-vos em primeiro lugar: que desde o momento em que receberdes esta Minha Carta Régia deveis considerar como principiada contra estes Índios Antropófagos uma Guerra ofensiva, que continuareis sempre em todos os anos nas estações secas, e que não terá fim senão quando tiveres a felicidade de vos senhorear das suas habitações, e de os capacitar da superioridade das Minhas Reais Armas, de maneira tal, que movidos do justo terror das mesmas, peçam a paz, e sujeitando-se ao doce jugo da Lei, e prometendo viver em sociedade, possam vir a ser Vassalos [5] úteis, como já o são as imensas variedades de índios, que nestes Meus vastos Estados do Brasil se acham aldeados, e gozam da felicidade, que é conseqüência necessária do Estado social (...) Em terceiro lugar Ordeno-vos, que façais distribuir em seis Distritos, ou partes, todo o terreno infestado pelos Índios Botecudos, nomeando seis comandantes destes terrenos, à quem ficará encarregada, pela maneira que lhes parecer mais profícua, a Guerra ofensiva, que convém fazer aos Índios Botecudos, e estes Comandantes, que terão as patentes, e soldos de Alferes agregados ao Regimento de Cavalaria de Minas Gerais, que logo lhes mandareis passar com vencimento de soldo dessa nomeação, serão por agora, Antonio Rodrigues Taborda, já Alferes, João do Monte da Fonseca, José Caetano da Fonseca, Lizardo José da Fonseca, Januario Vieira Braga, Arruda, morador na Pomba, e se denominarão Comandantes da primeira, segunda, terceira, quarta, quinta e sexta divisão do Rio Doce. (GRIFO NOSSO) A estes Comandantes ficará livre o poderem escolher os soldados, que julgarem próprios para esta qualidade de duro, e áspero serviço, e em número suficiente para formarem diversas Bandeiras [6], com que ajam constantemente todos os anos na estação seca de entrarem nos matos, ajudando-se reciprocamente, não só as Bandeiras de cada Comandante, mas todos os seis comandantes com as suas respectivas forças, e consertando entre si o Plano mais profícuo para a total redução de uma semelhante, e atroz raça Antropófaga: (GRIFO NOSSO) Os mesmos Comandantes serão responsáveis pelas funestas conseqüências das invasões dos Índios Botecudos nos sítios confiados a sua guarda, logo que contra ele se prove omissão, ou descuido. Que sejam considerados como Prisioneiros de Guerra todos os Índios Botecudos, que se tomarem com as armas na mão em qualquer ataque, e que sejam entregues para o serviço do respectivo Comandante por dez anos, e todo o mais tempo enquanto durar a sua ferocidade, podendo ele empregá-los em seu serviço particular, durante esse tempo, e conserva-los com a devida segurança, mesmo em ferros, enquanto não derem provas do abandono de sua atrocidade, e antropofagia. (GRIFO NOSSO) Em quarto lugar: Ordeno-vos, que a estes comandantes se lhes confira anualmente um aumento de soldo proporcional ao bom serviço que fizerem, regulado este pelo princípio que terá mais meio soldo aquele Comandante, que no decurso de um ano mostrar, não somente, que no seu distrito não houve invasão alguma de índios Botecudos, nem de outros quaisquer índios bravos, de que resultasse morte de portugueses, ou destruição de suas plantações; mas que aprisionou, e destruiu no mesmo tempo maior número do que qualquer outro comandante; conferindo-se aos demais um aumento de soldo proporcional ao serviço que fizeram, servindo de base para máxima recompensa, o aumento do meio soldo. Em quinto lugar: Ordeno-vos que em cada três meses convoqueis uma Junta, que será presidida por vós, e composta do coronel do Regimento de Linha, do coronel Inspetor dos destacamentos da capitania, do tenente coronel, do Major, do ouvidor da comarca na qualidade de auditor do Regimento, e do escrivão Deputado da Junta da Fazenda, na qual fareis conhecer do resultado de tão importante serviço, e me darás Conta pela Secretaria de Estado de Guerra, e Negócios Estrangeiros de tudo o que tiver acontecido, e for concernente à este objeto, para que se consiga a redução, e civilização dos índios Botecudos, se possível for, e das outras raças de Índios, que muito vos recomendo, podendo também a Junta propor-me tudo o que julgar conveniente para tão saudáveis, e grandes fins, particularmente tudo o que tocar a pacificação, civilização, e aldeação dos Índios, declarando-vos também que por este trabalho os membros da junta não terão paga, ou vencimento algum, reservando-Me a dar-lhe aquelas demonstrações do Meu Real Agrado, e Generosidade, de que os seus serviços demonstrados pelas suas contas, e resultado favorável para a Capitania os fizerem dignos.
