Cegos na Escuridão: A Estética da Cegueira em Debate

Por Gabriel Marchetto | 10/12/2016 | Literatura

 Peixoto (1992) inicia seu texto comentando acerca dos filmes mudos, os quais eram dotados de um profundo silêncio e raramente ouvia-se um ruído de alguma música no fundo, o autor argumenta que as figuras em preto e branco de tais filmes emanavam naturalidade e realidade, o que contrasta muito com as imagens que vemos no cinema contemporâneo, as quais não deixam muito espaço para interpretações, são "imagens prontas e a finalizadas em si mesmas" como disseram os vários cineastas presentes no documentário "Janela da Alma", dos diretores brasileiros João Jardim e Walter Carvalho.
A grande maioria das imagens que vemos, atualmente, tentam incansavelmente nos vender alguma coisa, seja algum produto ou alguma ideia. O apelo mercadológico carrega as imagens de nosso cotidiano, tanto que acabamos ficando cegos para as coisas simples, as imagens simples de nossa vida, as quais acabam passando despercebidas diante de tanta movimentação e tumulto. O documentário de João Jardim e Walter Carvalho se dispôs a discutir a visão e seu valor em nossa sociedade, apresentando personagens cegos e também cineastas que possuíam visões diferenciadas do que realmente era "enxergar" no mundo em que vivemos.
A própria escolha do título do documentário é algo passível de inúmeras interpretações, pois os olhos são conhecidos comumente como a janela da alma, mas alguns autores no documentário comentam a respeito dessa expressão, ao afirmarem que uma janela parece ser algo passivo, algo que está ali recebendo luz e estímulos externos inertemente, portanto comenta-se que nossos olhos acabam realizando esta mesma função da janela, pois recebemos tantos estímulos e somos expostos a tantas imagens e vídeos que nossos olhos acabam atuando como janelas, apenas recebendo apaticamente tudo o que lhe é projetado.
No filme "dançando no escuro" dirigido pelo diretor dinamarquês Lars von Trier, somos apresentados a Selma, uma imigrante tcheca que se mudou para os Estados Unidos em busca de melhores oportunidades para si mesma e principalmente para seu filho Gene. No entanto, logo no início do filme percebemos que Selma está perdendo sua visão por conta de uma doença genética, o que também acontecerá com seu filho. Porém, a condição de cegueira de Selma e seu filho pode ser revertida com uma intervenção médica, mas a cirurgia é demasiadamente cara e Selma trabalha noite e dia para juntar dinheiro com o intuito de pagar a cirurgia de seu filho.

[...]

Artigo completo: