Cenário Escolar

Por José Robério de Sousa Almeida | 15/08/2008 | Educação

1.INTRODUÇÃO

O cenário educativo brasileiro atual é alvo de críticas, estudos, inovações, busca de culpados pelas falhas apresentadas pelo sistema. Os pais deixam a responsabilidade total da educação dos filhos nas mãos das escolas, as escolas não se sentem capazes de assumir integralmente a tarefa, os professores se sentem desvalorizados, sem apoio da família e sociedade, os gestores buscam metas meramente estatísticas, etc. Enfim, há que se observar melhor este espetáculo que se mostra a fim de compreendê-lo e interferir sobre ele.

Vejamos algumas cenas que refletem a realidade das escolas:

1.O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como forma de Inclusão digital no mundo globalizado

2.O método pedagógico da Modernidade tentando sobreviver na Pós-modernidade

3.A distância entre o discurso e a prática da Inclusão de pessoas com necessidades educativas especiais (NEE)

A partir de pontos como esses, pode-se levantar uma calorosa discussão sobre a origem do nosso modelo de Educação e compreender porque e como se estabelece, em nossos dias, até chegarmos à conclusão de que se é ou não necessário mudar, e o que se necessita mudar.

1.1Tecnologias de Comunicação e Informação

As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC's) são apresentadas ao mundo escolar como um meio de facilitação do processo de desenvolvimento e aprendizagem do aluno, bem como uma forma de fazer com que cada cidadão possa ser incluído no mundo globalizado, onde todos podem acessar todos os tipos de conhecimento historicamente produzido.

Percebe-se, porém, que as raízes das TICs estão presas a uma forma modernizada de manter o poder sobre a população baseada na visão de que, com o saber, isso é possível. Assim, podemos identificá-las como meio de massificação, o que nos remonta aos totalitarismos.

Os regimes totalitários, surgidos como forma de manter, através da força, o poder da minoria sobre uma maioria, se caracterizava pela organização física de seus "reinos". Havia, no centro, o vigilante – sempre atento a tudo que ocorria ao seu redor. Este "ao redor" era constituído pela população massificada, subordinada à autoridade de um senhor que, por deter o saber, estava no direito de agir com o poder, alguém capaz de elaborar um único plano que atendesse o objetivo geral, descartando as necessidade particulares.

Percebemos, então, nas escolas atualmente, a idéia massificada de um público que jamais teve o saber (idéia inoculada em suas mentes, ou seja, semeada como verdade) e, portanto, se sente incapaz de poder. Neste sentido se manifesta como alheio a todo o horizonte de informações que se eleva diante de si e vêem o momento como mais uma dádiva, um favor da minoria que pode lhes dar como presente aqueles momentos de "descontração", e não de aprendizagem.

Cuidemos também para não cairmos no equívoco de que a utilização e difusão das TICs sejam entendidas como forma de inclusão social, visto que, ao mesmo tempo em que temos tudo ao alcance de todos, podemos concluir que nada está com ninguém. Quer dizer, como todas as informações estão prontas, não há porque persistir na sua compreensão e/ou apreensão, pois estarão sempre ao nosso dispor. Isto nos leva a um estado de amnésia aceitável, onde não temos obrigação de reter o conhecimento porque ele está acessível a quem dele necessitar.

1.2O método

A atitude dos professores que adotam uma postura autoritária, de dominador do momento ensino-aprendizagem, revela a organização vertical da escola como centro de encerro. Nela, o professor é o planejador, executor e avaliador, é o supremo sabedor, detentor da mais viável metodologia aplicável ao momento de estudo.

O professor pode usufruir de sua autoridade para "ditar", mandar fazer silêncio, escrever, estudar para a prova sem, no entanto, dar sinais de objetivos a serem alcançados com suas atitudes. Os alunos, por sua vez, meros espectadores, passivos, obedientes ao seu mestre.

A escola da Modernidade é rica nestas cenas e, a da Pós-modernidade (a que vivemos atualmente) teima em repetir este espetáculo, mesmo percebendo a necessidade de mudança. Fisicamente as escolas atuais seguem a mesma organização estrutural dos centros de encerro da Modernidade. Além da escola, a família, o hospital, a fábrica e o cárcere são esses centros e obedecem à mesma base de construção.