Propondo-me igualmente por motivo destas saudáveis Providências contra os Índios Botecudos, preparar os meios convenientes para se estabelecer para o futuro a Navegação do Rio Doce, que fará a felicidade dessa capitania, e desejando igualmente procurar, com a maior economia da minha real Fazenda [7], meios para tão saudável empresa, assim como favorecer os que quiserem ir povoar aqueles preciosos terrenos auríferos, abandonados hoje pelo susto que causam os Índios Botecudos (...) (GRIFFO NOSSO) Dada no Palácio do Rio de janeiro [8] em treze de Maio de mil oitocentos e oito. Príncipe com Guarda. Para Pedro Maria Xavier de Ataíde e Mello. Joze Joaquim da Silva Freitas (CARTA RÉGIA, ARQUIVO NACIONAL, 2009).
Em 1909 a Ferrovia Vitória-Minas alcança as proximidades territoriais da Figueira do Rio Doce. Em 1910 é inaugurada a Estação Ferroviária que na época localizava-se na rua que atualmente é conhecida como Marechal Floriano, nas mediações do atual Fórum Judiciário. Ainda Distrito do Município de Peçanha, este território revestia-se de características de entreposto comercial, centralizador de descargas de mantimentos e material para abastecer a frente de trabalho, e redistribuição para toda a região (PREFEITURA MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES, 1973).
Na memória do desenvolvimento comercial/industrial do território de Governador Valadares está registrado o processo inicial de industrialização com a criação da fábrica de banha e sabão. Localizada na denominada Rua de Baixo, atual Avenida Brasil, nos idos de 1912/1913, teve no seu liame fronteiriço, a Serraria Mecânica do Sr. Francisco Poubel, de atividade duradoura (FONSECA, 1985, p.42).
Em artigo sobre este mesmo território, Guimarães (2007) assinala que Governador Valadares possui, como todos os locais, várias especificidades. Entre elas destaca a efetivação da sua ocupação como fenômeno simultâneo à instalação da Ferrovia Vitória-Minas, no início do século XX; a presença do Serviço Especial de Saúde Pública ? SESP, na década de 1940; o rápido crescimento fermentado pelas atividades extrativistas, principalmente a madeira e a mica; e o igualmente rápido processo de estagnação econômica. Mais recentemente, o fenômeno migratório para países estrangeiros, tais como os EUA e Portugal marcam fortemente a economia local.
Os anais comemorativos de sessenta anos da Associação Comercial de Governador Valadares registram que na década de 1920, existiam comércios ao porte do território alcunhado Figueiras. Comércios estabelecidos nas ruas Peçanha, Marechal Floriano e Avenida Minas Gerais cujas denominações dos logradouros foram mantidas até os dias atuais. Dentre os comércios ali existentes vale citar Casa Byrros e Bazar do Povo (ESPINDOLA, 1999).
Na década de 1930 a disposição territorial de Figueiras, atual Governador Valadares, contava com o bairro São Tarcisio (atual centro), a chamada Fazenda Figueira e o bairro de Lourdes. Vale citar que no atual bairro de Lourdes estava construído o aeroporto e seu saguão compreendendo o local de venda de passagens, sala vip e oficinas de manutenção das aeronaves constitui-se atualmente na Escola Israel Pinheiro. Quatro regiões iniciantes desse território que se chamará Governador Valadares. A disposição cartográfica assim nos dizia:
FIGURA 1 ? Mapa atual da cidade de Governador Valadares destacando disposição territorial de Figueiras, na década de 1930.
Fonte: SEPLAN ? 2009 (Regiões iniciais da Cidade de Governador Valadares)
A partir daí, a cidade, em função de seu crescimento veio a ocupar as margens do rio seguindo o traçado preestabelecido por José Serra Lima. Foi a primeira e única experiência de crescimento planejado de Governador Valadares. Com um traçado tipo tabuleiro, com amplas calçadas de pedestres e ruas bem dimensionadas, este tipo de ocupação se desenvolveu pelo terraço do rio, até encontrar os obstáculos geográficos para com a sua continuidade: Morro do Carapina, Córrego do Figueirinha, depressão próxima ao Clube Filadélfia (à leste da cidade). Desse modo, surge a cidade planejada em tabuleiro de xadrez, a partir dos eixos Norte-Sul e Leste-Oeste, ignorando a existência do traçado sinuoso do rio tal como pode ser observado na figura 2 (GUIMARÃES, 2007).
