CDLXXXI – “CORREGEDORIAS AUTÔNOMAS?  ASSEMBLEIA-GERAL? O QUE PENSAM OS DELEGADOS MAURÍCIO ESKUDLARK E ADEMIR SERAFIM?”

Por Felipe Genovez | 24/06/2018 | História

PROJETO DE UNIFICAÇÃO DOS COMANDOS DAS POLÍCIAS NO ESTADO DE SANTA CATARINA

Data: 23.11.2007, horário: 12:00 horas:

Estava na Delegacia Regional de Polícia de Balneário Camboriú e tinha acabado de ouvir o Delegado André de Oliveira (da Central de Polícia). Nesse momento, para a nossa surpresa, eis que entrou na sala o Delegado-Geral Maurício Eskudlark que estava trajando uma roupa esportiva. Logo que Maurício entrou na nossa sala eu fui me levantando, e ele se dirigiu primeiramente para cumprimentar o Delegado André. Depois, me cumprimentou, procurando conversar mais com André, dando a impressão que se tratava de um Delegado muito importante e das suas relações, desde á época que era o Delegado Regional daquela cidade... (foi o que eu pensei).  Maurício enquanto cumprimentava os presentes foi dizendo:

- “Vocês me desculpem o meu estado, mas é que eu nas sextas-feiras gosto de vir aqui ver como é que estão as coisas, então vocês me desculpem eu estar assim...”.

Interrompi:

- “Mas você não é disso!”

Maurício ficou me observando com um olhar como se quisesse entender o que eu estava dizendo, mas nada mais foi dito e assim nos retiramos do local, sendo que André e Maurício na frente. A leitura que fiz foi que Maurício, André, Ademir, Beber e, talvez, Magali fossem todos almoçar juntos, confraternizar, trocar figurinhas, com a presença de algum político. Juro que fiquei curioso e imaginando o local desse possível encontro, os assuntos que seriam tratados, quem seriam as outras pessoas presentes e pensei: “Que ‘m.’ de Corregedoria nós temos, em que ‘Corregedoria’ nós trabalhamos, talvez seja por isso que os Delegados-Gerais querem uma “Corregedoria” de “cabide”, com policiais designados, sem estabilidade e prerrogativas, devendo favores, totalmente a mercê da cúpula e dos governos...  e, ainda, tendo que brigar por ‘diárias’, viaturas para viajar, tudo sob um controle velado, sob olhares atentos de quem decide...”.

Horário: 14:00 horas:

Retornamos do almoço para a Delegacia Regional de Balneário Camboriú, pronto para ouvir o Delegado Hélcio Ferreira. Antes de começar a audiência conversamos sobre a situação da Polícia Civil e o encontro dos Delegados no dia 30.11.07, coincidentemente com uma reunião administrativa da cúpula da Polícia Civil em São Miguel do Oeste, região do Delegado-Geral Maurício Eskudlark, quando seriam decididas as movimentações dos Delegados decorrentes das promoções. Hélcio comentou que iria ao encontro e estava curioso para saber do que  iriam tratar e chegou a me perguntar se a ‘Pec 549’ iria realmente ser aprovada... Procurei relatar a “minha verdade”, argumentando que se um dia ela viesse ser aprovada nós teríamos um longo caminho pela frente, talvez tivéssemos que esperar dez, quinze, vinte ou trinta anos...No final comentei que era um cético sobre o assunto e não acreditava na aprovação da matéria. Hélcio acabou concordando...

Horário: 15:30 horas:

Resolvi dar uma chegada até o gabinete do Delegado Regional de Balneário Camboriú, discípulo ferrenho e substituto de Maurício Eskudlark naquele cargo, Ademir Serafim que me recebeu prontamente e com atenção integral, fazendo me sentir muito importante. Logo de início foi relatando que em homenagem a meus artigos sobre história da Segurança Pública, foram extraídas informações de um trabalho que publiquei para ilustrar o novo “site” da Polícia Civil. Argumentei que havia informações que precisavam ser revistas e que já havia preparado um outro histórico bem mais completo, haja vista que algumas informações não estavam cem por cento corretas e precisavam ser melhor explicitadas. Acertei com Ademir Serafim que encaminharia para ele o material para correção. Durante a conversa, procurei focar o principal, dizendo que todo mundo sabia que ele era uma das pessoas que formava opinião junto a cúpula, em especial, perante a Maurício Eskudlak que não tinha muito tempo para pensar em polícia, ou seja, a maior parte de seu tempo era para viajar, fazer contatos e tratar de política, se encontrar com políticos... Ademir defendeu Maurício, dizendo que se surpreendia com sua capacidade de receber tanta “porrada” de todos os lados e agüentar  tudo sozinho...  Concordei que essa era uma virtude de Maurício, ou seja, não se sabe da parte dele qualquer ato de vingança, se bem que eu sofri um revés inesquecível naquele seu parecer no Conselho Superior da Polícia Civil, já que na condição de relator foi contra o gozo das minhas férias atrasadas e, ainda, colocou empecilhos para que usufruísse minhas licenças-prêmios, tudo para não entrar em contraposição ao Delegado-Geral da época... Aproveitei para falar da importância dos Delegados se organizarem e preparar alguma coisa de importância para quando o Vice-Governador Leonelo Pavan, amigo dele, de Maurício Eskudlark... viesse assumir o governo do Estado. Ademir ouviu atentamente meu relato:

- “Ademir, é importante que a gente prepare uma proposta para colocar nas mãos do Leonel Pavan, o cara vai chegar ao governo do Estado. Vai ser uma chance única, pois o próximo governador poderá ser o Amim, Ângela ou talvez o Raimundo Colombo...”.

