CDXCV – “O ENTRA E SAI GOVERNO E OS DELEGADOS MARILISA, NATAL E PEDRO: SERÁ QUE MAIS UMA VEZ PERDERAM O BONDE DA HISTÓRIA?”
Por Felipe Genovez | 05/07/2018 | HistóriaPROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Data: 09.11.2010, horário: 12:30 horas:
Estava chegando no Restaurante “De Itália” (acho que esse é o nome), localizado no centro da cidade de Chapecó quando recebi um telefonema do Delegado Natal querendo saber se iríamos nos encontrar para almoçarmos juntos. Estava ansioso para conversar pessoalmente com Natal, porém, como tinha que ir até São Lourenço do Oeste naquela tarde para ouvir mais duas testemunhas achei melhor acertar nosso encontro para logo mais à noite.
Horário: 13:20 horas – “O telefonema da Delegada Marilisa”:
Enquanto abastecia a viatura na cidade de Chapecó recebi uma ligação da Delegada Marilisa Bohem de Joinville querendo minha opinião sobre o projeto da “Carreira Jurídica” que virou manchete em algum jornal (imaginei “A Notícia”) daquela cidade. Reiterei minha opinião argumentando que assim como a “PEC” da Delegada Sonéa havia virado “pó”, além de ter se constituído um discurso da Presidente da Adepol/SC, agora tínhamos o seu substituto naquela entidade, no caso o Delegado “Renatão”, juntamente com os Delegados André Mendes (SSP), Ademir Serafim e Maurício Eskudlark que davam a impressão que queriam criar um “factóide” para empurar o tempo com a barriga, ou melhor ganhar tempo e mais uma vez “encantar” principalmente os Delegados novos e os mais ingênuos com esse “discurso”. Marilisa permaneceu me ouvindo, porém, às vezes me interrompia para fazer algum comentário, chegando a dizer:
- “Os Delegados aqui querem formar uma opinião, estão me questionando e eu telefonei hoje para o ‘doutor Renato’ e ele me disse que o nosso projeto da ‘carreira jurídica’ é independente, não tem nada haver com o dos Oficiais da PM. O ‘Renato’ disse que com o nosso projeto nós vamos poder pedir coisas só para nós, que não tem nada ver com o da PM porque são coisas diferentes, estão separados...”.
Enquanto Marilisa relatava a conversa com o Presidente da Adepol, Delegado “Renatão”, ficava a impressão que tinha mais uma vítima da “lavagem cerebral” que andavam fazendo por todo o Estado. Aproveitei para jogar um balde de água fria, contendo minha raiva:
- “Mas meu Deus, Marilisa, eu já te disse, esse negócio de ‘carreira jurídica’ é um ovo da serpente, é pura enganação, estão querendo mais uma vez enganar os Delegados, como a Sonéa fez com aquela ‘PEC’ lá em Brasilia, lembra? Bom, passou o tempo, ela saiu da Adepol pela porta dos fundos, o marido dela levou uma rasteira, não deram a Secretaria de Segurança, e aí criaram o ‘Renatão’ que agora também parece que quer ganhar tempo, passar o tempo, levar todo mundo na conversa com esse ‘factóide’ da ‘carreira jurídica’ sabendo que vai continuar tudo igual, o governo se der alguma coisa para os Delegados terá que dar também para os Oficiais da PM, isso é certo...”.
Marilisa me interrompeu:
- “Quer dizer que na tua opinião esse projeto da ‘carreira jurídica’ não é bom para nós? Eu tenha que conversar com os Delegados aqui em Joinville...”.
Interrompi:
- “Marilisa, o melhor a fazer é a gente não se meter, pois daqui a pouco vamos virar ‘bodes-expiatórios’, se alguma coisa der errada... Então, já que nossos ‘iluminados’ estão apostando nesse projeto vamos deixar as coisas andarem nesse sentido, muito embora tu saibas muito bem que eu defendo o projeto da ‘Procuradoria-Geral’. Na minha opinião nós temos que cair fora, deixar de ser ‘boi-de-piranha’...”.