A cidade foi planejada antes mesmo de ser ocupada e passou por diversos planos ao longo da sua história recente, cada qual correspondendo ao modelo vigente na época. Apesar dessa trajetória de planejamento urbano, o resultado não difere do que conhecemos como caos urbano: desigualdades, ausência de moradia para grande parte da população, falta de infra-estrutura, violência urbana, entre outros (GUIMARÃES, 2007).
Legenda:
1. Casas classe pobre e operária;
2. Praças;
3. Comércio varejista e artigos de alimentação;
4. Casas classe média e alta;
5. Indústrias;
6. Comercio e artigos manufaturados;
7. Serviços públicos, administrativos, escolas, etc.
FIGURA 2 - Traçado urbano de Governador Valadares.
Fonte: Dados modificados a partir de Strauch (1958).
Da memória oral, dos terrenos indígenas, atualmente onde se encontra o Estádio do Democrata, teria sido um campo santo, isto é, um cemitério indígena. De todos os territórios passíveis de invasões e conquista ao longo da história do homem pelo próprio homem, talvez este tenha sido o que se manteve intacto por um tempo maior. No despontar de um novo século, novos traçados, novas formas de conquista territoriais fez com que esse campo santo fosse transformado e fixado como território fronteiriço, limitatório desse município, mantenedor do afastamento de possíveis ataques dos índios "antropofágicos" botocudos.
Em 1936/37 a conexão ferroviária Vitória-Minas com a central do Brasil colocou Figueira em ligação com grandes centros consumidores, consolidando uma situação privilegiada na região como distribuidora de víveres (PREFEITURA MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES, 1973). A atividade econômica dessa época baseava-se em torno da exploração da mica, madeira, carvão vegetal, pedras coradas e comércio de víveres local. Ainda nessa década o demonstrativo do desenvolvimento comercial do território chamado Figueiras era representado pela filial da firma Mafra & Irmãos. Mais tarde este comércio, localizado na Rua Marechal Floriano, foi adquirido em sua totalidade pelo Sr. Seleme Hilel (ESPINDOLA, 1999, p.18/19).
FIGURA 3 - Vista parcial de Figueira, com a linha férrea em primeiro plano.
Fonte: Arquivos do Cedac/Univale.
Na década de 1940 com o crescimento territorial peculiar ao eixo da malha rodoviária por aqui implantada faz-se surgir o bairro de Vila Bretas e o Carapina. Serão apenas em número de três o contexto de bairros acrescidos a esse território. Foi o período de menor crescimento territorial. Também é nessa década, precisamente nos anos 1943/44 que a rodovia Rio-Bahia foi implantada passando por esse município, reforçando a situação geográfica do Município como pólo regional. As atividades econômicas extrativistas de madeiras e beneficiamento foi amplamente favorecida. A comercialização da mica intensifica-se nesse período em virtude da demanda do mercado externo motivados pelos conflitos bélicos. Nesta década o território comercial, acrescido ao da década anterior, deixa citar a Interbrasil. Esta era uma empresa que fazia transporte de carga de caminhão e/ou transporte de cargas/mercadorias que vinham pela estrada de ferro Vitória-a-Minas. A empresa localizava-se onde nos dias atuais existe a Escola Clóvis Salgado. Com a demanda crescente de lotes, a expansão territorial ultrapassando os limites do plano inicial de Serra Lima, passou a ser feita não mais de forma planejada mas de forma aleatória, embora articulada em função dos eixos rodoviários existentes.
Ainda nessa década, o Município de Governador Valadares possuía três distritos, a saber: Distrito Sede, Brejaubinha e Chonim. Em 1948, a lei estadual nº 336, de 27/12/1948 cria o Distrito de Alpercata, no chamado Distrito Sede (PREFEITURA MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES, 1973).