Relatei a importância de difundirmos uma proposta de emenda constitucional e fazer contatos com Leonel Pavan para que o mesmo viesse assumir esse compromisso conosco. Citei que naquele contexto estávamos condenados a uma situação salarial terrível e sem expectativas de resgatarmos um tratamento remuneratório condizente com as carreiras jurídicas. Ademir achou a ideia importante e argumentou:

- “Bom, é uma ideia boa, mas isso ainda depende da preparação de uma proposta de ‘Pec’, vai demorar tempo...”.

Interrompi:

- “Tu tens ‘USB’ aqui no teu computador?”

Ademir ficou me olhando como se não entendesse o que eu estava querendo dizer ou fazer, que linguagem seria aquela, pois dei um corte muito radical. Procurei explicar e puxei meu “pendrive”, fui para o computador e mandei imprimir um arguivo. Ademir pegou o material impresso e ficou lendo na minha frente, deixando escapar algumas frases:

- Hummm, “Procuradoria-Geral, é? Procurador é...?”

Fui explicando que era uma ideia antiga se criar a “Procuradoria-Geral de Polícia” subordinada diretamente ao governador do Estado, já que existiam as Procuradorias do Estado e de Justiça nessa condição. Ademir fez uma consideração pessimista:

- “É muito difícil aprovar uma coisa dessas, é muito difícil...”.

Interrompi para dizer que tínhamos que pensar grande. Fiz um relato sobre a história da aprovação do sistema de entrâncias para os Delegados na lei complementar cinquenta e cinco, também, do fim dos “Delegados calças-curtas” (pessoas estranhas à carreira designadas para responder por Delegacias de Polícia). Ademir ouviu atentamente meu relato, especialmente, quanto as dificuldades que encontramos para aprovar aquelas ideias inovadoras, das resistências de outras classes e instituições, mas que finalmente conseguimos aprovar a legislação, quando se achava que fosse impossível. Ademir parecendo atento a tudo quanto a minhas considerações deu a entender que chegou a se emocionar, ou melhor, fez uma cena de que vibrava com o meu relato e pensei: “Ou ele realmente é um Delegado comprometido com nossa causa ou um verdadeiro ‘artista’ especialista em arte cênica e a encenar, mas isso só o tempo poderá dizer, o meu papel agora é acreditar na primeira opção...”.

No mesmo embalo, Ademir Serafim externou que respeitava muito a minha trajetória profissional e que tinha conhecimento de todo meu trabalho, desde a “Fecapoc”, projetos, manifestações, artigos, história... Também, registrou que Maurício Eskudlark me respeitava muito e nisso eu também queria acreditar, apesar daquele seu “parecer” parcial no Conselho Superior...  Depois desse “ping-pong” fiquei satisfeito com nosso encontro e pedi que Ademir Serafim desse um tratamento especial para aquela proposta de “emenda constitucional”, a respeito da necessidade de montarmos uma estratégia para quando Leonel Pavan viesse assumir o governo do Estado, sob pena de ficarmos mais uma vez com o chapéu nas mãos durante muitos anos... Aproveitei para relatar um encontro que tivemos com a cúpula do governo Kleinubing, quando na época tentávamos resgatar a isonomia com o Ministério Público. Relatei que naquele encontro acabamos não levando a isonomia porque a repercussão financeira era violenta, na medida em que o ex-Secretário de Segurança Coronel Pacheco (SSP) exigia que o benefício também fosse estendido para todos os Oficiais da PM... Ademir chegou a perguntar se eu já havia encaminhado aquele proposta de emenda constitucional para alguém e eu respondi que já havia discutido o assunto com alguns colegas Delegados.

Horário: 16:40 horas:

Recebi um “torpedinho” de Marilisa e fui ler e mais parecia um texto com um quê poético celebrando a vida comigo: “Oi, tudo bem, te ofereço este dia lindo de Sol. Bjs. Ma”.

Imediatamente respondi:

“Ma, Sim, há esperança quando deixamos nossos corações falar, menos a hipocrisia, precisamos acreditar... Brigado por existir. Bjs”.

Horário: 21:30 horas:

Já no hotel, resolvi ligar para Marilisa, a fim de falar do contato que tive com a Delegada Ruth Henn, sobre o encontro dos Delegados no próximo dia trinta de novembro em São Miguel do Oeste, a questão da escolha de vagas e sobre sua pontuação já que pretendia ser promovida... O celular tocou, tocou, tocou e ela não atendeu... Achei melhor assim e pensei: “Puxa vida, vindo de Marilisa, isso foi um sinal de vida. Significava que havia esperança, portanto, eureka!”