Chagas, nosso nórdico potiguar

Por Edson Terto da Silva | 16/07/2011 | Sociedade


Edson Silva

Não sei se na minha infância criança era mais criança ou se inocência muda de acordo com a época. Esta crônica é para falar de um jogador que só fez sete partidas em Copas do Mundo, não fez gol no mundial, levou um cartão amarelo e dizem até que levou umas "bolachas" do goleiro nervosão, que era Leão até no nome. Trata-se do lateral esquerdo nascido no Rio Grande do Norte, portanto potiguar, Francisco Marinho Chagas, ou simplesmente Marinho Chagas ou "Marinho Lemão".

Já disse algumas vez que nasci em 62, ano que o Brasil foi bicampeão mundial de futebol e a primeira Copa que realmente me lembro ter acompanhado pela TV preto e branco e como televizinho foi em 70, eu tinha oito anos, e fomos tricampeão no México com um time maravilhoso. Não sei se é porque eu era muito criança, mas naquele tempo jogador de Seleção Brasileira era meio que superherói. Não havia ninguém melhor que Pelé, que chutasse mais forte que Rivellino, mas rápido que o furacão Jairzinho ou mais preciso que o canhotinha de ouro Gérson.

E assim crescíamos assistindo jogos dos nossos heróis, os colecionando em álbuns de figurinhas e vendo nossos superheróis em gibis e na TV, era Batman, Superhomem, Homem de Ferro, Capitão América e um dos meus heróis preferidos era o Thor. Mas o Thor de minha infância nada tem a ver com este atual do cinema. Aliás, nos anos 70, a TV apenas adaptou o Thor de revistas, os desenhos eram quase parados, apenas foram coloridos e eram filmagens das revistas, com poucos movimentos, não havia a tecnologia da atualidade. E o que tem a ver o Thor com o Marinho Chagas?

Acredito que nada, exceto pela nossa imaginação infantil. Aos doze anos, em 74, eu comparava a velocidade do "Marinho Lemão" e seus cabelos longos, ao estilo do superherói Thor, ao do próprio Deus do trovão das revistas e desenhos animados. Eu mal sabia que as descidas ao ataque do nosso lateral e assustava os goleiros com seus chutes fortes colocava em polvorosa nossa defesa, que agora não tinha no ataque o contraponto chamado Pelé para virar o jogo em nosso favor, caso a zaga bobeasse.
Resumindo, Marinho Chagas estreou em Copas em 13 de junho de 1974, um insosso 0x0 contra a Iugoslávia e foi titular até o final daquela Copa, onde o Brasil "amargou" só um quarto lugar após duas derrotas consecutivas: 2x0 para a Holanda e 1x0 para a Polônia, que foi o sétimo e último jogo de Chagas em Copas, em 6 de julho de 74. Foi nesta partida que, dizem, Leão agrediu Marinho Chagas, culpando-o pelo gol marcado pelo atacante Lato.

Ah, acho que já entendia de futebol, em 74, pois Chagas foi eleito melhor lateral esquerdo da Copa. Bom fora de campo, nosso herói estava mais para folclórico do que para superherói. Sobre ele existem histórias engraçadas, como não querer comprar rádio no Japão, pois não entenderia nada da programação; se indignar ao ver um túmulo para soldado desconhecido, enquanto havia tanta gente conhecida morta ou não permitir que a esposa tivesse filho na Alemanha para futuramente não ter problema de comunicação com o rebento.

Edson Silva é jornalista em Sumaré

edsonsilvajornalista@yahoo.com.br