Células-tronco embrionárias - Geradores de Vida

Por Felora Daliri Sherafat | 12/04/2009 | Sociedade

Hoje existe uma polêmica acerca das pesquisas com células-tronco embrionárias. Os pesquisadores acham que estas células podem abrir perspectivas de cura para doenças e deficiências que até hoje desafiam a medicina e ainda não têm solução. Pelos estudos experimentais realizados em animais já se sabe de sua enorme capacidade terapêutica frente a doenças para as quais já se havia esgotado toda ação curativa, e a de promover a cura de diversas doenças como o câncer, o Mal de Alzeimer e cardiopatias. De outro lado, os defensores de ética consideram que células-tronco embrionárias formam um embrião, portanto, é um ser humano em formação, e é dotado de espírito.

Na visão de médicos pesquisadores "Nos três primeiros dias posteriores à fecundação, o feto não passa de um conjunto de algumas células indiferenciadas – chamado blastocisto – que constitui as células-tronco embrionárias." 1

"Acredita-se que as células-tronco embrionárias, também conhecidas como células-mãe, podem se transformar em qualquer outra célula. São células que possuem a capacidade de se dividir, dando origem a outras células semelhantes – às progenitoras, e de se transformar (num processo também conhecido por diferenciação celular) em outros tecidos do corpo, como ossos, nervos, músculos e sangue. Devido a essa característica, as células-tronco são importantes, principalmente em aplicações terapêuticas, sendo potencialmente úteis em terapias de combate a doenças cardiovasculares, neurodegenerativas, diabetes tipo-1, acidentes vasculares cerebrais, doenças hematológicas, traumas na medula espinhal e nefropatias. O principal objetivo das pesquisas com células-tronco é usá-las para recuperar tecidos danificados por essas doenças e traumas."2

Mas, por outro lado, as normas de bio-segurança ainda não resolvidas, além de questionamentos éticos e religiosos têm limitado bastante as pesquisas neste campo, pois alegam que há a destruição de embriões, prática considerada ilegal em muitos países.

O que se almeja neste momento é um entendimento sobre a questão, uma vez que realmente as células-tronco embrionárias não são extraídas dos embriões propriamente ditos, mas do blastocisto que é o estágio anterior à formação do embrião. Pois, segundo os médicos pesquisadores "somente a partir de uma semana de vida, mais ou menos aos nove dias é que estas células embrionárias começam a diferenciarem-se. Umas viram células sangüíneas, outras cardíacas, outras cerebrais outras musculares e assim por diante. Esta metamorfose é que permite que células geradoras se transformem em feto e finamente em uma criança." Ainda explicam eles que os gêmeos surgem apenas a partir do sétimo dia. "Isso deixa mais evidente que antes do sétimo dia da fecundação ainda não há nenhuma formação humana, ou como os religiosos precisam saber, ainda não há alma humana acoplada a um corpo.

De fato esta abordagem me alegrou, por que vi a chance de utilizar as células-mãe para a cura de muitos males. E não consigo acreditar que os médicos queriam extrair algo de um embrião para este fim, e sim do conjunto de células blastocisto, que ainda não chegou ao estado adequado para receber um espírito.

Na verdade, esta questão não foi abordada em nenhum Livro Sagrado de forma clara. É evidente que no ato de concepção o embrião por intermédio divino é adornado por um espírito, como afirma 'Abd'ul-Bahá (1844 – 1921)3: "No começo da formação do homem no ventre, já existem a mente e o espírito, porém ocultos, sendo que só mais tarde se manifestam."4

Então, toda a polêmica deve ser sobre o momento exato deste encontro, do toque divino na criação do homem, e o esclarecimento deste período do "começo da formação do homem no ventre". A ciência com muito cuidado está tentando desmistificar este fato. Pelas evidências se percebe que o momento exato de aproximação do espírito ao corpo é provavelmente entre o sétimo e o nono dia de gestação, quando através das células-mãe surge a forma humana.

Vale a pena uma pesquisa sobre dois atos distintos fecundação e concepção.  Podemos disser que a fecundação acontece na trompa, enquanto a concepção acontece no útero. Sendo as células-tronco embrionárias são geradas entre primeiro a terceiro dia depois de fecundação, e a concepção acontece no sétimo a nono dia após de fecundação. Sendo assim as pesquisas com as células-tronco embrionárias não estão ferindo a ética religiosa por que não há a destruição de embriões e sim um grupo de células prontos para receber o espírito e se torna num embrião.

