CHICO PÉ DE OSSO

Por ALEXANDRE RODRIGUES DE CARVALHO | 09/01/2016 | Contos

Conta-se que em certa monta um político conhecido, reconhecido candidato ao governo do estado, em seu angariamento de votos pelas bandas de Moraes Antônio aturdiu-se pela popularidade e sapiência notória de Chico Pé de Osso e ordenou a seus asseclas que com ele agendassem uma prosa.

Ao chegar com sua comitiva às varandas de Chico Pé de Osso, o tal político foi logo disparando seu arsenal de asneiras na tentativa de fazer da mente de Chico, casa cativa de suas ideias. Eis que Chico para de enrolar seu cigarro de palha e sem dar um pio ouve a fuleiragem do dito bendito engravatado.

-É esse um prazer inenarrável, estar aqui na presença do ilustre senhor Francisco, conhecido nesse belo patrimônio de Moraes Antônio por sua sabedoria. Cá estou para me embebedar dessa fonte de conhecimento e poder fazê-lo conhecido por contar suas proezas por todas as paragens que vier a visitar.

Chico então, ao fim da balela, diz com sua voz mansa:

-Óli! O moço de traje fino e sua cambada é muito bem vindo em minha casa, mas tire essa macaúba da boca. Deixe dessa engabelagem de falar rebuscado que aqui ninguém vai entender não. O máximo que vai se achar por aqui é que tá de nó pelas costas.

-É... o senhor me desculpe, senhor Francisco. É força do hábito.

-Tudo bem, o senhor pegue a quartinha e se sirva d´água, dê também à sua cambada que o calor deve tá arretado embaixo desses paletó.

-Muito obrigado, senhor Francisco!

-O Francisco é do santo e o Senhor é Jesus Cristo, só me alcunhe de Chico que já dá o maior dez.

-Tudo bem, senhor Chico... digo, Chico, estou ansioso por seu pitaco. Queria saber o que sabe sobre política, já que como aventam por aí que tu de tudo sabe um pouco.

-Óli! Da política só sei o que dá pra ver, o que fica escondido não tem como saber, só sei dizer que a política é uma coisa feia que nasceu bonita. É uma arte, assim como o teatro e o cordel, só que com ela não se vai pro céu, pois quem inventou suas artimanhas foi o tinhoso pra ajudar o “verminoso” por cacau breado. Nasceu lá pras bandas da Grécia, pra arrumar as cidades-estados e seus cidadãos, mas pra ganhar grana depressa o brasileiro lhe fez mudar de mãos. Hoje a política é a arte de usar a lei pra engabelar a lei, a lei do acordo em que todo mundo se dá bem, menos quem lhes deu esse poder de fazer a lei. A política é a manha de corromper todo mundo, é assim que ela é. Por que o povo vende barato o poder caro pra sua necessidade ou seu mais querer, e deixa o cachorro faminto cuidar do filé do boi. E depois ainda faz salseiro, no desespero, por ficar com o osso da carne que foi, né não?

-É, sim, mas... Interessante o seu colocar, Chico, mas... e dos políticos, o que tem a dizer?

-Óli! O político, pra ser político tem que estar à venda e à compra. Não tem como ser político se se é pudico. Político santo é que nem cabeça de bacalhau, pode até existir, mas aqui, nunca vi. Dá pra juntar político e honesto na mesma frase não. Se juntar dá erro de concordância. É discordância de definição. O político pra ser político tem que ser ladrão.

-O senhor tá me chamando de ladrão?

-Tô não! Tô te chamando de político.

-Oxi, pro senhor não é a mesma coisa?

-Tá vendo, até o senhor concorda.

E assim o candidato que se dizia casto, tirou os calços, com seu magote suado, todo lundum, e depois de eleito, nunca mais se ouviu falar dele por lá, nem por lugar nenhum.