Há divisão de espaço, cuidadosamente planejado. Mas há também divisão do tempo, quando as disciplinas são organizadas em horários pré-estabelecidos, como se a mente do aluno pudesse mudar raciocínio, como se muda a página de um livro ou se movimenta o ponteiro de um relógio. Há divisão também no tempo para estudar, para escrever, para o lazer (recreio), para ler, para ser testado.

Parece que a avaliação não é definida como instrumento de reflexão para melhoria do trabalho docente ou da aprendizagem discente, ou qualquer outra forma de ação dirigida a partir da percepção (da avaliação), mas uma forma autoritária de pressionar os estudantes a realizar tarefas que, por si mesmas, são naturais do meio educativo. É, assim, uma ferramenta de controle através da qual a autoridade do professor permanecerá incontestável.

O professor que é contemporâneo da Pós-modernidade, mas cultivador das estruturações físicas, pedagógicas e mentais de séculos passados, da Modernidade.

1.3Modernidade X Pós-modernidade

A Didática Magna, escrita por Comenius há quase quatro séculos instaurava o Método como responsável pela produtividade da Educação. O bom professor era aquele que detivesse um método capaz de homogeneizar, com espaço de tempo reduzido e quantidade elevada de conhecimento, uma turma de alunos.

Outra característica da Educação influenciada pela visão comeniana é o fato de que, homogeneizando um determinado grupo, é possível fazê-lo ascender a outro nível de trabalho e aprendizagem. É, portanto, gradativo, o sistema de ensino baseado na obra desse autor. Ainda hoje, quatrocentos anos depois, insistimos na necessidade de Homogeneizar e dividir os alunos em Graus de conhecimento.

O tema "Inclusão" ocupa lugar de destaque nas sociedades atuais, como uma forma de superar a opinião de que todos devem aprender a mesma coisa, no mesmo espaço e no mesmo tempo, da mesma forma. Assim, percebe-se um abismo entre o discurso e a prática da inclusão, pois, ao mesmo tempo em que vislumbramos e buscamos dar o direito a todos de ter uma escolarização, exigimos que estes se desenvolvam da mesma forma que os demais, ditos normais.

Incluir pode significar, dessa maneira, excluir. Fisicamente, o portador de necessidades educativas especiais está presente na sala de aula regular, porém, essas mesmas necessidades não são foco de atenção daqueles que lhe prestam o serviço educativo.

Não se pode enunciar ou enumerar culpados por tal situação. A atitude do professor, neste cenário, revela apenas, e simplesmente, sua incapacidade de agir sobre uma realidade nova que se ergue. O sistema educacional tenta superar uma visão profundamente enraizada de negação da infância, de desvalorização do aluno enquanto elemento constituinte e ativo no processo ensino-aprendizagem que remonta à outras épocas.

CONCLUSÃO

A realidade que está exposta em nossos dias continua firmemente enraizada na visão comeniana, onde se busca a homogeneidade dos elementos e o crescimento gradativo dos mesmos. Nossas famílias, nossos, gestores, nossos professores, nossa sociedade esperam da Educação a efetivação dessas duas características. Porém, o mundo mudou, principalmente após a Revolução Industrial e Tecnológica, portanto, os fatores influenciadores não são mais os mesmos, os objetivos dos segmentos escolares e sociais não são mais os mesmos. Então, não se pode atuar da mesma forma. As políticas devem também mudar, a ação pedagógica precisa mudar, o nosso olhar necessita mudar.

REFERÊNCIAS

TELLEZ, M. Repensando la educación em nuestros tiempos: otras miradas, otras voces. Novedades Educativa. Buenos Aires,

DELEUZE, G. Conversaciones. Ed. Minuit: Paris, 1999.

LARROSA, J. Pedagogía profana: Estudios sobre lenguaje, subjetividad, formación. Ed. Novedades Educativas. Buenos Aires, 2000.

ARIÈS, P. El niño y la vida familiar en el antiguo régimen. Taurus ediciones. Madrid, 1987.