Ciclos de uma vida - avanços e retrocessos

Por Lourenço Nisticò Sanches | 21/12/2011 | Crônicas

Ciclos de uma vida – avanços e retrocessos

* Lourenço Nisticò Sanches 

Desde a segunda metade do século passado, a partir do final do nefasto episódio da 2ª Grande Guerra, o mundo vem observando alterações incríveis..., e isso se constata em todos os campos da ciência e nas diferentes áreas do conhecimento humano.

Novas descobertas surgem em ritmo espantoso, cada vez mais veloz, bastando dizer que muitos dos aparatos que conhecemos, e que se encontram disponibilizados no mercado, ao serem finalizados seus protótipos, estes já se encontram obsoletos..., às vezes até mesmo antes disso!

A tecnologia ultrapassou barreiras sequer sonhadas por nossos pais – quiçá, até então, por nós mesmos..., e a comunicação leva instantaneamente as informações com som e imagens de um extremo ao outro do globo em átimos de segundo.

Na medicina avanços espantosos também se verificam e a longevidade da vida do ser humano elevou-se de forma surpreendente, o mesmo se pode perceber – e sentir, com relação à qualidade de vida que as modernas drogas e seus tratamentos oferecem para portadores de inúmeras moléstias, muitas das quais hoje são curáveis ou, ao menos, passíveis de controle sem prejuízo do dia-a-dia do paciente.

É fantástico viver e poder fazer parte desta verdadeira maravilha em que se constitui o mundo de nossos dias..., mas...

Para nós que fazemos parte da geração pós guerra – aquela antes mencionada – temos que nos esforçar, e muito, para acompanharmos essas mudanças e as novidades que surgem num piscar de olhos, para não nos sentirmos verdadeiros excluídos. Ufaaa...!

Aprendemos a lidar com o computador pessoal – cada vez mais sofisticado e potente, temos nosso “telefone de bolso” transmitindo e recebendo não apenas a voz como também imagens... Penso no que diria Graham Bell ao “descobrir” até onde chegou seu invento, inútil para muitos na época em que foi criado; difícil de crer.

Definitivamente adentramos na era da comunicação instantânea, possibilitando o compartilhamento de informações e de conhecimentos em benefício – cada vez mais – da humanidade, e com isso vamos avançando... Avançando?

Ao constatarmos que a base que nos impulsiona – a humanidade inteira – não pode divorciar-se de suas referências, de sua história, de seus valores não amoedados, estes que sociologicamente constituem-se no tesouro maior que possuímos, cujo valor não pode sequer ser calculado, então temos que parar por um instante e proceder à profunda reflexão...

Nada contra as engenhocas e as descobertas da ciência, mas cabe o questionamento:

Como estamos utilizando todo esse saber, todas essas conquistas?

De que maneira estamos conseguindo – se é que o estamos, agregar valor substantivo à nossa essência, àquela que subsiste a matéria permanecendo como bagagem da alma, ou espírito, como queiram?

Os veículos de comunicação de massa, notadamente a televisão, nos mostra diuturnamente cenas e estórias que afrontam ao menos pudico, ao mais liberal. Sim, estamos nos referindo à moralidade, sustentáculo da ética que se constitui em um dos pilares necessários à evolução do ser humano, em todas as épocas.

Contemplemos o comportamento e postura de jovens, ainda em tenra idade perante seus colegas de escola, perante seus professores, perante as pessoas mais velhas e até mesmo perante seus próprios pais. O levantar-se em sala de aula quando a ela adentrasse o professor não só é um hábito que há muito deixou de existir como dificilmente esses jovens darão crédito ao ser-lhes narrado como era o comportamento em classe há algumas poucas décadas.

O mesmo se dá em relação às amizades de conveniência, aos vizinhos e outros mais que participam mais ou menos de nossa vida.

Estamos nos referindo ao comportamento das pessoas, de todas as idades, de todas as profissões e atividades... Comparemo-las com o que a história nos apresenta e iremos nos espantar com a inversão verificada.

Na verdade ninguém mais se dá conta do que a história nos apresenta, esta que deveria servir de referência, mas que infelizmente se encontra em posição diametralmente oposta aos valores de hoje.

Atualmente vige o império do ter e não o do ser..., e a qualquer custo!

Basta-nos ler as manchetes dos jornais para vermos que a amoralidade tornou-se regra de conduta, desde que esta conduza a “polpudos” resultados, desafortunadamente... E essa realidade não se verifica apenas em “terra tupiniquim”, mas por toda parte do planeta os escândalos se sucedem, especialmente nos escalões superiores da política, mormente junto daqueles que detêm temporariamente o poder.

Antigamente execrava-se o político alcunhado de “trombadinha” – aquele conhecido por “cobrar 10% de propina", mas agora as cifras alcançaram o cume do Everest. É de causar profunda tristeza..., e desalento!

O homem jamais alcançou o nível científico e tecnológico atualmente verificado, contudo essas conquistas acabaram por fazer com que ele se esquecesse do mais importante e perene, o avanço moral:

Os ensinos de luminares de todas as épocas que nos trouxeram suas mensagens de paz, de amor, de respeito, nos ensinando a desejarmos ao nosso irmão perante a Criação o mesmo que gostaríamos para nós mesmos.

Esquecemo-nos de que – em sociedade, o homem pode viver sem a cultura, mas não subsiste à falta de moral. Será a decretação inapelável de sua derrocada, enfim, de sua falência!

Tanto conquistamos, ferramental valioso para consubstanciar ainda mais nosso progresso maior com a observância da moral, mas não estamos nos apercebendo disso...

Proliferam cá e acolá as chamadas “teologias da prosperidade” a dar sustentáculo para muitos espertalhões que usam de toda a tecnologia para explorar os incautos que lhes dão ouvidos. É o culto ao “bezerro de ouro” da modernidade, turbinado pelo avanço da ciência e da tecnologia – o ídolo da era da comunicação e da informação... Qual informação..., ou deformação?

Precisamos urgentemente parar para reavaliar o caminho em que estamos nos embrenhando, urge que interrompamos – se necessário, os avanços nas áreas do conhecimento humano para não retrocedermos ainda mais no que exige nossa atenção e é o imperioso desde sempre, especialmente no momento:

A reconquista de valores morais que norteiam o comportamento da humanidade para a efetiva consolidação de suas conquistas, de seu progresso e evolução desde a vida presente assim também para toda a eternidade.

*Lourenço Nisticò Sanches – Marketing Adviser – A. C. Nielsen School – Pesquisador, Cronista e Articulista 

20 de dezembro de 2012