Chamem os ditadores

Por josé maria couto moreira | 26/10/2015 | Política

Chamem os ditadores

                                                        José Maria Couto Moreira* 

         Duas nações que se dizem irmãs, Brasil e Portugal (na verdade, uma é filha da outra), estão cursando a mesma história. Ambas possuem o mesmo DNA político, daí este indicativo para explicar as ocorrências de virtudes e desacertos com que concorrem e se apresentam ao mundo. São os fatos que as comparam.

         O Brasil promoveu uma revolução para corrigir rumos, embora dela se queixem muitos, os partidários da anarquia. A nave estava à deriva, já não se distinguia a autoridade e a ordem. O comando central cambaleava, e a hierarquia se inverteu, uma ameaça séria sombreava nosso futuro. Entanto, no período chamado revolucionário, entre muitas iniciativas de relevante importância, o Planalto deixou notável legado de realizações, entre elas, enfrentou o desafio e construiu Itaipu, a maior hidrelétrica mundial (não se sabe o que seria do Brasil não tivesse esta obra monumental se incorporado à nossa força energética), e, o Rio e Niterói acabaram se unindo por uma passagem estratégica reclamada há quase um século. A ponte Rio-Niterói se inscreve, também, como uma façanha da engenharia nacional, na lista do esforço governativo de então. Tudo transcorreu na normalidade, entregando-se a obra no prazo. Os vinte anos em que o país atravessou sem as sempre ruidosas eleições gerais, realizou a administração, sempre em paz, melhorias em todos os setores da vida nacional. Ao final, os “ditadores” reconduziram o país, com pompa e circunstância, à sua vocação constitucional de administração civil eleita.         Os antirrevolucionários, hoje no poder, são os de ontem, e, ainda, não disseram a que vieram, isto é, estamos aí com a trágica corrupção infernizando a vida nacional (o epicentro é sempre o Palácio do Planalto) e com a inação ou compactuaçãodo Poder Executivo para detê-la.

         Em Portugal, o 25 de abril de 1974 apeou do governo o ínclito e incorruptível estadista Marcelo Caetano, que comandava o país em sucessão a Salazar, e este, porquatro décadas, dedicou-se com reconhecido denodo patriótico à causa portuguesa (agradeceu a Deus a graça de ser pobre, in “Discursos”, pag. 17). Os chamados ditadores, em ambos os países, foram afastados do poder debaixo de juízo cruel da sociedade, porém mais pobres do que quando o alcançaram. Aqui, Figueiredo transmitiu a cátedra com a consciência limpa e os bolsos vazios, vindo a sobreviver com a benemerência de amigos. Em Portugal, onde os “cravos” prometiam um governo limpo, surgiu Mário Soares, um aproveitador, segundo o mais ameno juízo português, e, depois, veio Sócrates, enriquecido no governo, e ainda ontem viveu longa e amarga prisão preventiva, louvada impiedosamente pela população, hoje reduzida a prisão domiciliar rigorosa. A mão que afaga é a mesma que apedreja.Lá, como cá, imperaram os motivos para manutenção da prisão: o perigo de fuga, a possibilidade de continuidade da atividade criminosa e a perturbação da investigação.

         Chamem os ditadores !Eles possuem credenciais superiores de amor à Pátria. Que uma nova História se inicie. Ou contemplemos osfestivos flamboyants rubis, magníficos frutos da primavera,que maravilham nossos dias. 

                                               *Advogado

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