Na década de 1950, além do território já existente, surgem os bairros chamados Vila Rica, Santa Terezinha, Esplanada, Esplanadinha e o bairro São Pedro. Na década aprazada, a configuração territorial dos bairros Esplanada, Esplanadinha e São Pedro desenhava-se da seguinte forma: na descida do morro da Esplanada tinha-se a Escola do Professor Dativo, seguida pelo posto de gasolina, imensos terrenos baldios, raras e esparsas casas. Depois vinha o acampamento da Cobraice, com suas casas de compensado amarela chamado de Pastoril em homenagem ao CAP (Clube Atlético Pastoril), e um terreno contíguo à Cobraice no qual funcionava a CARDO. Crescimento um pouco maior do que o das décadas anteriores, cinco bairros, correspondente ao fluxo comercial da época. Fluxo este, ainda fundamentado nas atividades extrativistas das madeiras e da mica, trazendo o aparecimento de infraestrutura rodo-ferroviária de transporte. Aparece também uma atividade agrícola local diretamente ligada ao consumo da população (banana, café, milho, feijão). Intensifica-se a construção civil e a especulação imobiliária. Criou-se ainda a Companhia Telefônica de Governador Valadares (CTGV), instalou-se o 6º Batalhão de Infantaria (Polícia-Militar) e a Companhia de Eletricidade do Médio Rio Doce. De forma infraestrutural básica a cidade se equipou para atender às solicitações geradas pelo seu rápido crescimento. O crescimento territorial urbano viria a ocorrer em decorrência lógica do processo sistemático do desmatamento. Esse processo criou grandes áreas livres, citadas á guisa de exemplo a chamada "baixada da égua", atual bairros Esplanada, Esplanadinha, São Pedro e adjacências. O atual bairro Esplanada era o ponto limítrofe entre o centro da cidade e a baixada da égua. Assim, o hoje Esplanadinha e Bairro São Pedro é que ocuparam a área da baixada. As citadas áreas adjacentes eram áreas de plantio, portanto fazenda da Cardo e outras fazendas. Nesse período decenal, precisamente no ano de 1953, criou-se sete novos distritos. São eles: Alto do Santa Helena, Baguari, Derribadinha, Penha do Cassiano, São José dos Tronqueiras, São Vitor, Vila Matias (PREFEITURA MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES, 1973).
Já na década de 1960 o município conta com empresas de pequeno e médio porte, sendo as mais influentes: Imapebra (Serraria e Material de Construção), localizada na rua Dom Pedro II; Cobraice (Companhia Brasileira de Indústria Comércio e Exportação), também localizada na rua Dom Pedro II, centro; Açucareia (CARDO), localizada no final do bairro São Pedro, atual bairro Cardo; Santos Nogueira que trabalhava com mica, na rua Belo Horizonte esquina com Bárbara Heliodora, atual Shopping Feira; Loja Mimosa, loja de variedades, localizada na avenida Minas Gerais, centro; Casa Rio Doce, de tecidos e materiais elétricos, ambas localizadas na Avenida Minas Gerais, centro; Casa Cantidio Ferreira, loja de variedades, localizada na rua Bárbara Heliodora, no centro dessa cidade; Casa Byrros, localizada na rua Israel Pinheiro esquina com avenida Minas Gerais, onde atualmente encontra-se o Banco Brasileiro de Descontos (Bradesco); Empório das louças, onde é atualmente o estacionamento do Bradesco; Casa Tavares, na rua Israel Pinheiro, em frente ao Bradesco; Lojas Bangu, localizada na Avenida Minas Gerais, ao lado do Hotel Rio Doce; Armazém Fava, na antiga rua 50, bairro de Lourdes; Agências Bancárias tais como Lavoura, Agropastoril, Banco do Brasil, todas nas mediações da Avenida Minas Gerais, centro; Colégios Ibituruna, Imaculada, Nelson de Sena; todos sendo mantidos até os dias atuais em seus lugares de origem. O colégio Presbiteriano, funcionava inicialmente ao lado da Primeira Igreja presbiteriana, na rua Prudente de Morais.
Na década de 1960 o crescimento territorial de Governador Valadares vai ocorrer em uma expansão sem par. Os 29 novos bairros nascidos nessa década que acrescem o território da cidade são: Ilha dos Araújos (a ilha pertencia à família Araújo e, o bairro ali constituído é citado oficialmente pelos órgãos públicos municipais como Bairro Nossa Senhora do Carmo), bairro São Paulo, Vila Park Ibituruna, Jardim Ipê, Jardim Atalaia, Jardim Vera Cruz, Vila dos Montes, Santa Rita, Penha, Vila Império, São Cristóvão, Sagrada Família, Nossa Senhora de Fátima, Vila Monte Líbano, Jardim Pérola, Bela Vista, Kenedy, Novo Vila Bretãs, Palmeiras, Mãe de Deus, Santo Antônio, Altinópolis, Vila Mariana, Planalto, Jardim do Trevo, Santa Paula, Nossa Senhora das Graças, Maria Eugênia, Santa Helena. Os distritos de Vila Matias e Alpercata foram elevados à categoria de Municípios nessa década.
A atividade comercial e industrial passa por um Plano de Desenvolvimento Local Integrado do Município (PDLIM). Nessa época a fragilidade de sustentação econômica, fundamentada no extrativismo, dá sinais do esgotamento total. A crise da mica, o esgotamento das reservas florestais proferiram o chamado golpe fatal para com a economia do Município. A pecuária de corte e leite vai se transformar na atividade econômica mais significativa nesse período.
