CAUSA E EFEITO

Por RODRIGO RECIFE | 29/10/2016 | Educação

O mundo em que vivemos é um reflexo de nossas ações e pensamentos. Se na TV há um predomínio de notícias catastróficas e negativas é porque a audiência mostra-se receptiva. Se a criminalidade cresce em nosso país entre os jovens é porque estes não veem ou não têm quem lhes mostre um outro caminho para uma vida um pouco melhor. Sem esperança de futuro, eles lutam pelo agora.

Se a nossa saúde pública é injusta é porque não lutamos por ela. Preferimos pagar quando podemos exigir uma melhor gestão pública. Quando não podemos pagar, tentamos encontrar um meio de furar a fila com algum amigo e conseguir o atendimento necessário.

Se a escola pública é ruim, quando podemos, pagamos por boas escolas, professores particulares, cursos. Mas nunca fazemos nada de concreto para mudar a situação de tais instituições. Os governos se gabam das mais irrelevantes melhorias, os professores fingem que ensinam, os alunos exigem merenda, fazem passeatas pelo vale transporte gratuito chamado de Passe Livre e todos se acomodam com isso. Briga-se muito por mais recursos para a educação. Porém, é raro surgirem reclamações quanto aos métodos de ensino e seus resultados concretos.

Vê-se pouca prática nas escolas. Os alunos recebem muita informação sem saber o porquê daquilo. É um método educacional baseado na “decoreba”. Passa-se muita matéria, porém com pouquíssima profundidade. Uma boa educação é consequência de dedicação e criatividade por parte dos professores. Porém, somente a criatividade não faz milagres. É preciso perseverança, honestidade e uma boa formação por parte dos mesmos. Não é com corporativismos que veremos as mudanças que o Brasil e o mundo precisam. Essa crítica não cabe a todos os professores, mas aqueles que se incomodaram com este comentário, precisam repensar seus conceitos.

No mundo corrido de hoje, os pais têm cada vez menos tempo a dedicar à educação de seus filhos. Além disso, muitas vezes, nem os pais a têm para passar algo aos “herdeiros”. Ouço muitos dizerem que não há como ensinar aqueles que não recebem o apoio em casa da família. Estes jovens são maltratados em casa e seu comportamento é um reflexo disso. Concordo, e pude constatar tal evidência em trabalhos que já realizei em comunidades carentes: geralmente os alunos de pior comportamento são aqueles que possuem a condição do lar mais insalubre.

No entanto, algo precisa ser feito. Se usarmos este fato como desculpa, eternamente estaremos discutindo o baixo nível da nossa escola pública. O problema então, não é a escola pública, mas sim os lares desarmônicos de nossa sociedade? Faço então outra pergunta: “ qual é o segredo de Tostines? A educação é ruim porque a sociedade não tem educação, ou a sociedade não tem educação porque a educação é ruim? ”

Além disso, faço outra pergunta, desta vez mais provocativa: a classe média não matricula seus filhos na escola pública porque esta é ruim ou porque não quer que seus filhos sofram nas mãos de jovens menos educados que podem agredi-los e até mesmo machucá-los mais seriamente? Qual pai nunca pensou nisso? O problema neste caso, é a segurança.

Agora vou pisar no calo de muita gente: qual pai teria orgulho em dizer que seu filho estuda numa escola pública, mesmo que esta seja uma das melhores do Brasil em nível de ensino? E pasmem, existem escolas públicas de excelência*. Agora a questão é de orgulho e vaidade. Poder-se-ia dizer que se trata até mesmo de baixa autoestima dos pais. Dizer que seu filho estuda numa escola particular é uma questão de status. É difícil aceitar isso, mas peço que cada um coloque a mão na consciência e pense a respeito.

Já se falou muito do assunto na mídia em geral e sempre se conclui que a classe média é o grande motivador de mudanças estruturais relevantes em nossa sociedade. Sendo assim, com a classe média se mantendo fora da escola pública, seja por má qualidade desta, seja pela violência dentro de seus muros ou ainda, pela preocupação com o status social, fica praticamente impossível que haja uma real melhoria em todos os seus aspectos.

Talvez com o novo costume entre a classe média de enviar seus filhos para o exterior estudar uma outra língua, seus filhos possam aprender que escola pública é um direito de todos nós, pois pagamos impostos para isso, que o transporte público também pode ser “cool”, que respeitar as leis não dói nem faz de você um tolo. Com isso, nossa visão de mundo como sociedade pode mudar bastante e o melhor de tudo será verificar o quanto nossa renda pode aumentar com o simples fato de não precisarmos mais gastar com escolas e professores particulares, com a manutenção de dois ou mais carros, com planos de saúde cada vez mais caros... Sem termos aumento de salário, teremos uma enorme melhoria em nossas finanças pessoais com toda a consequência e benesses que isso pode nos trazer.

Podemos agir agora e tentar fazer com que nossos netos, ou até mesmo filhos, possam usufruir destes direitos ou então, podemos esperar o retorno de nossos filhos do exterior para que nossos netos ou bisnetos possam ver tal revolução.

A boa educação somente virá de quem sabe o que realmente é a educação. Sendo assim, a classe média deve participar muito mais ativamente e cobrar os resultados do poder público de forma mais consciente e menos estigmatizada. Se não sabe como ajudar, pesquise e procure se integrar a uma das muitas instituições de voluntariado que existem espalhadas por todo o território nacional.

Sites não faltam. Se este texto, de alguma forma mexeu com você, não deixe que o comodismo o impeça de agir. Entre nos sites abaixo e faça a diferença:

http://www.facaparte.org.br/

http://www.educacao.sp.gov.br/escoladafamilia/seja-voluntario ( não sabia que existia isso, mas há como atuar como voluntário em parceria com as escolas do estado )

http://www.voluntariado.org.br

http://www.atados.com.br

http://www.cidadaopromundo.org.br/participe/seja-voluntario/

http://www.casadozezinho.org.br/‎

http://www.passatempoeducativo.org.br/

www.cvor.org.br/‎

Há vários outros sites. Basta fazer uma busca no Google.