Marilisa se despediu agradecendo meus conselhos.
Horário: 21:40 horas – “O encontro com o Delegado Natal”:
Conforme acertado previamente, me encontrei com Natal na “Pasteka” (Pastelaria) na Avenida principal de Chapecó. Era uma noite gelada e atípica, com uma chuva fina... Logo que estacionei o Logan Branco (Renault) avistei meu amigo sentado junto a uma mesa na parte da frente da lanchonete. Natal estava trajando uma jaqueta jeans desbotada e pude perceber que apresentava o rosto inchado, os cabelos grisalhos sem pintura, sem esconder sua idade, quase um “setentão”. Logo que sentei Natal foi falando da sua saúde e reiterando o que já tinha me dito por telefone:
- “Tu ficas à vontade, podes comer, eu já comi um pratão de salada lá em casa, oh, louco, sabes que engordei doze quilos, pulei para cento..., aí não dá, entrei no regime dos treze dias...”.
Pude perceber que Natal estava apresentando sinais da idade avançada, mais parecendo um “vovozão”, muito embora sem perder o seu lado guerreiro com um misto de hilário e cáustico, além dos sinais de cansaço. Perguntei para Natal como era que estavam as expectativas de mudanças, relatando as conversas na parte da manhã com os Delegados Pretto e Tatiana na DRP. Natal fez alguns comentários:
- “A conversa aqui é que o Alex vai ser o Diretor de Polícia do Interior, eles estão criando várias Diretorias do Interior no Estado e uma delas vai ser aqui em Chapecó. O Alex é o candidato. Bom, também se comenta muito que o Maurício vai ser o Secretário de Segurança. Olha, Felipe, eu prefiro essa menina Tatiana aqui na ‘Regional’ do que o Alex, ah, não tenhas dúvidas, essa Delegada aí, pelo menos para mim, é muito boa, eu gosto dela...”.
Interrompi para fazer a mesma pergunta que já tinha feito para os Delegados Pretto e Tatiana na parte da manhã:
- “Mas Natal eu não estou entendendo, quem é que está fazendo esses projetos para o Colombo? Pelo o que eu tenho conhecimento quem é forte com o novo governador é o Julio Teixeira, não é?”
Natal me interrompeu:
- “É o Toigo, tu precisas ver como esse cara continua dando as cartas, imagina, depois de tudo o que ele aprontou, continua mandando...”.
Fiquei impressionado com esse comentário e argumentei com certa dose de energia:
- “O Toigo? Tais brincando, fala sério, mas ele tem raízes em Lages, na terra do Colombo...”.
Natal insistiu:
- “Sim, é o Toigo, não sei como...”.
Reiterei que Toigo era de Lages e deveria conhecer o futuro Governador Colombo daquela cidade, então, daí poder fazer sentido aquela informação. Natal voltou a comentar:
- “Esse Toigo aí não é burro não, olha, o cara é ligeiro...”.
Relatei para Natal a conversa que tive com a Delegada Marilisa pelo telefone e, acabamos conversando sobre o projeto “carreira jurídica” da Adepol. Argumentei que o projeto “Procuradoria-Geral de Polícia” era o que deveria estar em discussão, porém, os Delegados estavam totalmente a mercê do Delegado “Renatão” e da Adepol, além da omissão dos Delegados Maurício Eskudlark, André Mendes da Silveira e Ademir Serafim. Na sequência, relembrei os tempos do Delegado Bado no comando da Polícia Civil (1987 – 1989). Natal lembrou que Bado era da sua turma de Delegados e que no ano de 1987 esteve na antiga Superintendência da Polícia Civil para conversar com o mesmo (eu o conduzi até o Chefe de Polícia), e foi recebido muito mal, que jamais esqueceu o tratamento que havia recebido naquela ocasião. Interrompi para fazer uma revelação:
- “Natal, depois daquele encontro eu conversei com o ‘Bado’ e ele me questionou como é que eu era teu amigo se tu estavas envolvido com um ‘bicheiro’ de Chapecó? Ele citou o nome do ‘Belei’ e disse que esse cara estava dando dinheiro para ti, pagando as tuas despesas de viagens...”.