Considerando que o campo da ciência é nada mais que "os mistérios do mundo físico" a serem desvendados pelo homem, e o da Religião (as palavras reveladas por Deus) nada mais que "os mistérios do mundo espiritual," quando não há nada escrita nos Livros Sagrados sobre uma questão seria mais prudente não criar uma lei imaginária, e sim apelar à ciência para ver e descobrir os aspectos obscuros da questão, e aproveitar a real capacidade dos cientistas que podem esclarecer os pontos não tratados nas Revelações Divinas.

Segundo Dr. J. E. Esslemont (1874 – 1925) "a verdade é uma só e, sempre que surge o conflito, não é devido à verdade, mas ao erro. Entre a assim chamada ciência e a assim chamada religião tem havido violentos conflitos através de todas as eras, mas revendo esses conflitos à luz da mais ampla verdade, podemos identificar sempre sua origem na ignorância, preconceito, vaidade, cobiça, estreiteza de visão, intolerância, obstinação ou coisa semelhante - algo alheio ao verdadeiro espírito da ciência como ao da religião, pois o espírito de ambas é um só."5

De fato, a história da humanidade mostra muitas situações paralelas. Por exemplo, o cientistas Muhammad Al-Biruni 6(973–1048) além de calcular o diâmetro da Terra tinha provado que ela gira em torno do Sol, mas, a humanidade não teve a chance de aproveitar esta grandiosa descoberta, logo por que certas doutrinas não a aceitavam. Somente 600 anos depois, este fato foi publicamente estabelecido com a persistência de Galileu (1564–1642)

E 'Abdu'l-Bahá afirma que: "Tudo que a inteligência do homem não possa compreender, a religião não deve aceitar. A religião e a ciência andam de mãos dadas e qualquer religião contrária à ciência não é verdadeira."7

O que este artigo sugere é permitir uma ampla pesquisa sobre o tema, para que uma proibição arbitraria não cause atrasos e danos ao curso de desenvolvimento da ciência, e da arte de cura.

Felora Daliri Sherafat

Aracaju, 25/10/2007

1-Dr. Marco Cavalcanti, Diretor científico da Clinica Reprodução Humana, é formado em Medicina Reprodutiva pelo South Florida Institute for Reproductive Medicine - USA.

2-Conforme descoberta de pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Wake Forest, no estado norte-americano da Carolina do Norte, noticiada pela imprensa mundial nos primeirosdias de 2007.

3-'Abdu'l-Bahá é uma das Figuras Centrais da Fé Bahá'í. Por todo o Ocidente e Oriente, 'Abdu'l-Bahá é conhecido como um embaixador da paz, um campeão da justiça e o expoente maior de uma nova Fé. Autor de diversos livros abordando temas sociais, cientificas e espirituais: Alicerces da Unidade Mundial, Epístola ao Dr. Auguste Forel, Epístolas do Plano Divino, O Segredo da Civilização Divina, Narrativa de um Viajante, Palestras de 'Abdu'l-Bahá - 1911, Palestras de 'Abdu'l-Bahá Londres - 1911, Respostas a Algumas Perguntas, A Promulgação da Paz Universal, Tributo aos Fiéis e outros

4-'Abdu'l-Bahá, Esplendor da Verdade, Editora Bahá'í, Rio de Janeiro, 1986.

5-Dr. John Esslemont, Bahá'u'lláh e a Nova Era, Editora Bahá'í, Rio de Janeiro, 1984.

6-Muhammad Al-Biruni (973 d.C.) é considerado um dos maiores cientistas de todos os tempo, e um dos estudiosos muçulmanos que caracterizam a Idade de Ouro da Ciência Islâmica. Muitos séculos antes do resto do mundo, já Al-Biruni defendia que a terra rodava sobre o seu próprio eixo e calculava precisamente latitudes e longitudes. Al-Biruni relatou a sua observação do eclipse solar de 8 de Abril de 1019 e do eclipse lunar de 17 de Setembro de 1019.

7-Palestras de 'Abdu'l-Bahá – Paris, Editora Bahá'í, Rio de Janeiro,1991.