Mister se faz lembrar que, neste contexto histórico, o chamado boom dos crescimentos econômicos também deixa seu traço marcante no território físico e econômico valadarense. O chamado "milagre econômico" se faz constar no escopo dos dizeres lapidares preceituados no projeto de lei constante no PDLIM/GV (volume I, p. s/n, 1973), sobretudo nos seguintes artigos:
Art. 3° - Fica o Poder Executivo autorizado a entrar em entendimentos com órgãos, entidades e instituições públicas e particulares, visando criar condições para a implantação plena do Plano de Desenvolvimento Local Integrado.
Art. 4°- Fica o Poder Executivo autorizado a iniciar imediatamente a implantação do Plano de Desenvolvimento Local Integrado, bem como realizar a atualização permanente do referido Plano.
Tais dizeres correspondem ao objetivo geral, o qual orienta a ação da Administração Municipal daquela década, no tocante a sua política de desenvolvimento sócioeconômico, urbanístico e Institucional de Governador Valadares. Este projeto de lei teve iniciado seu processo de elaboração em 1972, na gestão do Prefeito Municipal Sebastião Mendes de Barros, e concluído em 1973, na gestão do Prefeito Municipal Hermírio Gomes da Silva (PREFEITURA MUNICIPAL DE GOVERNADOR VALADARES, 1973).
Na década de 1970, o crescimento territorial de Governador Valadares conta com o surgimento de 19 novos bairros sendo eles: Vila da Serra, Vila Park São João, Azteca, São José, Park Fraternidade, Vila Ozanã, Grã-Duqueza, Morada do Vale, Esperança, Universitário, Santos Dumont, Condomínio Jother Peres, Chácara Sitio das Flores, Vila Mariquita, Chácaras Braúnas, Santos Dumont, Santos Dumont 2, Capim. Nestes anos inicia-se o processo de expansão da rede de abastecimento de água aos bairros (SOARES, 1983).
Nesse período o município já contava com diversos registros numéricos do parque industrial. O Minas Instituto de Tecnologia (MIT/1968) cadastrou 510 estabelecimentos industriais nesse território. O Serviço Social da Indústria (SESI), em um levantamento realizado em 1970, constatou existirem 706 estabelecimentos. E, em 1972, a Companhia de Desenvolvimento de Governador Valadares (CODEG), realizando um estudo sobre as indústrias de transformação do Município, verificou a existência de 218 unidades industriais. Já o Cadastro Técnico Municipal (CTM) constatou a existência de 168 unidades, integrando o setor secundário, na área urbana, como se verifica na Tabela 1.
Tabela 1: Governador Valadares: Unidades Industriais, Localizadas na Área Urbana - 1973
Fonte: Cadastro Técnico Municipal (CTM), 1973 (dados correspondentes a 90% do trabalho)
Vale ressaltar, que na perspectiva ao desenvolvimento industrial do município nessa década, o ramo industrial que mais se destacava era o da Madeira, do Mobiliário e da Construção, seguido pelo do Vestuário e da Alimentação.
Ainda na perspectiva do desenvolvimento do Município, nesse período, encontra-se uma maior diversificação da atividade comercial do que da atividade industrial. Como pode ser observado através da Tabela 2, o comércio local liderava a atividade referente a Bar, Venda de Bebidas e Miudezas, seguida por Tecidos e Roupas Feitas.
Tabela 2: Governador Valadares: Estabelecimentos Comerciais, em 1973
Fonte: Cadastro Técnico Municipal (CTM), 1973 (dados relativos a 90% do trabalho)
Como pode ser constatado a partir da Tabela 3, o setor de serviços em geral, na década de 70, é diversificado e expressivo. Grande parte dele ultrapassava as fronteiras municipais, servindo aos habitantes de diversas cidades da região. Em termos globais era o que proporcionava a absorção da maior parte da mão-de-obra disponível no mercado de trabalho local.
