CDXCIII – “AS BENESSES E OS RIGORES DAS LEIS: OS ‘CENÁRIOS POLICIALESCOS’, AS FUTRICAGENS SEM NEXO E A POBREZA DOS ESPÍRITOS”.
Por Felipe Genovez | 04/07/2018 | HistóriaPROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA
Data: 08.11.2010, horário: 11:40 horas:
Estava na Delegacia Regional de Joinville e tinha acabado de ouvir o Delegado Wanderson Joana numa sindicância instrutória que apurava um acidente de trânsito na Comarca de Pinhalzinho envolvendo o Agente Luciano de Araújo. Antes da audiência tinha brincado com minha querida secretária e dito:
- “Será que este Delegado Wanderson trabalhou no ‘Rambo’?”
A secretária replicou:
- “Como é que é?”
Ela dava a impressão que não havia entendido, porém, o fato era que conhecendo Wanderson pessoalmente ficou aquele gosto de “esperança” no ar, ou de que “nem tudo estava perdido”. Esse Delegado – a exemplo de Sobreira e Rubens Passos – também demonstrava intuição, sabedoria, maturidade, idealismo, visão, doutrina, interesse..., além de “vestir a camisa” da instituição. Num determinado momento meu interlocutor relatou que quando estava em Pinhalzinho (janeiro/2008 a abril de 2010) encaminhou duas ou três denúncias contra o policial Luciano para que fossem apuradas irregularidades, dentre as quais “peculato” (utilizou o cartão de abastecimento no seu carro particular e em um ou dois outros casos...), só que não teve resposta, aliás, relatou que o Delegado Marcel Marcelino de Chapecó havia presidido uma sindicância preliminar que não deu em nada, ou não sabe se deu...
Wanderson confidenciou que no seu entendimento houve “panos quentes” nos casos, haja vista o interesse político, ou seja, Luciano trabalhou nas eleições para o candidato “M. E.”... Também, registrou que havia procurado o Promotor de Justiça Guilherme de Pinhalzinho e colocou à par dos fatos envolvendo as denúncias, mas..., em razão disso argumentei:
- “É, existem também ‘Promotores’ e ‘Promotores’...”.
Wanderson intercedeu:
- “Eu fiz uma boa amizade com o Guilherme, é uma pessoa muito boa...”.
Fiquei mais tranquilo e acabei relatando a sindicância que presidi contra o Delegado Lauro Langer de Itaiópolis no ano anterior, ou seja, o Delegado-Geral não havia concordado com o relatório final que opinou pelo arquivamento e mandou para que a Corregedoria continuasse as investigações... Argumentei que havia sido designado para continuar no caso e depois das investigações cuja conclusão foi que o Delegado Lauro não deveria ser punido com sanção disciplinar, entretanto, teria que pagar os danos causados na viatura que teve perda total em razão do acidente de trânsito ocorrido na cidade de Rio Negro/PR, quando era o motorista...
Wanderson acompanhou meu relato:
- “Bom, moral da história, passado algum tempo em voltei a Mafra e encontrei o Delegado Lauro respondendo pela Delegacia Regional... Logo que ele me viu foi advertindo: “Genovez, eu votei em ti para Deputado Federal, eu não sei se tu lembras? Eu voltei em ti e olha o que você me aprontou? Você mandou me ferrar naquela sindicância, quer dizer que você mandou eu pagar a viatura, heim?’”
Wanderson me interrompeu:
- “Mexeu no bolso...”.
Continuei:
- “Sim, mas sabe o que ele me falou? Ele deu um ‘tapinha’ no meu ombro e disse: ‘Mas não tem problema não, eu já acertei com o Maurício, ele desconsiderou o teu relatório, mandou arquivar aquela sindicância. Ah, vou trabalhar na campanha dele para Deputado Estadual, e agora estou aqui respondendo pela ‘Regional’, não tem problema não, Genovez...!”
Wanderson me fitou, deixou escapar um sorriso com um quê de lacônico e argumentou:
- “Quer dizer que primeiro... Bom, ainda bem que existe pessoas como você na instituição...”.
Depois disso, relatei para Wanderson meu projeto de criação da “Procuradoria-Geral de Polícia” e ele me surpreendeu:
- “Sim, outro dia o seu nome foi citado na rede, um Delegado escreveu sobre o seu projeto...”.
Aproveitei para completar:
- “O Projeto da Procuradoria-Geral e o complemento do meu projeto de ‘entrâncias’ que apresentei no ano de 1992 e que hoje está consumado. Quando apresentei o sistema de entrâncias para os Delegados ficou faltando uma instituição forte, o segundo grau na carreira, e justamente é a Procuradoria-Geral de Polícia, o segundo grau na carreira... Agora, na minha visão a proposta de criação da ‘carreira jurídica’ é pura falácia, enganação..., como na época da ‘Sonéa’ com a tal ‘Pec’... Bom, hoje nós temos quatro personagens fortíssimos no governo, os Delegados Maurício Eskudlark e Ademir Serafim, o André Mendes que também é Delegado e Secretário de Segurança e o ‘Renatão’ que é o nosso Presidente da Adepol/SC. E, olha só, o que eles estão legando para nós com toda essa amizade com o Governador Pavan? Sim, ‘a carreira jurídica’, o que penso que é só para nos iludir...”.
Wanderson me interrompeu:
- “Com Oficiais da PM, do Corpo de Bombeiros, todo mundo junto, aí não tem condições...”.
Interrompi:
- “Nós só temos uma saída, deixarmos a Secretaria da Segurança e criarmos um órgão forte... Eu tenha saído por aí difundindo esse projeto há quase dez anos, quisera que eu tivesse a força política que tinha no início da década de noventa quando apresentei o projeto das ‘entrâncias’ que mudou muita coisa no nosso cenário, inclusive, pôs fim aos militares que respondiam por Delegacias de Polícia...”.
Wanderson me interrompeu:
- “Sei, sei, como no Paraná ainda é, lá tem os Delegados ‘calça-curtas’”.
Continuei:
- “Sim, antes da lei complementar cinquenta e cinco de noventa e dois aqui também era assim, depois com o sistema de entrâncias isso mudou, olha só a evolução, aqui em Santa Catarina era como ainda é no Paraná...”.
Wanderson que veio do Estado de São Paulo onde era policial civil e chegou a ser nomeado (no ano de 2008) para o cargo de Delegado de Polícia pareceu surpreso com as informações e reiterou:
- “Ainda bem que existe pessoas como você, assim a gente vê uma luz no final do túnel...”.
Seguimos para o estacionamento conversando sobre esse assunto e pedi que Wanderson divulgasse as nossas ideias argumentando que a missão era que nós, os antigos, deixássemos uma instituição melhor do que encontramos para os “novos”, como ele. Não sei por que, acabei recordando do Delegado Gentil (aposentado), aquele que passou pela instituição... e do Delegado Jorge Xavier (ex-Delegado-Geral e, também, aposentado), sem nada a dizer..., só lamentar, quanto tempo perdido, quanta pobreza de espírito, quantos retrocessos, quantas “futricas” sem nexo, podridão, pequenez... ”, mas como queremos um mundo melhor para todos, apesar das adversidades...