Cemitério
Por Helen Bampi | 06/11/2008 | ContosJá se passavam das onze horas da noite quando eu regressava à minha casa. Teria de passar por ruas inacreditavelmente escuras, além de um enorme cemitério, durante meu percurso. Não sei onde encontrava coragem para fazê-lo; e eram quase todas as noites.
Como que por instinto, eu sentia. Havia alguém a perseguir-me. Passos acelerados e fôlego abafado às minhas costas. E eu não teria coragem de olhar para trás.
Até que, quase me arrastando, aproximei-me da rua mais escura. Àquela hora, o medo já me dominava por completo. Estranho, nunca sentia medo. Era conhecida por adorar aventuras, e, conseqüentemente, perigos. Porém, algo me conferia ao medo.
E os passos aumentavam. Passadas rápidas e brutas. Aprecei o meu caminhar igualmente. Queria gritar. Queria fugir. Tão estranha a sensação que sentia.
Olhei para trás. Afinal, adorava perigos. Porém, nada vi. Apenas escuridão e o vento raivoso que insistia em aumentar. Tranqüilizei-me. Mas a sensação de que havia alguém ali estava deixando-me louca. E estava parada em frente ao cemitério naquele exato momento.
Pus-me a observá-lo. Totalmente na penumbra, dando um terrível contraste ao bairro. Se é que poderia chamar aquilo de bairro.
A sensação de que havia, não uma, mas várias pessoas caminhando em minha direção, me arrepiava. Olhei para o relógio. Exatamente meia noite. Eu já deveria, sim, estar em casa. Queria correr, mas meus pés não se moviam.
Uivos e batidas vinham de tumbas, as que se localizavam no final do cemitério. Pude, então, mover-me. A escuridão estava me deixando cega. Luzes claras piscavam em torno daquele cemitério e estavam deixando-me tonta.
Queria entrar, descobrir o que havia ali.
Mas não entraria. Não havia por que. Nada havia ali. Apenas escuridão.
Voltaria tranqüilamente para casa.
Mais uma noite. Como todas as outras.