Tabela 3: Governador Valadares: Unidades de Prestação de Serviços em 1973
Fonte: Cadastro Técnico Municipal ? 1973 (dados correspondentes a 90% do trabalho)
Grande parte das empresas presentes nos diversos setores que contribuíram para o desenvolvimento do Município, consolidaram-se nos anos que se sucederam e outras passaram apenas a fazer parte da história. Dentre as empresas da época, vale rememorar: Comércio e Indústria Barbosa e Marques (laticínios), localizada na Rua Alterosa, Bairro de Lourdes; Frigorífico T. Maia, localizado na BR 116, Bairro Planalto; Impala ? Indústria Mineira de produtos alimentícios LTDA, localizada na JK, Bairro Santa Rita; Impasa ? Indústria Mineira de Papéis S/A, localizada no Bairro Sir; Matisa ? Frigorífico Industrial, localizado no Bairro Vila Isa; Sicafé ? Sociedade Industrial de Café LTDA, localizado na Rua São Paulo/Centro, indo posteriormente para a Rua Marechal Deodoro/Centro, encontrando-se atualmente no bairro Santa Rita, Rua Washington Luiz; Embratel ? Empresa brasileira de Telecomunicações, antiga Companhia Telefônica de Governador Valadares, situada primeiramente na Praça Serra Lima/Centro, indo nessa década para a Avenida JK, encontrando-se até os dias de hoje ali situada; Fertimental ? na variante da Rua Sete de Setembro, Viaduto da Vale, mediações do Bairro Altinópolis; Massas Periquito ? localizada na antiga Rua 50, atual Rua Euzebinho Cabral esquina com Bárbara Heliodora; Biscoito Caiubi, localizado na Rua Mato Grosso, Bairro de Lourdes; Montezuma (Material de Construção), antiga Imapebra, localizada na Rua Dom Pedro II, Centro.
Na década de 1980, do crescimento territorial 15 novos bairros valadarenses contribuem para estabelecer o contorno do desenho atual do Município, sendo eles: Elvamar, Chácara Recanto das Cachoeiras, Vila do Sol, JK1, JK2, Jardim Alice, Morada do Acampamento, Distrito Industrial, Turmalina, Vale Verde, Cardo, Sir, Interlagos, Fazenda Boa Sorte, Floresta. À guisa de exemplo, vale aqui citar algumas das empresas que contribuíram para com o desenvolvimento regional dessa década: Verona, localizada na Ilha dos Araújos; Casa das Baterias, localizada no Centro; COVEPE (Comércio de Veículos Pesados Ltda), localizado no Bairro Vila Isa; Instituto Cultural São José (FISK), localizado no Centro; Farmácia Freitas, no Centro; Vassouras Hobynwood, localizada no bairro Vila Rica; Santana Ferro e Aço, localizada no Centro;Barbosa & Marques S/A localizada no bairro de Lourdes; Companhia Vale do Rio Doce, localizada no centro; Cooperativa Agropecuária do Vale do Rio Doce LTDA, localizada no centro; Fundação Percival Farquhar, localizada no bairro Vila Bretãs; Miramar Produtos Alimentícios LTDA, localizado no bairro Capim; Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce, localizada no centro; Viação Itapemirim, localizada no bairro Vila Rica; dentre outras.
Na década de 1990, no cenário do crescimento territorial, surgem novos bairros sendo eles o Parque das Aroeiras, Chácara Julieta L. Coelho, Córrego do Cardoso, Vila do Sol 2, Jardim Alvorada, Vale Pastoril, Jardim JK, JK 3, Fazenda Barra do Onça, Retiro dos Lagos, Santo Agostinho, Morada do Vale 2, Vila Verde, Alto Esplanada, Sion, Chácara Boa Sorte. São 17 novos bairros que acrescem ao desenho territorial de Governador Valadares.
Do ano 2000 aos dias atuais 17 novos bairros surgem contribuindo para o estabelecimento do atual desenho territorial urbano de Governador Valadares sendo eles: Mirante da Rocha, Vale do Sol, Vale do Sol 2, Conquista, Cidade jardim, Canaã, Vale Pastoril 2, Santa Rosa Betel, Castanheiras, Castanheiras 2, Tiradentes, Caravelas Novo Horizonte, Vila União Penha, Lagoa Santa, Morada do Vale 3, Belvedere. Com estes últimos, Governador Valadares atinge até este ano, 2009, um total de 152 bairros. O mapa abaixo apresenta o desenho territorial do Município demonstrando as diversas configurações conforme as décadas citadas.
FIGURA 4 ? Mapa apresentando as Regiões/Bairros da Cidade de Governador Valadares por décadas.
Fonte: SEPLAN ? 2009
Governador Valadares por exercer significativa influência sobre o leste e nordeste de Minas Gerais constitui-se, atualmente, num importante pólo econômico regional. O município é detentor de fortes movimentos migratórios, que se consolidaram ao longo das décadas 1970 e 1980. O elemento humano, responsável pelo fluxo emigratório deste território fazia-se constar nos índices oficiais do Banco de Dados Municipais (IBANCO), em conformidade com as tabelas 4 e 5 abaixo. Nota-se que as projeções desse órgão Municipal aproximaram-se significativamente dos índices de crescimento populacional projetados pelo IBGE. Este último estimou para o ano de 2007, uma população de 260.396 habitantes (IBGE, 2009).