Natal, meio sem jeito, respondeu:
- “Felipe, eu aproveitei para fazer uma viagem de carona para Florianópolis com o ‘Belei’, conhecia ele aqui da cidade há muitos anos, mas nunca tive nada com o cara , só que quando fui almoçar com ele num restaurante lá em Florianópolis, foi lá no Candeias, encontrei o Eloi (Delegado aposentado) e mais alguns policiais que também estavam almoçando e fiz a apresentação dele. O Eloi sempre foi meu amigo, então eu duvido que tenha sido ele..., mas alguém aproveitou a ocasião para levar quentinho...”.
Interrompi:
- “Bom, alguém que viu vocês juntos lá levou a informação quentinha para ‘Bado’, a não ser que o Eloi comentou com alguém que levou quentinho, aproveitando para se promover...”.
(...)”.
Data: 10.11.2012, horário: 11:45 horas:
Estava de passagem pela Delegacia de Cunha Porã, tinha acabado de ouvir uma testemunha e fui conversar com o Delegado Pedro Wandrofski que estava tomando chimarrão. No trajeto fiquei pensando: “Ontem foi o Delegado Pretto, depois o Natal e agora é a vez dessa figura que mais parece saído de um ‘gibi’. Pedro mais parecia um autêntico descendente dos povos germânicos (apesar do sobrenome), aparentando uns cinquenta anos, óculos de grau moderno, loiro, pele do rosto meio envelhecida, mais ou menos um metro de setenta e cinco de altura, magro... Logo de início já percebi que era uma pessoa focada na “apresentação”, parecia observar atentamente os detalhes enquanto sorvia o mate... Durante nossa conversa pude perceber que se preocupava em mostrar as reformas do prédio da sua repartição, os novos móveis, computadores... Chegava a parecer obstinado em arrumar bens sob sua tutela. Enquanto percorria as dependências da Delegacia procurei articular com dificuldade algumas ideias:
- “Claro que o micro é muito importante, mas temos que ter uma visão macro da instituição. Tudo deve começar por cuidados com o nosso local de trabalho, depois...”.
Perguntei se Cunha Porã estava subordinada à ‘DRP’ de Chapecó ou à São Miguel do Oeste e ele confirmou a segunda opção. Lamentei que não haveria mais possibilidade de contato com a Delegada Tatiana. Durante nossa conversa soube que o Delegado Pedro tinha sido Agente Prisional e ingressou na Polícia Civil no ano de 2006. A impressão era que o meu interlocutor parecia ser uma pessoa difícil de ser acessada, mesmo assim, fiz um relato sobre o projeto da “Procuradoria-Geral de Polícia” e ele deu a impressão que havia gostado, perguntando se eu já havia colocado na rede essa proposta:
- “A gente aqui no interior está abandonada, não sabe nada do que está acontecendo, mais eu acho que deveria colocar isso na rede, nunca tinha pensado sobre essas coisas, é a primeira vez, muito interessante. Eu sou muito político, atualmente o Prefeito aqui é do PSDB, então eu estou conseguindo tudo, a Prefeitura está ajudando sempre. Eu aqui trabalhei para o ‘Benedet’, arranjei uns votos para ele. O Benedet sempre me liga, outro dia me ligou agradecendo os votos. Lá em São Miguel está tendo uma briga pela ‘Regional’, o Stang quer, mas o ‘Casagrande’ também quer. O Casagrande, não sei se conhece ele, é articulador e quer por que quer a ‘Regional’, tem articulado muito, acho que o Stang se não se cuidar. Eu gosto do Stang...”.
Interrompi:
- “Então, o Stang conhece os meus projetos, quando tu conversares com ele pergunte. Eu não sei como é que o Stang não comentou esse meu projeto com os Degados aqui da região...?”
Depois disso, fiz alguns relatos sobre projetos que fiz para a instituição, em especial, a estrutura jurídica por entrâncias... e lamentei que no governo Luiz Henrique tivemos retrocessos..., perdemos definitivamente a Polícia Científica, isso foi na gestão do Delegado Thomé, mas antes já havíamos perdido a Corregedoria-Geral de Polícia... Pedro me interrompeu para fazer uma revelação:
- “O Thomé foi meu professor no curso de pós-graduação..., eu me dou bem com ele...”.
Interrompi:
- “Então, esse pessoal que fez planos para o Luiz Henrique acabou pisando na bola feio, tudo em nome do poder, depois caiu, mas como sempre, hoje circula por aí, eles dão aulas, fazem de conta que não têm nada com isso , que está tudo muito bem e o problema é que sempre foi assim com muitas gestões, o pessoal acaba deixando o seu legado e quando muda de governo saem numa boa e, ainda, passam a criticar os que entram, e o ciclo se repete...”.
Pedro me interrompeu para fazer um comentário que poderia parecer uma piada:
- “Eu conversava com o T. e ele falava muito bem do ‘Blasi’, secretário de Segurança na época dele. Ele só dizia que o ‘Blasi’ tinha um defeito, era muito m...”.
Interrompi:
- “Ah, sim, mas imagina, na época do ‘Blasi’, o T., a S., o N. e o A. L. fizeram projetos para o governo na área de Segurança e deu no que deu... , agora vem o processo natural com o novo e o esquecimento do velho, a falta de memória... , o pessoal busca cargos, o poder, sem resistirem, se integram as equipes do governo e são fieis a eles, não à instituição... No caso do ‘Blasi’ o duro foi que ele mandou aqueles projetos para frente lá no ano de 2003, não fizeram nada para impedir...”.
Finalizei falando do momento atual, com os “quatro” amigões do governador Pavan e formulei o seguinte questionamento:
- “Bom, vamos ver o que esses ‘amigões’ do governador Pavan vão conquistar para a instituição, já estamos chegando no final e eles estão apostando na ‘carreira jurídica’, um erro histórico. Depois disso, vai acontecer como outros ex-Delegados-Gerais e seus seguidores, fazem um monte de ‘c.’, deixam os cargos e voltam a circular entre nós como se não soubessem de nada..., e já que nosso pessoal tem memória curta, ninguém fica sabendo de nada, desconhecem a nossa história...”.
Horário: 16:13 horas – “O contato com a Delegada Marilisa”:
Tinha retornando da cidade de Pinhalzinho e estava abastecendo a viatura na cidade de Chapecó. Enquanto aguardava que os trabalhos correcionais fossem consumados aproveitei para ligar para a Delegada Marilisa. Logo que ela atendeu perguntei se havia conversado com o Delegado ‘Renatão’. Marilisa respondeu afirmativamente e que o Presidente da Adepol havia informado que tinha entrado em contato com o Deputado Elizeu Matos, líder do governo/PMDB na Assembleia Legislativa, que avisou que o projeto da ‘Carreira jurídica’ não seria aprovado em hipótese alguma, inclusive, que daria parecer contra. Aproveitei para argumentar:
- “Bom, Marilisa, se não for aprovado é melhor para nós, isso é um verdadeiro ‘ovo da serpente’, estão desviando o foco, eles não querem tratar dos assuntos relevantes e vem como esse tipo de ‘projeto’ tupiniquim. Eu entreguei o projeto da ‘Procuradoria-Geral de Polícia’ para eles e até agora nada ...”.
Terminei a conversa com Marilisa que concordou mais uma vez com meus argumentos.