Considerações finais
O território de Governador Valadares foi ocupado, nos primórdios, fisicamente sob a mística do rápido enriquecimento através de atividades primárias de exploração de ouro e pedras preciosas. A base histórica legal de criação do território foi instituída em decorrência da instalação de 06 (seis) divisões militares para conter a lendária ferocidade dos botocudos, respaldada pela Carta Régia de 1808, ato legislativo imperial. Este teve como propósito liberal e estratégico conter explorações clandestinas em relação à produção de minérios e pedras preciosas, vigorando até o final do séc. XVIII. No isolamento da crença mística sobre os botocudos, o território dedicou-se a atividades agrícolas atendendo, apenas, às necessidades de subsistência da população local. Aquela divisão militar criada legalmente pela Carta Régia vai dar origem ao surgimento do arraial chamado Porto D. Manoel, localizado às margens do Rio Doce, no local hoje conhecido por bairro São Tarcísio, cidade de Governador Valadares. Em 1884, o povoado foi elevado à categoria de Distrito com o nome de Santo Antônio da Figueira. Figueiras (1937) e finalmente Governador Valadares em 1938.
No século XX, no ano de 1909, a Ferrovia Vitória-Minas alcança as proximidades territoriais da Figueira do Rio Doce. A política de expansão a viger na época foi fator determinante no processo de ocupação da área e definição das atividades econômicas desse território. Em 1910 é inaugurada a Estação Ferroviária. Neste período a construção da ferrovia Vitória-Minas vai favorecer o antigo Distrito de Figueira transformando-o no mais importante entreposto comercial da região. As atividades extrativistas serão favorecidas. Nos anos de 1936-1937, a ferrovia Vitória ? Minas é interligada à Estrada de Ferro Central do Brasil, permitindo a ligação da região com os pólos do desenvolvimento nacional ? Rio de Janeiro e São Paulo.
O crescimento territorial e econômico do território Distrital de Santo Antônio de Figueira ocorre em função do rápido enriquecimento, ora via eixo ferrovia, ora via eixo rodovias. Em 1937 o Distrito de Santo Antônio de Figueira torna-se Município de Figueira, sendo logo em seguida, 1938, redenominado como Governador Valadares.
Devido ao esgotamento das reservas florestais a inicial base econômica extrativista vegetal e mineral do Município, migrou para a atividade agropecuária mantendo a extrativista mineral. Na década de 1940, período da Segunda Grande Guerra, Governador Valadares torna-se um dos maiores centros mundiais de exploração, beneficiamento e comercialização de mica. Atividade extrativista, que tornou-se obsoleta devido a utilização de outros meios elétricos eletrônicos. As áreas desmatadas cederam lugar à plantação de pastagens, consolidando-se o desenvolvimento da pecuária extensiva, favorecida com a construção da Rodovia Rio-Bahia, BR-116.
O território de Governador Valadares deixa nas décadas subseqüentes de ser um entreposto comercial para assumir a posição estratégica de centro regional de prestação de serviços, comercialização de produtos.
Na década de 1960, o boom econômico se faz presente nesse território com a criação do PDLIM. Mesmo assim, afora o crescimento físico territorial as décadas seguintes serão expressão apenas do crescimento do setor de serviços. Em decorrência, a partir da década de 1970, um ciclo econômico não sustentável se desenvolve em paralelo aos ciclos econômicos oficiais. Trata-se do fluxo emigratório que nos dias atuais, encontra-se em crise. Como os ciclos anteriores têm também por objetivo o rápido enriquecimento.
Em dizeres conclusivos esta breve reflexão sobre a dinâmica do surgimento e consolidação do território de Governador Valadares/MG, foi condicionada a fatores de ordem histórica, econômicos e fisico-territoriais. Condições e condicionantes que permitem elaborar um pensamento sobre a necessidade de se (re)pensar o futuro desse território de forma racional, sem lendas, priorizando o desenvolvimento sustentável a ser realizado, levando em consideração ao todo aprendizado baseado em ciclos econômicos de natureza esgotável e que dá sinais de um esgotamento total. Aprendizado que se estabeleça para um alicerce fundamental para construir um território capaz de gerar condições para o desenvolvimento social e inclusão de todos os cidadãos que nele habitam.
Bibliografia
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STRAUCH, Ney. Zona metalúrgica de Minas Gerais e Vale do Rio Doce. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Geografia, 1958.
NOTAS:
[1] Trata-se de d. João VI (1767-1826), segundo filho de d. Maria I e d. Pedro III, que se tornou herdeiro da Coroa com a morte do primogênito José em 1788. Assumiu a regência do Reino em 1792, no impedimento da mãe que foi considerada louca. Foi sob o governo do então príncipe regente d. João, que Portugal enfrentou sérios problemas com a França de Napoleão Bonaparte, sendo invadido pelos exércitos franceses em 1807. Como decorrência da invasão francesa em Portugal, a família real e corte lisboeta partiram para o Brasil em novembro daquele ano, aportando em Salvador em janeiro de 1808. Dentre as medidas tomadas por d. João em relação ao Brasil estão: a abertura dos portos às nações amigas; liberação para criação de manufaturas; criação do Banco do Brasil; fundação da biblioteca pública nacional; criação de escolas e academias, e uma série de outros estabelecimentos dedicados ao ensino e à pesquisa, representando um importante fomento para o cenário cultural e social brasileiro. Em 1816, com a morte de d. Maria I, tornou-se d. João VI, Rei de Portugal, Brasil e Algarves. Em 1821, d.João VI, retornou com a corte para Portugal, deixando seu filho d. Pedro como regente. Deu-se, ainda, sob o seu governo, o reconhecimento da independência do Brasil no ano de 1825.
[2] Região inicialmente explorada no século XVII, em função da descoberta de jazidas de ouro pelos bandeirantes paulistas. Como resultado dessas explorações, a região das Minas Gerais teve uma intenso e acelerado povoamento, dado o interesse pelas lavras de metais preciosos e diamantes. O crescimento desta produção ocasionou uma maior fiscalização da Coroa, impulsionando inúmeros conflitos pelo direito de exploração das minas. Após um período de enriquecimento e esplendor, o final do século XVIII marca um esgotamento econômico. Este período de crise levou ao surgimento de movimentos favoráveis à independência, como solução para o término das pesadas tributações da Coroa Portuguesa. O principal conflito da região foi a Inconfidência Mineira (1789).
[3] Índios de diversas tribos brasileiras como os Crenaques, Nacnuc, Nac-requés, Pancas, Manharigems, Incutera, que habitavam às margens de rios nas regiões de Minas Gerais e Espírito Santo.
[4] Os rituais antropofágicos, de cunho religioso ou bélico, faziam parte de algumas culturas índigenas no Brasil. Estes povos acreditavam que ao se alimentarem de determinadas partes do corpo humano adquiririam algumas características específicas do falecido ? como por exemplo, a bravura ou a força do inimigo derrotado. O choque entre as civilizações brancas e indígenas durante a colonização, criaram no imaginário europeu uma série de imagens largamente relatadas através de iconografia e relatos de época a respeito desta considerada "barbárie" dos índios brasileiros.
[5] Neste período indica o mesmo que súdito da coroa. A palavra na Idade Média referia-se a uma camada privilegiada que recebia terras do rei e uma série de benefícios.
[6] Expedições freqüentes no século XVII com o intuito de desbravar o interior do Brasil. Seus principais objetivos foram o reconhecimento territorial, a captação de mão-de-obra indígena, a submissão ou eliminação de tribos hostis e a busca de metais preciosos. As bandeiras, organizadas muitas vezes entre familiares, e compostas de brancos, índios e mestiços, tiveram uma importância fundamental para a expansão territorial e o desenvolvimento da economia colonial, alargando os domínios portugueses, que anexaram ao território brasileiro, regiões como o Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais e a Amazônia. Além disso, tiveram a função de capturar escravos negros ou índios fugidos ou aquilombados. A bandeira de Domingos Jorge Velho foi uma das mais conhecidas com esta função repressora, tendo sido contratado para destruir o Quilombo dos Palmares e depois liquidar a resistência dos índios cariris no Nordeste (1685-1713), na chamada Guerra dos Bárbaros.
[7] Órgão da administração pública real responsável por arrecadar, distribuir e fiscalizar os bens do reino.
[8] Fundada em 1565, por Estácio de Sá, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se sede do governo colonial em 1763, adquirindo grande importância no cenário sócio-político do Brasil. O comércio marítimo entre o Rio de Janeiro, Lisboa e os portos africanos da Guiné, Angola e Moçambique constituía a principal fonte de lucro das Capitanias. As lavouras tradicionais da região eram o açúcar, o algodão e o tabaco. Com a chegada da Corte, em 1808, a cidade do Rio de Janeiro e regiões próximas sofreram inúmeras transformações, com vários melhoramentos urbanos, tornando-se referência para as demais regiões. Entre as mudanças figuram: a transferências dos órgãos da Administração Pública e da Justiça e a criação de academias, hospitais e quartéis. Importantíssimo negócio foi o tráfico de escravos trazidos, aos milhares, em navios negreiros e vendidos aos fazendeiros e comerciantes. O Rio de Janeiro foi um dos principais portos negreiros e de comércio do país.